PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 22 de abril de 2010

TRILOGIA DOS ANJOS-CADÁVERES

TRILOGIA DOS ANJOS-CADÁVERES


I

Comunicar-se com os anjos, é tomar o universo na própria sonda.

O que dará ao atemporal os parafusos da ordem do tempo.

O templário se erguerá como que extático de guerrear.

Estando logo aniquilado.



O mar engolirá a cidade na beira dos vulcões.

E mentiras, febres e castelos ruirão

Ao atemporal anjo de botas atômicas.

O seu sufrágio é a casta mortandade,

Sua infância ou sua velhice são barcos sem motor,

Pois há de ser remadas, ou nadadeiras.

É o que deveria soprar, navegar ... curtindo o ócio.



Um pescador também sorri,

Com o peixe que é uma sereia fada.

E dos mitos ele lambe a quintessência,

Os deuses dos sóis

Que gritavam nos vapores.

(O fogo que há nas lendas).

Com tudo prateado ou dourado,

Feito de barro.



II

À sombra multiforme, à sombra informe ...

Contava os sonhos, os mortos e os bichos.

Contaria também os mundos.

Mas que miudezas hei de sondar mais ainda?

Anjos não contam números, eles odeiam numerólogos.

Fazem assim: Númerofagia.

Eles vivem de sacanear a plebe.

Já querem amar sem cálculos para tanto.



Já que o reino não faz o próprio reinar,

Eles vivem como templários,

Vivem como gladiadores,

Vivem também o sacerdócio,

Eles vivem de embriaguez.

Dão chutes nas verdades,

Odeiam a palavra cânone.



Horas-trindades, psicopatias trinitárias.

A Cabala é a moleira da cabeça dos anjos.



III

O régio da Beleza os anjos adoram.

Dá um ser-de-si amiúde, estancando

Soluços e quebrando corações.

Pois, que Deus dorme na paixão? Ou será Deusa?

Os anjos não são os santos, as iluminações são drogas.

E que alquimia eles fazem?

Somente o título erudito, eles dizem serem tétricos.

Que da morte ignoram o conteúdo abjeto.



Só martirizam astros como os mundos gélidos,

Já que odeiam todo o mundo real.

Pois, na regra das leis, nas leis ...

Seriam eles legisladores?

Não resistem ao pobre idiota que diz:

“Tudo em nome dos nossos costumes!”

Pois repetem:

__ Odeio cânones. Odeio o que é o Bem imposto.

E se odeiam tanto, é porque amam o que não existe.



O que é certo aos anjos?

Achaques, o defeito de nascença.

Muitos corais na gruta dos horrores.

Várias refeições de carne, longe do tédio.

Devaneio é um desses conceitos-chave.

E odeiam: A vaia e o aplauso.

Preferem a morte, ou seja,

O impacto que tudo silencia.

IMPRESSÕES DO CADAFALSO

IMPRESSÕES DO CADAFALSO




O que temes? O sangue faz a música, valsas negras se reconstróem. Vagando pelo tempo filho da esbórnia, medíocre como posso, dou recados fartos de guerras de outrem. Se altera o rosto do destino, qual mercadoria barata, meu desastroso caminho de fábulas vadias. O que está acontecendo? O que falam os acusadores? Sou o canto da música, o vil objeto dos antropólogos, talvez uma mesma carne me conduza para a correnteza da fúria. Quem saberia me analisar? Meus médicos não conhecem o que escrevo. De tal trago de morte, faço estranhos ritos que me levam aos oceanos. A humanidade tremeu quando o céu trovejava, visões do apocalipse me tomaram a alma de loucura. Entrava nos jogos mortais das maldades inenarráveis. Estou só, eu e meu cadáver. No entanto, estou achando tudo hilário. Meu espelho me mostra onde posso estar errado. O mito correu dos caçadores, as selvas estavam possuídas de fogo, onde não havia mais o surgimento da vida.

Nas estradas derradeiras dos ventos que levam ao refúgio das viagens, me rendi aos altos pensadores, aos grandes gênios. Que revelaram o que poderíamos saber ou esperar, julgar ou calar. Estas náuseas vieram depois. Dei aos trovões de tais soníferos, um caldo demoníaco de sofrimento. Com os versos deste cadafalso, me dou por satisfeito. Não insisto numa desordem, num ambiente de falácia. Perguntem-me: O que diz quando está inspirado? Tenho que dizer que não estou inspirado agora para dizer-lhes. Me perdoem.

Qual o maior dos crimes? Vejo a morte como vejo a vida, pouco interessa. Qual a verdade que ignoro? Segue o veneno, envolto com a mordida da serpente. De meus lamentos? Que se danem tais angústias! Quando o meu sangue retorna, me tenho de volta, e estou apto para acordar. Com o mar, estou amando. Com os delírios, estou escrevendo. Quando navego sóbrio? Em muitas dores será a mesma vida. Contando os séculos, as guerras, os homicídios, as culpas, os julgamentos ... toda uma história de nós, pessoas. Também não esqueci da ternura, corria pelo campo das perdidas canções, mas este poema é mau. Qual vulgar histeria, já dizia que as almas estavam todas condenadas. Pelo resto da miséria, pela miséria deste verso, não espanto a desgraça de uma vingança. Morto de tanto dançar.

Me diga, mistério sem cura, onde estão os meus subjugados? Sou o maior dos loucos, cheio da covardia, não suportando mais as mentes fracas. Poeta bastardo, jovem revolta. Volto aos planos macabros, com o infortúnio dos bestas. Por que deveria aceitar tal salário? Em vil ruína, me levei até ao afogamento da poesia. Me paguem o que devem, malditos ladrões! Por dizer em gestos bravos a crise, dou a tal crise, mesma noite de brigas, esporros de um poeta insone. As vertigens, os corruptos, os escravos do álcool, os vagabundos.

Peste que vai ao levante, tenho mais uma vida para viver, para viver de forma hostil, na vaga tenebrosa de muitos sonhos. No entanto, estou preso. Sem saber se posso dar vazão aos sentimentos turvos, vácuos escuros de uma fuga. Por entre os navios que partiram, o que se pode ver? Sumiram, dos meus sonhos nada sobrou. Mentira do acidente, lassidão sem memória, progresso imundo dos tanques, dos eleitos, dos nomeados, dos golpistas. Uma turba deveras corriqueira, reprodução mecânica das mesmas vidas, das mesmas dúvidas. Que resiste quando estou delirando? Não cantei neste céu, nem tampouco neste inferno. Ou talvez cante apenas na madrugada, pois a manhã me esqueceu. As tenras paixões são fracas, como dizem. Os mais alucinados correm como os carros na pista livre, morrem de forma trágica. As noites plenas seriam as paixões fortes, os instantes mais intensos das palavras que também correm. Mas que sonho resta? Pois nada sobrou. Uma vasta cegueira, é o que tenho de ver, vasta sede, tenho de sentir, vasta lamentação, tão repleta de um espírito sublime. Navego em tantas vidas, que nem sei mais onde estou. A morte se vangloriou antes da hora.