PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 22 de abril de 2010

IMPRESSÕES DO CADAFALSO

IMPRESSÕES DO CADAFALSO




O que temes? O sangue faz a música, valsas negras se reconstróem. Vagando pelo tempo filho da esbórnia, medíocre como posso, dou recados fartos de guerras de outrem. Se altera o rosto do destino, qual mercadoria barata, meu desastroso caminho de fábulas vadias. O que está acontecendo? O que falam os acusadores? Sou o canto da música, o vil objeto dos antropólogos, talvez uma mesma carne me conduza para a correnteza da fúria. Quem saberia me analisar? Meus médicos não conhecem o que escrevo. De tal trago de morte, faço estranhos ritos que me levam aos oceanos. A humanidade tremeu quando o céu trovejava, visões do apocalipse me tomaram a alma de loucura. Entrava nos jogos mortais das maldades inenarráveis. Estou só, eu e meu cadáver. No entanto, estou achando tudo hilário. Meu espelho me mostra onde posso estar errado. O mito correu dos caçadores, as selvas estavam possuídas de fogo, onde não havia mais o surgimento da vida.

Nas estradas derradeiras dos ventos que levam ao refúgio das viagens, me rendi aos altos pensadores, aos grandes gênios. Que revelaram o que poderíamos saber ou esperar, julgar ou calar. Estas náuseas vieram depois. Dei aos trovões de tais soníferos, um caldo demoníaco de sofrimento. Com os versos deste cadafalso, me dou por satisfeito. Não insisto numa desordem, num ambiente de falácia. Perguntem-me: O que diz quando está inspirado? Tenho que dizer que não estou inspirado agora para dizer-lhes. Me perdoem.

Qual o maior dos crimes? Vejo a morte como vejo a vida, pouco interessa. Qual a verdade que ignoro? Segue o veneno, envolto com a mordida da serpente. De meus lamentos? Que se danem tais angústias! Quando o meu sangue retorna, me tenho de volta, e estou apto para acordar. Com o mar, estou amando. Com os delírios, estou escrevendo. Quando navego sóbrio? Em muitas dores será a mesma vida. Contando os séculos, as guerras, os homicídios, as culpas, os julgamentos ... toda uma história de nós, pessoas. Também não esqueci da ternura, corria pelo campo das perdidas canções, mas este poema é mau. Qual vulgar histeria, já dizia que as almas estavam todas condenadas. Pelo resto da miséria, pela miséria deste verso, não espanto a desgraça de uma vingança. Morto de tanto dançar.

Me diga, mistério sem cura, onde estão os meus subjugados? Sou o maior dos loucos, cheio da covardia, não suportando mais as mentes fracas. Poeta bastardo, jovem revolta. Volto aos planos macabros, com o infortúnio dos bestas. Por que deveria aceitar tal salário? Em vil ruína, me levei até ao afogamento da poesia. Me paguem o que devem, malditos ladrões! Por dizer em gestos bravos a crise, dou a tal crise, mesma noite de brigas, esporros de um poeta insone. As vertigens, os corruptos, os escravos do álcool, os vagabundos.

Peste que vai ao levante, tenho mais uma vida para viver, para viver de forma hostil, na vaga tenebrosa de muitos sonhos. No entanto, estou preso. Sem saber se posso dar vazão aos sentimentos turvos, vácuos escuros de uma fuga. Por entre os navios que partiram, o que se pode ver? Sumiram, dos meus sonhos nada sobrou. Mentira do acidente, lassidão sem memória, progresso imundo dos tanques, dos eleitos, dos nomeados, dos golpistas. Uma turba deveras corriqueira, reprodução mecânica das mesmas vidas, das mesmas dúvidas. Que resiste quando estou delirando? Não cantei neste céu, nem tampouco neste inferno. Ou talvez cante apenas na madrugada, pois a manhã me esqueceu. As tenras paixões são fracas, como dizem. Os mais alucinados correm como os carros na pista livre, morrem de forma trágica. As noites plenas seriam as paixões fortes, os instantes mais intensos das palavras que também correm. Mas que sonho resta? Pois nada sobrou. Uma vasta cegueira, é o que tenho de ver, vasta sede, tenho de sentir, vasta lamentação, tão repleta de um espírito sublime. Navego em tantas vidas, que nem sei mais onde estou. A morte se vangloriou antes da hora.

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