PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 5 de dezembro de 2009

SINAIS DA TERRA PERDIDA VII

VII – OS COMPARSAS DA FORÇA


Deixando a terra nova, eu colho a fumaça do céu.

Os dias passam, há náufragos, há o desterro.

Estava a terra boa repleta de sedes espumantes,

Um ar de cristal na chuva da alma,

Os sais do tempo intratável,

Um ar de riqueza e sonhos prisioneiros,

As canções da noite iluminavam aquele céu.



Os corais diante desta terra

Eram as mãos do encanto,

O gatilho das esferas,

O som estridente da barbárie.

Estava o delírio renascido,

Um sol de rachar a cabeça,

As águas então evaporaram.



Eu caí na perdição da terra,

A mesma sede de sempre.

Os olhares estalavam,

O sol da noite era o fogo do desejo.

Eu via os deuses soprando

A névoa solitária da canção.

Os meus comparsas da noite

Traziam o suprimento.

Não haveria fome por um tempo.



À terra perdida, eu dou tiros.

À terra dos fortes, eu sou um soldado da força.

Deixando a terra nova, saíram os forasteiros.

Atrás do mundo morto, que as flores amam.

Na noite cadavérica dos sonhos frios,

Eu colho a fumaça do céu

Das infinitas angústias.

Se olho pelos lados, é para conter o barro,

O brio montanhoso, o pavio tortuoso,

Nos fins da estrada.



Num traçado de fogo, o qual era destino,

Levei a dança aos corais,

Aos apreços pela arte.

À terra perdida, encontro o fim dos fins,

O começo da felicidade.



Vejo em toda vida honrada:

Virtudes raras de força,

A coragem,

Um homem escasso

Em dias de covardia.

Sei que são virtudes de liberdade.

E os filhos do desterro, soldados,

Meus comparsas, caem na graça eterna.

É a guerra da vida.

É o grito. O motim.

O horizonte que há na fronte armada.

Há o vinho e o tempo.

E o céu sobre a terra perdida.

SINAIS DA TERRA PERDIDA VI

VI – FONTE DA SEDE SECA


Uns jazem loucos nas ribeiras,

A caravana sai ao deserto, a sede era o temor.

O vinho estava incandescente,

As luas nos hóspedes das noites fremiam ao espanto,

E o que calava na estrada era a santa imaculada.

As virgens invejavam a plenitude,

A caravana dos velhos regiam os céus grávidos de sol.



O corisco mandava matar-me à janela da liberdade.

Uns jazem loucos de sede odienta. É o tédio.

Eu rodeava os extermínios, que vulcões explodiam.

Fiquei estupefato e risonho.

Dei uma olhada aos ventos que ali planavam

Nas ribeiras, que descalço eu via.



A caravana dos odientos magos de estrelas

A caminhar, uns jazem nus pelo caminho.

Dou a guilhotina, o fuzil e a munição.



Para os alardes repentinos,

Um manancial de febres

Gritava, nem uma música acalmaria

Os tais viandantes.

Era tudo do vinho, e de uma fonte seca.

domingo, 29 de novembro de 2009

SINAIS DA TERRA PERDIDA V

V – LUZ


Essas brisas alegres relampejam, são luzes sortidas, vagam sob o sol, não se prendem.

São brisas róseas de verão, de sol firme, que invade o mormaço, que se funde à terra imaginada a óleo do pintor, que renascem sofridas dos ombros do trabalhador braçal. São brisas que levam fumaças, que a rua do ourives galanteia. Que a prataria toda queria como fogo.

Luzes dinâmicas e naturais. Brisas formosas que reluzem, relampejam, renascem nos ombros mortos-vivos do trabalhador braçal, braços na fábrica, braços viris.

Fico tonto, fico atônito.

Eu dou ao tempo um relógio de sol.

Caio na ressaca do tempo.

Eu finco bandeira na terra molhada, no pudor do cadáver, nas louras fêmeas morenas ruivas. Eu finco com os dentes!

Brisa cintila, relampeja. Luzes fêmeas rústicas, luzes fêmeas modernas.

Eu espero o verão, eu saio à noite atrás de mim. Atrás da fêmea.

Eu diria mesmo: Sou o soldado de vestes pagãs.

Anuncio: Os cordões de fogo, os labirintos dos matagais.

Bem seria uma beleza o Bem?

Estou na brisa, amante. Deveras.

É real o viço. Brisas quentes róseas floridas. Brisas frias róseas feridas. Estavam de vermelho. Estavam de branco. E um luto do avesso na estrela.

Eu derrubo a parede dos gigantes. Eu daria novamente este passo.

Se sofro, é por querer tudo. Se sofro, é por querer demais.

Aqui são sexos imaginados como fósseis raros. Eu puxo a alavanca. Sei muito bem o que é o amor. (Relampeja). Eu não durmo à espera. Se não veio nada, é porque nada esperei. Se veio ao menos uma Luz, eu a tenho em mim.

Brisas róseas floridas, feridas mordidas abertas, pulso.

Até o sangue é flor! Até o sangue, mesmo azul.

Do rio morto no mar eu aprendi que tudo é selvagem.

Não há edifício que suporte um toque de mágica.

Brisas etéreas róseas floridas, insônia criativa.

Bem é o Bem que seria?

Beleza também seria Beleza? E o Mal só uma festa de dançarinos?

A Besta 666 cai perante as asas. Ó facínora!

SINAIS DA TERRA PERDIDA IV

IV – SOMBRA


Renascer é o trovão que ecoa entre as asas da sombra.

Quem deita no trono da sombra é o olho do sol,

Eu deito e caio em mim num redemoinho de cegueira.

Ventava dentro da alma,

Rompia-se a lucidez no ar da tortura,

A mágica divina nos ínferos do sentir.

Um mar sobe sobre as asas,

A sombra me ataca,

Eu aguardei uma rosa desmaiada.



À terra perdida dos desejos ínferos,

Aos torturadores dos anjos,

À sombra que desce,

Ao ar que falta,

Uma louca cantava para mim.



Eu descia, longe da terra perdida,

Tanto que me perdia, com o tesouro que fugia.

Eu que digo: Sou a batalha nas trevas.

Esqueço que um dia fui alma.

O olhar se perde, a alma desce, desce ...

Eu quero a minha sorte,

Os olhos querem sede, têm sede,

São os olhos das trevas,

As mortais campanhas,

Que descem, que descem ...



Eu perco a visão,

Estou cego e só vejo a sombra.

Mais nada virá,

Somente fantasmas.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

SINAIS DA TERRA PERDIDA III

III – INCENDIÁRIOS


As naus combatem nas fontes ígneas, e o capitão dá o colo à princesa.

Bem-aventurados, as mesmas tropas de outrora, que buscavam nos salões de vidro o sal morto e a viva canção das fúrias, com brios intempestivos que comiam as máquinas, com os motores de válvulas velhas do poema como um rasgo de existência.

Não procurei no horror dos salões de uma nau o que estive a procurar, o salgado mergulho, ou as bocas fêmeas idólatras da fadiga do meu honroso combate.

Eu vi a doce bruxa da estrada morder o meu delírio, e as naus das fontes se cobriam daquele calor familiar da paixão. Esperei a tal bruxa invadir os meus pesadelos, ela que era a mais bonita de tal estadia nas fontes de fumaça, ígneas fontes das naus perdidas, que no mar gritavam, levadas ao calabouço da tragédia, e o mar se agigantou – a própria tragédia.

Passeava atrás dos tesouros perdidos, da terra perdida, do sonho fugidio, na estrada dos calores; imerso ou afogado, estupor e orgia me levavam. O que era bem esperado por mim, não veio. Eu esperei, passeava em busca da riqueza, da matéria mais limpa, do ouro mais vasto. Eu degluti a espera. Esperei e morri. Mas que vida mais insípida tive que viver. A bruxa era uma princesa que eu sentia bem próxima, poderia ser até uma libertina.

Mas, voltei à terra. Os incendiários desceram das naus, aqui entre os portos de uma terra enevoada dos delírios, do viço titânico das armas, e a solda das quenturas ígneas de uma tal fonte invisível.

Já que eu era um tal soldado, saía caçando a beleza. Eu também deveria dizer: uma princesa será minha, um encanto será meu, e todas as muralhas cairão perante o fogo.

As naus descansam já em cinzas. E as cinzas são o sangue que eu derramo, não livrando o pecado ou o crime de todas as mortalhas do impossível.

Era tal caminho próprio ao meu lar, sou o mesmo poeta que incendiou as almas do inferno, que nas naus combatia como um visionário, e que da loucura tomou a vitória. Depois de toda tragédia, do alarme da podridão, e dos gritos enfeitiçados de sonho.

Eu levei um tal incêndio que dormia em mim. Não fico com o que buscava. O tesouro da existência não foi achado, pois é apenas um oásis, ou seja, fontes ígneas de ilusão.

SINAIS DA TERRA PERDIDA II

II – DILACERADOS


Bem dispostos estão os brutos, superadas estão

a sensibilidade e a dilaceração.

Estamos ao mundo, e as orgias

são festanças intermináveis.

Como direi aos belos corações um vinho

e uma fagulha de amor na antecâmara do caos?

Não perguntei por estes ovos de serpente,

Nem há o que comer em tais embriões.

O que de ódio vive, lá no intenso sopro corria.



Ao ver-te, minha dama, senti a melhor inspiração.

Mas vem a Vênus tardia. (Vozes do Mito).

Eu brinco de fazer castelos, pelas palavras adiante.

Devaneios são o infortúnio que eu criei de teimoso,

À vivificante dilaceração!



Em que obrar, a não ser dizer?

A língua é que julga o que nos rodeia.

Somos capazes de reconhecer na beleza

Um pouco de tragédia.

É das árvores de copas vermelhas que o outono se vê,

E em si mesmo se fere.

Há de ter uma lógica natural,

Quando caem os estimulantes dos olhos,

E as bruxarias acordam com risos estridentes.

Quem diz que é certo ao lado de fora?

Pois lá não é mundo. É de lá que tudo aqui se sustenta.

De onde? Do além que não se vê,

Tais sentidos físicos, não alquímicos.

Dilacerados. Matança!

Já era mortalha nos vales da Babilônia.

Ou um Minotauro de Creta que era uma tumba.

Quem quer ver ouro e morre?

São os ditos pagãos.

Eles não comem hóstia.



Regimento. É hora de partir!

Com a rua aniquilada eu dou o veredicto terrível.

Mais que o regimento, as horas do soldado da noite.

No rufar dos tambores se anuncia:

Guerra aos generais!

A sensibilidade requer uma força sobre-humana.

Que me ferve, ó anjo da sede!

Senão as paixões? Pois ela é dita uma dama.

Pois tem paixões, no singular, como seria tal mulher.

Ela bem sabe que o paganismo

Está mais próximo da lógica natural,

Que a tragédia grega eleva o espírito.

Já não se tem piedade?

Ó mártir! Te quero o meu refém. Belo Cristo é este danado!

Os deveres da compaixão também seguem a cruz.

Tão vivo é o pagão e tão comovente é o cristão!

Eu não sei de nada que seja inoportuno.

Quem dá o sinal da terra perdida?

Ela nunca existiu!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

SINAIS DA TERRA PERDIDA I

SINAIS DA TERRA PERDIDA


I – O DELÍRIO DAS ROSAS

Há de convir, caros amigos, que a noite urge de ideias mágicas.

Parado ao poste um soldado toca o trombone,

E seu ímpar ar de guerreiro assume as formas da noite.

Pega um cigarro, e de um breve toque, diz à amada

Os seus anseios de fortuna.



Medra entre as cavalarias o toque de recolher.

O bom soldado há de ser um cavalheiro,

Cortejando uma boa dama para a sua felicidade,

Num rio esbelto que molha

Os chifres de um tão belo demônio.



Com o sinistro rei dos pórticos, à espera da nuvem preta,

Ele tem de carregar os cânceres mesquinhos,

Na morbidez insana do amor mal falado

De seus delírios,

Quando roubava uma flor do jardim que havia no céu.



De má fama vivem os anzóis,

Com as fardas sujas de sangue coagulado,

Que beijam a carcaça do soldado

À meia-noite.



Tudo é belo, e o mais belo é o cantor da noite,

Temendo que a lua escape ao sino das trovoadas.

Há de convir, caros amigos, que a noite urge de ideias mágicas.

Como num sonho alto e súbito,

Pus-me a escrivinhar sob a lareira,

E os inúmeros e infindáveis calores

Tomavam a forma de um capataz.

Os trabalhos da pedregosa estrada,

Longe dos mosteiros,

E perto dos silvícolas,

À base de chicotes e mármore,

A tudo apinhado de pedregulhos,

Que os sentinelas ulcerosos

Brotavam das telas daquele cenário desolado.



Era uma noite sitiada dos mistérios milenares,

Que o Tarô, e nem mesmo as Runas,

Ou tais patifarias de bolas de cristal,

Poderiam decifrá-la.



Eis-me soldado, que de rugas converte a juventude.

Pois dava o sinal para os marginais:

“Está tudo sitiado, tomamos a várzea.”

Eram as mulheres, um atoleiro bem prazeroso.

Estando as casas em volta do cerco,

Pura ruína, puro sol carcomido,

De velas derretidas,

Queimando a barbárie dos anos.



Óbvio é o meu prisma,

E dei um tanto de virgens,

Mais um tanto de vagabundas,

Mais outro tanto de esposas,

E um amontoado de solteironas

Atrás de maridos cruéis.



Ó tropa! Fui soldado da quermesse.

E o delírio cai severo, o amor

É todo este mistério.

Meus senhores, minhas senhoras,

Divirtam-se!

É meia-noite, sim!

A cidade está tomada.



Os cadáveres são os meus amores.

Eu vejo a mão da guerra nas minhas visões.

Uns mais esbeltos, são soldados românticos.

A sinistra forma da beleza

É uma receita de ilusões brilhantes.



O que brilha à noite?

Não resistam aos cantos.

Oráculo desolado.

Os Tarôs, e os ciganos videntes?

Não, meus amigos, tais cartas

Não decifram a noite,

Esta noite maravilhosa!

Vos digo: A cidade está tomada,

Já dispersei os demônios que dançavam.

Vou beber cerveja.

Vou fumar cigarros.

Falar asneiras impopulares.

Teorias sem começo ou sem rabo.

Tropeçar no farol da alegria.

Ó mundana canção!

É a noite da saturnal!



Meus calores hão de suar.

Estive farto de toda magreza.

Quero encher a taça!

Meus troféus são papéis queimados.

Poemas cuspidos no bueiro dos azares.

(Eu, que sou a noite eterna).



Teria o mistério à noite se revelado?

Mas tudo se guarda.

À noite, uns impostores sem gládio morrem,

Guerreiros mártires cheios de sonhos e ambições.

Uns outros beberrões.

À beberagem, meus comparsas!



Eu? Me satisfaço no sabor oportuno.

Há de convir, caros amigos, que a noite urge de ideias mágicas.

Sai o batalhão por esta noite tumultuada,

São os rincões a ver navios.

O Bem se cria, neste asfalto deprimido.



A cidade está tomada,

Meus anjos, meus marginais,

Meus doutores!

Última miragem no castelo,

Última sensação.

Eu que nem fui um homem,

Pois que sou fantasma.



A cidade está tomada,

Digam os mordazes e os loucos.

Tudo silencia ou tudo grita?

À meia-noite tudo está tomado de prazer.

Eis-me aqui:

Soldado que não acredita em baralhos.

Pois viria então, a peste que diz:

“O louco”.

Eu esqueceria.

Mas, vem me dizer este último choque de mitologia:

“Está esperando tua amada sem se dar conta,

Está esperando tua amada na dor da busca,

Está esperando o que sempre quis ...

Tua linda amada que flutua na noite.”

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

CONFERÊNCIA

CONFERÊNCIA


Acidente é o instante como nunca dantes,

E o tempo é insistente e o que me deixa

Além de mim e de mundos concêntricos.

Atrás da noite na urdidura,

A disciplina e o método e o uso do verso.



Não há nascente tão legítima que ilumina

Tão poucos reféns, não há silente momento

Em que escuto nada.

Em vez de me divertir no óbvio,

Sairei em outros mares,

Sairei ao que não conheço,

Estando astuto, estando ao encontro da noite além de mim,

Que sou pessoa indigente ou identidade sem contexto,

Que sou o mesmo dos diferentes elementos,

Que sou o que nunca será o que foi antes,

E que não foi o que é agora instante.



São cortesias do fio da meada, o instante que é vigor do tempo,

O instante que é o coração, e as mesmas questões,

E as tão exíguas esperanças de mudança,

Mesmo que se mude o tempo inteiro

O que é por fim nada.

E o que me devora é o tempo sem volta das mesmas questões,

E as tão vastas sementes do que virá.

Se é o que não sei o que virá, mas que virá.



Empresto o meu trabalho ao ócio, o meu trabalho é o ócio.

Das mãos saem obras majestosas, além de tudo que é vago,

E que é mistério do instante criativo.

Eu vi, sem mais delongas, a estrela viandante

Que vai e vai e vai ...

Ser o que é, ser o que não é, mistério ficcional.



Além de mim não estou, e sem lugar não poderia ir neste que não sou.

Posto que sou o mesmo, tempo e carne, mudança e tormento

Do mesmo que se multiplica.

O uso do verso é o uso do viver, o tempo de ser o que é

E de querer ser o que não é.

Como nunca dantes navegados mares que já naveguei,

Singradura e sangria, composição e toque,

Poema de sonho, poema de poema dentro de mim.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

ERUDIÇÕES DE NARCISO

ERUDIÇÕES DE NARCISO


Narciso não se contradiz, ele tem todas as astúcias.

Usa da lógica em todas as disputas.

Recita de cor qualquer Shakespeare, Goethe,

Rimbaud, Pessoa ... diz saber o que eles dizem.

E mesmo sem crer, diz ter a Bíblia no cérebro.

Ele quer um Mozart sem guardá-lo no coração.

Faz do livro o seu fundamento.

Historiador, cientista, na verdade,

Um eclético!

Ele quer livros, meticulosos, estratégicos.



Narciso é exímio em qualquer assunto.

Não sabe que é figura demagógica,

Pois se diz grande pedagogo.

Poeta eu sei que não é.



Também não admite ser ignorante em algo,

Posto que é letrado.

Sua erudição é do tamanho de um grão.

Tem o coração gelado.

Mas ele diz que seu saber é uma plantação de latifúndio.

(Daí eu penso: Monocultura).



Ele bebe o pedantismo,

Tal como seria o seu argumento:

“Exegese, propedêutica, prolegômenos,

Locupletar-se como enfadonho!”

A hermenêutica ele diz tê-la.

As frases de efeito são vigas de seus castelos.



Mais uma vez, ele quer a réplica:

“De acordo com os racionalistas,

Esta é uma sensação, de nada serve

A não ser como paixão.

Eu digo tenho tudo, pois tenho tudo!”



Mais um vate, ele diz ser crendice.

Eruditos odeiam crendices!

Ele tem suspeitas quanto ao populacho,

É um lorde.

Ora, toda problemática ele tem na manga.

(Todas questões óbvias, leia-se).

Todas as disciplinas estão sob domínio

De seu astuto raciocínio.



Eu digo, doutor patife:

“És um multicor cinzento,

Ou seja, que nada sabe ...

Nem de si mesmo.”

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

POEMA CONTEMPORÂNEO

POEMA CONTEMPORÂNEO




Tudo posso quando estou sóbrio. Devagar a besta-fera aparece para desmistificar as campânulas morticínios e ardores. Meu caro amigo, tu esfacelaste a melhor de minhas canções. Eu praguejo tuas homicidas expectativas num arroubo de prosélitos. Nunca uma cara imberbe como a minha teve a glória humana tão rebuscada e enfadonha. Triste é tecer o ritmo nesta nau desnaturada, como se através do espelho eu fosse um ninguém que pensa come e vomita. Ora, neste corpo que eu tenho sobram estrias e hemorragias. Sou a doença destemida dos fervores do ferro e do antiácido de meus gastroritmos e fobias. Lá na nuvem de terror tonitruante espero a bela dama, tal como corriqueira gozada de coxas e vaginas. Eu tenho que dizer ao meu estio na narrativa de um doidivanas que eu pequei, mas não por não temer a morte, mas sim por puro engano premeditado, uma séria convulsão me tomou de epilepsia, eu tinha no vagar das nuvens a profilaxia deste impudico sistema de lavagens estomacais. Pois do ventre à boca sobram estrumes de nova vida. Casto e derrotado, o frei perdeu as suas lembranças num petardo poético de sexolatria. Perdeu seu costume de pedir a Deus que o receba em seu seio, pois já era posta a sua fogueira de desejo contra os desígnios cristãos, ou contra a velha hipocrisia eclesiástica numa explosão secular. Memória é o que lhe traz consigo na mesma solidão de perdidos e fulgores desazados. Troças e chistes são a bênção de seu escapulário. Voltando-me à mesa do breakfast, meus olhos semeiam fome e desordem, depois we have lunch and after that we fuck and laugh, this is my happiness e hora de brindar. My silence diz primeiro o que eu devo esquecer, desde as minhas vergonhas ocultas até os ferrolhos de minha dor trancada. Era tudo o que eu disse diante de todas as controvérsias, eu amo a polêmica com as parcas trágicas de um trovador desmaiando em versos e sendo o lume de minhas explanações. Sofista é o que és, puto imoral, bosta revirada, veado disforme, comedor de obesas, poeta do frenesi e da contumélia. Certo ainda é o meu passaporte para o inferno, ó cidade do bacanal, nada te sobra em fervor de Sodoma! Ora, quanto tenho de desejo pelas ancas agrupadas como despojos e o dia infinito de sortilégios atenazados para a tortura do insciente! Levo com minhas proeminências a fama de um capataz e verdugo, tão morto que fede a álcool e vinagre, todas as misérias formam um alvo de raízes pertinazes em suas terras desbravadas, sobrando ao verme de minhas estultícias um mercado de aberrações pós-modernas, como Satã e suas diabruras, como a guerra com os several corpses like dead souls. Todo o esquema com que se constróem as maquinações da hipocrisia são como sonhos magalomaníacos de um tarado com o pau em riste, neste mundo não sobra ao poema sequer uma pouca vantagem, pois de que serve o poeta se lhe vem o desdém e o ostracismo? Não resta de fato nem um pouco de frescor em sua juventude narcotizada, maconheiros que alimentam a máquina da morte que o drugs don`t work dos traficantes almejam. Sem falar dos que já morreram por motivo torpe, esse é o mundo, meus caros, uma dose sempre cai bem para quem não quer nada mais que sonhar longe da angústia dos que permanecem sóbrios. Este é o rock`n`roll de uma tragédia apocalíptica, sinfonia do caos e da desordem, toda uma técnica de dominação foucaltiana de territórios demarcados por forças em suas microvilosidades, tudo o que o poeta sóbrio vê e por isso se desespera sem o alento de uma paz cosmopolita. Nós somos os filhos contemporâneos numa barca sem rumo. Hasta la victoria siempre!



02/08/2009 Gustavo Bastos

sábado, 3 de outubro de 2009



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quinta-feira, 1 de outubro de 2009

PERCURSO DO HOMEM MATERIAL

PERCURSO DO HOMEM MATERIAL


No vácuo desinteressei-me por pouco

Do que há pouco se viu do mar de mistério,

Das luzes cromáticas

Marquei uma luz azul,

Das máquinas e das obras delas nascidas

Edifiquei um plasma silente.



Quando se fez o fio da arte

Machuquei explosões de sentidos,

Demarquei a remarca dos meus corpos azuis,

Exilei-me por um nada absurdo

O qual alimentei de lamento.

Como num lamaçal de lares queimando,

Eis que vi uma nuvem que veio

Do fogo atrás dos teatros e novelas,

Eis que vi um buraco alheio

De coração dilatado,

Eis que menti por vezes várias

Quem eu era, se nas inteligências

Se fazia a teoria pacata

Descansada do choro.



Milagres e bandeiras,

Pelotão de fuzilamento

Das alegrias,

Somente um fantasma vivo

Que repetia o insondável

Que está no vácuo,

Vertigem física

Ou vento que não soprou.



Um banquete de fome e anarquia

Nos pecadores sem culpa,

E o rigor da vida mecânica,

Ou era nada ou era tudo

De que as coisas são,

Entrei no vácuo

De que me fiz

Primeiro conhecedor

Do mundo que se viveu

O impossível.

Uma máquina tempo espaço

Que de vácuo é um todo sem matéria

Ou matéria infeliz e esquecida,

Espero que seja toda uma vida

De poesia, que se esqueça da ferida.

SERENATA DA ANTIGUIDADE

SERENATA DA ANTIGUIDADE


Mais adorável que o licor de fogo

Dos meus altares, dóceis animais

Com os calores do monsenhor

Que bebeu tal licor

Comedido em ardência de generais

E que trouxe a calma ao seu próprio corpo

De uns baluartes que não abriam a dor



Palavra sem bosque

Urna do nada que ali queimava

Licor dos ódios e dos rancores

Com a palavra bêbada que cantava amores

Ali no fim do estoque

E que tudo levava

E que ainda nos dava choque



Amanheceu na praia planície alegre

Aonde o céu se fazia campestre

Eu nem sabia como cantar ao mestre

Do meu olhar de amores e faróis

Que não dormiram nas noites passadas

Dos tantos heróis

Das ruas destinadas

Aos nossos mais libertinos

Padres meninos



Bela época no sol eterno da alma

Que a luz perca a sombra

E que os corpos nus dancem na onda

Fraterna que agita a saturnal de alfa

Que nos anjos arqueiros faz de conta

Em tudo no belo brilhante em que a mulher desponta

Meu cais, que o idílio afaga com a palma



Minha adorada celeste

Que mais se entrega

Ao sol de uma clara fera

E que vem com meu ar agreste



Eu delirei como êxtase místico

Do lar e do vício lírico

No mar com o início de uma esfera

Deleite tal primavera

Delíquio tal martírio

Como filho de uma nova era

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O ASSASSINO DE PUTAS

O ASSASSINO DE PUTAS


De repente, um pequeno astuto homem

Percorre a rua que não dormia:

“Senhores. Tendes o que ver ainda?

O pouco do que vi não me é agradável,

Temo por vossas almas,

O terror do que vi diz por si só!”



Acorreram a ele os assustados ouvintes.

“Morreu do outro lado uma moça,

Jogaram-na no pátio, nem digo o resto ...”

Ali, se juntava cada vez mais gente.

“Foi um desgraçado que roubou-lhe as joias,

Levou também sua bolsa, arrancou-lhe os olhos

E desfigurou-lhe o rosto. É um cruel desgraçado!”



Nas alturas que ele bradava

Já se tinha a rua inteira em balbúrdia.

“Senhores. Por favor entendam.

Se isto foi feito, o que será de nós?”

Um outro, de porte elegante, responde atônito:

“Este mundo está doente. Se descobrirmos

Quem foi este miserável, vamos linchá-lo!”



E a moça, descobriu-se no dia,

Ser a prostituta com quem todos ali

Já tinham transado, mas os esposos

Que ali se encontravam calaram-se

Com as consciências lhes dando

Ordens morais, e o pequeno astuto homem

(Salazar, o desgraçado) pensando em segredo:

“Levei o que ela me roubou, levei seus olhos

De cobiça, já estou impune,

Ninguém descobrirá, não deixei pistas.”



A pobre moça está mutilada, o assassino era

O mais virulento acusador:

“É um desgraçado, é um infeliz

Que a mãe chocou-lhe como a ovos

De serpente!”

Ele acusou o desgraçado (ele mesmo)

Pensando em segredo:

“Estes homens todos se cobrem

De vergonha, estão todos com as mãos

Sujas. As minhas eu já lavei,

Com o sangue desta pobre vagabunda.”

Nunca o pegaram.

Foi o único que lhe tomou as joias,

Mais que as joias, a vida.

(Esta pobre moça “da vida”, aliás).



E volta hoje à lembrança:

O crime prescreveu.

Salazar, o desgraçado,

Hoje é um velho,

O mesmo canalha,

O assassino de putas.

DA ARTE MORIBUNDA DE NOSSA ÉPOCA

DA ARTE MORIBUNDA DE NOSSA ÉPOCA


A arte morreu de tanto que foi desprezada,

A arte terminou porque não nasciam os sustos.

De tanta arte que agoniza na mediocridade,

Os mecanismos de uma morte sem arte alguma

São os lugares da mesmice burocrática.



Minha identidade foi jogada no asfalto,

Na pressa atravessando as ruas.

A arte é um problema psiquiátrico,

A arte é uma mula que empacou,

Minha arte se dana toda no inferno.



Não tenho tempo para reclamar nesta estória,

Com o que não peço uma morte lenta,

Pois tudo grita dentro de mim,

Como o poço em que mergulho e fico louco,

Como esta arte tão amada e execrável,

Como uma noite de vertigem romântica.



A doença da inspiração se interrompe,

A triste arte cai moribunda.

Arte infestada de ignorância,

Arte repleta de tolices,

Um antro de imagens perdidas,

Os artistas também morreram.



A desordem contemporânea virou um saco!

Por que ser arte nula no tempo?

Pois quero tudo e então eu corro.

Mas a arte que se joga do penhasco,

Me atrai como uma deusa cheia de veneno.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

PERSONA NON GRATA

PERSONA NON GRATA


Vamos desdizer trunfo aleluia

Por entre o vão e o chão

Responde para todos

É o não-discurso, não-sociedade

Por delírio intruso e o tráfico de pó

Por um lado escuro e o fim do só

Por um triste banco dinheiro empréstimo juros

Aqui é o buraco raro faro

Tomei a palavra – desdisse tudo

Desmorri desvirei a porra

Por tudo tudo discuti

Por nada nada calei

Questões questionei

O porquê

O sentido do mundo-vida

Esqueci

Não importa

Nem a porta

Nem o mudo

Janela porta sem fechadura

Por livre vontade desisti do porque do porquê

Vem minha tola delícia cuspir chama nova

Me chamam de cú e de pistola

Me chamam sexo praia

Até de veado, coitado de quem diz

Aventura do perdido, perder-se

Aventura de achar coisa alguma

Achar um milhão de nadas

Achar coisa alguma de tudo

Cagar chorar, masturbação

Livramento redenção – expansão da mente

Ali onde o delírio faz medo em psicólogo

Ali onde psicólogo não ousa entrar

(o coisa alguma)

Dando o sorriso propaganda

Dando nada para ninguém

Ouvir música, sedar-se logo cedo

Amanhã o aplauso

Tenho pavor de máquina

Quero sim: carnaval, minha moita vaginal

Quero ser virgem celibato

Desmoronar-me, assim fora da gramaticar-me

Quero esfolar-me, comer-me

Desmorfologizar, desentupir-me de drogas

Sou o astronauta, sou o doidão

A rua quer soltar-se

O moralista gosta de acusar

Sem vigiar o próprio cú

Eu quero me vingar

Eu quero nova cidade

Eu quero mudar o mundo

Eu quero a fantasia

Eu quero tudo

Até parar de sofrer

Até não morrer mais

Até onde não haja o que haver

Donde se esconde o mato todo

Para matar o pássaro-dentro

Não-asas, não-avião

Nem super super, nem cocaína

Só uma baforada “go in the way”

Só uma cartada sem lambida de puxassaco

Sem uma carteira de arrancaputas

Sem mamadeira de neném chato

Nem a fúria e nem a calma

Só uma miséria fúria sem ódio

Nem ódio e nem amor

Só um pouco de ilusão

Nem televisão, nem livro, nem música

Só o karma

Antes de ler uma carta

Um grãomestre terrorista

Um grunhir-porco nojento

Eu sou nojento, nojento e lunático

Lá lá lá!

Bem suicídio – primeira arte de protesto

Serei professor – repetirei coisas

Serei serei – ainda sou

Semideuses, são todos o ideal

Eu sim: levei porrada

Sou vagabundo

Levei porrada

Sou prestes e depois

Sou agora

Sou a hora

Sou a merda mole

Levei porrada

Dei porrada

Sou campeão da imbecilidade

Minha vontade

POEMA NÔMADE

POEMA NÔMADE


O sino bate à meia-noite

Bebeste álcool como um vampiro

Entorna a degola de teu inimigo

Duas badaladas às três da madrugada



Sonha com o vermelho e a peste negra

Te saboreias de sangue e quiromancia

Te serves de búzios e melancolias

Ardores fúnebres de magias e bruxarias



És tempo de cordas de violão quebrado

És fantasma do pior alado

Como se é famoso por ser santo e cadáver

Como se faz santo hoje qualquer mendigo



Olorosas mulheres todas velhas alquebradas

Ó luxuriosas carinhosas saborosas

Como o riso eu levava tu

Vampiro da noite



Cantei nas noites bêbadas

De Copacabana

Uma cerveja quente e uma nota fria

No baile do servil

Que era o garçom



De que me serviu

Todos os poemas todos os poetas

De que adiantou Shakespeare com seu Hamlet

O que faz a flor ser rasgada com as mãos



Música erudita como rouxinol ou beijaflor

Como águia ou gavião

Como pecado de todo pecador

Com Cristo e o sangue que lhe dor



Não choro por lágrima

Paganismo de Zeus

Ainda grego em demasia

Salvo ser umbandista

Das flechas do bom amante

Que procura o colar de conchas



Xamanismo é a viagem sidérea

És grego como um negro

És vândalo como um cristão

És filho de toda miséria



Caverna platônica

Sensaboria lógica

E os empregos de turismo

Para dar voltas no mundo



Beijo o chão do Partenon

Depois eu deliro

Capela Sistina e Torre Eiffel

Vejo as matizes do Louvre

Os pincéis de Picasso

E tudo com sóphos

Sofia e as pragas

De Queóps Kéfren Miquerinos



Cabeça de grego filósofo

E Roma e França

E ingleses londrinos

E o mais puro em Amsterdã



Contente com as paisagens

Do mundo



Já vai a última neblina

Já desponta o sol na manhã seguinte

Sol de Tóquio



No fim do pensado

Um dólar para rir

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O POETA FILÓSOFO

O POETA FILÓSOFO


Aqui vos digo, decididamente:

__ O tratante sou eu, e o mito é dos mitólogos.

Responde o poeta indignado:

__ Quem é filósofo? Filosofia é uma marcha, só cabe às feras, não aos miúdos.

E o filósofo ataca prontamente:

__ O templo dos pensantes está vazio, é a nossa época atroz ... ferver o dia todo é paixão miserável, o relógio não nos dá as cartas, penso-louco e loucura se pensa a si mesma com desgosto. Mas, toda a razão nos parece caduca. Cavalo é a síntese e a antítese é a Academia, ora essa!

Também, dentro do Eu-filósofo, corre afoito o Eu-poeta:

__ Já ouviu o que uma planta fala?

(O filósofo não entende a pergunta)

Então, ouves? Que foi? Tua língua pensa ser mais livre que uma planta?

Ou deve guiá-la à distância das galáxias?

O filósofo, nervosamente, contra-ataca:

__ Tu não és mestre, tampouco doutor! Mesmo que a Academia seja uma decadência!

O poeta-cômico, dá os seus costumes:

__ Eu sou ausculta. Pois também não vês? Não vês o que o animal vê?

O filósofo, sentindo-se o pior dos homens, recebe tal crueza:

__ Poeta, tu tens o quê? Só falas com plantas e animais? É inútil, ora.

Pois digo que não vejo senão o que os homens querem, e o que eles querem não é pouco. Então? O seu luxo de ausculta é louvável senão para servir à nossa vida de homens, de entes-sociais, de reviravoltas psicológicas entrecortadas de vultos religiosos. Ou só ficará aí? Como planta e animal?

O poeta, sorrindo, se vale de tal lástima:

__ O que é a religião e a psicologia? O que é o homem? O que é o entessocial?

O filósofo tem que dar conta de tudo, senão é a vitória das plantas e dos animais!

Pois, o que é uma planta? Senão uma potência animal que pode vir a ser homem?

Será que existem os homens dos quais fala? Não acredito, não acredito, não acredito.

Pois auscultá-los é limitar o sentimento. Você diz que ferver é tolice? Não, amigo venerável. Tolice é acreditar nos homens ...

O filósofo faz, então, o seu “grito de guerra”:

__ Poeta! Tu és um agnóstico severo. Eu digo, pois, sem discórdia, é um vil niilista! O teu altar é imaginário! Que é? Que é? Poeta?

O poeta, com seu sarcasmo crônico, cospe outras ironias:

__ Você é filósofo. Que mais? Ou não é filósofo? Ainda crês? Serão os homens dignos de tua esperança? Ou eles são mesmo ... porcos miseráveis? Vamos! O lobo, o canibal, o bandido, o ditador, ou talvez o pobre? Que mais? Os reis, os sacerdotes, as viúvas? Que mais? Os moralistas? Ó sofreguidão! Certo é o absurdo. Errado o poder. Errada a política. Sinistra, por fim, a ética. E senão os melindres, me responda. Tu és filósofo? Ou apenas marionete? É isto! O ventríloquo é o teu grego ou o teu alemão? O teu francês ou o teu qualquer outro do passado? És visionário ou mula?

O filósofo, constrangido, embasbacado, golpeia suas esperanças:

__ Não! A mula é quem não sabe que não sabe. E você diz já saber, ó mula!

Insisto que não sou visionário. Mas, temos: A boa vontade de alguns virtuosos, algumas leis úteis e outras inúteis. Pessoas de honra, conquistas efetivas. Eu digo, poeta, tu és a própria soberba! Já és um sábio? Creio que não.

O poeta, melindrado, admite para depois revidar:

__ Está certo! Tu és filósofo. E honrado, e sábio. Também um bom artista, tal como eu. Tal como os grandes homens. Mas, não tenho soberba. E temo pelo teu destino de infortunado. Sim! Eu só vejo plantas. Eu só vejo animais. Eu só vejo você. E os outros. E as casas. E os doentes. Sim! Sou péssimo! Sim!

Mas, veja: Eu fico fervendo. Eu não sou uma geleira ... Tu és filósofo! Sim! Pois é isto! Podes sustentar o teu querido ego nisto? Pois te chamo: Sábio ou sabichão?

O filósofo decide acolher aquele pobre poeta brutamontes:

__ Sim senhor! Eu sou filósofo, não sábio. O que amo é a sabedoria. Por isso mesmo, creio nos homens, no universo. Mas, bárbaro, a que devo a honra de teu despautério ou de tuas tortuosas bobagens?

O poeta fala o que é a ausculta, ou o ver, ou o sinestésico “ver-ouvir”:

__ Quando tu acordarás? Filósofo! Eu sou você! Já viu um homem com duas cabeças? Um é poeta, o outro filósofo ... vês agora? Tens já auscultado o dentro de si que cabe à Poesia? Ou és filósofo o tempo inteiro? Já que não sabes perguntar.

O filósofo, então, responde a si mesmo, a este poeta incrédulo:

__ Sim, sou você. Sim, sinto horror aos homens. Sim, amo-os também. Sim! Ora!

Então, já feita a revelação, o poeta filósofo vira uma cabeça só, e conclui:

__ Somos nós, o poeta e o filósofo, uma só e mesma carne. Um fala na desordem. O outro junta as peças. Um briga com o outro. Um abraça o outro. Há dois lados na moeda, duas bocas robustas, e uma só dança. Este poeta é furioso. E o filósofo é o calmo. Mas, aqui: O mesmo sangue. A mesma dor.

ENREDO DA AGONIA (parte 2 - sementes do mal)

ENREDO DA AGONIA ( parte 2 – sementes do mal)


A guerra? Sim! A guerra! Os mísseis são inteligentíssimos, somos criaturas privilegiadas. Os aviões são fundamentais para a vitória! Saltamos de paraquedas, carregamos bazucas e escapamos de bombas. Seremos nossas vítimas mais infames, a derrota será a lição da tolice. Tenhamos guerras em volta e em toda a parte! Todos verão cogumelos nascerem, vistosos. A vida será de fogo onipresente! Tudo cinza, a vida cinza. Ganharei tumores. A febre, o delírio, a mais insuportável agonia.

Tudo sujo! A indústria bélica, o petróleo, a metafísica financeira. O progresso, o Iluminismo, a razão, somos todos equivocados. O mundo será das baratas! Somos a nova promessa, o pós-modernismo, apáticos. Nunca entenderemos nada! Nunca dominamos o mundo, nem tampouco um César! O que sempre ocorre é a insensatez, o combustível. Queria dizer coisas mais afáveis, mas é fato a desordem, vários indigentes sobram pelas beiradas.

Na fria noite do terror, pelas sementes do mal, o mundo se tornará medo. Não consigo deixar de me apavorar! Prestarei mais atenção, nada escapará de meu testemunho febril. Soltarei o fuzil em cima dos corpos já mortos, continuarei caminhando, e, de súbito, agarrar-se-á em minhas pernas um moribundo, e, logo, estarei também ali naquele sofrimento. Perderei o senso. Voltarei paranoico. As tropas ecoarão em meus tímpanos e sempre se ouvirá uma explosão. Mas, enquanto prossigo, a tensão aumenta e vejo em volta mutilados, quero sair e penso estar perto da surpresa desagradável. Começo a delirar. Nunca mais escaparei, o perigo. O perigo! O socorro! O desespero dos agonizantes! A discórdia fomenta a economia, que seja para sempre louvado o lucro. O deserto é de ouro! Andarei, portanto, ofegante. Morrerei vendo incêndios, os eternos incêndios! Como no inferno! (É o inferno). Vivemos em um espremedor. Minha alma quer explodir. Não me impeçam de me entreter com as virgens, meus dinamites me renderão a estadia no céu!

Tenhamos calma! Temos alguns insanos, campos de força, máquinas modernas. Toda a rudeza! A frieza do ataque! O ocidente está salvo! A fobia. Eis o efeito colateral! É verdade que estamos no abismo, deitaremos no chão da estupidez e só conseguiremos escapar por milagre. Ou ainda, o horror. O horror! Quero sair deste pesadelo, me tragam de volta! Não quero estar neste lugar! Tenho medo dos cadáveres. E as bombas? Fazem seu estrondo, a grandeza da fábrica é terrível! A cobiça, a grande vilã, é o motor das políticas torpes. A razão não pode acabar, temos que eliminar os generais! É a sanidade contra o suicídio! Não podem vencer nossa sensatez. Nós somos os guias do mundo! Os modernizantes! O padrão é ocidental!

Não seremos invadidos por hunos retrógrados, somos pós-modernos. Aliás, a ideologia é que estabelece o pensamento coletivo. Achamos estar sempre certos, defendemos a civilização de outras invasões bárbaras, a perversidade e a corrupção dominam o estado das coisas, e achamos que possuímos a Razão. A crise se instaura, a discórdia é travada pelas ideologias, veremos várias viúvas. Lágrimas e pólvora! A imensa guerra! Com transmissão ao vivo!

Ah, contem outra! Toda ideologia é insana. Tudo serve ao poder, sejamos francos. Tudo o que se descobre e se inventa é deformado pela sordidez delirante dos exploradores. Não haverá mais o tempo de paz, nunca houve. A ideologia em si é uma estupidez necessária, mesmo que custe o sangue dos povos. Quero sair! Digo novamente, me deixem ir! Não tenho culpa de nada! Vou para bem longe!

O pêndulo do tempo só torna a agonia mais nítida. Os gemidos de dor dos agonizantes soam como uma sinfonia pelo avesso! As instituições pisam na cabeça das multidões. E a famigerada tropa do desespero vai se extinguindo aos poucos nas trevas do abandono. Não suportarei a morte. Verei novamente o sangue correndo na TV. Comerei assistindo a desgraça via satélite. É o progresso! O bombardeio, vejam! Tudo ao vivo! A tempestade! Todos testemunhas! Precisamos alimentar as nossas indústrias, a força do progresso. A violência é comercial! Sejamos hipócritas como o mundo. A luta é imunda. Nada nunca foi tão importante, que se dane!

ENREDO DA AGONIA

ENREDO DA AGONIA


Assim ... feliz em alegria provisória, canto bêbado, aperto o meu coração dentro de um bálsamo de vertigens. Conheço o mundo como mergulhador sem fôlego, descontínuo, viciado, esperando não morrer pelo sonho. No ar estúpido da cidade, tenho medo do delírio, do cativeiro, vejo a angústia que me aflige. A alma bruta, a besta bufando, as lágrimas sangrando, a desgraça nivelando a vida e assumindo a morte. Não há mais morte natural. O sêmen! A doença! O fogo!

Deus! Falo por impulso, poemas me expurgam a alma dolorosa! Diabo é a face de tudo, universo espanto. Por que criastes o mundo e me jogastes a esmo? Sou indiferente, mais um posto às intempéries, mais um afeito à preguiça. Mas, no entanto, jovem, desmiolado, irônico e hostil, astuto e indolente. Isento das faculdades morais que domam o espírito selvagem. Tenho como regra a erupção vulcânica. Focus! O surto será a Verdade!

Ah! Nada como a sadia indolência do ócio envenenado, minhas serpentes são alimentadas com o meu sangue. Contaminado, compartilho com as sombras que me cercam o pensamento. Vou prosseguindo ilusório, no bruxulear da chama que desperta do sono os cadáveres dos tempos. Nostradamus! A queda! Os cavalos derrubam as torres! O rei infla, estamos em xeque!

Tenho o tédio e a euforia, o vício e a liberdade, sou sádico como hiena irritante, filho da hipocrisia, filho da ... ou depreciador da própria sorte. Carrasco louco e faminto da própria mente, avulso e bélico.

Abismo? Andei por vales que me levaram até o segredo do vento, neste pensamento de fome animal, e a besta bufando, e meus guias tentando me salvar. Mas, teimoso, sou indigno, gosto das trevas, são vulcânicas e mentirosas, no verso pestilento e repleto do meu vício.

Acidente fulminante, olhei o susto. O macabro e o luminoso. No solo ausente, no sabor da inconsequência, bebi cicuta para falar com Sócrates! Passei da caverna e desaguei como filósofo esquizofrênico! Mordo meus dedos e arranco a unha, cuspo na cara de quem me ignora! Sou isto: prejudicial, o mau exemplo, fermento da peste, prenúncio da tragédia. Sou vidente e isto me basta!

Tenho profunda inveja do nada, do sono imperturbável. Espero pelo impossível, transcender a dor, ascender ao inacreditável! E para onde estarei indo? Sonharei e morrerei pelo sonho? Serei jogado no hospício como louco! Se vingarão de mim, esses demônios! Posso matar, mas quem se importa? Me darão venenos injetáveis para dormir, meus braços quebrados por golpes vis! Meu ódio será fatal, andarei na noite e perderei os sentidos.

Perderei a vida, provocarei a morte, e quando fugir dos muros, parecerei monstro, meu cérebro se contorcendo, e os olhos esbugalhados, ardentes, cegos de obsessão! Trarei comigo todo o espírito da controvérsia, voarei com ímpeto e audácia pela contradição, direi coisas, vagarei moribundo e manco, falarei com cachorros, cairei na rua da fome e serei infame, quebrarei o vidro da lucidez e, colérico, enterrarei toda a existência.

Sobre o meu livro de poesia "Coração Maldito"

   Olá, começo com o meu blog hoje (15/09/2009). Ainda sou inexperiente nesse negócio, mas li algumas coisas interessantes para blogueiros iniciantes. Um blog legal que eu descobri na busca do google é o blosque.com. Li muitas coisas antes de me aventurar na blogosfera, mas agora tá na hora de sair da teoria e partir para a prática.
   Começarei com postagens de alguns poemas do meu primeiro livro de poesia "Coração Maldito", o qual já está registrado devidamente na Biblioteca Nacional, claro, para garantir o conteúdo contra plágio. Este blog será um meio de divulgação de meus trabalhos literários e, quem sabe, no futuro, de outros poetas e escritores que, porventura, se interessem em divulgar suas coisas neste espaço, espaço que estará sempre aberto às críticas e elogios. Ttalvez este blog seja um modo de eu encontrar um feed-back sobre o que escrevo. Bom, vamos ao que interessa, poesia!