PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

NOTAS DECADENTES

A decadência é a mãe das regras,
a decadência.
Não há mentira o suficiente?

Eis que a filosofia da derrota
dita suas horas ocupadas,
pois de horas tolas
se faz a vida.

Não há senão mediocridade
em tais sonhos,
quando na minha última navegação
pensei em me jogar no mar
e sumir no horizonte
para nunca mais voltar.

Desdém do sepulcro é o lema
feroz do poeta em desditas.
Vejo o tempo aniquilado
desta decadência.

A decadência é a mãe das regras,
o senso de dever é cego
aos direitos do artista.
O poeta é um escândalo ocultado
pelas palavras hipócritas.
A covardia monumental
domina os nossos dias.
Não há mais vitória
em tais armadilhas.

27/02/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

domingo, 26 de fevereiro de 2012

BOEMIA VISIONÁRIA

Eu vinha desde o Hades
de um pecado sem culpa,
odores de Mefistófeles
apareciam
na névoa
que dançava
numa noite
inspirada.

Temi o caos do inferno
em lua de prata.
Olhei os versos que apareciam
de ritmos e tambores.
Vi sombras na vida
de um sacerdote.
Cantei sua cantilena
nos olhos
de uma saudade.

Dando de ombros
a uma deusa nua,
vi sua tristeza
encampada
de uma guerra
só dela.

Eu não a vi mais
nos meus sonhos.

Entrei em nova plumagem
aos delírios da derrota.
Como um selvagem
que não sabe falar.
Como um ser obscuro
da paisagem.

Eu não tinha percebido
como os homens são fracos.
Eu não queria ver
a força bruta
de um apaixonado.

Como se nas rimas
eu cantasse
o que não via,
decidi me matar
por um pouco
de absinto,
pensei em queimar
todos os meus versos
numa grande fogueira
em que almas se perdem.

Como silenciei no meu fracasso,
como fui rude e irascível
em meus pensamentos
de crânio esfacelado.

Não era noite naquela manhã.
O sol sorria e eu não queria
mais os miseráveis
da boemia.

Então saí andando,
como se anda
quando se está
louco,
vaguei pela cidade
e minhas pernas
pareciam de aço,
nunca mais mordi
aquela maçã
envenenada,
pois a ideia estava clara,
eu deixaria
as trevas
por uma luz
que não é deste
mundo.

Depois daquelas loucuras
enfadonhas,
recebi a bênção
do que sofri
num banquete
da vida
em canções,
não viveria mais
como um vulto,
saberia de todos
os acordes
dos hinos
celestiais,
em êxtase.

Por fim, na noite negra,
descansei o pensamento
em versos visionários
de um naufrágio
da alma sonhadora,
vi e revi tudo que ocorrera,
e não era mais eu
aquele poema.

26/02/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

O BALÃO

"O balão é meu!"
gritou o menino.
"Não, é meu!"
gritou o outro menino
bagunceiro.

Eles queriam um balão,
a festa tinha acabado.
Eles queriam aquele
balão para correr
com ele,
mas só tinha aquele
balão.

Eles brigaram tanto
que o balão explodiu.

26/02/2012 O Poema Azul


A BONECA, O MENINO E O LIVRO

Azul de festa
embala a menina,
ganhou um belo presente
de sua mãe,
a boneca falava e cantava
como gente!

Be-a-bá da bola
dizia o menino,
ele não gostava
das bonecas
de sua irmã.

Ele queria mesmo
era jogar futebol
no seu vídeo-game.
Mas depois descobriu
um livro
que ele gostou,
não era sonho,
ele leu o livro
e mostrou para
sua irmã,
ela deixou suas bonecas
no quarto,
a que falava e cantava
também,
e leu uma estória
de fadas e anjos
que deixou
ela feliz.

26/02/2012 O Poema Azul
(Gustavo Bastos)

A ROSA DO INFERNO

No claro alto da madrugada,
poetas rimam suas astúcias,
versos planam na floresta.

Sois sonhos vertiginosos,
decadência monumental
da poesia do fogo,
asas do sentimento
plasmados na fúria.

O verso não se entende
em pouca monta,
ele se estende
indefinido
pelo tempo.

A rosa é uma rosa
simplesmente,
mas não vou repeti-la
indefinidamente.
A rosa é a musa
da Plêiade
e o seu inferno.

26/02/2012 A Lírica do Caos

VERSOS ENAMORADOS

O bardo clama alto
o tempo de agora.
Feroz e revoltado
nos calores
de seu vinho.
Um romântico,
um apaixonado,
um idiota.

As dores sentidas
nunca serão compreendidas.
São hemistíquios
de febres de pedra.

Conversa de poetas
não temem o sentido
da pena.

Eis que surge o inocente
da praia dos ares.
Seus altares são sujos
e suas roupas
andrajos
da miséria.

Vai e vem o poeta
e sua lira
de dias mortos.
São sonhos devorados
no ritmo do sol
seus poemas sem muros.

Quando desce a noite
nos seus olhos,
revela de si ao mundo
o código secreto
das flores,
e por trás delas
enumera
seus olores.

Vinha da noite sem ouro,
fel da História,
sem paisagens adormecidas
de harmonias,
sem destino
se perde na
ampla visão.

São pendores calmos,
última nota fraca
de uma força
sobrenatural.

26/02/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

VOZES DA PRIMAVERA

Quanta primavera
me aguarda,
da festa
a flor rimada.

Quanta água em minha testa,
não sou louco
e nem poeta!

Vejo matizes e suas
sombras,
a profecia
da felicidade
era um drama
macabro
do passado.

Quanta primavera
sonha em meu estro,
quantos poemas
sorriem para mim!

Eu ando exausto,
e a maldição do caos
não me reserva
uma noite selvagem
de álcool
e poesia!

26/02/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

A VISÃO DO NADA

Vejo a vida escaldante
e temerária da poesia.
A sombra muitas vezes
vem na decadência
de uma penumbra.
A luz dos olhos
não viceja
quando há sombra
em volta.

Desdenho a vitória,
desdenho toda glória.
No meu teatro
não se ensaia
uma comédia
sem texto.

Quantas passagens
desta obra
eu ridicularizei,
via extasiado
um dia
as estações
da primavera,
mas nada estava lá.

26/02/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

CANTO FUGIDIO

Sol que não cessa,
verão do vinho seco,
seu norte é a mística.

Leve minha saudade,
leve meu coração,
sofrendo a paixão imorredoura
e cantando no estro firme
que rima na desolação.

De onde canta seu temor,
canta em uníssono
a voz do seu horror.

Malditas paisagens,
rubras farsas
de antanho.
Como um anjo eu calo
o meu mistério.

O demônio já está no mar,
delira apaixonado
um poeta com seu
tear.

Liberdade extrema
é seu lema,
pensa em fugir
com seu
poema.

26/02/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

O DELÍRIO DO MAR

Uma luz rouca me mostra os mares,
de sua luz plácida
o romance
explode pelos ares.

Nua indecência da carne,
posta a chuva nos meus
andares,
rouca paixão de lilases,
fonte inesgotável
dos mares.

Plêiade mística no outono do vitral.
Eu penso em poemas novos
na dor do canto do rouxinol,
eu passo o tempo em obras
de inverno e viajo o mundo
até morrer no claustro
da poesia.

Estrela da manhã em meu doce
dossel.
Do céu o vinho derrama
pássaros de sol.
Uma nuvem rosa me chama
ao patíbulo.
Eu danço este canto silvestre
na minha memória
que faz a vida
parecer
livre.

Do apanágio, dos verbos
que caem,
uma moça me convida
ao sino da meia-noite.
Voltei com ela em outras
paragens.
O deserto era o inferno
de minha caminhada.
Vi os barcos dançarem
no horizonte
mal compreendido,
estarei salvo?

Em sementes de poesia
louvarei o ritmo
em cada gota
de sensação,
o verão naufraga
no meu verso
que não encontra
salvação,
vivo rápido no raio
da desilusão.

26/02/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)