Eu ouvi a matéria em sonho, com o espírito roxo de ar desesperado, eu vi a morte alucinada como decapitação de sondas em meu estômago. Na era de tudo já era, eu esqueci o lago, eu fui néscio na hora do amor, um corrente acorrentado, vi a pirâmide do holocausto em Cuzco, dos astecas vi o sacrifício, Tenochtitlán rimava com Vietnã em meu delírio. Na capa de morte nua eu sentia um arroto na nuvem e o cerne das especulações com a filosofia dando frêmitos em avessos de poesia, nada veria mais que ritmo intempéries a nota fria do karma condor na nódoa do deva que subia, o demônio azul era Totem, uma fúria e um avatar na senda soada ao término da sessão, Freud indagava o tema inóspito do quadro, ele não entendia a maçã, ele me propôs um jogo de xadrez, eu falava de celibato e de fumar maconha em Katmandu, amarrar os bagos, deixar a barba e os cabelos crescerem, Freud não entendia, nunca entenderia. Eu olhei outra vez a fórmula, nela botava elencos infinitos de comédia, Moliére com tonalidade de Artaud, Chaplin numa luta de antevisões, na noite via Hitchcock, a flor do abismo, Grace Kelly, a faca do suspense, o homem ERA a sua própria mãe, um festim diabólico em vertigem, não cantaria na chuva com Gene Kelly por muito tempo, Pavlov veio com a sua máquina de fazer zumbis, não era a estrada que importava, mas o homem em seu motor previsível, tudo que estava fora da fórmula (deles) era anomalia, e não havia soluções ad hoc, só um prato de acordes dissonantes, a dissonância era térmica, a febre de convulsão, eu via o amor e fogo, fogo do Gólgota, via Jonas, via Elias sabendo do céu, eu entendia de cretinos amando suas sombras, eu via as sombras encantadas da dor de eternidade convalescente, donde se tem verso de Keats, verso de Byron, afogamento de Percy Shelley, o barco embriagado, passei impassível por rios risíveis, entornei a cerveja no túmulo de um alcoólatra, eu perdi o rumo, não perdi, perdi, não perdi, descobri, chorei, lamentei, não lamentei, lamentei, não lamentei, eu gritei, eu fui sedado, fui atenazado, um bom arrazoado, um doesto, uma compaixão, uma brutalidade, um doberman, não, dois rotveillers, não, dois dobermans, não, a placa de contramão, não, a flor mística, isso não é amor, é um dinossauro, que século de mãos! Nunca terei a minha mão, a domesticidade, um pão com café, você é linda, eu era tu és meu, eu sou tua és minha, não, eu quero quero pássaro, terror, comédia, eu som e fúria, aloprados, leão-marinho, tubarões, baleias, eu quase fui atropelado por uma moto depois de ser quase assassinado, depois nada, eu tinha dores, ninguém se importava, eu tinha dores, eu era o nada, não era nada, toma uma injeção de adrenalina que passa, passa nada, eles passarão, eu passeata. Nota de novo, não há nada no horizonte, veja só, um poeta e sua consorte, que sorte, olha a paisagem, não é nada, nada há nesta terra de ninguém, não somos a grande inteligência, não somos inteligentes, não temos o controle do universo, um asteroide e tudo acaba, um asterisco e tudo é risco, eu morro, você também, eu corro, você não, você dorme, a vigília é para poucos, não há soco na noite dos ratos, há vinho e porrada, a paixão revoltada, não sou eu! A paixão jovem muda surda cega. Lota o show, eu chuto o ar, eu grito pelo ar, um velhinho me recolhe, eu estava indigente, diga agora qual é o teu sonho amor meu que és tua minha eu tu teu sou, não tem paisagem, tem estrada, vamos à estrada, não leva a nada, só diversão, só happinessssss ..... quantas lágrimas? quantas loucuras no caderno? Ore por Deus, ele não sabe o que faz. Não chore por mim nesta noite, eu sou alegre, ser alegre é melhor do que ser triste, veja o horizonte, não leva a nada, não tem nada, só diversão, happiness? Só doce, a vida é doce, vamos tomar heroína, vamos dançar hero, look! A moda da caverna, eu citava Platão numa rave, eu catapultava os sonhos de ecstasy, eu entendia todos, era a fuga, era centauro, era o dia amanhecendo, as gostosas não me davam mole, um cara caía de tanto esteroide e lança-perfume, hoje tenho o olho de shiva, charada, orbital, tudo na minha mente louca, eu tenho um chevrolet velho que já saiu pela noite linda, você é linda, no meu chevrolet pra ver de qual é, pra noite de sumo sacerdote do rock and roll, para ouvir Hendrix no volume máximo e totalmente caretas! Vamos por aí, não leva a nada, só diversão, happi ............. nesssssss ...... é verão, relaxa que tem tempo, somos ilusão, não leva a nada, vou ao Cairo cair em Goa, vou ver-ouvir trance a noite toda, a vida é doce, tem tempo que não nos falamos, a vida é doce, você é linda, não leva a nada, tudo eu gosto, notas musicais, livros de filosofia, Neruda e Lorca de um lado, João Cabral e Ferreira Gullar de outro. Ainda não tenho aquele disco do The Doors, Waiting for the sun? Strange Days? Eu gosto muito de Axis Bold as Love, Band of Gypsys é totalidade, Janis é soluço, Cream é LSD, eu espero o sol, vou pintar a lua de sol, o sol nascerá na lua e a terra é azul, não importa, não pega nada, não leva a nada, a vida é assim, caos, anarquia, poluída, eu quero o instante, tenho que estudar Budismo, passo por Thimpu, por Lhasa, desço ao Ganges, vou me banhar com Krishna, sabe-se lá o samadi, Bhagavad-Gita Mahabarata, avatares, tudo pelos ares. Quando o sol vier, diga amém, tudo passa passa vem volta corre desmaia morre vive grita silencia tudo é mais tudo é menos quanto mais menos assim passado presente e futuro se juntam no caleidoscópio, a luz entra no prisma, é o fim, é o começo, eterno retorno, devir, vejo Tantra, danço samba, dou cem mil voltas e venho de guerra longa, assim é a vida, poesia flui porque quer, Heráclito sabe de tudo, sou um rio dentro de uma bacia chamada universo.
10/12/2012 Libertação
(Gustavo Bastos)
Adélia Prado Lá em Casa: Gísila Couto
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