PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 16 de março de 2019

PONTO DE UMBANDA

Dança na areia
a dor atávica,
desce o santo
no ponto de iansã,
e refulge minha
batida de
baticundum,
minha batida
de baticundum,

flow que vem de ponto
e areia,
como sereia,
e vem como moda
e imersão,
vem como roda de dança
no verão,

bate o atabaque
baticundum,
bate o atabaque
baticundum
baticundum.

16/03/2019 Gustavo Bastos

CANTA ÁFRICA

No mangue de pernambuco
tocava nação zumbi
e mundo livre,
ah, no mangue
eu vi caranguejo
dançando reggae,
me lembrou
do blackheart man,
me lembrou de
um pouco de afrobeat
de fela kuti,
me lembrou de kraftwerk
bombando com
afrika bambaata,
nunca a áfrica
esteve tão
forte nos
meus sentidos,
como num flow
de nas.

16/03/2019 Gustavo Bastos

CANTO DRAVIDIANO

Gitano andaluz,
perde-se a dança
melíflua
na noite
profunda,

leio os sinais,
minhas mãos
estão traçadas
com as chagas
do mago,

um montês desce
de sua meditação
e me dá a direção
do sol,

fúria gitana como
um livro supremo
das tradições
dravidianas,

depois de ler as cartas
com oráculos vinhateiros,
fui à goa numa rave
fazer sóis
com os sopros
da noite.

16/03/2019 Gustavo Bastos

O ALEPH

Se escuta do fundo da concha
o fundo do oceano,
mar aberto
que registra
a fonte primeva,

meu poema sustém
a forma de alga,
os peixes voam
sob estrelas-do-mar,
um céu de cavalos
marinhos
dançam
um uníssono,

a concha, como um oráculo,
me revela estas
coisas fantásticas
do mar,
como um
aleph
perdido
na areia.

16/03/2019 Gustavo Bastos

PANAMERICANA

Dia de folguedo em meu
caminho, tiro do bolso
um volume novo
de kerouac,
budas sobem
em meu cocuruto,
meus pensamentos
evocam cassady,
e toda a prensa
vulcânica explode,
as edições de
ferlinghetti,
os sonhos maravilhosos
de ginsberg,
sim!
uma luz se acende
na estrada,
minha jornada
está feita,
panamericana!

16/03/2019 Gustavo Bastos

VERTIGEM E VENTO

Vertigem me escapa com sopros
levitados de arcanos sombrios,
os ases correm e sobem
e voltam,

meus lindos dias floridos,
como em cada gesto teatral
os esgares sutis
sofrem em diapasão
frio,

as flores medidas em silentes
vinhos são os corações
que refulgem como sóis
no verão,

eis o templo de ártemis
e sua vinha extática,
os compassivos monges
moram na filosofia
metafísica,
com seus sonhos
verdes e vermelhos
com luas e estrelas,

a poesia contente
é uma conquista
da bravura,
a poesia é
o vento d`alma.

16/03/2019 Gustavo Bastos

LENITIVO

Avelã dos olhos,
como machucam
este dias
em pisos falsos,
como ardem no
coração
os passos em falso,
como doem
as fotos borradas
dos que se foram,
como os discos
me consolam
e me divertem,
como os ais
doridos de poesia
sentem plenitude,
no entanto.

16/03/2019 Gustavo Bastos

ALAMEDA CORAÇÃO

Por toda a alameda o sonho
delira com seu verde fluorescente,
messes que inundam o campo,
a voz maviosa de uma
entidade fêmea,
envolta em feitiço
e anarquia,

todos os santos e orixás
descem ao canto da floresta,
os maiores poetas
que morrem e vivem
sonham com a era de ouro
dos berilos terrosos
com força de aço,

eu, poeta que delira
aos borbotões,
tenho sonhos infantis
entre aforismos
simples de uma
canção que rege
minha memória
e meu desejo,

ah, quero contar aos
nobres corações
que andei cantando.

16/03/2019 Gustavo Bastos

quinta-feira, 14 de março de 2019

OS SONHOS DA ALMA

A fé suscita o inferno,
a diabolice lhes
inflama mais
que as canções cerúleas,
e as aleluias de glórias
espirituais acordam
todos os demônios
da noite.

Na madrugada do exorcismo
ali estava o fantasma
com astuto tom terroso
e fala trevosa e barrenta,
uma vermelhidão enfumaçada
tomava o recinto,
o pobre corpo putrefato
espantava o diácono
e a plebe enevoada,

oh pecados, como nos
girassóis, me levem embora
à luz eterna dos
deuses diáfanos
de uma viagem astral,
como nos mosteiros
das virgens extasiadas
que levitavam.

14/03/2019 Gustavo Bastos

ÊXTASE DE BOÊMIA

O êxtase corre no coração
como um balido ou uivo,
venho por cartas náuticas
lhes dar a sabedoria
dos mares,

o êxtase funda o tempo
que ressoa nas estrelas,
salvem os sóis da noite
sob flamas plúmbeas,
os silentes monges
não verão a luz
de boêmia,

os campos dos ébrios
comemoram suas
bebedices,
e um campônio dança
a mazurca
sob os olhares
lilases das
damas corpulentas
como nas pinturas.

14/03/2019 Gustavo Bastos

A NOITE E O DIA

Na primeva noite dos cantores,
as viúvas choravam.
No dia de aurora sob manto
de luz, as jovenzinhas
cantavam.

Ardor, amor, sentidos explodindo
em prazeres prenhes
de poesia,
um ser todo acabado
em alma e angelitude,
ser etéreo que nunca
sentiu rancor,
ser cerúleo que jamais
terá estas exauridas
dores de diabos,

oh, como na noite se chora
com um soluço de fumaça,
e no dia o sorriso sofrido
dá asas à labuta,

e como os poetas mandriões
nunca sabem a hora do dia
e nem da noite.

14/03/2019 Gustavo Bastos 
 

ORVALHO E CANÇÃO

Do alto, como um sol robusto,
o poeta se joga do penhasco.
Com os olhos azuis verdes castanhos,
com os cabelos louros pretos,
e a barba ruiva.

Seu coração bombeia como um ás,
e sete cobres de ouro imantam
a sua prata de puro bronze,
uma faca e uma cimitarra,
uma adaga para os prantos
suicidas das notas febris,
uns poucos cantos azinhavres,
e uma melodia melíflua,
como nas fábulas.

Eis o prazer esteta de seus
prantos e sorrisos,
os efeitos acústicos
de suas famélicas
digressões,

o gitano, um músico
de sete cordas, elenca os
feitos de nosso herói,
doidos versos rubros
em faces orvalhadas
de céu.

14/03/2019 Gustavo Bastos