PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

terça-feira, 19 de julho de 2011

TROCA DE EXPERIÊNCIAS

Eu sou uma besta.
Uma noite estapafúrdia
e meus pulmões soltam
espuma de inalantes.

Conversei com anciãos
a minha verdade nua:
"Comi algumas bucetas
e gostei de gozar
na cara de uma menina."

Não que eu tenha que me explicar.
Eu nunca me expliquei.
Eu fiz, e mesmo errado
eu não me arrependo.
A confissão poética
é um sintoma de minha
condição bipolar,
escrevo medonhamente
alguns dias
e pronto!

Lá vai um ser humano
de cantigas impróprias
para menores,
por isso converso com os velhos,
eles são como fantasmas do olimpo
que sabem vários macetes
de como se manter vivo
até os cem anos,
e eu sou uma besta
de quase trinta.

19/07/2011 Delírios
(Gustavo Bastos)

segunda-feira, 18 de julho de 2011

TRANSFORMAÇÃO DA NUDEZ

Mudei de estação.
Me tornei nulo e insípido
poço sem paixão.
A caçada dos meus irmãos
em sangue é o fracasso
do sonho e a vida
do delírio.
A casa estava bem arrumada,
joguei a minha moeda
para um mendigo filósofo,
tomei o meu cajado
e fui voando ao encontro
de uma promessa vã
de apaixonados.
Eu desisti do que fiz
por ter feito mal a mim,
e a cidade foi embora
com sua luzes noturnas
de beberagem e fumaça.
Fiquei tonto de tanta graça
no lupanar e na seda
do corpo dela.
Desenterrei mil lembranças
de ar sem vergonha
como uma punheta
em banheiro público.
Varei a noite com um
desespero insone
de fumar para morrer
e de comer para engordar.
Mudei de estação e fui passear.
Meu arcabouço de ilusões
foram insuficientes
para um gozo milenar.
Os séculos e suas razões
passaram,
os séculos passarão
e eu estarei nu
de convicções,
minha defecção será
a nota mais lúcida
de toda esta mixórdia
de que chamam mundo.

18/07/2011 Delírios
(Gustavo Bastos)

UM HOMEM LOUCO

Um homem que perde a sua razão
não está brincando de viver,
sua alma entorpece o seu corpo,
sua loucura amortece a sua queda,
seu coração pulsa selvageria.

Este homem é posto à prova
para bendizer suas ambições,
a casa tão pacata torna-se em caos,
a vida que então procrastinava
explode em suas mãos atadas
em fogo de sede sedenta.

A razão é a desrazão,
o caminho é o início em seu fim
especulado e desejado,
o corpo se oferece ao holocausto,
a filosofia desaparece na névoa.

A neve em seus olhos
revelam a frieza destes dias.
A reclusão de seu cadafalso
é a reflexão de seu coração
em pura agonia.

Senhor, por que hei pecado?
Ou uma bruma semeada de êxtase
em sinistras estações.

O meu corpo é o meu suplício,
a minha queda é o meu sacrifício.

18/07/2011 Delírios
(Gustavo Bastos)

domingo, 17 de julho de 2011

OVERDOSE QUÍMICA JOVEM

Tudo o que eu sempre quis
na minha juventude
era um baseado.
Uma alavanca para o sublime,
um tempero exótico
para o universo paralelo.

Nessa gangorra dos prazeres
sempre quis muito como um
farsante egoísta,
o desejo e a fome
eram espelhos do desespero.

Quando me mutilava com gilete
eu queria ver meu sangue gotejando
depois de uma raiva de cocaína.

A santa indulgência de meus pais
despertavam mil diabinhos
na minha náusea furibunda.

O teatro com que montavam o cenário da morte
era como um castelo de alienistas,
eu gritava por socorro
e me jogavam às baratas
como um ser depauperado
e devassado pelo panóptico
da própria consciência.

Meu ritmo não cessava de se
autodestruir.
Eram raios estroboscópicos,
psicodélicos,
psiquiátricos,
enlouquecidos,
eram raios chocantes,
choques de raios,
um cavaleiro andante
e maltrapilho
lutando com seus moinhos de vento
e morrendo.

17/07/2011 Delírios
(Gustavo Bastos)

BRUXARIA

Eu perco o meu equilíbrio
frente ao naufrágio do tempo.
Desde o tempo recoberto de lama,
desde o tempo incriado que é Deus.

Acordei ao som estridente do riso
de uma feiticeira,
caí e saí correndo desesperado,
comecei a voar através
da massa ignota das ruas,
passei perto da morte
com uma sorte inabalável
de permanecer vivo.

Eu era o meu cadáver em canção pueril.
A feiticeira me rogava pragas
e eu me defendia com sortilégios
de uma mitologia esquecida.

O ardor do poema beira o delírio.
A gema de ametista brilha
no sonho esquizoide
de uma turba em minha
cabeça.

A feiticeira me levou às lendas
do mundo subterrâneo,
e eu fui ao livramento das sensações
como se tivesse me drogado sem parar
por duas semanas.

17/07/2011 Delírios
(Gustavo Bastos)

A SALVAÇÃO DO CORAÇÃO

Minha crise interior
se faz de chão e memória.
Cansado em dorso pesado,
lúgubre em féretro raso,
arrastado pela neblina da cegueira.

Os enfados, os martírios, as coisas
mesmas postas sobre si mesmas.
O anjo morto é o anjo torto,
o animal que habita as minhas narinas
é um espírito materializado de caos.

Minha cura interior
é feita de incúria,
minha lida dura
se alimenta de fúria.

Eu sou o poeta anterior à palavra,
palavra que desce ao verbo e ao nome,
nome que me dá títulos
e verbo que me dá verso.

O chão é semelhante à memória,
e de outro lado a imaginação é um voo.
O poeta é refém da memória
e livre na imaginação,
essa relação de forças bilaterais
me fez encontrar a seiva da qual
a poesia é dissecada.
O verso é a cura da crise interior,
o coração está salvo.

17/07/2011 Delírios
(Gustavo Bastos)