O jesuíta espanhol Oscar González Quevedo, mais conhecido
como Padre Quevedo, foi um dos mais destacados parapsicólogos do Brasil, figura
midiática, contestador e também contestado, pois ao mesmo tempo que desbaratava
inúmeras mistificações, com destaque às fraudes espíritas, também foi
questionado em suas teses, sobretudo na sua associação de uma pseudociência
como a parapsicologia, a inserindo no campo doutrinário católico, pois Quevedo,
ao mesmo tempo em que refutava diversos fenômenos espirituais, referendava os
milagres reconhecidos pela Igreja Católica oficialmente.
Lembre-se que a parapsicologia estuda fenômenos de cunho
supostamente sobrenatural como a telepatia, a telecinese, a precognição e a
clarividência. Contudo, a pretensão da parapsicologia em se afirmar
cientificamente esbarra em ceticismo, sobretudo dos físicos, estes que possuem
conhecimento dos fenômenos da natureza e contestam invariavelmente as
interpretações da parapsicologia e suas bases que os físicos dizem não ter
relação com o método e os experimentos científicos, para muitos dos físicos não
há comprovação material dos fenômenos descritos pela pseudociência da
parapsicologia.
Foi durante o século XIX que surgiu a parapsicologia, que
teve como precursora a metapsíquica, mas a parapsicologia se consolidou mesmo
no início do século XX, com contribuições do botânico Joseph Banks Rhine e do
psicólogo William McDougall, a colocando num campo de conhecimento psíquico, ou
seja, como uma nova linha da psicologia. As pesquisas e os métodos empregados
para interpretação e comprovação de fenômenos extra-sensoriais não demoraram
para serem contestados pela comunidade científica.
Dentro deste campo de tentativas de comprovação de fenômenos
sobrenaturais não podemos nos esquecer da conhecida tentativa da CIA em plena
Guerra Fria de empreender um grande esforço e utilizar estes conhecimentos a
serviço de suas espionagens, por exemplo, no intuito fantástico de criar um
grupo de espiões paranormais, para se antecipar aos movimentos e estratégias da
União Soviética. Depois de quase duas décadas tal programa foi cancelado, pois
não teve resultados.
Uma parte considerável da comunidade científica se incomoda
com a utilização, por parte de parapsicólogos, de conceitos e conhecimentos
científicos para explicar fenômenos sobrenaturais, esta relação entre ciência e
parapsicologia, portanto, teria, na verdade, um caráter de pseudociência. Como
nos afirma a professora e pós-doutora do Instituto de Física da USP, Marina
Nielsen : “Essas pessoas citam um monte de gente com livros sem nenhuma
equação, o que é errado. A física usa a matemática como linguagem para
interpretar qualquer fenômeno, e não por palavras”.
Como exemplo de tal apropriação sem fundamentos temos a obra
A Física da Alma, livro do físico e ex-professor da Universidade de Oregon,
Amit Goswani, considerado um místico pela comunidade científica, em que o autor
faz um desfile extenso de fenômenos parapsicológicos, mas sem usar, em nenhum
momento, equações ou fórmulas, apenas um conjunto de reflexões e desenhos
descritivos.
Por sua vez, os escritos e o trabalho de Padre Quevedo são
bem divulgados e conhecidos na Espanha e na América Latina. Sua obra sempre
reuniu um grande conjunto de reflexões, apoiada por uma vasta documentação,
sempre com o fito de desfazer confusões e esclarecer sobre diversos pontos dos
fenômenos paranormais. Contudo, muito de sua documentação para a feitura de
suas obras, apresentam, muitas vezes, distorções, apropriações e às vezes até
falácias.
Somente no livro "As Forças Físicas da Mente" vemos
contradições sobre o médium Guzik, e ao passo que afirma que as irmãs Fox são
uma fraude, mais na frente referenda a veracidade do que elas produziam ao
concordar com o cientista Crooks, quando este se refere aos fenômenos de
tiptologia. Quanto à ectoplasmia, Padre Quevedo afirma que tal substância
chamada de ectoplasma só tem a capacidade de formar figuras rudimentares e
parciais.
Padre Quevedo afirma que os componentes do Círculo Minerva, grupo
de cientistas que se reuniam para fazer experimentos com a médium italiana
Eusapia Palladino, eram todos espíritas declarados. Mas temos que o professor
Porro e o cientista Morselli não eram espíritas, inclusive Morselli é atacado
como anti-espírita por Sir Lombroso, e outros dos membros do Círculo Minerva só
se converteram ao Espiritismo após estas sessões, e não antes.
Quanto à afirmação de que Crooks abandonara o Espiritismo
rapidamente em seus estudos, é conhecido o fato de que Crooks morreu
acreditando na doutrina e nos fenômenos do Espiritismo. E temos na obra do
Padre Quevedo, apesar das inúmeras incoerências e contradições de versões, uma
obra que apresenta um vasto conhecimento da História da Parapsicologia, mas a
distorção documental de Quevedo compromete, mas o mais grave em sua obra é um
tipo de distorção ideológica, fazendo do pretenso cientificismo da
Parapsicologia, já ferozmente acusado de pseudo-científico, um panegírico de
tintas católicas.
O proselitismo católico é a maior deformação do trabalho
realizado pelo Padre Quevedo na parapsicologia, e sua forma categórica de
afirmações ainda ganha a vestimenta de uma argumentação autoritária, fundada em
certezas inabaláveis, o que resulta numa intolerância à divergência,
transformando uma pseudo-ciência como a parapsicologia em afirmação católica de
um padre jesuíta, mais do que de um pesquisador dos fenômenos paranormais.
Link recomendado : https://www.youtube.com/watch?v=6boC3a4GVzs (Padre Quevedo X Lúcifer -
Fantástico (2000))
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://seculodiario.com.br/public/jornal/artigo/gurus-e-curandeiros-parte-xiv