PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

SUFFRAGETTE CITY

Num passo apressado, passava Mônica, ela estava cada vez mais selvagem, e já tinha deixado um boy para trás, que pagava paixão para ela, mas Mônica, depois de usá-lo, agora só queria saber de ir à boate, tomar o seu Smirnoff Ice, mais nada. Ela conhecia um cafetão de nome Rubens, este também tinha um esquema de caça-níqueis em bares, e faturava cada vez mais.

Mônica tinha uma comadre, Angel, que vivia por aí, e também tinha um esquema foda, recebia dinheiro lavado de um político que ela conhecia, era o Reginaldo Borba, ela era amante deste filho da puta, que vivia apenas dois dias na capital, e depois favorecia, com um orçamento polpudo, a sua suja e decadente Suffragette City. Mônica conhecia Angel desde pequenininha, daquelas amizades de condomínio que não acabaram e foram até a vida adulta. 

No bairro underground de Santa Bárbara, o caos reinante era conhecido daquela patota liderada por um pitbull de rua de nome Otávio, e que tinha o apelido de Tormenta, e Rex era outro doente que não dava descanso nas noites em Santa Bárbara. Lá, tinha uma praça em que se concentrava estes fellas, que era a Praça Marte, e em outro bairro, de nome Nossa Senhora de Fátima, eles avançavam sobre uns comédias, que agora viviam assustados. E a mulherada, já nas redondezas, armavam ações políticas e pseudo-revolucionárias, tinha até uma aloprada de nome Flávia, que era meio que rival da Mônica, e na boate Mistério, aonde toda esta rapaziada e mulherada se cruzavam, algumas pendengas eram resolvidas e outras pioravam. 

A última do grupo de Flávia, uma espécie de malta iludida, era ter tentado destruir cartazes e outdoors do político Reginaldo Borba, que era deputado federal, e agora estava com o apoio do atual prefeito de Suffragette City, Adhemar Baptista, para sucedê-lo no poder, em seu partido fisiologista, o Independentes, que tinham frente a uma candidatura de esquerda, do vereador mais votado da cidade na eleição anterior, o Felipe Rodrigues, que pertencia ao Libertários, um partido pós-marxista e que caminhava para uma postura social-democrata. Borba sabia daquelas lambanças daquele grupelho pseudo-revolucionário, mas as considerava inofensivas, era só uma patota ridícula que fazia ações estrambóticas achando que iam transformar o mundo. Ele achava graça e logo pedia para reporem os cartazes de divulgação de sua imagem por toda Suffragette City. 

Mônica volta de sua night, ela tinha voltado radiante, já com o sol nascendo, em mais uma diversão de vodka na boate Mistério, desta vez tinha encontrado o Rex, que tinha virado um de seus amigos preferidos no bairro de Santa Bárbara, agora ele falava dela como um tipo de ídolo feminino, e o Tormenta também conhecia ela, agora pessoalmente, através de Rex, depois de ficar muito tempo sabendo da Mônica só de orelhada. 

Angel, naquela manhã, voaria com Reginaldo Borba para a capital. Lá, depois da atividade plenária de Borba, teria um jantar com vinhos e lagostas, chefiado pelo presidente e sua comitiva, para receber líderes populares, um deles, de nome Matheus Coelho, era um ativista que estava sendo manipulado por Borba, pois já tinha sido cooptado. Matheus Coelho era um remanescente da antiga esquerda, do antigo Partido Socialista, que agora era chamado de Frente Nova, mas que tinha diminuído de tamanho e de poder, este Matheus vivia na periferia de Suffragette City, e agora tinha virado massa de manobra de Borba, o presidente sabia, e queria armar tudo para a eleição de Borba, e este Matheus Coelho tinha virado uma peça importante, pois, comunitariamente, ainda era uma figura de proa, mesmo que superado politicamente pela nova esquerda dos Libertários. 

Angel volta para Suffragette City, na manhã seguinte ao regabofe armado por Borba e pelo presidente, tudo para fazer uma lavagem cerebral em Matheus Coelho, que agora sentia cheiro de grana no ar, e já tinha entregado todos os pontos para as ambições de Borba et caterva. Um advogado pedante, o Fábio Henrique, que trabalhava diretamente com Borba, serviu de isca para cooptar estes ativistas anacrônicos de Suffragette City, e parecia que estava tudo funcionando, queriam armar uma para o então expoente do Libertários, Felipe Rodrigues. 

Parecia que a afetação pedante do advogado Fábio Henrique contrastava com uma certa parcimônia gestual do agora candidato Felipe Rodrigues. O fato de Fábio Henrique se exibir com colocações de orelhada sobre temas diversos era um divertimento para Felipe Rodrigues, e um tipo de caricatura quando, depois de estar no plenário da Câmara dos Vereadores, este esquerdista Felipe encontrava alguns correligionários e a sua assessoria, e ao ver outra mesa de restaurante, estava lá uma patota engravatada liderada por este advogado de meia pataca.

Mônica conhece melhor Tormenta, de nome Otávio, e passa a chamá-lo pelo nome de batismo, se interessou por ele e parecia que era recíproco, o Rex observou e já tinha sacado aquela onda, mas fez de desentendido. Enquanto isso, Mônica já tinha bloqueado o número do boy novo que pagava paixão, ele sumiu do mapa depois disso, ela achava que o pai dele tinha mandado ele para os Estados Unidos, pois ele falava disso, ela só sabia que tinha entrado numa cilada e que o menino tinha virado uma mala depois do fora que ela deu. 

Mônica agora enchia a boca ao falar de Otávio, e os dois logo foram para uma outra boate, concorrente da Mistério, uma boate nova no bairro de Santa Bárbara, que era a boate Cassino, que tinha uma promoter amiga de Mônica, que conhecia um milhão de pessoas, principalmente no bairro de Santa Bárbara, a promoter se chamava Vicky, de Victoria, e esta também conhecia Angel, e também dava umas zoadas na malta ingênua de Flávia. 

O grupo woke pseudo-revolucionário era uma piada que circulava no bairro, enquanto Tormenta, Rex, e uma gangue de rapazes de Santa Bárbara, aprontavam sistematicamente com os comédias do bairro de Nossa Senhora de Fátima, tinha um deles que foi espancado depois de ter a sua bicicleta destroçada. Lá no bairro de Nossa Senhora de Fátima, teve uma geração anterior de gangue de rua que deu com os burros n`água, seu líder apelidado de Tupac tinha sido assassinado numa briga de bar, e depois disso os garotos que foram morar lá eram mais uns moleirões envergonhados que passaram a ser zoados pela patota do Tormenta, que já há alguns meses tocava o terror no bairro vizinho, para depois ele e sua galera voltarem à Santa Bárbara e fumarem maconha nas redondezas da Praça Marte ou na própria praça, quando dava. 

A conversa agora se dava ali o tempo todo e uma outra trama imensa se estendia, também, de outro lado, para além da picuinha de rua. Angel era o elo que ligava este mundo de loucos que vivia no sereno e um bas-fond político clássico da fisiologia mais entranhada no sistema. A bacanal que Reginaldo Borba armava não estava no gibi, e ele tinha cada vez mais poder e influência. A luta do esquerdista Felipe Rodrigues era contra um ser que estava sendo cevado e virando um Golias, e Suffragette City poderia sucumbir à farra que Borba já aprontava na capital se este viesse a se tornar prefeito da cidade. 

Borba já se organizava, com alguns de seus correligionários, para uma suruba com putas de luxo em uma casa de shows na capital, de nome Capricórnio, e lá ele bebeu uísque e fumou charuto e acabou trepando com uma loira viciada em cocaína de codinome Vera, depois ele ligou bem louco de metanfetamina para Angel, esta que já tinha sacado a onda toda e disse na lata que ele tava chapando num lupanar da capital, e ela nem ligava, pois era bancada por este crápula. 

Tudo era de uma loquacidade alucinada, depois ele entabulou uma conversa surreal com esta Vera, que virou um tipo de diálogo trincado entre uma cocainômana e um político deslumbrado com o poder que tinha tomado cristal pela quinta vez e estava eufórico. Os temas eram variados, mas acabou sendo dominado por um besteirol escatológico e cada vez mais non sense, se falava de tripas, de gozo e de dinheiro num mistifório quase demente. 

Angel, que estava indo para a praia com a tal promoter Vicky na manhã seguinte, vivia uma vida de rainha, tinha um apartamento alugado de frente para o mar, na Praia do Coqueiro, e frequentava o underground de Santa Bárbara, por sua vez, pois tinha crescido naquele bairro de classe média, e se divertia horrores, gostava cada vez mais de se chapar com Smirnoff Ice, e agora conversava superficialmente com Vicky, e nisso apareciam uns marombados que Vicky conhecia, e a mesa do quiosque em que elas estavam se enchia. 

Angel recebe um telefonema de Mônica, ela tinha ido, na noite anterior para um motel com Tormenta, que ela só chamava de Otávio, sem abreviar seu nome ou chamá-lo pelo apelido, e Angel percebe a paixão de Mônica, e logo diz que tinha acertado na mosca, e que o Rex também armou esta boa, tava dando tudo certo. Os marombas conheciam o Tormenta e o respeitavam, eles viviam naquelas redondezas da Praia do Coqueiro, e eram playboys que não tinham a mesma sagacidade daqueles loucos de Santa Bárbara, eram classes sociais ligeiramente diferentes, e mais uma vez o elo de ligação passava por Angel. 

Vicky era muito bonita, chamava a atenção dos marombas, mas estes já sabiam que ela era lésbica, e que andava de saliência com uma mulher macho de cabelo curto que morava na periferia de Sufraggette City, de nome Cláudia, e que era meio gordinha e ninguém entendia aquela opção de Vicky, até que depois de uma semana ela terminou com esta Cláudia, que ficou alucinada atrás da Vicky, e recuou depois de um telefonema de Tormenta ameaçando veladamente esta Cláudia caso não sumisse da reta da Vicky. Esta Cláudia, lógico, tomou um chá de sumiço, e para sempre. 

Neste ínterim, se organizava a convenção partidária de lançamento da candidatura de Reginaldo Borba em um comício, pelo Independentes, para prefeito, e com todo o apoio da máquina pública de Suffragette City, agora dominada por Adhemar Baptista, do mesmo partido, e seu gabinete de fisiologistas apaniguados. O grupelho pseudo-revolucionário de Flávia ficou sabendo deste comício, e elas resolveram armar um protesto. 

Borba ainda estava na capital, estava rolando uma CPI que estava investigando casos de corrupção no Ministério da Saúde, um escândalo que envolvia fornecedores, tráfico de influência, corrupção ativa, prevaricação e advocacia administrativa, tudo num conluio que Borba só escapara pela razão de seu esquema ser com rachadinhas em seu gabinete de deputado federal, coisa que ele já tinha feito na Assembleia Estadual e na Câmara de Vereadores de Suffragette City, em seus outros mandatos legislativos, como deputado estadual e como vereador, e agora posava de paladino da justiça, na relatoria desta CPI, o que lhe garantiria dividendos políticos para a sua campanha para prefeito de Suffragette City. 

Sua manipulação do regimento interno era para pegar alguns políticos desafetos que estavam envolvidos no escândalo político do Ministério da Saúde, como sendo o roto falando do rasgado, como um arauto da moral que nada mais era que a hipocrisia em estado bruto. 

A CPI caminhava para a sua conclusão, com oito deputados indiciados, mais o ex-ministro, e trinta e dois envolvidos entre fornecedores, atravessadores, e uma empresa de fachada que falsificava autorizações de exames, e comandava um esquema de licitações fajutas com o ex-ministro da Saúde.

O escândalo incluía OSs que tinham burlado as prestações de contas para os tribunais de contas e tesourarias responsáveis, com preços fictícios e superfaturados de remédios e equipamentos de fornecedores que davam propina para políticos liberarem licitações enviesadas e beneficiarem estes CNPJs com celebrações de contratos. Por sua vez, a propina era tragada por empresas offshore e contas no estrangeiro, que se situavam em bancos de Luxemburgo e Andorra.

Encerrada a CPI, Borba se licencia de seu mandato de deputado federal e vai para a convenção do lançamento oficial de sua candidatura à prefeito de Suffragette City, no palanque em que estariam presentes, além da patota de papagaios de pirata habituais, presenças ilustres como o atual prefeito Adhemar Baptista, um vereador do Independentes, que era presidente da Câmara dos Vereadores, de nome Dadinho Taxista, e figuras da cultura conservadora, além de sua esposa e um filho dele que era adolescente. 

Borba estava em ascensão e parecia que seu interesse de usar a coisa pública para interesses particulares atingira um nível maníaco que poderia virar uma bola de neve. O comício seria numa quadra coberta de um grande clube que ficava na Praia do Coqueiro. O clube tinha o nome de Clube Coimbra, do fundador Paulo Coimbra, que tinha sido um antigo empreendedor de Suffragette City, durante os anos 1930, até a sua morte em 1972. Este clube reunia diversão pública, atividades culturais, shows, eventos de arte, de entretenimento, um hotel, um cerimonial, além de piscinas, churrasqueiras e brinquedos para crianças. 

O comício foi marcado para começar às 20 horas de um sábado. O evento contava com vários correligionários do Independentes, havia um público que chegava com todos os tiques conservadores e slogans possíveis de um status social mantido pela hipocrisia a qualquer custo para ninguém ficar mal na foto etc. Palhaços involuntários apareciam com coreografias dantescas, e toda uma malta ignara se reunia aos magotes para ver o infame Borba no púlpito falando coisas de uma afetação hipócrita de homem público que só pensa em tirar vantagem de tudo, numa Lei de Gérson que tomou esteroides. 

Quando começa o comício, havia gente da oposição do lado de fora, com algumas bandeiras tremulando, entre símbolos do Libertários, e de um partido pequeno de esquerda chamado Luta Popular, de gabinete inexpressivo, com apenas dois vereadores em Suffragette City, que estavam também lá, junto com uns gatos pingados dizendo slogans operários de uma internacional socialista bolorenta que se perdeu no tempo. 

Além desse pessoal da oposição ao Independentes e ao prefeito Adhemar Baptista e seu possível sucessor, Reginaldo Borba, havia esta malta ingênua comandada por Flávia, que parecia a conjunção de um monte de adolescentes tardias com a afetação própria de uma inocência que ainda não tinha sido deflorada pela vida como ela é, como se fosse um conjunto patético de virgens existenciais, reféns, ainda, de um pensamento mágico. O grupo exaltado ainda não sabia das sutilezas de Borba e nem da vida, e de que como aquilo tudo, na entrada do comício, soava irrelevante frente a uma máquina pública zumbificada por estes bandidos de colarinho branco. 

O burburinho começou quando entrou um apresentador contratado especialmente para o comício, e depois entrou o prefeito Adhemar Baptista, que começou a falar de sua administração e do futuro brilhante de Suffragette City, deixando um suspense de quando apareceria o candidato, agora oficial, Reginaldo Borba. O burburinho então virou uma ovação quando entrou Borba, e junto com ele estavam a sua esposa e seu filho adolescente. 

Borba falou longamente sobre os caminhos da política para chegar até a ética, e num desfile de platitudes fez um verdadeiro número de prestidigitação verbal de uma oratória afetada e de uma retórica tão esboroada quanto um erístico se contorcendo qual um palhaço verboso, mas com um efeito danoso que vencia pela eloquência calculada. 

Um pouco depois, Borba desfilou uma arenga contra o Libertários, dizendo que existia uma conspiração de esquerda que, se tomasse o poder, todo mundo ficaria pobre, que eles não sabiam administração, economia etc, e que este tal de Felipe Rodrigues pertencia a uma esquerda caviar e festiva que gostava de babar o ovo de artistas cocainômanos, com convescotes ridículos em que se bebia e se comia canapés com curadores de barbichinha saídos de uma vernissage afetada. 

O público variava entre a ovação e os risos generalizados. A imagem de Felipe Rodrigues neste comício de Borba sofreu uma verdadeira malhação de Judas.  Um dos papagaios de pirata do comício, em certo momento, era o advogado Fábio Henrique, que ficava ao lado de outros dois correligionários de Borba, compondo a comitiva de papagaios de pirata de Borba, que nos próximos dias o acompanharia por onde ele fosse. 

Fábio Henrique estava com a sua pose de almofadinha, e parecia um liberaloide engravatado, um coxinha sem erudição, pedante e liberal de orelhada, patusco e repetitivo. Borba olhava de soslaio, e havia uma certa cumplicidade no ar, o advogado pseudo-intelectual sabia dos podres de Borba, e seu trabalho era arquivá-los e jogá-los no esquecimento. 

O longo discurso de Borba, que tinha boa habilidade retórica, consistia em destruir a imagem de Felipe Rodrigues, e do lado de fora do comício, na rua em frente ao Clube Coimbra, começou uma confusão entre seguranças e a trupe de esquerda do Luta Popular, com dois militantes de vermelho sendo algemados e indo para a delegacia do bairro da Praia do Coqueiro, e sendo liberados por fiança horas depois. 

O Libertários também fazia bastante barulho, com gritos de slogans contra Borba, que era chamado de corrupto e ladrão, e Adhemar Baptista chamado de vendilhão de Suffragette City, o que era uma referência à especulação imobiliária intensa durante seu mandato, incluindo diversas desapropriações e o assoreamento de um mangue. Felipe Rodrigues não se encontrava no local, estava em uma reunião com a sua assessoria, correligionários, coordenadores de campanha e cinco candidatos a vereador pelo Libertários, sendo uma das diversas reuniões antes de mais uma convenção para organizar o comício do Libertários, e que ficou marcado de ser no Clube Narinho, que ficava no bairro de Santa Bárbara, um clube de classe média com piscina, toboágua e auditório, tendo também um campo de futebol e quadras, e este campo de futebol seria o local em que seria erguido o palco em que se daria o comício de Felipe Rodrigues, com tapumes e forros cobrindo o gramado.

Uma turbamulta se juntava, por sua vez, na entrada do Clube Coimbra, e outra confusão começou, e que teve a intervenção da polícia militar, enquanto o grupo histérico de Flávia falava coisas sem sentido e era ridicularizado por alguns militantes do Libertários. Acabado o comício no Clube Coimbra, Borba, sua esposa e seu filho pegaram um carro com motorista que os esperava na garagem do clube, e saíram por um portão dos fundos, para despistar o caos que tinha se instalado do lado de fora, agora com discussões entre militantes do Independentes que saíam do clube e que cruzavam com militantes do Libertários. 

Borba chega em sua mansão, que ficava na Ilha do Penedo, onde só morava gente rica, e lá começou uma discussão com sua esposa, que sabia de suas amantes. Ele deu uma cadeirada nela e saiu com um Porsche até um motel de luxo na Praia do Coqueiro, onde Angel o esperava, pois os dois já tinham combinado esta estadia de uma noite lá, antes do comício. Lá, Borba tomou um cristal MD, pois estava começando a gostar daquilo, e Angel esticou três carreiras de cocaína, e depois a noite foi com sexo e uísque, e o quarto de luxo do motel ficou uma bagunça, com tudo revirado, pois os dois se viam deslumbrados com tudo o que acontecia, e Angel se sentia no auge de sua vida, com um canalha que a bancava. 

A esposa de Borba estava com a cabeça cortada, levou trinta pontos no couro cabeludo, teve que raspar parte dos cabelos para tomar os pontos, e mentiu para os médicos dizendo que tinha tido uma queda quando lavava o chão da sala de sua casa. O filho do casal estava revoltado, mas tinha medo do pai e dependia dele para tudo, tinha uma mesada gorda e ganharia um carro quando completasse dezoito anos. Tudo estava evidente para algumas pessoas do círculo de Borba e de sua esposa, mas nada ainda comprovado, as conversas de pé de ouvido eram justamente pelo fato de Borba ser um predador sexual e que estava ficando rico com verba pública, era o tipo de coisa que muita gente sabia, tinha certeza, mas não havia um flagra definitivo. 

Um fato estranho, que ninguém entendeu, foi o sumiço da esposa de Borba da campanha depois do comício do Clube Coimbra, e o filho também sumindo para não dar na vista que a família estava em crise, o que poderia melar a campanha até então bem sucedida de Reginaldo Borba para prefeito de Suffragette City. Angel, depois do motel com Borba, no dia seguinte, se encontra num quiosque da Praia do Coqueiro com Mônica e Vicky, e depois aparecem Rex e Tormenta.

Os dois chegaram tirando uma onda de que tinham quebrado dois maloqueiros do bairro de Nossa Senhora de Fátima na porrada na noite anterior, foi numa sinuca que ficava no final do bairro de Santa Bárbara, na entrada deste outro bairro. Eles pareciam cães de guarda que expulsam rivais de seu território. Tormenta então mostrou um guidão que tinha sido arrancado da bicicleta de um dos maloqueiros, um deles saiu com uma das orelhas caídas da cabeça depois de uma ripada, era um relato selvagem, mas comum para estes baderneiros de Santa Bárbara. 

Depois de conseguir abafar o caso familiar, Borba foi a um jantar organizado por Adhemar Baptista, onde também foi Dadinho Taxista, magistrados e empresários, o que foi chamado pelo Libertários, depois de fotos do convescote nas redes sociais, de “Festa do champanhe”, com um tom irônico para dizer que lá se encontraram os maiores ladrões de Suffragette City. 

O restaurante badalado ficava na Praia do Coqueiro, com pratos caríssimos e vinhos importados de safras com cifras exorbitantes. De outro lado, rolava uma fake news sobre Felipe Rodrigues, que dizia haver uma plantação de maconha em seu sítio no interior, e que viralizou e fez um estrago na sua campanha, pois o Libertários não conseguia deter a propagação da notícia falsa, e uma hashtag “#rodriguesmaconheiro” subiu e ficou reverberando por cinco dias seguidos. 

Era um contra-ataque mortal depois de ironias de jornalistas e do pessoal da esquerda sobre a tal “Festa do champanhe”. Para piorar, circularam fotos falsas da tal plantação de maconha que ficava no sítio de Felipe Rodrigues, e montagens dele fumando maconha com uma prostituta, e uma foto montagem em que ele aparecia com traficantes empunhando fuzis. O ataque foi baixo, e Borba ficou satisfeito com seu gabinete virtual, que era comandado pelo vereador Dadinho Taxista, e o filho mais velho deste, Ivan. 

Marília, que era casada com Felipe Rodrigues, por sua vez, deu uma entrevista em um jornal de grande circulação na cidade, e que também repercutiu na internet, desmentindo tudo sobre as notícias falsas, o que teve efeito relativo, pois direitistas inundavam as redes sociais o tempo todo com associações de Felipe Rodrigues com comunismo, maconha e tráfico de drogas. 

A equipe comandada por Ivan e Dadinho Taxista tinha bots que enchiam várias timelines de comentários de jornais, sites, etc, e as fotos falsas continuavam a fazer efeito, refletindo na queda gradual de potencial de votos de Felipe Rodrigues nas pesquisas eleitorais, que eram divulgadas periodicamente, e no crescimento exponencial da máquina eleitoral de Reginaldo Borba, que tinha apoio direto do atual prefeito Adhemar Baptista, que agora distribuía mimos pelos bairros pobres, com a promessa de que tudo aumentaria com a eleição de Reginaldo Borba, o que contribuiu para a disparada deste nas pesquisas eleitorais. 

Uma massa de manobra também se formava através da atuação de Matheus Coelho, da Frente Nova, que já tinha sido cooptado pelo Independentes, e pela máquina pública de Adhemar Baptista, que tinha nomeado cargos comissionados, a pedido de Coelho, e o mesmo esperava por um cargo, caso Borba fosse eleito. 

A Secretaria de Assistência Social, em combinação com o Cadastro Único e o CRAS (Centro de Referência da Assistência Social), atuava para operacionalizar o programa social chamado Vida Renovada, e este programa social começou a virar um pardieiro de fantasmas, com várias atividades, pastas, e cargos de confiança com funções específicas que eram pura fachada, pois ninguém fazia porra nenhuma, era uma gangue medíocre de gentinha que não aparecia para trabalhar. Se fosse elencar os nomes destas pessoas, era um conjunto anódino de típica gentinha de nota de rodapé do que fosse. 

De fato, a Frente Nova tinha virado um puxadinho dos interesses do Independentes, pois toda essa gentinha teria que chamar votos para a campanha em curso de Reginaldo Borba, que neste momento, tinha o abuso de poder econômico e da máquina pública em mãos, toda a burocracia montada em Suffragette City estava tomada pela conjugação entre Adhemar Baptista e Reginaldo Borba, e no caso do Frente Nova, a cooptação servia como meio de sobrevivência política, pois o dinheiro começou a entrar e Matheus Coelho também já começava a embolsar um tanto. 

Enquanto isso, voltando à Praia do Coqueiro, a tiração de onda não parava, Angel fez uma chamada de vídeo para Reginaldo Borba, e ficou mostrando para Mônica e Vicky. Quando encerrou a chamada, Rex tirou sarro dizendo que ela ia virar madame do prefeito, e ela disse que o casamento de merda dele tava desmoronando e que ia ser isso mesmo e que esta era a ideia. Tormenta também não poupou nada e disse que ia ter festa no palacete do prefeito para eles todos, que os boladão de Santa Bárbara iam invadir o capitólio etc. 

Foi aí que chegou um tal de Jhonny Boy, ele tinha trazido maconha e pó que o Tormenta tinha encomendado. Mônica, que já estava namorando Tormenta, perguntou o que era aquilo, e ele disse para ela que era o “mala” que tava montadaço numa mansão na Ilha do Penedo, que veio do Matutu, um bairro fudido da região metropolitana, e que tava embolsando com a “farmácia” já há uma cara. A conversa foi ficando cabulosa, pois Jhonny Boy sentou e pediu umas cervejas, no que ele ficou de papo com Tormenta e Rex, e dava umas olhadas para Vicky, que parecia estar correspondendo, e Jhonny Boy perguntou o que ela queria beber, e ela pediu um Bloody Mary, ele então, já anoitecendo, bateu papo de canto com Vicky, até que deu uns pegas nela, e depois os dois saíram no BMW dele até a mansão dele na Ilha do Penedo. Ela era lésbica, mas parecia querer viver uma aventura com Jhonny Boy depois da pala que ele tinha dado no quiosque. Mônica e Angel tentaram entender e falaram que ela tava buscando adrenalina, só podia, até ela ver outra bucetuda que nem ela e aquilo virar um ménage. 

Depois Rex viu o post da plantação de maconha do Felipe Rodrigues e brincou que votaria nele se já não soubesse da “invasão do capitólio”, que é como ele e Tormenta estavam chamando a eleição do Borba, e o passe livre que seria dado pela Angel. Contudo, eles não sabiam porra nenhuma de política, e nem Angel, mas a zueira tava armada para o palacete do futuro prefeito. 

Jhonny Boy chegou com Vicky em sua mansão, lá ele tinha um armário com uma estufa gigante de skank que Vicky ficou louca e enrolou um green para entrar no clima, tomando banho de piscina etc. Jhonny Boy disse que tinha virado o mala da Praia do Coqueiro, que todos os playba de lá iam na cola dele para comprar do preto e do branco, que a firma tava a milhão etc. Jhonny Boy disse que tava chegando duas malucas lá na Ilha do Penedo, para a mansão dele, uma era prima dele do Matutu e outra, também do Matutu, uma funkeira que tentava a sorte na carreira, MC Renata, que era amiga de infância dele e desta prima, gente fudida, da croca, e que ganhava, de vez em quando, uns agrados do Jhonny Boy, que sempre dava uns passeios de moto pelo Matutu, quando dava tempo. 

Lá, no Matutu, quem mandava era o Comando da Tropa, que era tudo conhecido de Jhonny Boy, pois ele era a ponte da organização com a playboyzada da Praia do Coqueiro. O que rolou, então, foi o pega entre MC Renata e Vicky, Jhonny Boy e sua prima ficavam rindo, a prima dele perguntou uma coisa, e ele riu falando que tinha comido Vicky, mas ela disse que era lésbica, e ele falou que ela tava fudida então, pois a funkeira que ia chegar na Ilha do Penedo também gostava de mulher, e deu no que deu, as duas foram para uma suíte e lá, depois de muita bagunça e sexo, caíram chapadas até a manhã seguinte. 

Vicky deu um boquete de manhã no Jhonny Boy, e foi isso, todos zarparam. Vicky para a Praia do Coqueiro, Jhonny Boy foi disparado de moto até o Matutu, pois ia pegar uma diretriz lá do Comando da Tropa, do chamado subchefe, pois o chefe mesmo estava preso, incomunicável, MC Renata bandeou para a região metropolitana de Suffragette City, pois tinha shows marcados, e a prima de Jhonny Boy, que vivia na aba, pegou uma mesada com seu primo e foi tirar uma onda no Matutu. 

Começou a ser comentado, dias depois, tanto o sumiço da esposa e do filho de Borba da campanha, como uma foto dele com uma mulher na saída do motel, tirada na manhã seguinte ao grande comício do Clube Coimbra. Contudo, o que poderia comprometer sua campanha, não teve efeito algum, pois crescia uma adoração dos eleitores em relação à imagem de Borba, que tinha feito um discurso contundente e direto naquela noite do Clube Coimbra, e praticamente tinha liquidado a fatura, agora com o caixa da prefeitura de Adhemar Baptista derramando benfeitorias nos bairros pobres de Suffragette City, e com montagens virais agora de Marília, mulher de Felipe Rodrigues, com um suposto amante. Na verdade, era ela abraçada com seu irmão, mas manipularam a foto, e o estrago tava feito de novo. Subiram a hashtag “#rodriguescorno”, que deu mais pano para a manga até do que a hashtag anterior, “#rodriguesmaconheiro”. 

O trabalho do gabinete virtual de Borba, liderado por Ivan, e com a supervisão de Dadinho Taxista, estava conseguindo destruir qualquer chance de reação da candidatura de Felipe Rodrigues, pois a tal “Festa do champanhe” e uma suposta amante de Borba estava deixando seus eleitores mais ensandecidos, num fenômeno novo em Suffragette City, em que se revelava um perfil de idiota que sentia orgulho em ser idiota, que tinham o direito de serem idiotas, o que se consumou na viralização de um influencer, de nome Vitinho Assunção, que virou o maior cabo eleitoral de Borba, já na reta final das eleições, um tipo de circo perfeito para falar abobrinha e dar click bait a cada cagada pela boca. 

O resultado era que parte dos que votariam em Borba já o chamavam de lenda, e idolatravam a “Festa do champanhe”, que tava ficando cult entre eles, enquanto a pecha de Felipe Rodrigues como corno e maconheiro era diversão pura e contínua de bots e militantes de Borba na internet. Memes dele como corno ou com um baseado apareceram aos magotes na reta final das eleições para prefeito de Suffragette City, enquanto circulou um meme de sua esposa Marília, de péssimo gosto, pois ela aparecia cercada por bombeiros e policiais, sugerindo uma suruba, no que Felipe Rodrigues e Marília abriram um inquérito na polícia de crimes virtuais para apurar o caso. 

A última esperança da candidatura avariada de Felipe Rodrigues seria o comício no Clube Narinho, no bairro de Santa Bárbara, e começou uma mobilização gigantesca, de toda a esquerda de Suffragette City, tirando o Frente Nova, que tava cooptado, mamando na teta do Vida Renovada, uma sinecura fantasmagórica da prefeitura de Adhemar Baptista, disfarçada de programa de assistência social. 

Tal mobilização da esquerda levantou as hashtags “#rodriguesnonarinho” e “#vamospracima”, e estava repercutindo o evento nas redes sociais, o que levou ao grupo estratégico e de tática, coordenadores de campanha e o gabinete virtual de Borba, a darem a resposta, que no mundo real, seria uma organização que cercaria as redondezas do Narinho para perturbar o evento de Felipe Rodrigues, e no mundo virtual, hashtags como “#reuniaodamaconha” e “#maconheirosnonarinho”, além de memes zoando o desespero de Felipe Rodrigues, e sugestões canalhas de que Marília teria pedido ajuda para os seus amantes para a campanha de Felipe Rodrigues. 

Nisso sai um vídeo novo do influencer Vitinho Assunção, falando verdadeiros absurdos sobre o que seria este comício no Clube Narinho, fazendo sugestões sobre maconha, suruba, satanismo, além de dizer que Felipe Rodrigues tinha contato com o Comando da Tropa, o que fez com que o candidato abrisse um processo civil indenizatório por difamação e calúnia contra o influencer, e o vídeo, depois de viralizar, foi derrubado pelo YouTube, pois infringiu regras, e o canal de Vitinho Assunção foi banido desta rede social, logo a seguir, e mais adiante o influencer teve suas contas virtuais bloqueadas por medida judicial, depois de uma rápida e conclusiva sindicância. 

Por sua vez, o inquérito civil sobre o meme criminoso envolvendo a imagem de Marília identificou um IP que ficava no bairro Sarol, que era um bairro de classe média baixa de Suffragette City. O IP era de um jovem de 20 anos de nome Cristóvão, mais conhecido como Cris do Sarol, e o fato do acusado ser hipossuficiente fez com que a pena indenizatória fosse comutada em dois anos de trabalho voluntário numa ONG que ajudava pessoas com Síndrome de Down. Contudo, não foi descoberta nenhuma ligação deste Cris com o suposto gabinete virtual de Ivan e Dadinho Taxista. 

No caso de Vitinho Assunção, o influencer tinha mobilizado seu corpo de advogados, de dois escritórios renomados, para trabalhar na sua defesa contra o processo civil de Felipe Rodrigues, que viu o processo ficar emperrado por diversos recursos do influencer, que prolongaram o desfecho do processo, até que, três anos depois das eleições, o influencer teve que pagar uma indenização por danos morais para Felipe Rodrigues de R$97 mil reais. 

Enquanto isso, Mônica já sabia que tinha seu boy lixo de estimação, pois seu parça cafetão Rubens já tinha dado a letra que no sábado anterior, um bando de pit boy de Santa Bárbara tinha ido lá no lupanar dele fazer o escarcéu, um lupanar conhecido, de luz vermelha, num bairro de centro de Suffragette City, a Vila Souza, e que tinha umas putas de perna grossa a preços médios, o lazer lá era a transa e depois se estendia no bar interno do lupanar com bebedeira. Mônica sabia que era a galera de Otávio, mas ela riu de tudo aquilo, ligou para Vicky e Angel, e foram as três para a boate Cassino beber Smirnoff Ice e brincar de dar toco nos playba da Praia do Coqueiro que iam lá tentar tirar onda de rico com a mulherada de classe média de Santa Bárbara. 

As boates Mistério e Cassino, concorrentes em Santa Bárbara, eram mais conhecidas e badaladas em Suffragette City do que as boates caras da Praia do Coqueiro, era a hora que a playboyzada de lá descia até Santa Bárbara para tentar pegar mulher falando de carro e dinheiro. Quanto aos pit boys de Santa Bárbara, eles até iam para a Mistério e a Cassino, mas ficavam flanando pelo bairro e fazendo incursões violentas no bairro de Nossa Senhora de Fátima, de classe média baixa, o rolê deles era mais as sinucas, os bares e a Praça Marte, só quando rolava um esquema 0800, é que eles inundavam a Cassino e a Mistério, com os playbas da Praia do Coqueiro ficando mais pianos quando rolava isso. 

Vicky, que era promoter, já começava a agitar um show da MC Renata na Praça Marte, pois, até então, a funkeira ficava dando show somente na região metropolitana, e Vicky abriu o canal para MC Renata fazer três shows em Suffragette City, um deles seria num palco montado na Praça Marte, um show gratuito. Angel pagava os ingressos e consumação de Vicky e Mônica na Cassino, era o dinheiro que caía na conta dela vindo de Borba, que estava ficando cada vez mais maníaco com malversação do erário público. Os três shows também serviriam para MC Renata tentar emplacar dois singles dela que já circulavam no streaming e que formavam o material de lançamento do seu debut, “rebola e vai”, que tinha músicas sexistas, nada ligada a uma onda melody que passou, era música para ir até o chão, de tamborzão clichê. 

E já se agitava a véspera do comício de Felipe Rodrigues no Clube Narinho, este cairia numa sexta de noite, ao passo que na noite seguinte, no sábado, estava marcado o show gratuito de MC Renata em Santa Bárbara, onde também ficava o Clube Narinho, este mais na ponta do bairro, e o show de funk ficando na Praça Marte, que era a veia principal do bairro todo. 

MC Renata, depois dos dois singles no streaming, agora era conhecida dos funkeiros de Suffragette City, ou seja, tinha deixado de ser uma funkeira iniciante, só conhecida na região metropolitana e consagrada no Matutu, seu bairro de origem. Ela tinha contratado duas dançarinas, uma dançarina trans e um dançarino gay, eles montaram uma coreografia nova e já tava tudo ensaiado para o tal show de MC Renata na Praça Marte. 

O grupelho patético de Flávia ficou sabendo do tal show de funk e ela e suas amigas já se assanharam para fazer um protesto contra a objetificação da mulher na Praça Marte naquela noite, parecia uma caricatura de woke sem noção do ridículo. Mônica chamava o grupo de “as virgenzinhas pulantes”, e rolava um chiste em Santa Bárbara sobre isso, pois eram meninas de um condomínio do bairro, com gente um pouco mais abastada do que a classe média que morava, em geral, no bairro, e a diversão era quando passava o grupo do Tormenta de moto na frente destas meninas e elas começavam a xingar e espernear contra os caras. 

Ele dizia que levaria elas para o lupanar do Rubens para Flávia e seu grupelho virarem putas, pois havia um tom pudico naquelas manifestações constantes, com excesso de politicamente correto, querendo ser palmatória do mundo etc. Tormenta zoava falando que Flávia precisava aprender “putanês” e outras groselhas, enquanto estas meninas criadas em condomínio, longe do burburinho da Praça Marte, ficavam atônitas, reagiam mal e viravam chacota. 

De fato, o grupo tinha virado uma caricatura woke de protesto político inócuo, e como era contra tudo e não propunha nada, elas já estavam a postos para ir até a porta do Clube Narinho para protestar também contra o candidato Felipe Rodrigues. Tinha muito anseio e pouco esforço prático, na verdade, neste grupo, pois se resumia a um ativismo patético e afetado. Mônica detestava aquilo tudo, pois tinha sido criada na rua, frequentando a Praça Marte, junto com os moleques que agora eram jovens tocando o terror como referência da rapaziada que tinha crescido em Santa Bárbara. Foi na sua adolescência que ela tinha conhecido Rex, e conheceu Tormenta há pouco tempo, pois ele tinha passado uma década morando com a família nos Estados Unidos, e voltou para Santa Bárbara naquele último ano. Ele falou que trabalhou lá de tudo, de faxineiro a garçom, mas agora tinha voltado a ser um cria do bairro de Santa Bárbara, tomando a frente no grupo que tinha Rex e uns outros crias que lideravam a disputa de porrada que tinha entre eles e os que eles chamavam de os comédias do bairro de Nossa Senhora de Fátima.  

A caricatura woke, por sua vez, se concretizou na tentativa inócua do grupo de Flávia de cancelar Borba, o que tinha virado piada entre alguns militantes de Borba, e tão irrelevante, que o gabinete virtual de Ivan e Dadinho Taxista nem se coçou para responder com meme ou seja lá o que for a tal “tentativa de cancelamento” feita por um grupo de meninas de condomínio completamente ingênuas. Dadinho Taxista chegou a dar um telefonema para Borba sobre o caso, e ele ria e terminava ali. O gabinete virtual de Borba estava muito ocupado, na verdade, com a destruição da reputação de Felipe Rodrigues, e estava conseguindo, pois a candidatura do oponente derretia. 

O caldo entornou, na verdade, quando Mônica teve uma ideia e pediu para Tormenta levar Rubens até Santa Bárbara para “apresentá-lo” para Flávia e as meninas, o que deu certo, pois Rubens foi irônico e Flávia tentou jogar água nele e em Tormenta, que ficavam dando olé nela no meio da Praça Marte numa tarde ensolarada. Mônica apareceu no canto da praça e ria muito. Flávia tentou alcançá-la, mas nisto Mônica montou numa moto com Rex e a moto saiu em disparada, em direção à Praia do Coqueiro, pois a rapaziada tinha marcado de passar o fim de tarde e a noite por lá, no quiosque de hábito. 

A noite na Praia do Coqueiro começou com cerveja no quiosque e depois um luau na areia em frente, onde a maconha rolou solta, e hits foram tocados como se não houvesse amanhã. Na semana seguinte, o bairro de Santa Bárbara teria o comício no Clube Narinho e o show da MC Renata na Praça Marte, e já se via lambe-lambes dos dois eventos pelo bairro, e o grupelho de Flávia arrancando e rasgando alguns na véspera. 

Flávia chegou a fazer lives e stories no Instagram com teorias mirabolantes sobre política e condenando a vinda de MC Renata para o bairro, que aquilo ia ser uma zona, que ia ter mulher sendo estuprada etc. Apareceram alguns haters nestas transmissões com hashtags enaltecendo Borba ou hashtags como “#bundinhanobaile” e “#funkdomeupau”, dentre outras barbaridades. 

Borba, durante o dia do comício de Felipe Rodrigues, iria descansar com Angel num apartamento que ele tinha alugado também na Praia do Coqueiro, uma cobertura de frente para o mar, maior do que o apartamento que ele alugava para Angel, também na orla da Praia do Coqueiro, e eram bens que ninguém sabia que ele tinha. O caso era que ele sabia que seu gabinete virtual estava à mil, e então ele deixou o pau quebrar e foi curtir uma praia. Sua esposa estava agora confinada na casa de sua mãe, sogra de Borba, e o caso foi abafado, o que seria provável era o pedido de divórcio consensual, pois Borba já queria se livrar daquilo tudo, mas segurou por causa de compromissos políticos, e para manter um status de pai de família, que parece que ele agora mandava às favas, uma vez que sua popularidade e poder estavam consolidados. 

Borba se encontrava agora em uma fase maníaca, em que queria ver ouro reluzindo por toda parte, isto é, roubar os cofres públicos numa sanha sem limites, mandando tudo às favas. E essa onda dele agora com cristal também parecia estar derretendo o seu cérebro, pois na vida particular ele era dono de um discurso escatológico e descaralhado, enquanto falava de ética política no seu discurso público. Enfim chega a sexta em que seria realizado o comício de Felipe Rodrigues no Clube Narinho no bairro de Santa Bárbara, e que tinha se tornado a última esperança de uma reação da campanha, pois Borba estava disparado na frente nas pesquisas, ganhando em primeiro turno com sessenta e dois porcento dos votos, na maioria das estimativas. 

O fato é que a campanha de Felipe Rodrigues não tinha se preparado contra as artimanhas do gabinete virtual de Borba, e Ivan, junto com seu pai, Dadinho Taxista, já davam como barbada aquelas eleições, pois agora era só continuar perturbando, “enchendo o saco”, no termo deles, sobretudo nesta noite na entrada do Clube Narinho. 

Quando chega a sexta de noite no Clube Narinho, lá dentro Felipe Rodrigues, acompanhado o tempo todo pela esposa Marília, tinha também o staff, alguns correligionários, um punhado de militantes que foram autorizados pela organização do comício de subirem o palco e a direção geral do Clube Narinho, ao passo que os dois sócios do clube, presidente e vice-presidente, respectivamente, estavam ausentes, pois estavam viajando sob demanda de outras empresas, ficando a cargo do diretor-geral e do diretor-executivo, mais a comissão mista que organizou o comício (que era composta pelos assessores de Felipe Rodrigues somados ao setor comercial do Clube Narinho), a administração do evento para que tudo desse certo. 

Uma hora antes de começar o comício de Felipe Rodrigues, já se concentrava dentro do clube seus apoiadores, eleitores e militantes, e do lado de fora um caldeirão em que se misturava a militância de Borba, do Independentes, parte da militância de Felipe Rodrigues, do Libertários, as rebeldes sem causa do grupelho de Flávia, que agora se autointitulava “Revolucionárias da City”, e tinha ainda uma esquerda mais radical, do Luta Popular, que estavam presentes no comício de Borba, e também estavam contra a candidatura de Felipe Rodrigues, pois afirmavam que ele não representava a esquerda original, marxista-leninista etc. 

O influencer banido das redes sociais, Vitinho Assunção, por sua vez, viralizou mais um vídeo atacando Felipe Rodrigues, que era um vídeo caseiro com fundo branco que circulava via Telegram entre os militantes de Borba e que fez muito barulho naquele dia e na semana subsequente. Dadinho Taxista estava com o contato direto entre o gabinete virtual e o influencer e tinham armado, então, esta no Telegram, onde o coro comia solto e nenhum vídeo era derrubado, e teve efeito imediato.Vitinho Assunção aparecia para a militância de Borba como o discípulo direto e ideal do candidato, pois falava tudo o que Borba e a militância queriam ouvir, e funcionava como uma câmara de eco para as aspirações de Borba et caterva. 

Uma pequena confusão começou em frente ao Clube Narinho, quando um drone passou por cima da militância do Libertários e jogou uma mistura com produtos que emanava um cheiro fortíssimo, como se fosse uma bomba de chorume, e o tumulto se deu entre esta militância e os militantes de Borba que atazanava a entrada do clube para atrapalhar o comício de Felipe Rodrigues. Houve luta corporal entre alguns militantes e foi jogada bomba de gás lacrimogêneo para dispersar, até que a presença da polícia conteve os ânimos e as provocações voltaram a ficar no verbo, com palavras de ordem, slogans e depreciações mútuas entre os militantes de ambos os lados. 

O tal movimento de Revolucionárias da City foi logo ridicularizado por alguns militantes de Borba, algumas do grupo saíram chorando, o bullying foi intenso e logo depois saiu o resto do grupo, de fininho, depois de tentativas frustradas de protesto woke contra Borba e Felipe Rodrigues, ao mesmo tempo. O Luta Popular, por sua vez, tinha um punhado pequeno de militantes, bem barulhentos e raivosos, e por vezes foram hostilizados tanto por militantes de Borba como de Felipe Rodrigues. Enfim, dentro do Clube Narinho começou o comício, com a entrada de Felipe Rodrigues, junto com sua esposa, Marília, contra toda a especulação de traições, o que era um amontoado de fake news feita para destruir reputações, e que tinha efeito para apoiadores de Borba e quetais, mas na militância a favor de Felipe Rodrigues o consenso era de que aquilo tudo era golpe abaixo da cintura feito pelo gabinete virtual de Borba, e a ovação sobre o casal dentro do clube foi instantânea.  Felipe Rodrigues chegou também a brincar no início dizendo ao público que “não era usuário, que gostava de beber taças de vinho etc”. Seu discurso foi forte, na maior parte se defendendo dos ataques feitos pela campanha de Borba, mas no terço final com uma discurso propositivo, inovador, contrastando com os métodos praticados pela atual prefeitura de Adhemar Baptista, e dizendo que Reginaldo Borba seria mais do mesmo, só que com um agravante, teria uma quadrilha formada para assaltar os cofres da prefeitura, e fazer a rapa junto com uma escumalha de apaniguados. 

No final, o discurso foi da parte propositiva para acusações sobre o tal gabinete virtual, em que ele deu o nome aos bois, isto é, citou Dadinho Taxista e seu filho Ivan, sem poupar também o influencer Vitinho Assunção, que estava sendo processado por ele. O burburinho do lado de fora, ao fim, foi afastado com gás de pimenta depois de uma confusão entre militantes do Independentes e do Libertários. A situação continuava difícil para Felipe Rodrigues, que se via às voltas com tentativas frustradas de desmistificar as fake news que circulavam sobre ele. 

No dia seguinte teria o show de funk na Praça Marte, no bairro de Santa Bárbara, e haveria algumas funkeiras, com o show principal da MC Renata. Chegou a noite, e logo um pessoal foi chegando na praça, dava para ver o pessoal do bairro, Tormenta, Rex, mais uns malucos maloqueiros, depois vieram os playba da Praia do Coqueiro, mais para a hora do show, que já tava cheio de cocota de Santa Bárbara, e também de outros bairros próximos, se via aparecer uns moleques do bairro de Nossa Senhora de Fátima, e no começo da primeira atração apareceram uns doido de croca, tudo montadão, com cara sinistra, que era uns trafica do Matutu, logo aparecendo Jhonny Boy, sua prima, e MC Renata. 

Havia os lóki do Matutu e mais uns de uma outra croca, também ocupada pelo Comando da Tropa, a croca de nome Gruta do Valinho, que o Comando da Tropa tinha invadido lá há uns seis meses, o subchefe estava no Matutu, Jhonny Boy era a ponte para a Praia do Coqueiro, e os doido que estavam na Praça Marte agora eram tudo do Comando da Tropa, que causaram uma impressão nos playba da Praia do Coqueiro, que ficaram piano naquela noite, e fazendo com que as Revolucionárias da City peidassem, pois não deram as caras por lá.. 

Quando começou o show de MC Renata, o povo todo se agitou, e no fim da terceira música, uma pequena confusão começou, e tinha uns seguranças com paus na mão, um moleque do bairro de Nossa Senhora de Fátima saiu ensanguentado, tinha sido pego com um baseado e levado paulada na cabeça de um segurança, nisso o show continuou como se nada estivesse acontecendo. 

O show foi ficando mais intenso, o pessoal conhecia alguns hits de MC Renata, agora a funkeira do Matutu já tava tocando na rádio Panamericana, um dial popular de Suffragette City, e que tinha um horário de funk que tocava uma hora por noite e duas horas na noite do domingo. Contudo, havia alguma névoa sinistra pairando o ar naquela noite na Praça Marte, o que se confirmou com um B.O. 

Do meio para o fim do show de MC Renata aconteceu que um molecote tinha sacado um canivete para roubar uma mina do bairro de Santa Bárbara, e aí juntou a galera do bairro para juntar o moleque de porrada, que acabou linchado com chutes e socos, que saiu desacordado, sendo carregado para fora do show, e logo depois ficaram sabendo que era um moleque do Matutu. Meia hora depois, um dos trafica do Comando da Tropa, do Matutu, deu três tiros na cabeça do Tormenta, que caiu e foi levado para o pronto-socorro, o trafica disse que tinha sido a galera de Santa Bárbara que tava se criando em cima dos moleque etc, e que o subchefe já tinha autorizado o cerol fininho se tudo não ficasse em ordem. 

Parece que aqueles tiros tinham dispersado a galera, mas ainda teve um moleque do bairro de Nossa Senhora de Fátima que apanhou dos cria de Santa Bárbara, pois foi acusado de tentar roubar uma bicicleta que tava com cadeado num poste perto da Praça Marte. O show de pauladas em maconheiro também corria solto, o couro tava comendo. Os seguranças davam pauladas e saíam caçando marofa por todos os lados que nem tubarão quando fareja sangue na água do mar. Geralmente, quem rodava era uns moleques novatos que aprenderam a apertar um baseado há três semanas, sem visão periférica. 

O show de MC Renata foi até o fim, com apenas duas interrupções em relação à confusão, na segunda vez com a funkeira puta falando mal dos seguranças, falando que eles só sabiam ser homem com um pau na mão, num meio trocadilho. Tormenta ficou internado dias, conseguiu sobreviver, mas na operação neurológica, foram retirados dois projéteis, um ficou alojado, pois não tinha como intervir com bisturi etc. Mônica acompanhou tudo de perto e deu graças a Deus que ele tava vivo e sem sequelas sabe-se lá como. 

A polêmica na Praça Marte foi grande e virou notícia de jornal, “funk termina em sangue e porrada”, “praça da guerra” e “bandidos estragam show na Praça Marte”. MC Renata, apesar do show polêmico, só ganhava mais visibilidade e lançou seu álbum completo. Dias depois Jhonny Boy foi preso num mandado de busca e apreensão na Ilha do Penedo. Sua mansão foi desbaratada, acharam maconha, cocaína e MD, o mala da Praia do Coqueiro tinha sido pego, ia pegar uma cana dura de cinco anos de reclusão, sem direito a relaxamento da pena. O Comando da Tropa ficou em silêncio, e as ligações de Jhonny Boy com a organização também não foram comprovadas na investigação, o mala também ficou de bico calado, pois se abrisse o jogo estaria jurado de morte pelo próprio comando, uma vez que X-9 não subia pro play, ao contrário, descia para o inferno. Rubens, dias depois, também roda na máfia de caça-níqueis e de corrupção de menores, pega uma cana dura de oito anos de reclusão, também sem direito a relaxamento da pena. 

Parecia que os playba da Praia do Coqueiro agora tavam numa seca, com prensado mijado e ruim da molecada que passava dolinha, tudo do bairro de Nossa Senhora de Fátima, pois o negócio de Jhonny Boy era bom, tinha prensado, solto, haxixe e skank, tudo bom pra caralho, e agora os playba tavam lidando com pé de chinelo vendendo mijadão com madeira e um solto mirrado para deixar qualquer um nostálgico por cabrobó.  

Passou mais uma semana e Reginaldo Borba foi eleito no primeiro turno para prefeito de Suffragette City com setenta e dois porcento dos votos válidos, uma lavada. Adhemar Baptista tinha organizado o comício da vitória, que dessa vez seria na pista da orla na Praia do Coqueiro, pois precisava ser algo maior do que tinha sido no Clube Coimbra, um mega-evento com show de cantores gospel, sertanejo, e na abertura teve show da MC Renata, que agora começava a bombar também entre a playboyzada do Praia do Coqueiro. Ela agora tinha comprado um apartamento por lá e tinha deixado seu casebre em que morava com a mãe e a irmã mais nova, que ficava no Matutu, e claro que as duas foram morar com ela por lá, num flat maneiro de três quartos e varanda.  

Primeiro teve o discurso da vitória, em que Borba tinha tomado um cristal, com o ego mais inflado do que um zepelim. Já se sabia da dissolução de seu casamento, e nesta noite ele anunciou que estava de casamento marcado com Angel, que apareceu ao lado dele, com a ex-mulher e seu filho desaparecidos da cena, e se criava um cenário cada vez mais estrambótico e alucinado, respingando ego e vaidade para todos os lados. 

Com o começo da gestão de Borba, o palácio da prefeitura tinha festas toda semana, e a tal invasão do capitólio foi confirmada, os cria de Santa Bárbara entravam lá na aba de Angel e os regabofes eram alucinados, com maconha, pó e cristal, e começaram a vazar rumores sobre o teor destas festas do prefeito. O fato é que Borba tinha feito um ajuste fiscal draconiano nas contas da prefeitura, com o intuito de sanear os cofres públicos, só que a roubalheira comia solta, e o esquema de Matheus Coelho, que já vinha da época da gestão de Adhemar Baptista, continuava e aumentava.

O problema foi que no fim do primeiro ano de prefeitura de Borba apareceu uma reportagem denunciando o esquema, o resultado foi o desmonte do Vida Renovada, com várias pessoas sendo presas, um pedido de CPI por parte da Câmara dos Vereadores, que tentava ser minada e engavetada pelo presidente da casa, o vereador Dadinho Taxista. Matheus Coelho também acabou sendo preso, e o Frente Nova virou um partido nanico de aluguel, e que não tinha mais função para Borba, que tirou o corpo fora e deixou o barco do Frente Nova afundar, tentando desligar o Independentes do que ele chamou de “escumalha que vivia na aba”. 

O Vida Renovada foi descontinuado e seus programas sociais foram suspensos. Os cortes de gastos continuavam, a prefeitura de Borba não parava de dar tesouradas numa verdadeira obsessão fiscal para criar uma gestão superavitária, o que foi possível no segundo ano de sua gestão, e que foi bem comemorada. A CPI encampada pelo Libertários não ganhou maioria para a sua aprovação e foi engavetada, e isso depois de manobras de regimento e de muita conversa por parte de Dadinho Taxista, que entrou em contato com vários vereadores que não eram do Libertários, além das assessorias, organizando infinitos jantares para costurar um colchão de segurança para derrubar a CPI, e funcionou. 

Contudo, rolavam novas denúncias, desta vez de uso de drogas dentro do palácio da prefeitura. E a ex-mulher de Borba, enfim, resolveu abrir o bico, e denunciou ele por violência doméstica, juntando provas para os autos, e logo a assessoria de Borba tenta fazer a operação abafa, mas o escândalo já tinha estourado na imprensa e a pressão pelo impeachment de Borba veio com uma força descomunal. Dadinho Taxista tenta, mais uma vez, manobrar o regimento, mas a popularidade de Borba derretia, só com o influencer Vitinho Assunção ainda posando de pupilo de Borba etc. Declarações de Felipe Rodrigues aparecem e ele diz que aquilo tudo que acontecia “não era por falta de aviso”, e de que “não precisava ser Pitonisa para saber no que essa esbórnia ia dar”.  

Por sua vez, Borba se entupia cada vez mais com MD, e parecia estar fora da realidade em relação ao próprio ego. Começa a acontecer defecções, parte do Independentes estava incomodada com a proporção que aquilo tomava, e muitos correligionários não estavam mais dispostos a defender a gestão de Borba, já pensando no vice, Carlinhos, que era uma figura leve e despachada, para substituí-lo, pois o processo de impeachment ficava cada vez mais robusto para ser aprovado pela Câmara dos Vereadores, com Dadinho Taxista, mesmo ainda presidente da casa, perdendo também seu poder e prestígio, e afundando junto com Borba. 

Em dois meses o processo é concluído, e o impeachment é aprovado por maioria absoluta, foi uma lavada, com três abstenções, um não, de Dadinho Taxista, e o resto de sim, a favor da queda de Borba, que entra em depressão. Meses depois, Angel pede o divórcio e uma pensão, e Borba volta a trabalhar com consultorias, deixando a política, e também passando por um tratamento nos Narcóticos Anônimos, no que ele tem que parar com aquela história toda de MD etc. 

Por fim,  os processos crime não se concluíram, pois ele não tinha praticado corrupção diretamente, segundo os autos e as investigações, todas inconclusivas, apesar dos rumores que eram um verdadeiro ruído. O tráfico de influência também não foi provado, nem sua ligação com o esquema do Vida Renovada, e todos os processos foram indeferidos e arquivados, inclusive o de violência doméstica, por manobras de seu advogado, o almofadinha Fábio Henrique. Dois anos depois, Felipe Rodrigues vence no segundo turno as eleições para prefeito de Suffragette City. 


Contos - pronto em 08/12/2022 


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.


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