PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 6 de junho de 2013

OVO

Ele era redondo, poderia ser frito ou cozido. Faz que a galinha tem um tanto de voz de círculo, bota ovos ovo na frigideira. Quando caminha faz barulhos estranhos, o ovo que sai de sua cloaca também é o monumento mais bizarro da natureza, mas se fosse uma esfera? Seria perfeita? Mas quando nasce do ovo um pintinho o ovo deixa de ser enigma e alquimia e vira um bicho amarelo e escroto que faz piu como um hino fofinho e irritante. Prefiro a galinha, ou melhor, este pintinho pode virar um frango assado de padaria com farofa enfiada no cú, e o ovo mexido, o omelete, tudo o mais é uma festa do ovo, tudo vem do ovo e tudo que diz ovo ou a galinha não entendeu que é o ovo que dá o sentido da cloaca, se o buraco é grande cabe um ovo, se o ovo cai no ninho, a natureza sabe o que faz, somos meros mamíferos comedores de ovo, bebíamos leite mas nos tornamos onívoros, e uma dúzia de ovos são fáceis de se espatifarem no chão e quebrarem fazendo uma meleca amarela pelo chão. Mas o barato mesmo é dar ovada em aniversariante, com farinha, talvez.
06/06/2013 Pequenos Trechos
(Gustavo Bastos)

FLUXO BOEMIO

Ela tem aquele ar estático, puro enigma de uma flor, ele tem o ar concentrado e nervoso, os amigos correm pela noite, eu bebo um refrigerante na esquina onde toca rock e blues, não sei onde estou quando ouvia Jazz. Ela se entende em tudo e me entende como se fosse muito fácil. Trocávamos carícias no mar e ventos no fogo, soprou na rua dos lamentos o ourives e uma goiva para praticar astúcias na prata e no violão. Eu tinha medo de dizer onde tudo fica em tudo mais que se vai. Anotei o telefone, desci rumo ao trabalho, ventava horror na paz da cidade. Na época se bebia muito vinho e se falava eternas besteiras, depois eu sumi, fui passear, olhar as árvores, meditei e nada fui até este dia de novo dia, felicidade de um carro na hora exata de se perder. Escutava Hendrix com o carro parado em frente a casa dela, ela tinha um namorado, eu matei este namorado com faca e bomba. Matei depois todas as outras com quem não tive nada. Bebi cerveja e joguei xadrez pelo dia inteiro, lá pelas três da madrugada escrevi uns poemas num papel que depois amassei e joguei fora, um doido achou o poema no lixo e lá dor rimava com amor, mas era o calor que ficou nas entranhas de um sonho louco, passei com notas brilhantes no curso de filosofia, fumei maconha pra caralho, bebi pra porra, a boêmia era azul e era preta, luz de dia no trabalho, uma mágoa crescendo em reevolta, reeenascendooo o ooodooor, faz tempo que a ruína mesmerizou seu ataque, eu nasci de um fardo, o rock me levou no bar, joguei sinuca com ares cocaína e vinho e tudo no sangue como se não tivesse nada que ver com todas as coisas que eu via.

06/06/2013 Pequenos Trechos
(Gustavo Bastos)

quarta-feira, 5 de junho de 2013

APOLOGIA DE ALBORGHETTI

O apresentador entra no estúdio, toca a vinheta de seu programa, Jornal do Crime, começa o programa:
Apresentador:
__ Boa noite, cambada! Estamos aqui em mais um Jornal do Crime, com as notícias sobre o Brasil, este país de merda que todos conhecem e já estão carecas de saber, com estes políticos roubando e esses marginais nas ruas matando todo mundo, que merda! Bota a notícia aí Valdomiro! Porra!

Narrador da notícia:
__ Um crime ocorreu ontem de madrugada na praia do valão, um estuprador matou a vítima indefesa e a jogou no mar, o meliante foi preso hoje pela manhã, trata-se de um menor de 17 anos que será levado para uma instituição de correção,  a vítima foi achada hoje, 5 da manhã, por um banhista, boiando na beira da areia.
Apresentador:
__ Tá vendo essa pouca vergonha? Mais um assassinato e esses bandidos de merda rindo da nossa cara! Quer dizer, o cara mata e depois sai rindo porque sabe que nesse nosso país reina a impunidade. É bandido matando e político roubando, é esta merda que a gente vive todo dia, nem bota a cara desse infeliz na tela porque ele é menor, puta que pariu hein? Vou te contar, vontade de botar um bandido desse no paredão e mandar fuzilar, e agora essa, mais essa! Que merda!
(Ouve-se uma voz nos estúdios)
Apresentador:
__ Cala a boca aí, porra! Não tá vendo que a coisa tá séria, seu burro! Burro! Burro! Vai à merda! O que eu faço com vocês? E essa porra dessa mesa tá com a perna bamba, não tem dinheiro pra porra nenhuma, caramba! Eu tenho fãs em todo o país mas não posso ter uma mesa decente, mas puta que pariu! E bota esse bando de bandido na vala, na praia do valão pra ficar boiando e não mais uma vítima da violência desses meliantes! Enquanto os políticos, em vez de resolver essas cagadas, fazem mais cagadas ainda! Todo mundo pelado e fazendo suruba em Brasília, que pouca vergonha! Nosso país nessa merda, essa cambada governando e nada sendo feito! Mas que puta que pariu! Chama a outra notícia aí Valdomiro, cacete! Porra!
Narrador da notícia:
__ No interior do Paraná fomos entrevistar um agricultor, sua casa não tinha nada, foi denunciado que a prefeitura desviou verbas do saneamento básico, sabe-se que o município aqui não tem água tratada, tudo que é lixo é jogado no valão, Seu Messias, o agricultor, diz que sua casa não tem banheiro, toda a família faz as necessidades num terreno baldio próximo, um fedor de merda toma conta do local.
Apresentador:
__ Mas que merda! Quer dizer que esse prefeito de merda tá roubando o dinheiro do esgoto e deixando a cidade feder à merda? Sr. Prefeito, toma vergonha nessa sua cara! Você tem que ir pra cadeia! Rouba o dinheiro todo e caga em tudo e deixa os outros cagarem no terreno baldio, mas que porra é essa? (Bate com o cassetete na mesa, bam! Bam! Bam! Bam!) Puta que pariu! Um prefeito ladrão fazendo todo mundo do município cagar no chão! Tá vendo como é esse país? Bandidagem solta por aí, matando e estuprando, e um monte de político safado que não tem mãe roubando dinheiro até de saneamento básico, mas o cara tem merda na cabeça mesmo! Que bando de filho da puta! (Ouve-se outra risada no estúdio) Cala a boca aí! Mandei tu calar a boca, palhaço! Seu palhaço! (Dá novas batidas com seu cassetete na mesa, bam! Bam! Bam! Bam! Bam!) Esta merda desta mesa está caindo aos pedaços, não tem dinheiro pra porra nenhuma, não sei como o nosso jornal ainda está de pé nesta bosta de estúdio, puta que pariu! E fica esse palhaço cheio de garapa aí rindo como se não tivesse nada com isso, mas é uma palhaçada mesmo, nós, brasileiros, somos todos palhaços e o circo tá lá em Brasília, com esse bando de safados de merda roubando todo mundo e tudo caindo, o país mergulhado na merda! Gente cagando no chão porque tem político roubando dinheiro até de esgoto, puta que merda! Chama a última notícia aí pra encerrar este cacete que já tô sem paciência!
Narrador da notícia:
__ Velhinha é presa no aeroporto com 500 comprimidos de ecstasy dentro da mala, ela disse que era inocente e que não sabia que tava levando a droga, está presa na 15ª DP aguardando julgamento.
Apresentador:
__ (Dá uma gargalhada longa até engasgar e tossir) Agora essa! O que essa velha tinha que fazer com essa caralhada de droga, enfiar no cú? Fazer dinheiro por aí? Puta que pariu! Agora a velhinha tá presa é? Que mundo mais doido! Agora tem até velhinha na bandidagem, claro! Ninguém iria saber que uma indefesa velhinha poderia fazer uma cagada dessas! Mas agora pode tudo! Esse país está perdido! Todo mundo vendendo droga adoidado, todo mundo louco, chapado, nessa terra de ninguém! Puta que pariu! Que merda! (Bate com o cassetete na mesa de novo, Bam! Bam! E grita merda três vezes enquanto dá mais cinco batidas na mesa e a mesa cai no chão) Que merda! Agora sim tá na hora de acabar esse programa e temos que comprar uma mesa nova, que palhaçada! Aqui no estúdio só tem palhaço, puta merda! Vão todos pro inferno cagar no mato! Esse nosso país tá perdido! Estupradores, políticos de merda, ladrões! E agora até velhinha trafica droga, e essa merda toda vai pra onde? Hein? Eu tô com o meu saco cheio! Tá na hora de todo mundo tomar vergonha na cara e prender toda essa cambada de merda! Boa noite e um beijo pra vocês. (Ele levanta e faz uma careta pra câmera, a mesa já virada no chão, e aí arremessa o cassetete pra longe, entra a vinheta de encerramento do programa)

05/06/2013 Paranoide
(Série de Sketches)
(Gustavo Bastos)



NOTAS DE GLÓRIA

Verte o fundo dossel a dor imorredoura,
no vento ao caudal do tempo, sorri.
Mestria no vinho do verso foge a estrela,
qual fuga estéril do fértil poema.

Nas águas ao teu sonho pueril,
faz da poetisa alma e sarça,
qual mel da boca exaurida,
mordendo a nuvem que some
nos segredos deste planeta.

Mistério da cor do holocausto,
morre o tempo na paz infausta!
Pelos dias que soam o grito de dor,
pelos vícios vertidos em rios azuis.

Doce o mar na virtude da liberdade,
prenhe a salgar toda a História.

Salta o verso qual ferrugem do crânio,
pensamento laborioso das catacumbas,
sorriso furioso dos astros sem fim.

A dor, peste da saudade,
pranteia seu ópio e seu limo,
na pedra o sabor do vazio,
no céu a glória do eterno.

05/06/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)

FEBRE E ILUSÃO

Pela clara ilusão que enerva a pena,
bate ao coração a mancha do poema.

De chofre aos gritos da desrazão,
fauno louco esparge seu sonho.

Chora a flor no mármore da escultura,
voz cálida da febre se embrenha na montanha.
As horas caladas caem da lua
com a sombra da praia enevoada,
qual silente vinho a flor fere o drama.

Vem o vento, cais da bruma,
soprar ao céu a veste da luta.
Com os ossos viciados da chuva
morre o poeta numa inundação,
chora a rosa com temor,
morre o frio na asa do calor.

Semente ao alvo frutifica o tronco,
da seiva bruta o leite do ventre,
da súcia e da bravata
a guerra fratricida.

Os versos saem aos montes
da nau enlouquecida,
como se vê no olho do riso
aos veraneios da ilusão.

05/06/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)

NEURASTENIA NA CALÇADA

   Venho observando, aqui em Copacabana, certos elementos da grande fauna do que posso chamar de personagens que eu pude identificar nas minhas andanças pelas calçadas do bairro, e acho que tais personagens estão presentes em qualquer bairro de metrópole. Mas, aqui em Copacabana, eles se tornam evidentes, chegou um dia e tive esse "insight", que é reflexo de muitas caminhadas por aí.
   Geralmente, posso andar apressado pelas calçadas de Copacabana, e eu, como um desbaratinado driblador, identifico, como se fosse numa corrida com barreiras, algumas figuras típicas das calçadas do bairro, que são, por sinal, seres universais da cidade grande.
   Estou a caminho do ponto de ônibus, para ir ao trabalho, e me deparo com o primeiro personagem, o zigue-zague. O zigue-zague é aquela pessoa, que quando você quer ultrapassá-la na calçada (e olha que as calçadas de Copacabana geralmente são largas), elas têm a incrível capacidade de fazer a façanha de pender para ambos os lados da calçada ao mesmo tempo. Ou seja, você vai à direita e o zigue-zague também, numa fração de segundos você vira para a esquerda, e o zigue-zague já está lá, fazendo uma diagonal para o mesmo lado, é um personagem difícil de aturar quando se está com pressa, acabamos indo para a beira da rua para deixá-lo para trás, e o zigue-zague parece que tem um radar que quando surge alguém tentando deixá-lo para trás, eles têm esse "surto de pêndulo".
   O segundo personagem é um coletivo, ou seja, o "fileirinha", ou seja, o grupo de pessoas que andam de mãos dadas fazendo uma horizontal fechando a passagem da calçada, em passos lentos, só para te irritar mais ainda. Os "fileirinha", geralmente, andam em grupos de 3, 4 ou mais pessoas. Os "fileirinha", além de andarem a passos lentos, não têm o desconfiômetro de que, com suas horizontais de mãos dadas, estão obstruindo as vias de circulação das calçadas, mais uma vez a saída é dar uma passada zangada pela beira da rua. Os "fileirinha" são a alma hippie das calçadas, fecham tudo num clima de paz e amor, todos de mãos dadas, como se não estivessem numa cidade grande, em que o tempo é a coisa mais importante.
   O terceiro personagem é o "ziquizira", e este pode ser uma designação minha, um tanto politicamente incorreta, pois se trata geralmente de pessoas já debilitadas ou envelhecidas, que andam a passos de tartaruga nas calçadas, verdadeiras múmias das calçadas. Os "ziquiziras" são parentes próximos dos zigue-zagues, e nem sempre são velhos ou debilitados, podendo ser incluídos nessa classe, também, os malas, lerdos, que andam devagar sabe-se lá porquê. Os "ziquiziras" são mais fáceis de ultrapassar, pois, apesar de lerdos, não fecham as calçadas como os "fileirinhas" e nem pendem para lá e para cá como os "zigue-zagues", podendo, com um raciocínio rápido, serem facilmente deixados para trás. Lembrando que todos nós poderemos ser um desses um dia, mas por pura limitação física, e não por inveterada "malice".
   Outro personagem, talvez o mais irritante de todos, é o "observador" ou o vulgo "poste". Este não está nem aí para a hora do Brasil, é um turista das calçadas, fica no meio da passagem olhando para o nada, ali, paradão, como se não houvesse amanhã, enquanto a roda viva passa por ele, e ele ali, no meio de tudo, pensando longe como uma lesma paralítica. Também são fáceis de serem ultrapassados, pois são inofensivos, e não fazem o estrago incalculável dos "fileirinhas". Mas são também dotados, tais como os "fileirinhas", de total ausência de desconfiômetro.
   Mais um personagem, sumamente irritante, é o "bracinho", ou seja, aquele personagem da calçada que gosta de andar com os braços para fora, nem sempre precisam estar com alguma bolsa, eles ocupam o espaço de outra pessoa na calçada só com um braço, são insuportáveis, às vezes tem que pedir licença, se você estiver numa calçada mais estreita. Também são fáceis de ultrapassar, se você pensar rápido.
   Outro fenômeno curioso e corriqueiro das calçadas é o famoso "chuta que eu chuto", ou seja, aquele momento em que você se depara com uma pessoa na tua frente e você e ele alternam para o mesmo lado pelo menos umas três ou quatro vezes até decidir no par ou ímpar quem vai pra um lado e quem vai pro outro pra sair do impasse e continuar o caminho. Esse fenômeno é bem interessante de como a "Lei de Murphy" funciona bem, quase nunca o "chuta que eu chuto" se resolve rápido, pois a tendência murphiana leva aos dois lados em oposição a tomarem as mesmas decisões simultaneamente provocando tal impasse.
   E o único indulto que faço, eu, o desbaratinado driblador, é com as criancinhas. Posso estar à mil, mas a minha visão periférica é eficiente, criancinhas são as únicas que eu perdoo nas minhas andanças pelas calçadas, o resto são dores de cabeça. Mas, nem sempre estou com pressa, só que, nos dias em que se anda rápido, por aqui em Copacabana, um dia, estava por aí, e uma mulher virou o braço e quase dá uma braçada na minha cara, eu esquivei, e não disse nada, mas deu vontade de xingar e tudo, mas sou um cara, hoje, mais civilizado. E por falar em civilidade, tem uns pedestres na esquina da Tonelero com a Siqueira Campos, ao lado do metrô, que são verdadeiros suicidas, eles passam entre os carros, com uma pressa que, eu, que ando rápido, não compreendo, tem uns ali que, me perdoem, mereciam morrer atropelados, aquela esquina é uma vergonha. Mesma esquina em que, um dia, vi um bêbado deitado na rua, onde passam os carros em velocidade, e ninguém tomava uma atitude, eu, passando ali, levantei ele à força e fiz ele deitar na calçada, isso é Copacabana! Um belo caldo cultural e antropológico.

05/06/2013 Crônica
(Gustavo Bastos)
   

terça-feira, 4 de junho de 2013

DA VIRTUDE ESPANTOSA

A pedra defronte ao desmaio
fecha a campanha sob o mar morto.
Espadas ricocheteiam na dor da voragem,
sede e espanto digladiam no vil das vespas.

Faça o sol descarrilar ao monte!
Com toda a flor de vinho e de diamante,
pranteia seu mar e esmeralda,
joga o sol sobre as vacas e o charco,
corre a violeta sob o vermelho do grito!

Qual pedra profunda no poço do sonho,
reverbera o sono na vinha delirante.
Contorce o corpo sob a lua do poema!

Vai ao lenho dos tempos de flor,
faz vento no sonho do torturador.

Adiante o caminho na garra do sal do instante,
qual fogo de mar na pátria do pranto,
qual água de ar ao cio da terra!
Verás o sonho regurgitar
suas adagas
no mármore
dos ossos
de uma virtude
de bravura,
a luta dos bravos conquistadores
da poesia e do continente
que serve aos uivos do mar.

04/06/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)

PENSAMENTOS

Me pergunte o tema
e eu digo a canção.
Corre o fantasma no ardor
que catapulta a ferida,
olhos mortos ressoam
na febre da máquina,
elenco das ideias soçobram
sobre a areia escaldante,
vejo os meninos no moinho,
volteiam ao vento
e fogem ao sol sedento.

Com a fome da rã sob a paz do pássaro
remonta a paixão a sorte do poema.

Flecha nas asas das mansardas.
Com todos os corações
como rios,
com todas as canções
nos mistérios,
com toda a chuva
sobre
a cabeça nua
do pensamento.

04/06/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)

LÍRIOS DA FÁBULA

Vem o lírio ao campo
verde húmus.

Qual liga de ferro
meu tempo.

Este sol aqui dentro.

Por lá bem de lá
vênus.
Solta o corpo ao vento.

Ali bem ali o sentimento.

Logo mais o sofrimento.

Alegre o sol mais que sol.

Faz lua
em terra
firme,
crepúsculo
de linho,
minha aurora
se foi
bem pra lá,
o sol quis
a muralha
da febre
das penas
terríveis.

04/06/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)

CLARÃO DE SOL

O sangue da videira
encorpa
o poema.

Salga a carne o tempero e o céu.

Perto de mim o coração nu.
Longe a astúcia,
longe a morte.

Sangue perto do outro sangue.
Forma-se o silêncio
qual
fogo
brando.

Perto de mim o sonho silencia.

Vai longe o poema da vastidão,
longe de mim
o verso
e seu canhão,
perto o sol
e seu clarão.

04/06/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)

CORPO FESTIVO

Do corpo esguio ao mar aberto
corta o vinho seu sal e sol.
Concentrado o pavio estoura
estrela nuclear.

Com o corpo sólido da matéria,
os ossos e a carne e o ventre.

Desata o sangue,
corre a água,
sacia a boca.

Do corpo plange o silêncio.
As monções saúdam
o passo torto
do poeta,
ferido
das sete
quedas
com
o sol
na boca
de dentro
do coração
de pedra
em sonho
de
festa.

04/06/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)