PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quarta-feira, 22 de julho de 2020

VERSO DA CHUVA

Abro este estro
e finda a estrofe
explanando sua coda
de vulcão,

brota da flor potente
meu diapasão,
é o ritmo e sua melodia
que faz timbre com
os ossos e os dedos,

brota da floresta o poema,
um dedilhado enquanto
cai a chuva,

um poema torrencial
de água, água pura
de uma chuva que
faz verso.

22/07/2020 Gustavo Bastos

LITERATURA DO DESATINO

Haverá o dia da verdadeira literatura, com os vincos da enorme paisagem que se abre, os cantos de malditos nas tabernas, eu vi desde Anacreonte e Safo aos libelos de Whitman, ao dias que lendo as suratas um ardor se ouvia do Anjo, ele assinava seu nome de anjo sobre a pedra de Roseta, traduzi meus versos infames para o aramaico para ver este Deus castanho de rio, este Deus verde de mar, este universo que pinta meu labor com as cores da Biblioteca que ergui com meus braços de aço.
Obra esta que tem um certo vínculo irrefreável que dialoga diretamente com Ginsberg e se publica com os laços de Ferlinghetti, sim, pois na verdade austera de T.S.Eliot, tocava no rádio Nirvana e dizia “I don`t have a gun” ou “teenage angst has paid off well” etc. Clicava no ícone das startups, tomava xarope syrup roxo e ficava doidão, já gostei de certos ares de maconha, hoje curto mais ficar na Heineken vendo anos 60, hora que vejo anos 60, ah, flower power e o hábito de chamar as outras pessoas de bicho ao invés de cara, ou, sei lá, chamar de psiu.
Lembrei, depois de beber um Pera Manca, que gosto de tocar violão apenas rock, ou ainda lembro que toco as escalas com afinco, mas volto e brinco de power chord, ah, bem divertido é saber tocar acordes, C/G/B, volto e faço deste poema um canto solar, vou à praia e bato tambores com todo o sol que tem pela frente. O sol, este Deus verdadeiro de Amón, Akhenaton quis nomeá-lo Aton, e vi que Rá era soberano num Templo de Karnak ou na selva dura em que as cataratas levavam a Anúbis perto dos etíopes e talvez no reino perdido da Líbia, caí em crateras, fiz mapa da lua e suas fases, elenquei os signos e abri as lâminas do Tarot de Marselha, vi o enforcado, o louco e a fortuna, ah, ri muito, sofria de gota e de esquizofrenia, li minha carta maior, o arcano me dizia o seguinte : não sei bicho, vai na tua.
Certo, certo, reli Michel Foucalt, vi a diferença entre o frenesi e a mania, e como a melancolia entrava numa amálgama geral em que tudo era classificado a esmo dentro das estultícias, ou melhor, asneira, opa, insensatez? Não, era a classe da nau dos insensatos que virou desatino, tudo era desatino e nada era desatino, até que virasse cultura médica e não hospital geral de higiene social, sim, eu passei pela cultura médica e pela cultura mediúnica, me senti mago e doente mental, claro, depois virei sábio da montanha e comediante que faz ponte com o outro mundo, este mundo imaginário dos personagens brutais que se fingem de loucos e acabam enlouquecendo.
Como este poema se abre como rosa, delicada rosa, certa bruma me possui, eu vejo entre o que já foi escrito, mais uma frente de ideias para realizar, jogo buraco, jogo pôquer, não sei muito, royal straight flush? Ah, mesmerizo mesmo no rock, tem agora um tal de streaming, discos que viram streaming, lançamentos de álbuns que viram streaming, tudo virando playlist, eu também faço, vou atrás e os poemas podem entrar na playlist, listo alguns poetas, pode ser Neal Cassady, Bob Dylan, Renato Russo, Cazuza, pode ser Ana C., pode ser eu mesmo, e faço coda com som de guitarra, Hey Joe, where you goin' with that gun in your hand? Ou : Evil man make me kill ya/Evil man make you kill me. E finalizo, meu poema vive, e vive bem.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.


Poema em Prosa – 22/07/2020


DESERTOS MÁGICOS

Peça ao arcanjo Miguel
sua lança contra
a sombra, o caduceu
sorri entre os verões
dos mares,

sei, de Netuno a face náutica,
eu vejo que do Saara
ao Deserto da Líbia,
ando na caravana
com os beduínos,
vejo o oásis
e penso no éden,

sim, por sua vez,
com o delta do Nilo
entrevejo a Biblioteca
de Alexandria e o reino
de Saís no final
quando Cartago
foi salgada e morta,

vi Moloque descer
às ruas, como um touro
bravo e cego que
bebia sangue
na hora que vi
este poema
virar uma bomba.

22/07/2020 Gustavo Bastos

PORVIR

Eu já sabia que teria
de minhas artes
um tempo hábil
de vida,

coroar o estro este é meu
emblema

veja :
anotar cada gesto entre
os hinos da fumaça,
pensar neste tear
furioso que encanta
a imaginação,

sim, tem um tempo de colheita
aos que plantaram, da raiz
à seiva e a copa densa,
seus frutos e suas flores,
e uma floresta vasta
e imensa pela frente.

22/07/2020 Gustavo Bastos

A PALAVRA

Preste atenção na palavra,
seu efeito e sua causa,
sua estrutura,
sua ossatura,
seu sentido,
sua ambiguidade,
seu engenho,
sua latitude,
sua longitude,

ouça esta palavra,
repita, torne-a
seu mantra, lhe
depreenda os
hemistíquios,
seu segredo,
seu oráculo,
sua obviedade,
suas letras,
sua composição,

olhe esta palavra,
não a deturpe,
não a subverta,
conduza esta
palavra a seu
lugar, mesmo
que esteja
em um
verso.

22/07/2020 Gustavo Bastos

POEMA DOS NOMES

Eu anotei um nome
entre a flor e a
espada

um nome que diz
a que veio
entre seu ar
e a poluição

nome próprio
que diz o que
veio fazer
fazendo

eu escrevi em notas
cada letra do nome
e anotei seus olhares
anotei seus gestos
anotei sua intenção

eu guardei meu nome
favorito dentro
da rosa vivente

22/07/2020 Gustavo Bastos

QUERERES POÉTICOS

I want my pistol
to kill the stone,
porra, eu dei uma
de doido na noite feliz,
putz! que cara de
tonto fiz na festa,
voltei com este
ar bêbado de agora,

I feel my stone
against the wall,
quebrei meus potes
de ouro e roubei
um tesouro de fortuna
roubada, era o
grito de um ladrão
a esmo,

sim, eu mesmo entrei
entre os luares do sonho,
fiz seresta e sarau,
e pintei o sete
pela funda diversão
de um poeta.

22/07/2020 Gustavo Bastos

FOLHAS DO ESTRO

Para correr com as folhas no
sereno da manhã, eu devo
ter pés velozes e a fábula
de um grão-vizir que se aninha
com o anjo mensageiro
que me diz :
"na surata, com seu hausto
de haxixe, veja este seu
roteiro e seu séquito
de discípulos, a cor rósea
da flor é teu pulso firme
que a leva".

Nota-se, na vida que o poema
vira estrela, se for no
abscôndito pomar das inteligências
celestes, a rimar dos anjos
a vinha com este vórtice,
um orbe dourado planando,
e o fruto do verso como estrela.

o anjo diz :
"na hora da estrela
este seu séquito fica
embriagado, a cor rósea
da flor é teu pulso firme
que a leva".

22/07/2020 Gustavo Bastos

MARES DE ORFEU

Sempre o mar que lhe traz
os peixes do banquete,
estende a rede sobre
os dias, a ver desta
viagem toda a
hora do marulho,

leve, solto, livre

o peixe que se dá
com o albatroz
sobre o sal,

eu, poeta, tenho da lírica
esta tensão do arco e da lira
a lembrar de Safo
e seu penhasco,

a fazer da balada a sátira,
e terminar como grande
estrofe em homenagem
de um Orfeu redivivo.

22/07/2020 Gustavo Bastos

ESTOICISMO IMAGÉTICO

Pelo ícone e pela fotografia
eu estudo a natureza
da imagem e do fotograma,

a luz vermelha e o fósforo,
a alquimia, o mercúrio
e o enxofre,

vi os sinos dobrarem
sobre os meus olhos
na missa ao
meio-dia,

quem cantava o cântico
era o barítono
com seu timbre
de tambor,

vi, por pórticos da Estoá,
a firmeza de meus
propósitos.

22/07/2020 Gustavo Bastos

POEMA BEM POSTO

Tenho observado, depois da
noite em que fervi na pira,
que meus utensílios,
meus talismãs
e meus poemas
estão finalmente
no lugar,

este lugar luminoso
longe de um esconderijo
opaco, longe do fingimento
translúcido ou da mentira
que se refugia na sombra,

sim, tem um porte de verdade
nesta luz toda que
o poema sentencia,

elenco de estratagemas,
este poema elástico,
dilatado,

tenho observado também
durante o dia a sua higidez,
um poema sem pompa,
sem badulaques,
apenas o anelo
e sua coda.

22/07/2020 Gustavo Bastos 

SEDUÇÕES DE VENENO

Eu abri a poção e o pote de veneno
e vi entre este ópio e o antídoto
o soro da verdade e o ofídio
que serpenteava no
chão de giz,

risquei um fósforo
com a vinda de cristo
num sacerdócio
noturno,
bebi vinho,

acendi o charuto cohiba
ainda com estes ares cubanos
de um hermanito de havana,
tocava rumba e calipso,
vi todas as noites
neste folguedo
de buen viaje,

cresci neste mistifório
de latino-américa
e seduções de veneno.

22/07/2020 Gustavo Bastos


TEAR FEBRIL

Derrete este gelo na mordaça
que corrói o fígado
nesta noite alcoólica,

ventre da noite que urge
em seus suicídios,
mente para a forca,
estrangula seu próprio
mistério,

que mais, na volta do mármore,
poderia edulcorar esta
estatuária de cadáveres?
Os ossos enlutados da máquina
e do tear febril,
a registrar este
meu ósculo final,
como um prêmio.

22/07/2020 Gustavo Bastos

MELODIA ASTUTA

Na sala de cinema
eu galopava com
Melancolia de Von Trier,
o orbe da sombra
se aproximava
e tocava heavy metal
em meu quarto,

eu entrei dentro de
meu cérebro que
latejava entre
as melodias
da noite,

vi Hendrix e Janis Joplin
assoprarem seus véus
sobre a minha densa cama
em um sonífero que me fez
levitar,

C/E/F#
eu repeti o mantra :
"and so castles made of sand"
repeti :
"flower power"
finalizei :
"foxy lady".

22/07/2020 Gustavo Bastos

O DELÍRIO

Vem ver que o barco se estende
além deste mar de balneário,
com asas dos albatrozes
pelo canto do sussurro
que traz a maresia,

vem deste astro com denodo,
a ver dos cantos e baladas
a flor do ópio,

gerando destes gerânios
o primor da máquina
e a astúcia que
fere de sete setas
o coração puro,

que se faça desta imagem
diante do sol que me eleva,
eu vejo as sombras do funeral
das estultícias, eu vejo
fervilhar nos olhos da noite
o candelabro do delírio.

22/07/2020 Gustavo Bastos

A NOITE DA CHUVA

Coloquei a ametista sobre
o alpendre diante
de meu pássaro,
com certos ares jovens
me pus ao verso juvenil,
um castelo se ergue
nesta nuvem branca,

destes lilases que surgem
na montanha, o poema
registra em sua caixa de
melodia o seu som próprio,

dentre os dentes que mordem
a estrofe, decapitei
um delírio sobre o monte
e o sacrifício se fez
como um canto de moloque
na noite funda
da chuva.

22/07/2020 Gustavo Bastos

FRANÇOIS VILLON

Quando do nascimento de François de Montcorbier ou François des Loges em 1431, em Paris, ele acaba perdendo o pai muito cedo e passa a ser educado por Guillaume de Villon, em Saint-Benôit-le-Bétourné, François passa uma infância boa, ia muito ao interior, passeava pelos campos, e com seus dois amigos, Mélenchon e Desmond, ele caçava coelhos com estilingues com pedras pontudas, começou a fumar cachimbo ainda aos dez anos, e realizava pequenos furtos de frutas na vizinhança da casa de campo de seu pai de criação, Guillaume, que logo viu a inteligência do garoto para as artes, e lhe matriculou, mais tarde, na Faculdade de Artes de Paris para que ele virasse um clérigo.
Ainda na adolescência, antes dessa sua transferência para Paris, François Villon já estava famoso como poeta jovem em sua cidade, e também era conhecido já por beber muito e fazer festas, quando não estava roubando algumas casas, no que costumava levar a prataria e objetos de valor com uma habilidade que já o colocava como um grande ladrão na região, sem o conhecimento de Guillaume que, pelas notas brilhantes do filho na escola, achava que estava tudo correndo bem.
No fim de seu ginásio, François Villon ganhou um concurso de poesia declamada em sua escola e fez uma festa do vinho em que seus eternos amigos Mélenchon e Desmond (que também faziam vários furtos pela cidade) beberam até cair, François se engraçou com uma dama mais velha de nome Lorraine, ele fez sexo com ela na mata, foi a sua primeira experiência sexual, e repetiu o ato várias vezes com esta dama por dois meses, até que se foi para Paris para estudar e virar clérigo como o pai Guillaume havia definido.
Mélenchon também havia sido escalado para a mesma escola de François em Paris, eles começam a estudar as chamadas Artes Liberais, e depois Mélenchon começa a pintar quadros, enquanto François Villon vai se aprofundar em latim e literatura latina, começa a estudar muito Virgílio e Horácio, traduz muitos poemas do latim para o francês, se aventura pelas ruas de Paris, e rouba dois bares e três casas junto com Mélenchon, eles juntam dinheiro e penhoram objetos roubados em troca de bebidas caras.
Em 1450 começam as crises econômicas que passam a prejudicar a Faculdade em que François Villon estudava e morava, entre os clérigos ele não era muito querido, pois o prior sabia que François, quando se juntava com seu amigo Mélenchon, os dois sempre voltavam das ruas com ouro e objetos preciosos, e o prior, de nome Langard, sabia que aqueles dois poderiam ser ladrões e estavam na escola para fazer baderna, o que intrigava o prior era que os dois estudavam e tiravam notas brilhantes, mas eram dois loucos e boêmios, e na cabeça do prior fervilhava a possibilidade de ele estar alojando em sua Faculdade dois ladrões.
Em uma semana de verão, nas férias da Faculdade de Artes, os jovens François Villon e Mélenchon roubaram a mansão de Madame de Stael, eles entraram de madrugada, e depois de terem feito amizade com um empregado da mansão, lhe prometeram uma parte do roubo, e este lhes informou de que havia um tesouro no sótão da mansão, aonde Madame de Stael guardava a sua fortuna, era uma fortuna milionária em libras, e François Villon ficou com dois terços, com Mélenchon dividindo com o tal empregado o outro terço, empregado este que pediu demissão da mansão e foi viver no campo gastando a sua parte do roubo, François comprou uma casa e alugou, pois não poderia deixar os aposentos da faculdade sem uma explicação plausível, em seguida ao roubo, ele, no entanto, foi junto com Mélenchon ao lupanar no centro de Paris, aonde ficaram alojados uma semana inteira fazendo orgias e bebendo vinhos caros.
Na semana seguinte Mélenchon se manda para a Itália, queria ir para Milão, enquanto François Villon vai com duas meretrizes para Amsterdã, passa uma semana e mais dois dias entre os lençóis de um hotel de luxo com muito vinho e maconha. François Villon segue pela cidade e depois vai para Utrecht, conhece uma holandesa e faz uma orgia com esta holandesa e as duas meretrizes francesas que estavam sendo bancadas por ele naquela viagem louca que ele pensava ser seu grande feito de poeta boêmio e que conseguia estudar em meio ao caos de sua existência. Mélenchon, de sua parte, ficou bebendo vinho sem parar em Milão e se perdeu numa madrugada pela cidade, só encontrando o hotel em que se hospedara depois de ficar doze horas seguidas zanzando desorientado.
François Villon, voltando de Utrecht para Amsterdã, pensou em dar um pulo em Bruxelas, tinha que ir de carruagem, andou muitos quilômetros, levou a holandesa e abandonou as duas meretrizes em Amsterdã sem avisá-las, não se sabe que fim tiveram estas duas meretrizes, elas nunca mais viriam a figura do poeta, ele andou um tanto com esta holandesa, que, no meio do caminho, ao François subir na carruagem para Bruxelas, a holandesa desistiu da viagem e disse que ele se divertiria em Bruxelas sem ela, e é o que faz François Villon, que fica cinco dias lá em Bruxelas e depois parte de volta para Paris para continuar seus estudos na Faculdade de Artes, sem antes deixar um rastro de caos numa mansão de uma tal Madame Tofu, com a qual ele teve um caso de dois dias, lhe deu um sonífero e roubou seu cofre com uma quantia considerável que ele gastou um décimo no dia seguinte com vinhos que ele levaria para beber no seu retorno à Faculdade de Artes.
De volta à Faculdade de Artes, François Villon, que havia comprado uma casa em segredo, sem o conhecimento do prior, guarda todo o tesouro de seus roubos nesta casa, lá ele coloca um primo seu mais novo para trabalhar para ele, depois de haver alugado esta casa por um ano para um inquilino meio louco e chato, pois François já havia combinado com Desmond, que logo também chegaria à Paris para estudar, que este teria que cuidar desta casa, enquanto seu primo seria uma espécie de secretário.
Somente o dinheiro que François havia roubado da mansão de Madame de Stael lhe renderia ao menos cinco anos de uma vida confortável e dissipada, François viveria seus próximos anos como bem queria e bem entendesse. Enquanto isso, Mélenchon volta corrido de Milão uma semana depois do retorno de François Villon, e lhe relata uma fuga espetacular da guarda da cidade, que havia flagrado um atentado ao pudor por parte dele com uma parisiense que ele conheceu em Milão depois de uma bebedeira no hotel em que estava hospedado, os dois foram pegos transando numa praça no meio da madrugada, e ele fugiu e a moça foi conduzida para o hotel como suposta vítima de Mélenchon, na verdade, a relação foi consentida, mas Mélenchon saiu correndo e despistou a guarda, alugou uma carruagem e foi direto para Paris, conseguiu sair da Itália o mais rápido que pode.
De volta à Faculdade de Artes, no fim de semana François Villon se reúne na sua casa com Mélenchon, Desmond e seu primo mais novo, de nome Danton, este ainda tinha quinze anos, mas levava uma maleta cheia de ópio e um punhado de mandrágora, François Villon, que era um bebedor de vinho, e que havia experimentado maconha em Amsterdã, prova com seu cachimbo uma quantidade considerável de ópio, e sente um gozo poético com a substância que lhe dá a certeza de ter conseguido o caminho certo para produzir sua poesia de modo genial e inaudito.
Danton havia conhecido a substância meses antes de ir à Paris com um senhor inglês que tinha um bar em que os jovens bebiam e fumavam, ele comprou a quantia deste inglês, que lhe indicou um bar em Paris, este que vendia ópio importado do Oriente Médio, Danton até havia ido lá para ver como era, e acabou conseguindo um punhado de mandrágora de um cara esquisito que dizia ser um dinamarquês que havia sido criado por uma prostituta em Amsterdã depois de ter sido abandonado pelos pais num orfanato.
François Villon então começou a fumar ópio para escrever seus poemas, e produziu seus primeiros escritos relevantes, e agora a Faculdade de Artes em que ele estudava enfrentava uma crise profunda, foi nessas semanas caóticas em que o prior reclamava de falta de dinheiro para a Faculdade que François Villon escreveu seus dois poemas que passaram a ter uma maior qualidade : Metafísica do Poema e Canção do Natimorto.
Chega 1452 e François Villon se torna mestre em artes, em meio a vários diplomados que viviam na miséria, enquanto Villon ainda desfrutava do dinheiro que havia roubado de Madame de Stael e Madame Tofu. Sua casa agora se encontrava também com frutos dos roubos de Desmond e de Mélenchon, e o primo de Villon, Danton, teria de ir estudar, a pedido do tio de Villon, numa guilda de um artesão no interior da França, mas Danton foge e leva parte do tesouro que Villon guardava numa câmara, sorte de Villon que esta fortuna era apenas um décimo do que ele havia amealhado, pois tinha um cofre secreto que nem mesmo Mélenchon ou Desmond sabiam da existência, e que era um modo de Villon garantir seu futuro de escritor e boêmio.
O rei Carlos VII resolve suspender os cursos da faculdade entre 1453 e 1454, e François Villon começa a ter problemas com a polícia, e em 1453 Villon fica preso por dois meses depois de um roubo na Mansão dos Avillon em Paris, em companhia de Mélenchon e um tal de Jean Luc Bourbon, este que tinha ficado um ano na faculdade de artes e acabou ficando próximo de Villon a partir de 1453, sendo convidado por Villon para participar do roubo. Villon, nesta época, ainda se dizia ligado à universidade, mas, mesmo habilitado, não seguiu carreira eclesiástica e nem secular, na poesia sua desta época “Le Lais”, ele se dizia ligado à universidade, não alegando seu desligamento da mesma.
Na prisão, François Villon pensa em retomar alguns poemas seriais sobre morte e ressurreição, escreve vinte cantos dentro da cela, ele divide o mesmo espaço com Mélenchon e o tal Bourbon, Desmond, que estava na casa comprada por Villon, se encarrega de organizar parte dos escritos de Villon que estavam na gaveta de um quarto no segundo andar, Villon consegue falar com Desmond pessoalmente em uma visita do amigo e fornece os cantos para Desmond anexar no tal compilado, Villon ainda não pensava em publicação, mas queria deixar este primeiro material de sua juventude já organizado, pois ele ainda pretendia criar mais material para que a obra tivesse vulto o suficiente para lhe colocar na posição de um dos grandes poetas da França.
Passam-se os dois meses e o trio é solto, Bourbon, que se via assustado com a prisão, deixa o crime depois de ter feito seu único roubo na vida, e François Villon faz troça dele, os dois brigam no meio de um jardim numa praça, Villon desfere dez socos seguidos na cara de Bourbon, que sai sangrando pela boca, sem antes levar um chute de Mélenchon que dizia que Jean Luc era um fraco e que deveria desaparecer da frente dele e de Villon. Jean Luc não consegue mais reagir, e Villon o manda, ao fim, desaparecer senão iria matá-lo. Jean Luc Bourbon fica com medo e sai de Paris.
Villon, Desmond e Mélenchon conhecem novos ladrões de Paris, ainda no fim de 1453, os dois grupos se juntam e formam uma quadrilha de ladrões de mansões, este novo grupo era formado por Colin de Cayeux, D. Nicolas, Petit Jean e Guy Tabarie, e Villon fica muito próximo deste último, que já havia amealhado um tesouro maior do que o do próprio François Villon e já tinha comprado duas casas, vivia com uma moça de nome Emmanuelle, e esta apresenta sua amiga  Catherine de Vaucelles para François Villon e os dois se apaixonam no mesmo dia e fazem sexo na casa de Villon, em meio ao tesouro que ele exibia para a sua nova amada, que gostava de loucos como Villon.
Guy Tabarie e François Villon saem pela noite na semana seguinte com Emmanuelle e Catherine de Vaucelles, os dois fazem desafios sobre bebidas, e Guy Tabarie volta de uma taberna com duas garrafas de vinho caro que afanara de lá, e saiu contando vantagens em relação a François, que recebe uma das garrafas de presente de Guy que disse para ele aproveitar aquilo com Catherine, a sua nova fiel admiradora, e que não se preocupasse com ele e Emmanuelle, pois os dois iriam dormir num hotel de um amigo, então François Villon leva Catherine para a beira do Rio Sena, e lá eles bebem e transam no sereno, Villon declama um poema louco que ele inventou na hora, mas que não anotaria para a posteridade, os dois amanhecem na grama na beira do Sena e voltam para a casa de Villon, lá encontram Desmond e Mélenchon se divertindo com dez meretrizes completamente bêbados e ensandecidos.
Chega 1454, François Villon completa 23 anos, ele ainda se dizia vinculado à universidade, mas agora vivia, na verdade, como um aventureiro, havia passado três meses no interior da França, ele e Catherine, ficaram numa casa alugada, ficaram vivendo uma rotina de banho de rio e beberagem de vinho, e François Villon consumiu muito ópio com Catherine nas noites ao fogo da lareira, o tesouro de Madame de Stael ainda rendia a Villon uma vida folgazã, em que ele se dividia entre a boêmia e seus estudos de artes, além de sua produção poética, que naquele momento se expandia.
Enquanto isso, Guy Tabarie, junto com Colin de Cayeux, e a ajuda de Mélenchon, levavam um tesouro de um mecenas que tinha sido amarrado por Desmond duas horas antes, depois que este seduziu o tal banqueiro homossexual para preparar uma cilada, Desmond, que era heterossexual, simulou interesse no velho mecenas, e levou-o a uma armadilha, o mecenas foi amarrado impiedosamente a uma árvore, enquanto ele gritava, Guy Tabarie e Colin de Cayeux saqueavam a casa do infeliz mecenas, e Mélenchon ameaçou matá-lo se ele não dissesse aonde estava o seu tesouro, não deu outra, o mecenas começou a chorar apavorado e Mélenchon logo foi buscar o tesouro e levar para a casa de François Villon, este que ainda se esbaldava com a fortuna de Madame de Stael junto com Catherine.
Em 1455, François Villon estava bebendo vinho numa taberna no centro de Paris e começa uma discussão com o padre Philippe Sermoise, eles começam uma briga e Villon pega sua adaga e fere mortalmente o padre com sete facadas no peito do mesmo, que morre cinco dias depois, tendo perdoado Villon no seu leito de morte, Villon então foge de Paris, e como Villon tinha o status de pertencer ao clero, consegue autorização para retornar à cidade em 1456.
Durante sua fuga, ele vai com Catherine de Vaucelles para Angers, aonde eles alugam uma casa pequena e ele recebe a visita eventual de Mélenchon e Guy Tabarie, que continuam os roubos da quadrilha em Paris, Desmond acaba sendo preso e condenado a três anos de prisão por tentativa de homicídio, tinha esfaqueado um letrado dentro de uma taberna, depois de uma discussão sobre política e monarquia, Desmond, que tinha bebido vinho além da conta, teve de ser contido por três guardas e levado para a prisão aos gritos, na verdade Desmond estava começando a enlouquecer e dentro da prisão dizia que conhecia toda a corte francesa e tinha tido contato com o rei, o que era fruto de sua febre delirante que lhe acometera e permaneceria com ele após a sua libertação, quando se torna um rebotalho isolado do mundo, voltando a morar com sua família no interior da França.
François Villon então retorna a Paris em 1456, e neste mesmo ano, na noite de Natal, participa do roubo do tesouro do Colégio de Navarra, em companhia de Colin de Cayeux, D. Nicolas, Petit Jean e Guy Tabarie. Este último dá com a língua nos dentes e Villon novamente se ausenta de Paris, levando vida errante na província. Vai com Catherine de Vaucelles para Bourg-la-Reine, lá eles ficam um mês, o dinheiro do roubo de Madame de Stael estava ficando escasso, e Catherine disse que conhecia uma tal de Madame Margareth, viúva, que vivia em Angers, e que gostava de homens mais novos.
Catherine de Vaucelles disse a François Villon que o golpe do sonífero que ele dera em Madame Tofu na Holanda poderia se repetir, e que o tesouro de Madame Margareth era o dobro de tudo que Villon já gastara da fortuna de Madame Tofu e Madame de Stael juntos, pois a mãe de Catherine de Vaucelles conhecia a tal Madame Margareth e disse à filha que era uma madame arrogante, só dócil com homens mais novos, isto desde que ainda era casada com o Monsieur Montpartis que, uns diziam, tinha sido envenenado por um destes mancebos que Madame Margareth levava para a sua mansão, para dar um golpe e Margareth se esbaldar agora livre com seus infantes.
Enquanto Catherine de Vaucelles fica em Bourg-la-Reine por mais uma semana, François Villon se manda para Angers e vai à casa de Madame Margareth com uma carta de recomendações da realeza, evidentemente falsa, se dizendo ser o cavaleiro Pierre Bourguignon, a mando de Vossa Majestade para uma palestra sobre Latim e Literatura Latina e que oferecia seus serviços humildemente para Madame Margareth que, vendo o porte relativamente atlético de François Villon, arregala seus olhos de apetite por mancebos ou homens mais novos e logo cai na conversa de Villon.
François Villon adentra a mansão de Madame Margareth, fica lá por uma semana fazendo sexo com ela e finalmente, no almoço de domingo, depois de já ter sondado a mansão inteira por uma semana, já descobrira aonde ficava o tesouro de Madame Margareth, já sabia de seu molho de chaves e o testaria para destrancar o cofre, coloca um sonífero no suco de Madame Margareth e efetua o roubo durante duas horas enquanto Madame Margareth dormia no sofá da imensa sala, François Villon pega uma carruagem com dois cavalos, coloca o tesouro de Madame Margareth dentro da carruagem e se manda de volta para Bourg-la-Reine para reencontrar Catherine de Vaucelles e chega contando vantagens para ela, que abre o tesouro e fica fascinada.
François Villon então entra em contato com funcionários da realeza e pede permissão a um pretor para que seja escolhido como um dos poetas para frequentar a corte de Carlos, Duque d`Orleans, e ele vai, em companhia de sua inseparável Catherine de Vaucelles, se apresentar à corte, em Blois, em dezembro de 1457, Carlos que era considerado um príncipe-poeta, e que seria pai de Luís XII da França. Carlos registra então seus poemas e de sua corte, e como François Villon virou um dos poetas que agora faziam parte da corte, tem três poemas registrados nestes manuscritos de Carlos, poemas que François Villon escrevera na própria corte, dentre atividades de declamação e aulas que ele passou a dar sobre poesia latina, como Horácio e Virgílio que ele estudara na Faculdade de Artes.
Dos poemas de François Villon na corte temos a Ballade des contradictions e a Ballade franco-latine, uma sátira de Fredet, o favorito de Carlos. Contudo, isso faz com que ele seja acusado de mentiroso e expulso da corte de Blois. Em seguida, em outubro e novembro de 1458, François Villon faz com que sejam entregues, a Carlos, a Ballade des proverbes e a Ballade des Menus Propos, mas não é recebido de volta à corte.
François Villon então volta para Angers com Catherine de Vaucelles e lá encontra Madame Margareth numa noite completamente bêbada, ela reconhece Villon e começa a chamá-lo de ladrão, Villon chama um médico que ele conhecia perto do centro de Angers e diz que havia uma senhora louca na rua que estava o perseguindo, Madame Margareth acaba indo para um hospital, tenta bater em Villon, que começa a dizer que não a conhecia e que ela estava louca, Madame Margareth acaba sendo convencida por Villon de que estava de fato delirando e volta para a sua mansão para ser tratada por dois mancebos que agora ela alojava em sua mansão.
François Villon se sente aliviado e vai beber vinho numa taberna do centro de Angers na noite seguinte com Catherine de Vaucelles e no dia seguinte eles partem novamente para Bourg-la-Reine para gastar mais um pouco do tesouro que Villon havia roubado de Madame Margareth. Eles ficam num hotel de luxo e ficam bebendo vinho e fumando ópio durante um mês inteiro.
Villon retoma contato com Mélenchon, que vai visitá-lo em Bourg-la-Reine após esta diversão de Villon com Catherine de Vaucelles, eles planejam mais um roubo, desta vez no Colégio Saint-Etienne, que ficava na periferia de Angers, Mélenchon informa a Villon que Desmond havia enlouquecido e estava sendo cuidado pela família no interior da França, Guy Tabarie, que havia virado desafeto de Villon depois que o havia delatado no roubo do Colégio de Navarra, estava preso por roubo de relíquias de uma Igreja Católica em Paris, pegou uma condenação de cinco anos, o que deixou Villon feliz.
Então Mélenchon e François Villon partem para o Colégio Saint-Etienne, enquanto Catherine de Vaucelles os esperava na carruagem com dois cavalos para partirem depois que eles pegassem o tesouro de lá, numa busca de duas horas, numa noite chuvosa, eles aparecem com o tesouro, disseram que tiveram que amarrar um padre que tinha acordado no meio da noite e que os flagrara, o padre estava amarrado na cozinha junto com verduras e frutas, tinha sido amordaçado para não gritar, e eles partiram na carruagem junto com Catherine de Vaucelles na direção de volta para Bourg-la-Reine.
Na semana seguinte, eles comemoram o roubo bebendo vinho na taberna do centro de Bourg-la-Reine, em que Mélenchon conheceu Victoria Salatierre, que até então era apenas uma conhecida de Catherine de Vaucelles, e os dois começam a ter um caso. Mélenchon e Victoria Salatierre partem então para Paris, e Villon e Catherine decidem ficar em Bourg-la-Reine, pois Paris ainda representava um perigo para a integridade física de François Villon.
Chega 1460, François Villon ainda planejava retornar à Paris, Mélenchon estava se envolvendo em muitas confusões, estava sem limites, se juntou a uma nova quadrilha de ladrões e faria um novo roubo ao Colégio de Navarra e também à Igreja Católica, pois queria parte do tesouro da Santa Sé para passar uma temporada na Itália com Victoria Salatierre, mas seus planos começam a dar errado.
No roubo do Colégio de Navarra, Mélenchon acaba sendo delatado por um dos ladrões que tinha sido preso, ele tenta fugir de Paris em direção à Itália, mas é capturado por um guarda, ele é preso, depois de um mês ganha um perdão da pena para fazer trabalhos forçados numa fazenda no interior da França, lá ele briga com um camponês, este acaba matando Mélenchon com foice, decapitando-o.
François Villon, enquanto isso, volta para Blois, tenta novo ingresso na corte real, mas é recusado e chamado de bandido, e por um amigo em comum com Mélenchon, fica sabendo da morte de seu amigo de infância e pensa em se vingar do tal camponês, de nome Baltasar, um tipo de líder comunitário que detestava ladrões.
François Villon se envolve com um roubo mal sucedido em Blois já no verão de 1461 e acaba sendo preso em Meung-sur-Loire, lá ele escreve o Épître à ses amis e o Débat du cuer et du corps de Villon, acaba sendo libertado alguns meses mais tarde durante uma visita de Luís XII em companhia de Carlos d’Orleans à cidade, mas perde seu status clerical, compõe, então, a Ballade contre les ennemis de la France com o interesse de chamar a atenção do rei sobre este fato, assim como Requeste au prince, a Carlos d'Orleans, mas é rejeitado novamente pela corte e retorna à Paris.
Escreve a Ballade du bon conseil neste retorno a Paris, tentando posar como um delinquente regenerado, e depois escreve a Ballade de Fortune, que exprime sua decepção com o universo parisiense dos letrados, que o rejeita. É nesse período de andanças por Paris que ele escreve a sua obra-prima Le testament, depois de várias baladas, num novo auge criativo.
François Villon é preso novamente em 2 de novembro de 1462 por um roubo insignificante e processado pelo caso anterior do roubo do Colégio de Navarra, obtém a liberdade sob condição de reembolsar a sua parte no roubo, 120 libras, uma quantia considerável, mas sua liberdade tem curta duração, no fim do mesmo mês, Villon se envolve em uma briga na qual um notário da igreja que participara do interrogatório de Guy Tabarie é ferido. Ao que parece, seu amigo Robin Dogis teria provocado os homens do clero, enquanto Villon tentava separar a briga. Villon é preso no dia seguinte.
Na prisão, François Villon passa pela tortura da água e acaba sendo condenado à forca. No aguardo da consumação de sua condenação, com a morte por perto, apresenta uma apelação da sentença, e ainda num estado de incerteza, escreve o Quatrain e a Ballade des pendus (Balada dos enforcados). François Villon tem a pena reduzida a banimento de Paris por dez anos, em 5 de janeiro de 1463, e acaba escapando de uma condenação à forca, e escreve a balada jocosa Question au clerc du guichet e o grandiloquente poema Louange à la cour.
François Villon, com a pena de banimento de Paris, sai da prisão e se manda de volta para Bourg-la-Reine e reencontra Catherine de Vaucelles depois de muitos meses sem se encontrar com ela, devido a suas prisões e o perigo de poder ter sido enforcado. Em Bourg-la-Reine, Catherine de Vaucelles tinha tomado conta do tesouro roubado de Madame Margareth, François Villon se sente com sorte, pois estava vivo, não tinha sido estrangulado na forca, e tinha ainda o fruto deste roubo intacto, pois isto não tinha vindo ao conhecimento da justiça, e ele costumava contar vantagens e fazer troça da tal Madame fissurada por infantes.
Numa taberna, ele começa a fazer apostas de carteado, acaba arrumando uma altercação com um morador de Bourg-la-Reine, depois de perder uma aposta, e propõe um duelo de espadas com o mesmo, dez dias depois, François Villon faz o tal duelo e mata este morador com uma espadada no peito do mesmo, alguns locais ficam revoltados, e François Villon e Catherine de Vaucelles então saem às pressas com uma carruagem na direção de Angers.
Já em Angers, François Villon efetua uma compra de uma casa na cidade, um dos filhos de Madame de Stael descobre a negociação, pois estava há anos atrás de François Villon, e o poeta, depois de comprar esta casa, vai ao interior da França para matar Baltasar, o tal camponês que tinha decapitado seu amigo Mélenchon, ele vai à casa do tal Baltasar, começa uma confusão, François Villon não alcança seu objetivo, muito pelo contrário, ele sai correndo de um grupo comandado por Baltasar, que queriam linchar François Villon, que sai como um rato covarde numa carruagem de volta para Angers.
Uma semana depois, bebendo vinho num taberna do centro de Angers, ele jogava carteado e fazia apostas, a investigação do filho de Madame de Stael dera resultado, ele vai à taberna ver François Villon, estava com uma adaga escondida em sua roupa, começa a conversar com o poeta, que não sabia quem era aquele homem que adentrara na taberna, depois de ter feito novas apostas de carteado, François Villon sai da taberna e começa andar pelas ruas indo de volta para a sua casa para encontrar Catherine de Vaucelles, depois de ele andar uns 50 metros longe da taberna, é apunhalado pelas costas e morre estatelado no meio da madrugada numa rua do centro de Angers.

Contos Psicodélicos – Volume II (conto pronto em 22/07/2020)

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.



  





O GABINETE DO ÓDIO

“A ação do Facebook desarticulou um grupo que envolve assessores e funcionários de gabinetes políticos”

Na quarta-feira dia 08 de julho o Facebook publicou nota dizendo que desbaratou o esquema que no Brasil ficou conhecido como “gabinete do ódio”. Tal medida do Facebook derrubou perfis, páginas, grupos e contas da rede social e do Instagram. O gabinete do ódio que ficou conhecido primeiro por uma matéria do Estado de São Paulo em 2019.
Em seguida, em março de 2019, começou o inquérito das Fake News no STF, que também envolvia a investigação sobre este tal gabinete do ódio, tivemos processos abertos no TSE, envolvendo a cassação da chapa Jair Bolsonaro-Hamilton Mourão, com suspeitas de disparos de fake news no WhatsApp detratando adversários políticos de Jair Bolsonaro durante as eleições para presidente no fim de 2018.
Em julho de 2019 foi instaurada a CPMI das Fake News no Senado, sob a presidência do Senador Angelo Coronel (PSD-BA), e esta também passa a investigar a existência do gabinete do ódio, organização esta que acabou sendo denunciada por recentes dissidentes do governo Bolsonaro, como Alexandre Frota, atualmente no PSDB.
Joice Hasselmann (PSL-SP), ex-líder do governo no Congresso, por sua vez, prestou depoimento em dezembro de 2019, dizendo que existia um gabinete do ódio em que atuavam três assessores da Presidência da República, estes alojados no terceiro andar do Palácio do Planalto, mesmo andar em que despacha o próprio presidente da República, tal atuação destes assessores seria coordenada, por fim, por Carlos Bolsonaro, vereador pelo Rio de Janeiro e filho de Jair Bolsonaro.
Este gabinete do ódio teria a atuação de Tercio Arnaud Tomaz, atualmente assessor especial do presidente, que atuou nas redes sociais na campanha de Jair Bolsonaro para a presidência, e que vinha originalmente de um cargo de auxiliar no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro, neste gabinete do ódio também temos os assessores presidenciais José Matheus Salles Gomes e Mateus Matos Diniz.
Esta foi a denúncia inicial de Joice Hasselmann, que dizia, além disso, que havia um financiamento deste gabinete com dinheiro público. E, falando dos processos que correm no TSE sobre disparos de notícias falsas no WhatsApp durante a campanha eleitoral de 2018 para a presidência da República, esta ainda poderia envolver caixa dois e banco de contatos de terceiros, ambas práticas condenadas pela Justiça Eleitoral.
A ação do Facebook desarticulou um grupo que envolve assessores e funcionários de gabinetes políticos tanto do clã Bolsonaro (filhos e o próprio presidente) como de deputados estaduais do PSL, que incluem os gabinetes da deputada estadual do PSL-RJ, Alana Passos, com o ex-assessor Leonardo Barros Neto, que comandava o Bolsoneas, página do Facebook de apoio à Bolsonaro de detração de adversários políticos.
Temos também o gabinete do deputado estadual Anderson Moraes, PSL-RJ, que abriga a funcionária de gabinete Vanessa Navarro, esta que duplicava perfis e usava nomes parecidos em outros perfis, assim como fazia Leonardo Barros Neto. Temos o caso do Coronel Nishikawa, deputado estadual pelo PSL-SP, que tinha a atuação do assessor Jonathan William Benetti, também do esquema do gabinete do ódio.
Temos, nesta nota do Facebook, a figura de Tercio Arnaud Tomaz, que aparece como um dos personagens principais, dono de uma página que saiu do ar e que tinha 1 milhão de seguidores no Facebook, o Bolsonaro Oppressor 2.0, além de uma página no Facebook, linkada do Instagram, o Bolsonaro News.
Temos a figura de Paulo Chuchu, o Paulo Eduardo Lopes, que comandava um veículo de notícia que se dizia independente, mas que era na verdade para enaltecer a figura de Jair Bolsonaro, ele que atualmente coordena a criação do partido Aliança Pelo Brasil de Jair Bolsonaro em São Bernardo do Campo, e que é assessor do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que tem também como assessor Eduardo Guimarães, que foi investigado na CPMI das Fake News, por atuar politicamente em páginas e contas da internet na difamação de adversários políticos de Jair Bolsonaro.
O Facebook, para fazer tal ação, atuou em conjunto com a DFRLab (Laboratório de Pesquisa Forense Digital), entidade ligada à organização Atlantic Council, dos Estados Unidos que, desde 2018, atua junto com o Facebook para o combate de disseminação de notícias falsas no processo democrático, o objetivo do DFRLab foi identificar as contas e páginas envolvidas neste gabinete do ódio, foi feita a divulgação de nomes, perfis e páginas envolvidas no esquema.
Tal movimentação do Facebook não foi espontânea, mas foi despertada pela pressão dos anunciantes que deixaram a rede social sob o influxo da campanha Stop Hate For Profit, que começou com organizações sem fins lucrativos e que ganharam adesão de grandes empresas, o que não impacta o lado financeiro do Facebook, que se sustenta de forma mais geral com anúncios de médias e pequenas empresas, mas que tem um impacto político e de imagem enormes, o que levou Mark Zuckerberg a se mexer em relação a isto.
Recentemente, tivemos também, em 27 de maio de 2020, a operação da PF sob autorização do relator do inquérito das Fake News no STF, o ministro Alexandre de Moraes, que foi uma operação de busca e apreensão de equipamentos eletrônicos com possível conteúdo de disseminação de notícias falsas e campanhas difamatórias feitas pelo gabinete do ódio, e a quebra de sigilo fiscal e bancário de empresários como Edgard Corona, dono da academia de ginástica e musculação Smart-Fit, Luciano Hang, dono da empresa Havan, o humorista Reynaldo Bianchi Junior e o militar Winston Lima.
A operação ainda apreendeu material eletrônico de figuras como o blogueiro do site Terça Livre, Allan dos Santos, Bernardo Kuster, youtuber do Paraná e diretor do site jornalístico do pretenso guru Olavo de Carvalho, o Brasil Sem Medo, e ainda de Sara Winter, líder do movimento Os 300 do Brasil, e também atingiu o presidente do PTB, o famigerado denunciador do Mensalão, Roberto Jefferson.  
Por fim, esta ação do Facebook ainda não se trata exatamente de combate de fake news, mas foi classificada como combate de “comportamento inautêntico coordenado”, o que quer dizer que a alegação é de uso de perfis falsos que se passam por repórteres e por administradores de veículos de jornalismo inexistentes, feitos para manipular politicamente e criar uma rede de engajamento.
O bolsonarismo, nesta rede do gabinete do ódio no Facebook e Instagram, por exemplo, alcança até 2 milhões de usuários destas redes sociais, a ação conjunta do Facebook com o DFRLab não vai atingir a atuação destas redes em seu todo, apenas uma peça foi derrubada, mas é o primeiro sinal concreto da existência deste gabinete do ódio, o que era uma suspeita vaga com a primeira reportagem do Estado de São Paulo e a denúncia de Joice Hasselmann em dezembro do ano passado.
Alexandre de Moraes liberou agora, por sua vez, o acesso da Polícia Federal a esta investigação do Facebook, enquanto o inquérito das Fake News no STF corre em sigilo, no influxo da PL das Fake News do Senado, que vai para a Câmara dos Deputados, com o conhecido Marco Civil da Internet como o regramento vigente para a internet, depois do trabalho do deputado federal Alessandro Molon.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.