Abro este estro
e finda a estrofe
explanando sua coda
de vulcão,
brota da flor potente
meu diapasão,
é o ritmo e sua melodia
que faz timbre com
os ossos e os dedos,
brota da floresta o poema,
um dedilhado enquanto
cai a chuva,
um poema torrencial
de água, água pura
de uma chuva que
faz verso.
22/07/2020 Gustavo Bastos
quarta-feira, 22 de julho de 2020
LITERATURA DO DESATINO
Haverá o dia da verdadeira literatura, com os vincos da
enorme paisagem que se abre, os cantos de malditos nas tabernas, eu vi desde
Anacreonte e Safo aos libelos de Whitman, ao dias que lendo as suratas um ardor
se ouvia do Anjo, ele assinava seu nome de anjo sobre a pedra de Roseta,
traduzi meus versos infames para o aramaico para ver este Deus castanho de rio,
este Deus verde de mar, este universo que pinta meu labor com as cores da
Biblioteca que ergui com meus braços de aço.
Obra esta que tem um certo vínculo irrefreável que dialoga
diretamente com Ginsberg e se publica com os laços de Ferlinghetti, sim, pois
na verdade austera de T.S.Eliot, tocava no rádio Nirvana e dizia “I don`t have
a gun” ou “teenage angst has paid off well” etc. Clicava no ícone das startups,
tomava xarope syrup roxo e ficava doidão, já gostei de certos ares de maconha,
hoje curto mais ficar na Heineken vendo anos 60, hora que vejo anos 60, ah,
flower power e o hábito de chamar as outras pessoas de bicho ao invés de cara,
ou, sei lá, chamar de psiu.
Lembrei, depois de beber um Pera Manca, que gosto de tocar
violão apenas rock, ou ainda lembro que toco as escalas com afinco, mas volto e
brinco de power chord, ah, bem divertido é saber tocar acordes, C/G/B, volto e
faço deste poema um canto solar, vou à praia e bato tambores com todo o sol que
tem pela frente. O sol, este Deus verdadeiro de Amón, Akhenaton quis nomeá-lo
Aton, e vi que Rá era soberano num Templo de Karnak ou na selva dura em que as
cataratas levavam a Anúbis perto dos etíopes e talvez no reino perdido da
Líbia, caí em crateras, fiz mapa da lua e suas fases, elenquei os signos e abri
as lâminas do Tarot de Marselha, vi o enforcado, o louco e a fortuna, ah, ri
muito, sofria de gota e de esquizofrenia, li minha carta maior, o arcano me
dizia o seguinte : não sei bicho, vai na tua.
Certo, certo, reli Michel Foucalt, vi a diferença entre o
frenesi e a mania, e como a melancolia entrava numa amálgama geral em que tudo
era classificado a esmo dentro das estultícias, ou melhor, asneira, opa,
insensatez? Não, era a classe da nau dos insensatos que virou desatino, tudo
era desatino e nada era desatino, até que virasse cultura médica e não hospital
geral de higiene social, sim, eu passei pela cultura médica e pela cultura
mediúnica, me senti mago e doente mental, claro, depois virei sábio da montanha
e comediante que faz ponte com o outro mundo, este mundo imaginário dos
personagens brutais que se fingem de loucos e acabam enlouquecendo.
Como este poema se abre como rosa, delicada rosa, certa bruma
me possui, eu vejo entre o que já foi escrito, mais uma frente de ideias para
realizar, jogo buraco, jogo pôquer, não sei muito, royal straight flush? Ah,
mesmerizo mesmo no rock, tem agora um tal de streaming, discos que viram
streaming, lançamentos de álbuns que viram streaming, tudo virando playlist, eu
também faço, vou atrás e os poemas podem entrar na playlist, listo alguns
poetas, pode ser Neal Cassady, Bob Dylan, Renato Russo, Cazuza, pode ser Ana
C., pode ser eu mesmo, e faço coda com som de guitarra, Hey Joe, where you
goin' with that gun in your hand? Ou : Evil man make me kill ya/Evil man make
you kill me. E finalizo, meu poema vive, e vive bem.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Poema em Prosa – 22/07/2020
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Poema em Prosa,
Poesia
DESERTOS MÁGICOS
Peça ao arcanjo Miguel
sua lança contra
a sombra, o caduceu
sorri entre os verões
dos mares,
sei, de Netuno a face náutica,
eu vejo que do Saara
ao Deserto da Líbia,
ando na caravana
com os beduínos,
vejo o oásis
e penso no éden,
sim, por sua vez,
com o delta do Nilo
entrevejo a Biblioteca
de Alexandria e o reino
de Saís no final
quando Cartago
foi salgada e morta,
vi Moloque descer
às ruas, como um touro
bravo e cego que
bebia sangue
na hora que vi
este poema
virar uma bomba.
22/07/2020 Gustavo Bastos
sua lança contra
a sombra, o caduceu
sorri entre os verões
dos mares,
sei, de Netuno a face náutica,
eu vejo que do Saara
ao Deserto da Líbia,
ando na caravana
com os beduínos,
vejo o oásis
e penso no éden,
sim, por sua vez,
com o delta do Nilo
entrevejo a Biblioteca
de Alexandria e o reino
de Saís no final
quando Cartago
foi salgada e morta,
vi Moloque descer
às ruas, como um touro
bravo e cego que
bebia sangue
na hora que vi
este poema
virar uma bomba.
22/07/2020 Gustavo Bastos
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PORVIR
Eu já sabia que teria
de minhas artes
um tempo hábil
de vida,
coroar o estro este é meu
emblema
veja :
anotar cada gesto entre
os hinos da fumaça,
pensar neste tear
furioso que encanta
a imaginação,
sim, tem um tempo de colheita
aos que plantaram, da raiz
à seiva e a copa densa,
seus frutos e suas flores,
e uma floresta vasta
e imensa pela frente.
22/07/2020 Gustavo Bastos
de minhas artes
um tempo hábil
de vida,
coroar o estro este é meu
emblema
veja :
anotar cada gesto entre
os hinos da fumaça,
pensar neste tear
furioso que encanta
a imaginação,
sim, tem um tempo de colheita
aos que plantaram, da raiz
à seiva e a copa densa,
seus frutos e suas flores,
e uma floresta vasta
e imensa pela frente.
22/07/2020 Gustavo Bastos
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A PALAVRA
Preste atenção na palavra,
seu efeito e sua causa,
sua estrutura,
sua ossatura,
seu sentido,
sua ambiguidade,
seu engenho,
sua latitude,
sua longitude,
ouça esta palavra,
repita, torne-a
seu mantra, lhe
depreenda os
hemistíquios,
seu segredo,
seu oráculo,
sua obviedade,
suas letras,
sua composição,
olhe esta palavra,
não a deturpe,
não a subverta,
conduza esta
palavra a seu
lugar, mesmo
que esteja
em um
verso.
22/07/2020 Gustavo Bastos
seu efeito e sua causa,
sua estrutura,
sua ossatura,
seu sentido,
sua ambiguidade,
seu engenho,
sua latitude,
sua longitude,
ouça esta palavra,
repita, torne-a
seu mantra, lhe
depreenda os
hemistíquios,
seu segredo,
seu oráculo,
sua obviedade,
suas letras,
sua composição,
olhe esta palavra,
não a deturpe,
não a subverta,
conduza esta
palavra a seu
lugar, mesmo
que esteja
em um
verso.
22/07/2020 Gustavo Bastos
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POEMA DOS NOMES
Eu anotei um nome
entre a flor e a
espada
um nome que diz
a que veio
entre seu ar
e a poluição
nome próprio
que diz o que
veio fazer
fazendo
eu escrevi em notas
cada letra do nome
e anotei seus olhares
anotei seus gestos
anotei sua intenção
eu guardei meu nome
favorito dentro
da rosa vivente
22/07/2020 Gustavo Bastos
entre a flor e a
espada
um nome que diz
a que veio
entre seu ar
e a poluição
nome próprio
que diz o que
veio fazer
fazendo
eu escrevi em notas
cada letra do nome
e anotei seus olhares
anotei seus gestos
anotei sua intenção
eu guardei meu nome
favorito dentro
da rosa vivente
22/07/2020 Gustavo Bastos
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QUERERES POÉTICOS
I want my pistol
to kill the stone,
porra, eu dei uma
de doido na noite feliz,
putz! que cara de
tonto fiz na festa,
voltei com este
ar bêbado de agora,
I feel my stone
against the wall,
quebrei meus potes
de ouro e roubei
um tesouro de fortuna
roubada, era o
grito de um ladrão
a esmo,
sim, eu mesmo entrei
entre os luares do sonho,
fiz seresta e sarau,
e pintei o sete
pela funda diversão
de um poeta.
22/07/2020 Gustavo Bastos
to kill the stone,
porra, eu dei uma
de doido na noite feliz,
putz! que cara de
tonto fiz na festa,
voltei com este
ar bêbado de agora,
I feel my stone
against the wall,
quebrei meus potes
de ouro e roubei
um tesouro de fortuna
roubada, era o
grito de um ladrão
a esmo,
sim, eu mesmo entrei
entre os luares do sonho,
fiz seresta e sarau,
e pintei o sete
pela funda diversão
de um poeta.
22/07/2020 Gustavo Bastos
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FOLHAS DO ESTRO
Para correr com as folhas no
sereno da manhã, eu devo
ter pés velozes e a fábula
de um grão-vizir que se aninha
com o anjo mensageiro
que me diz :
"na surata, com seu hausto
de haxixe, veja este seu
roteiro e seu séquito
de discípulos, a cor rósea
da flor é teu pulso firme
que a leva".
Nota-se, na vida que o poema
vira estrela, se for no
abscôndito pomar das inteligências
celestes, a rimar dos anjos
a vinha com este vórtice,
um orbe dourado planando,
e o fruto do verso como estrela.
o anjo diz :
"na hora da estrela
este seu séquito fica
embriagado, a cor rósea
da flor é teu pulso firme
que a leva".
22/07/2020 Gustavo Bastos
sereno da manhã, eu devo
ter pés velozes e a fábula
de um grão-vizir que se aninha
com o anjo mensageiro
que me diz :
"na surata, com seu hausto
de haxixe, veja este seu
roteiro e seu séquito
de discípulos, a cor rósea
da flor é teu pulso firme
que a leva".
Nota-se, na vida que o poema
vira estrela, se for no
abscôndito pomar das inteligências
celestes, a rimar dos anjos
a vinha com este vórtice,
um orbe dourado planando,
e o fruto do verso como estrela.
o anjo diz :
"na hora da estrela
este seu séquito fica
embriagado, a cor rósea
da flor é teu pulso firme
que a leva".
22/07/2020 Gustavo Bastos
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MARES DE ORFEU
Sempre o mar que lhe traz
os peixes do banquete,
estende a rede sobre
os dias, a ver desta
viagem toda a
hora do marulho,
leve, solto, livre
o peixe que se dá
com o albatroz
sobre o sal,
eu, poeta, tenho da lírica
esta tensão do arco e da lira
a lembrar de Safo
e seu penhasco,
a fazer da balada a sátira,
e terminar como grande
estrofe em homenagem
de um Orfeu redivivo.
22/07/2020 Gustavo Bastos
os peixes do banquete,
estende a rede sobre
os dias, a ver desta
viagem toda a
hora do marulho,
leve, solto, livre
o peixe que se dá
com o albatroz
sobre o sal,
eu, poeta, tenho da lírica
esta tensão do arco e da lira
a lembrar de Safo
e seu penhasco,
a fazer da balada a sátira,
e terminar como grande
estrofe em homenagem
de um Orfeu redivivo.
22/07/2020 Gustavo Bastos
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ESTOICISMO IMAGÉTICO
Pelo ícone e pela fotografia
eu estudo a natureza
da imagem e do fotograma,
a luz vermelha e o fósforo,
a alquimia, o mercúrio
e o enxofre,
vi os sinos dobrarem
sobre os meus olhos
na missa ao
meio-dia,
quem cantava o cântico
era o barítono
com seu timbre
de tambor,
vi, por pórticos da Estoá,
a firmeza de meus
propósitos.
22/07/2020 Gustavo Bastos
eu estudo a natureza
da imagem e do fotograma,
a luz vermelha e o fósforo,
a alquimia, o mercúrio
e o enxofre,
vi os sinos dobrarem
sobre os meus olhos
na missa ao
meio-dia,
quem cantava o cântico
era o barítono
com seu timbre
de tambor,
vi, por pórticos da Estoá,
a firmeza de meus
propósitos.
22/07/2020 Gustavo Bastos
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POEMA BEM POSTO
Tenho observado, depois da
noite em que fervi na pira,
que meus utensílios,
meus talismãs
e meus poemas
estão finalmente
no lugar,
este lugar luminoso
longe de um esconderijo
opaco, longe do fingimento
translúcido ou da mentira
que se refugia na sombra,
sim, tem um porte de verdade
nesta luz toda que
o poema sentencia,
elenco de estratagemas,
este poema elástico,
dilatado,
tenho observado também
durante o dia a sua higidez,
um poema sem pompa,
sem badulaques,
apenas o anelo
e sua coda.
22/07/2020 Gustavo Bastos
noite em que fervi na pira,
que meus utensílios,
meus talismãs
e meus poemas
estão finalmente
no lugar,
este lugar luminoso
longe de um esconderijo
opaco, longe do fingimento
translúcido ou da mentira
que se refugia na sombra,
sim, tem um porte de verdade
nesta luz toda que
o poema sentencia,
elenco de estratagemas,
este poema elástico,
dilatado,
tenho observado também
durante o dia a sua higidez,
um poema sem pompa,
sem badulaques,
apenas o anelo
e sua coda.
22/07/2020 Gustavo Bastos
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SEDUÇÕES DE VENENO
Eu abri a poção e o pote de veneno
e vi entre este ópio e o antídoto
o soro da verdade e o ofídio
que serpenteava no
chão de giz,
risquei um fósforo
com a vinda de cristo
num sacerdócio
noturno,
bebi vinho,
acendi o charuto cohiba
ainda com estes ares cubanos
de um hermanito de havana,
tocava rumba e calipso,
vi todas as noites
neste folguedo
de buen viaje,
cresci neste mistifório
de latino-américa
e seduções de veneno.
22/07/2020 Gustavo Bastos
e vi entre este ópio e o antídoto
o soro da verdade e o ofídio
que serpenteava no
chão de giz,
risquei um fósforo
com a vinda de cristo
num sacerdócio
noturno,
bebi vinho,
acendi o charuto cohiba
ainda com estes ares cubanos
de um hermanito de havana,
tocava rumba e calipso,
vi todas as noites
neste folguedo
de buen viaje,
cresci neste mistifório
de latino-américa
e seduções de veneno.
22/07/2020 Gustavo Bastos
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TEAR FEBRIL
Derrete este gelo na mordaça
que corrói o fígado
nesta noite alcoólica,
ventre da noite que urge
em seus suicídios,
mente para a forca,
estrangula seu próprio
mistério,
que mais, na volta do mármore,
poderia edulcorar esta
estatuária de cadáveres?
Os ossos enlutados da máquina
e do tear febril,
a registrar este
meu ósculo final,
como um prêmio.
22/07/2020 Gustavo Bastos
que corrói o fígado
nesta noite alcoólica,
ventre da noite que urge
em seus suicídios,
mente para a forca,
estrangula seu próprio
mistério,
que mais, na volta do mármore,
poderia edulcorar esta
estatuária de cadáveres?
Os ossos enlutados da máquina
e do tear febril,
a registrar este
meu ósculo final,
como um prêmio.
22/07/2020 Gustavo Bastos
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MELODIA ASTUTA
Na sala de cinema
eu galopava com
Melancolia de Von Trier,
o orbe da sombra
se aproximava
e tocava heavy metal
em meu quarto,
eu entrei dentro de
meu cérebro que
latejava entre
as melodias
da noite,
vi Hendrix e Janis Joplin
assoprarem seus véus
sobre a minha densa cama
em um sonífero que me fez
levitar,
C/E/F#
eu repeti o mantra :
"and so castles made of sand"
repeti :
"flower power"
finalizei :
"foxy lady".
22/07/2020 Gustavo Bastos
eu galopava com
Melancolia de Von Trier,
o orbe da sombra
se aproximava
e tocava heavy metal
em meu quarto,
eu entrei dentro de
meu cérebro que
latejava entre
as melodias
da noite,
vi Hendrix e Janis Joplin
assoprarem seus véus
sobre a minha densa cama
em um sonífero que me fez
levitar,
C/E/F#
eu repeti o mantra :
"and so castles made of sand"
repeti :
"flower power"
finalizei :
"foxy lady".
22/07/2020 Gustavo Bastos
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O DELÍRIO
Vem ver que o barco se estende
além deste mar de balneário,
com asas dos albatrozes
pelo canto do sussurro
que traz a maresia,
vem deste astro com denodo,
a ver dos cantos e baladas
a flor do ópio,
gerando destes gerânios
o primor da máquina
e a astúcia que
fere de sete setas
o coração puro,
que se faça desta imagem
diante do sol que me eleva,
eu vejo as sombras do funeral
das estultícias, eu vejo
fervilhar nos olhos da noite
o candelabro do delírio.
22/07/2020 Gustavo Bastos
além deste mar de balneário,
com asas dos albatrozes
pelo canto do sussurro
que traz a maresia,
vem deste astro com denodo,
a ver dos cantos e baladas
a flor do ópio,
gerando destes gerânios
o primor da máquina
e a astúcia que
fere de sete setas
o coração puro,
que se faça desta imagem
diante do sol que me eleva,
eu vejo as sombras do funeral
das estultícias, eu vejo
fervilhar nos olhos da noite
o candelabro do delírio.
22/07/2020 Gustavo Bastos
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A NOITE DA CHUVA
Coloquei a ametista sobre
o alpendre diante
de meu pássaro,
com certos ares jovens
me pus ao verso juvenil,
um castelo se ergue
nesta nuvem branca,
destes lilases que surgem
na montanha, o poema
registra em sua caixa de
melodia o seu som próprio,
dentre os dentes que mordem
a estrofe, decapitei
um delírio sobre o monte
e o sacrifício se fez
como um canto de moloque
na noite funda
da chuva.
22/07/2020 Gustavo Bastos
o alpendre diante
de meu pássaro,
com certos ares jovens
me pus ao verso juvenil,
um castelo se ergue
nesta nuvem branca,
destes lilases que surgem
na montanha, o poema
registra em sua caixa de
melodia o seu som próprio,
dentre os dentes que mordem
a estrofe, decapitei
um delírio sobre o monte
e o sacrifício se fez
como um canto de moloque
na noite funda
da chuva.
22/07/2020 Gustavo Bastos
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FRANÇOIS VILLON
Quando do nascimento de François de Montcorbier ou François
des Loges em 1431, em Paris, ele acaba perdendo o pai muito cedo e passa a ser
educado por Guillaume de Villon, em Saint-Benôit-le-Bétourné, François passa
uma infância boa, ia muito ao interior, passeava pelos campos, e com seus dois
amigos, Mélenchon e Desmond, ele caçava coelhos com estilingues com pedras pontudas, começou a fumar
cachimbo ainda aos dez anos, e realizava pequenos furtos de frutas na
vizinhança da casa de campo de seu pai de criação, Guillaume, que logo viu a
inteligência do garoto para as artes, e lhe matriculou, mais tarde, na
Faculdade de Artes de Paris para que ele virasse um clérigo.
Ainda na adolescência, antes dessa sua transferência para
Paris, François Villon já estava famoso como poeta jovem em sua cidade, e
também era conhecido já por beber muito e fazer festas, quando não estava
roubando algumas casas, no que costumava levar a prataria e objetos de valor
com uma habilidade que já o colocava como um grande ladrão na região, sem o
conhecimento de Guillaume que, pelas notas brilhantes do filho na escola,
achava que estava tudo correndo bem.
No fim de seu ginásio, François Villon ganhou um concurso de
poesia declamada em sua escola e fez uma festa do vinho em que seus eternos amigos
Mélenchon e Desmond (que também faziam vários furtos pela cidade) beberam até
cair, François se engraçou com uma dama mais velha de nome Lorraine, ele fez
sexo com ela na mata, foi a sua primeira experiência sexual, e repetiu o ato
várias vezes com esta dama por dois meses, até que se foi para Paris para
estudar e virar clérigo como o pai Guillaume havia definido.
Mélenchon também havia sido escalado para a mesma escola de
François em Paris, eles começam a estudar as chamadas Artes Liberais, e depois
Mélenchon começa a pintar quadros, enquanto François Villon vai se aprofundar
em latim e literatura latina, começa a estudar muito Virgílio e Horácio, traduz
muitos poemas do latim para o francês, se aventura pelas ruas de Paris, e rouba
dois bares e três casas junto com Mélenchon, eles juntam dinheiro e penhoram
objetos roubados em troca de bebidas caras.
Em 1450 começam as crises econômicas que passam a prejudicar
a Faculdade em que François Villon estudava e morava, entre os clérigos ele não
era muito querido, pois o prior sabia que François, quando se juntava com seu
amigo Mélenchon, os dois sempre voltavam das ruas com ouro e objetos preciosos,
e o prior, de nome Langard, sabia que aqueles dois poderiam ser ladrões e
estavam na escola para fazer baderna, o que intrigava o prior era que os dois
estudavam e tiravam notas brilhantes, mas eram dois loucos e boêmios, e na
cabeça do prior fervilhava a possibilidade de ele estar alojando em sua
Faculdade dois ladrões.
Em uma semana de verão, nas férias da Faculdade de Artes, os
jovens François Villon e Mélenchon roubaram a mansão de Madame de Stael, eles
entraram de madrugada, e depois de terem feito amizade com um empregado da
mansão, lhe prometeram uma parte do roubo, e este lhes informou de que havia um
tesouro no sótão da mansão, aonde Madame de Stael guardava a sua fortuna, era
uma fortuna milionária em libras, e François Villon ficou com dois terços, com
Mélenchon dividindo com o tal empregado o outro terço, empregado este que pediu
demissão da mansão e foi viver no campo gastando a sua parte do roubo, François
comprou uma casa e alugou, pois não poderia deixar os aposentos da faculdade
sem uma explicação plausível, em seguida ao roubo, ele, no entanto, foi junto
com Mélenchon ao lupanar no centro de Paris, aonde ficaram alojados uma semana
inteira fazendo orgias e bebendo vinhos caros.
Na semana seguinte Mélenchon se manda para a Itália, queria
ir para Milão, enquanto François Villon vai com duas meretrizes para Amsterdã,
passa uma semana e mais dois dias entre os lençóis de um hotel de luxo com
muito vinho e maconha. François Villon segue pela cidade e depois vai para Utrecht,
conhece uma holandesa e faz uma orgia com esta holandesa e as duas meretrizes
francesas que estavam sendo bancadas por ele naquela viagem louca que ele
pensava ser seu grande feito de poeta boêmio e que conseguia estudar em meio ao
caos de sua existência. Mélenchon, de sua parte, ficou bebendo vinho sem parar
em Milão e se perdeu numa madrugada pela cidade, só encontrando o hotel em que
se hospedara depois de ficar doze horas seguidas zanzando desorientado.
François Villon, voltando de Utrecht para Amsterdã, pensou em
dar um pulo em Bruxelas, tinha que ir de carruagem, andou muitos quilômetros,
levou a holandesa e abandonou as duas meretrizes em Amsterdã sem avisá-las, não
se sabe que fim tiveram estas duas meretrizes, elas nunca mais viriam a figura
do poeta, ele andou um tanto com esta holandesa, que, no meio do caminho, ao
François subir na carruagem para Bruxelas, a holandesa desistiu da viagem e
disse que ele se divertiria em Bruxelas sem ela, e é o que faz François Villon,
que fica cinco dias lá em Bruxelas e depois parte de volta para Paris para
continuar seus estudos na Faculdade de Artes, sem antes deixar um rastro de
caos numa mansão de uma tal Madame Tofu, com a qual ele teve um caso de dois
dias, lhe deu um sonífero e roubou seu cofre com uma quantia considerável que
ele gastou um décimo no dia seguinte com vinhos que ele levaria para beber no
seu retorno à Faculdade de Artes.
De volta à Faculdade de Artes, François Villon, que havia comprado
uma casa em segredo, sem o conhecimento do prior, guarda todo o tesouro de seus
roubos nesta casa, lá ele coloca um primo seu mais novo para trabalhar para
ele, depois de haver alugado esta casa por um ano para um inquilino meio louco
e chato, pois François já havia combinado com Desmond, que logo também chegaria
à Paris para estudar, que este teria que cuidar desta casa, enquanto seu primo
seria uma espécie de secretário.
Somente o dinheiro que François havia roubado da mansão de
Madame de Stael lhe renderia ao menos cinco anos de uma vida confortável e
dissipada, François viveria seus próximos anos como bem queria e bem entendesse.
Enquanto isso, Mélenchon volta corrido de Milão uma semana depois do retorno de
François Villon, e lhe relata uma fuga espetacular da guarda da cidade, que
havia flagrado um atentado ao pudor por parte dele com uma parisiense que ele
conheceu em Milão depois de uma bebedeira no hotel em que estava hospedado, os
dois foram pegos transando numa praça no meio da madrugada, e ele fugiu e a
moça foi conduzida para o hotel como suposta vítima de Mélenchon, na verdade, a
relação foi consentida, mas Mélenchon saiu correndo e despistou a guarda,
alugou uma carruagem e foi direto para Paris, conseguiu sair da Itália o mais
rápido que pode.
De volta à Faculdade de Artes, no fim de semana François
Villon se reúne na sua casa com Mélenchon, Desmond e seu primo mais novo, de
nome Danton, este ainda tinha quinze anos, mas levava uma maleta cheia de ópio
e um punhado de mandrágora, François Villon, que era um bebedor de vinho, e que
havia experimentado maconha em Amsterdã, prova com seu cachimbo uma quantidade
considerável de ópio, e sente um gozo poético com a substância que lhe dá a
certeza de ter conseguido o caminho certo para produzir sua poesia de modo
genial e inaudito.
Danton havia conhecido a substância meses antes de ir à Paris
com um senhor inglês que tinha um bar em que os jovens bebiam e fumavam, ele
comprou a quantia deste inglês, que lhe indicou um bar em Paris, este que
vendia ópio importado do Oriente Médio, Danton até havia ido lá para ver como
era, e acabou conseguindo um punhado de mandrágora de um cara esquisito que
dizia ser um dinamarquês que havia sido criado por uma prostituta em Amsterdã
depois de ter sido abandonado pelos pais num orfanato.
François Villon então começou a fumar ópio para escrever seus
poemas, e produziu seus primeiros escritos relevantes, e agora a Faculdade de
Artes em que ele estudava enfrentava uma crise profunda, foi nessas semanas
caóticas em que o prior reclamava de falta de dinheiro para a Faculdade que
François Villon escreveu seus dois poemas que passaram a ter uma maior
qualidade : Metafísica do Poema e Canção do Natimorto.
Chega 1452 e François Villon se torna mestre em artes, em
meio a vários diplomados que viviam na miséria, enquanto Villon ainda
desfrutava do dinheiro que havia roubado de Madame de Stael e Madame Tofu. Sua
casa agora se encontrava também com frutos dos roubos de Desmond e de Mélenchon,
e o primo de Villon, Danton, teria de ir estudar, a pedido do tio de Villon,
numa guilda de um artesão no interior da França, mas Danton foge e leva parte
do tesouro que Villon guardava numa câmara, sorte de Villon que esta fortuna
era apenas um décimo do que ele havia amealhado, pois tinha um cofre secreto
que nem mesmo Mélenchon ou Desmond sabiam da existência, e que era um modo de
Villon garantir seu futuro de escritor e boêmio.
O rei Carlos VII resolve suspender os cursos da faculdade
entre 1453 e 1454, e François Villon começa a ter problemas com a polícia, e em
1453 Villon fica preso por dois meses depois de um roubo na Mansão dos Avillon
em Paris, em companhia de Mélenchon e um tal de Jean Luc Bourbon, este que
tinha ficado um ano na faculdade de artes e acabou ficando próximo de Villon a
partir de 1453, sendo convidado por Villon para participar do roubo. Villon,
nesta época, ainda se dizia ligado à universidade, mas, mesmo habilitado, não
seguiu carreira eclesiástica e nem secular, na poesia sua desta época “Le
Lais”, ele se dizia ligado à universidade, não alegando seu desligamento da
mesma.
Na prisão, François Villon pensa em retomar alguns poemas
seriais sobre morte e ressurreição, escreve vinte cantos dentro da cela, ele
divide o mesmo espaço com Mélenchon e o tal Bourbon, Desmond, que estava na
casa comprada por Villon, se encarrega de organizar parte dos escritos de
Villon que estavam na gaveta de um quarto no segundo andar, Villon consegue
falar com Desmond pessoalmente em uma visita do amigo e fornece os cantos para
Desmond anexar no tal compilado, Villon ainda não pensava em publicação, mas
queria deixar este primeiro material de sua juventude já organizado, pois ele
ainda pretendia criar mais material para que a obra tivesse vulto o suficiente para
lhe colocar na posição de um dos grandes poetas da França.
Passam-se os dois meses e o trio é solto, Bourbon, que se via
assustado com a prisão, deixa o crime depois de ter feito seu único roubo na
vida, e François Villon faz troça dele, os dois brigam no meio de um jardim
numa praça, Villon desfere dez socos seguidos na cara de Bourbon, que sai
sangrando pela boca, sem antes levar um chute de Mélenchon que dizia que Jean
Luc era um fraco e que deveria desaparecer da frente dele e de Villon. Jean Luc
não consegue mais reagir, e Villon o manda, ao fim, desaparecer senão iria
matá-lo. Jean Luc Bourbon fica com medo e sai de Paris.
Villon, Desmond e Mélenchon conhecem novos ladrões de Paris,
ainda no fim de 1453, os dois grupos se juntam e formam uma quadrilha de
ladrões de mansões, este novo grupo era formado por Colin de Cayeux, D.
Nicolas, Petit Jean e Guy Tabarie, e Villon fica muito próximo deste último,
que já havia amealhado um tesouro maior do que o do próprio François Villon e
já tinha comprado duas casas, vivia com uma moça de nome Emmanuelle, e esta
apresenta sua amiga Catherine de
Vaucelles para François Villon e os dois se apaixonam no mesmo dia e fazem sexo
na casa de Villon, em meio ao tesouro que ele exibia para a sua nova amada, que
gostava de loucos como Villon.
Guy Tabarie e François Villon saem pela noite na semana
seguinte com Emmanuelle e Catherine de Vaucelles, os dois fazem desafios sobre
bebidas, e Guy Tabarie volta de uma taberna com duas garrafas de vinho caro que
afanara de lá, e saiu contando vantagens em relação a François, que recebe uma
das garrafas de presente de Guy que disse para ele aproveitar aquilo com
Catherine, a sua nova fiel admiradora, e que não se preocupasse com ele e
Emmanuelle, pois os dois iriam dormir num hotel de um amigo, então François
Villon leva Catherine para a beira do Rio Sena, e lá eles bebem e transam no
sereno, Villon declama um poema louco que ele inventou na hora, mas que não
anotaria para a posteridade, os dois amanhecem na grama na beira do Sena e
voltam para a casa de Villon, lá encontram Desmond e Mélenchon se divertindo
com dez meretrizes completamente bêbados e ensandecidos.
Chega 1454, François Villon completa 23 anos, ele ainda se
dizia vinculado à universidade, mas agora vivia, na verdade, como um
aventureiro, havia passado três meses no interior da França, ele e Catherine,
ficaram numa casa alugada, ficaram vivendo uma rotina de banho de rio e
beberagem de vinho, e François Villon consumiu muito ópio com Catherine nas
noites ao fogo da lareira, o tesouro de Madame de Stael ainda rendia a Villon
uma vida folgazã, em que ele se dividia entre a boêmia e seus estudos de artes,
além de sua produção poética, que naquele momento se expandia.
Enquanto isso, Guy Tabarie, junto com Colin de Cayeux, e a
ajuda de Mélenchon, levavam um tesouro de um mecenas que tinha sido amarrado
por Desmond duas horas antes, depois que este seduziu o tal banqueiro
homossexual para preparar uma cilada, Desmond, que era heterossexual, simulou
interesse no velho mecenas, e levou-o a uma armadilha, o mecenas foi amarrado
impiedosamente a uma árvore, enquanto ele gritava, Guy Tabarie e Colin de
Cayeux saqueavam a casa do infeliz mecenas, e Mélenchon ameaçou matá-lo se ele
não dissesse aonde estava o seu tesouro, não deu outra, o mecenas começou a
chorar apavorado e Mélenchon logo foi buscar o tesouro e levar para a casa de
François Villon, este que ainda se esbaldava com a fortuna de Madame de Stael
junto com Catherine.
Em 1455, François Villon estava bebendo vinho numa taberna no
centro de Paris e começa uma discussão com o padre Philippe Sermoise, eles
começam uma briga e Villon pega sua adaga e fere mortalmente o padre com sete
facadas no peito do mesmo, que morre cinco dias depois, tendo perdoado Villon
no seu leito de morte, Villon então foge de Paris, e como Villon tinha o status
de pertencer ao clero, consegue autorização para retornar à cidade em 1456.
Durante sua fuga, ele vai com Catherine de Vaucelles para
Angers, aonde eles alugam uma casa pequena e ele recebe a visita eventual de Mélenchon
e Guy Tabarie, que continuam os roubos da quadrilha em Paris, Desmond acaba
sendo preso e condenado a três anos de prisão por tentativa de homicídio, tinha
esfaqueado um letrado dentro de uma taberna, depois de uma discussão sobre
política e monarquia, Desmond, que tinha bebido vinho além da conta, teve de
ser contido por três guardas e levado para a prisão aos gritos, na verdade
Desmond estava começando a enlouquecer e dentro da prisão dizia que conhecia
toda a corte francesa e tinha tido contato com o rei, o que era fruto de sua
febre delirante que lhe acometera e permaneceria com ele após a sua libertação,
quando se torna um rebotalho isolado do mundo, voltando a morar com sua família
no interior da França.
François Villon então retorna a Paris em 1456, e neste mesmo
ano, na noite de Natal, participa do roubo do tesouro do Colégio de Navarra, em
companhia de Colin de Cayeux, D. Nicolas, Petit Jean e Guy Tabarie. Este último
dá com a língua nos dentes e Villon novamente se ausenta de Paris, levando vida
errante na província. Vai com Catherine de Vaucelles para Bourg-la-Reine, lá
eles ficam um mês, o dinheiro do roubo de Madame de Stael estava ficando
escasso, e Catherine disse que conhecia uma tal de Madame Margareth, viúva, que
vivia em Angers, e que gostava de homens mais novos.
Catherine de Vaucelles disse a François Villon que o golpe do
sonífero que ele dera em Madame Tofu na Holanda poderia se repetir, e que o
tesouro de Madame Margareth era o dobro de tudo que Villon já gastara da
fortuna de Madame Tofu e Madame de Stael juntos, pois a mãe de Catherine de
Vaucelles conhecia a tal Madame Margareth e disse à filha que era uma madame
arrogante, só dócil com homens mais novos, isto desde que ainda era casada com
o Monsieur Montpartis que, uns diziam, tinha sido envenenado por um destes
mancebos que Madame Margareth levava para a sua mansão, para dar um golpe e Margareth
se esbaldar agora livre com seus infantes.
Enquanto Catherine de Vaucelles fica em Bourg-la-Reine por
mais uma semana, François Villon se manda para Angers e vai à casa de Madame
Margareth com uma carta de recomendações da realeza, evidentemente falsa, se
dizendo ser o cavaleiro Pierre Bourguignon, a mando de Vossa Majestade para uma
palestra sobre Latim e Literatura Latina e que oferecia seus serviços
humildemente para Madame Margareth que, vendo o porte relativamente atlético de
François Villon, arregala seus olhos de apetite por mancebos ou homens mais
novos e logo cai na conversa de Villon.
François Villon adentra a mansão de Madame Margareth, fica lá
por uma semana fazendo sexo com ela e finalmente, no almoço de domingo, depois
de já ter sondado a mansão inteira por uma semana, já descobrira aonde ficava o
tesouro de Madame Margareth, já sabia de seu molho de chaves e o testaria para
destrancar o cofre, coloca um sonífero no suco de Madame Margareth e efetua o
roubo durante duas horas enquanto Madame Margareth dormia no sofá da imensa
sala, François Villon pega uma carruagem com dois cavalos, coloca o tesouro de
Madame Margareth dentro da carruagem e se manda de volta para Bourg-la-Reine
para reencontrar Catherine de Vaucelles e chega contando vantagens para ela,
que abre o tesouro e fica fascinada.
François Villon então entra em contato com funcionários da realeza
e pede permissão a um pretor para que seja escolhido como um dos poetas para
frequentar a corte de Carlos, Duque d`Orleans, e ele vai, em companhia de sua
inseparável Catherine de Vaucelles, se apresentar à corte, em Blois, em
dezembro de 1457, Carlos que era considerado um príncipe-poeta, e que seria pai
de Luís XII da França. Carlos registra então seus poemas e de sua corte, e como
François Villon virou um dos poetas que agora faziam parte da corte, tem três
poemas registrados nestes manuscritos de Carlos, poemas que François Villon
escrevera na própria corte, dentre atividades de declamação e aulas que ele
passou a dar sobre poesia latina, como Horácio e Virgílio que ele estudara na
Faculdade de Artes.
Dos poemas de François Villon na corte temos a Ballade des
contradictions e a Ballade franco-latine, uma sátira de Fredet, o favorito de
Carlos. Contudo, isso faz com que ele seja acusado de mentiroso e expulso da
corte de Blois. Em seguida, em outubro e novembro de 1458, François Villon faz
com que sejam entregues, a Carlos, a Ballade des proverbes e a Ballade des
Menus Propos, mas não é recebido de volta à corte.
François Villon então volta para Angers com Catherine de
Vaucelles e lá encontra Madame Margareth numa noite completamente bêbada, ela
reconhece Villon e começa a chamá-lo de ladrão, Villon chama um médico que ele
conhecia perto do centro de Angers e diz que havia uma senhora louca na rua que
estava o perseguindo, Madame Margareth acaba indo para um hospital, tenta bater
em Villon, que começa a dizer que não a conhecia e que ela estava louca, Madame
Margareth acaba sendo convencida por Villon de que estava de fato delirando e
volta para a sua mansão para ser tratada por dois mancebos que agora ela
alojava em sua mansão.
François Villon se sente aliviado e vai beber vinho numa
taberna do centro de Angers na noite seguinte com Catherine de Vaucelles e no
dia seguinte eles partem novamente para Bourg-la-Reine para gastar mais um
pouco do tesouro que Villon havia roubado de Madame Margareth. Eles ficam num
hotel de luxo e ficam bebendo vinho e fumando ópio durante um mês inteiro.
Villon retoma contato com Mélenchon, que vai visitá-lo em
Bourg-la-Reine após esta diversão de Villon com Catherine de Vaucelles, eles
planejam mais um roubo, desta vez no Colégio Saint-Etienne, que ficava na
periferia de Angers, Mélenchon informa a Villon que Desmond havia enlouquecido
e estava sendo cuidado pela família no interior da França, Guy Tabarie, que
havia virado desafeto de Villon depois que o havia delatado no roubo do Colégio
de Navarra, estava preso por roubo de relíquias de uma Igreja Católica em
Paris, pegou uma condenação de cinco anos, o que deixou Villon feliz.
Então Mélenchon e François Villon partem para o Colégio
Saint-Etienne, enquanto Catherine de Vaucelles os esperava na carruagem com
dois cavalos para partirem depois que eles pegassem o tesouro de lá, numa busca
de duas horas, numa noite chuvosa, eles aparecem com o tesouro, disseram que
tiveram que amarrar um padre que tinha acordado no meio da noite e que os
flagrara, o padre estava amarrado na cozinha junto com verduras e frutas, tinha
sido amordaçado para não gritar, e eles partiram na carruagem junto com
Catherine de Vaucelles na direção de volta para Bourg-la-Reine.
Na semana seguinte, eles comemoram o roubo bebendo vinho na
taberna do centro de Bourg-la-Reine, em que Mélenchon conheceu Victoria
Salatierre, que até então era apenas uma conhecida de Catherine de Vaucelles, e
os dois começam a ter um caso. Mélenchon e Victoria Salatierre partem então
para Paris, e Villon e Catherine decidem ficar em Bourg-la-Reine, pois Paris
ainda representava um perigo para a integridade física de François Villon.
Chega 1460, François Villon ainda planejava retornar à Paris,
Mélenchon estava se envolvendo em muitas confusões, estava sem limites, se
juntou a uma nova quadrilha de ladrões e faria um novo roubo ao Colégio de
Navarra e também à Igreja Católica, pois queria parte do tesouro da Santa Sé
para passar uma temporada na Itália com Victoria Salatierre, mas seus planos
começam a dar errado.
No roubo do Colégio de Navarra, Mélenchon acaba sendo
delatado por um dos ladrões que tinha sido preso, ele tenta fugir de Paris em
direção à Itália, mas é capturado por um guarda, ele é preso, depois de um mês
ganha um perdão da pena para fazer trabalhos forçados numa fazenda no interior
da França, lá ele briga com um camponês, este acaba matando Mélenchon com
foice, decapitando-o.
François Villon, enquanto isso, volta para Blois, tenta novo
ingresso na corte real, mas é recusado e chamado de bandido, e por um amigo em
comum com Mélenchon, fica sabendo da morte de seu amigo de infância e pensa em
se vingar do tal camponês, de nome Baltasar, um tipo de líder comunitário que
detestava ladrões.
François Villon se envolve com um roubo mal sucedido em Blois
já no verão de 1461 e acaba sendo preso em Meung-sur-Loire, lá ele escreve o
Épître à ses amis e o Débat du cuer et du corps de Villon, acaba sendo libertado
alguns meses mais tarde durante uma visita de Luís XII em companhia de Carlos d’Orleans
à cidade, mas perde seu status clerical, compõe, então, a Ballade contre les
ennemis de la France com o interesse de chamar a atenção do rei sobre este
fato, assim como Requeste au prince, a Carlos d'Orleans, mas é rejeitado
novamente pela corte e retorna à Paris.
Escreve a Ballade du bon conseil neste retorno a Paris, tentando
posar como um delinquente regenerado, e depois escreve a Ballade de Fortune,
que exprime sua decepção com o universo parisiense dos letrados, que o rejeita.
É nesse período de andanças por Paris que ele escreve a sua obra-prima Le
testament, depois de várias baladas, num novo auge criativo.
François Villon é preso novamente em 2 de novembro de 1462
por um roubo insignificante e processado pelo caso anterior do roubo do Colégio
de Navarra, obtém a liberdade sob condição de reembolsar a sua parte no roubo,
120 libras, uma quantia considerável, mas sua liberdade tem curta duração, no
fim do mesmo mês, Villon se envolve em uma briga na qual um notário da igreja
que participara do interrogatório de Guy Tabarie é ferido. Ao que parece, seu
amigo Robin Dogis teria provocado os homens do clero, enquanto Villon tentava
separar a briga. Villon é preso no dia seguinte.
Na prisão, François Villon passa pela tortura da água e acaba
sendo condenado à forca. No aguardo da consumação de sua condenação, com a
morte por perto, apresenta uma apelação da sentença, e ainda num estado de
incerteza, escreve o Quatrain e a Ballade des pendus (Balada dos enforcados).
François Villon tem a pena reduzida a banimento de Paris por dez anos, em 5 de
janeiro de 1463, e acaba escapando de uma condenação à forca, e escreve a
balada jocosa Question au clerc du guichet e o grandiloquente poema Louange à
la cour.
François Villon, com a pena de banimento de Paris, sai da
prisão e se manda de volta para Bourg-la-Reine e reencontra Catherine de
Vaucelles depois de muitos meses sem se encontrar com ela, devido a suas
prisões e o perigo de poder ter sido enforcado. Em Bourg-la-Reine, Catherine de
Vaucelles tinha tomado conta do tesouro roubado de Madame Margareth, François
Villon se sente com sorte, pois estava vivo, não tinha sido estrangulado na
forca, e tinha ainda o fruto deste roubo intacto, pois isto não tinha vindo ao
conhecimento da justiça, e ele costumava contar vantagens e fazer troça da tal
Madame fissurada por infantes.
Numa taberna, ele começa a fazer apostas de carteado, acaba
arrumando uma altercação com um morador de Bourg-la-Reine, depois de perder uma
aposta, e propõe um duelo de espadas com o mesmo, dez dias depois, François
Villon faz o tal duelo e mata este morador com uma espadada no peito do mesmo,
alguns locais ficam revoltados, e François Villon e Catherine de Vaucelles então
saem às pressas com uma carruagem na direção de Angers.
Já em Angers, François Villon efetua uma compra de uma casa
na cidade, um dos filhos de Madame de Stael descobre a negociação, pois estava
há anos atrás de François Villon, e o poeta, depois de comprar esta casa, vai
ao interior da França para matar Baltasar, o tal camponês que tinha decapitado
seu amigo Mélenchon, ele vai à casa do tal Baltasar, começa uma confusão,
François Villon não alcança seu objetivo, muito pelo contrário, ele sai
correndo de um grupo comandado por Baltasar, que queriam linchar François
Villon, que sai como um rato covarde numa carruagem de volta para Angers.
Uma semana depois, bebendo vinho num taberna do centro de
Angers, ele jogava carteado e fazia apostas, a investigação do filho de Madame
de Stael dera resultado, ele vai à taberna ver François Villon, estava com uma
adaga escondida em sua roupa, começa a conversar com o poeta, que não sabia
quem era aquele homem que adentrara na taberna, depois de ter feito novas
apostas de carteado, François Villon sai da taberna e começa andar pelas ruas
indo de volta para a sua casa para encontrar Catherine de Vaucelles, depois de
ele andar uns 50 metros longe da taberna, é apunhalado pelas costas e morre
estatelado no meio da madrugada numa rua do centro de Angers.
Contos Psicodélicos – Volume II (conto pronto em 22/07/2020)
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
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Contos
O GABINETE DO ÓDIO
“A ação do Facebook desarticulou um grupo que envolve
assessores e funcionários de gabinetes políticos”
Na quarta-feira dia 08 de julho o Facebook publicou nota
dizendo que desbaratou o esquema que no Brasil ficou conhecido como “gabinete
do ódio”. Tal medida do Facebook derrubou perfis, páginas, grupos e contas da
rede social e do Instagram. O gabinete do ódio que ficou conhecido primeiro por
uma matéria do Estado de São Paulo em 2019.
Em seguida, em março de 2019, começou o inquérito das Fake News
no STF, que também envolvia a investigação sobre este tal gabinete do ódio,
tivemos processos abertos no TSE, envolvendo a cassação da chapa Jair Bolsonaro-Hamilton
Mourão, com suspeitas de disparos de fake news no WhatsApp detratando
adversários políticos de Jair Bolsonaro durante as eleições para presidente no
fim de 2018.
Em julho de 2019 foi instaurada a CPMI das Fake News no
Senado, sob a presidência do Senador Angelo Coronel (PSD-BA), e esta também
passa a investigar a existência do gabinete do ódio, organização esta que
acabou sendo denunciada por recentes dissidentes do governo Bolsonaro, como
Alexandre Frota, atualmente no PSDB.
Joice Hasselmann (PSL-SP), ex-líder do governo no Congresso, por
sua vez, prestou depoimento em dezembro de 2019, dizendo que existia um
gabinete do ódio em que atuavam três assessores da Presidência da República,
estes alojados no terceiro andar do Palácio do Planalto, mesmo andar em que
despacha o próprio presidente da República, tal atuação destes assessores seria
coordenada, por fim, por Carlos Bolsonaro, vereador pelo Rio de Janeiro e filho
de Jair Bolsonaro.
Este gabinete do ódio teria a atuação de Tercio Arnaud Tomaz,
atualmente assessor especial do presidente, que atuou nas redes sociais na
campanha de Jair Bolsonaro para a presidência, e que vinha originalmente de um
cargo de auxiliar no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro, neste gabinete do
ódio também temos os assessores presidenciais José Matheus Salles Gomes e
Mateus Matos Diniz.
Esta foi a denúncia inicial de Joice Hasselmann, que dizia,
além disso, que havia um financiamento deste gabinete com dinheiro público. E,
falando dos processos que correm no TSE sobre disparos de notícias falsas no
WhatsApp durante a campanha eleitoral de 2018 para a presidência da República,
esta ainda poderia envolver caixa dois e banco de contatos de terceiros, ambas
práticas condenadas pela Justiça Eleitoral.
A ação do Facebook desarticulou um grupo que envolve
assessores e funcionários de gabinetes políticos tanto do clã Bolsonaro (filhos
e o próprio presidente) como de deputados estaduais do PSL, que incluem os
gabinetes da deputada estadual do PSL-RJ, Alana Passos, com o ex-assessor
Leonardo Barros Neto, que comandava o Bolsoneas, página do Facebook de apoio à
Bolsonaro de detração de adversários políticos.
Temos também o gabinete do deputado estadual Anderson Moraes,
PSL-RJ, que abriga a funcionária de gabinete Vanessa Navarro, esta que
duplicava perfis e usava nomes parecidos em outros perfis, assim como fazia
Leonardo Barros Neto. Temos o caso do Coronel Nishikawa, deputado estadual pelo
PSL-SP, que tinha a atuação do assessor Jonathan William Benetti, também do
esquema do gabinete do ódio.
Temos, nesta nota do Facebook, a figura de Tercio Arnaud
Tomaz, que aparece como um dos personagens principais, dono de uma página que
saiu do ar e que tinha 1 milhão de seguidores no Facebook, o Bolsonaro
Oppressor 2.0, além de uma página no Facebook, linkada do Instagram, o
Bolsonaro News.
Temos a figura de Paulo Chuchu, o Paulo Eduardo Lopes, que
comandava um veículo de notícia que se dizia independente, mas que era na
verdade para enaltecer a figura de Jair Bolsonaro, ele que atualmente coordena
a criação do partido Aliança Pelo Brasil de Jair Bolsonaro em São Bernardo do
Campo, e que é assessor do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que tem
também como assessor Eduardo Guimarães, que foi investigado na CPMI das Fake
News, por atuar politicamente em páginas e contas da internet na difamação de
adversários políticos de Jair Bolsonaro.
O Facebook, para fazer tal ação, atuou em conjunto com a
DFRLab (Laboratório de Pesquisa Forense Digital), entidade ligada à organização
Atlantic Council, dos Estados Unidos que, desde 2018, atua junto com o Facebook
para o combate de disseminação de notícias falsas no processo democrático, o
objetivo do DFRLab foi identificar as contas e páginas envolvidas neste gabinete
do ódio, foi feita a divulgação de nomes, perfis e páginas envolvidas no
esquema.
Tal movimentação do Facebook não foi espontânea, mas foi
despertada pela pressão dos anunciantes que deixaram a rede social sob o
influxo da campanha Stop Hate For Profit, que começou com organizações sem fins
lucrativos e que ganharam adesão de grandes empresas, o que não impacta o lado
financeiro do Facebook, que se sustenta de forma mais geral com anúncios de
médias e pequenas empresas, mas que tem um impacto político e de imagem
enormes, o que levou Mark Zuckerberg a se mexer em relação a isto.
Recentemente, tivemos também, em 27 de maio de 2020, a
operação da PF sob autorização do relator do inquérito das Fake News no STF, o
ministro Alexandre de Moraes, que foi uma operação de busca e apreensão de
equipamentos eletrônicos com possível conteúdo de disseminação de notícias
falsas e campanhas difamatórias feitas pelo gabinete do ódio, e a quebra de
sigilo fiscal e bancário de empresários como Edgard Corona, dono da academia de
ginástica e musculação Smart-Fit, Luciano Hang, dono da empresa Havan, o
humorista Reynaldo Bianchi Junior e o militar Winston Lima.
A operação ainda apreendeu material eletrônico de figuras
como o blogueiro do site Terça Livre, Allan dos Santos, Bernardo Kuster,
youtuber do Paraná e diretor do site jornalístico do pretenso guru Olavo de
Carvalho, o Brasil Sem Medo, e ainda de Sara Winter, líder do movimento Os 300
do Brasil, e também atingiu o presidente do PTB, o famigerado denunciador do
Mensalão, Roberto Jefferson.
Por fim, esta ação do Facebook ainda não se trata exatamente
de combate de fake news, mas foi classificada como combate de “comportamento
inautêntico coordenado”, o que quer dizer que a alegação é de uso de perfis
falsos que se passam por repórteres e por administradores de veículos de
jornalismo inexistentes, feitos para manipular politicamente e criar uma rede
de engajamento.
O bolsonarismo, nesta rede do gabinete do ódio no Facebook e
Instagram, por exemplo, alcança até 2 milhões de usuários destas redes sociais,
a ação conjunta do Facebook com o DFRLab não vai atingir a atuação destas redes
em seu todo, apenas uma peça foi derrubada, mas é o primeiro sinal concreto da
existência deste gabinete do ódio, o que era uma suspeita vaga com a primeira
reportagem do Estado de São Paulo e a denúncia de Joice Hasselmann em dezembro
do ano passado.
Alexandre de Moraes liberou agora, por sua vez, o acesso da
Polícia Federal a esta investigação do Facebook, enquanto o inquérito das Fake
News no STF corre em sigilo, no influxo da PL das Fake News do Senado, que vai
para a Câmara dos Deputados, com o conhecido Marco Civil da Internet como o
regramento vigente para a internet, depois do trabalho do deputado federal
Alessandro Molon.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/o-gabinete-do-odio
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