Haverá o dia da verdadeira literatura, com os vincos da
enorme paisagem que se abre, os cantos de malditos nas tabernas, eu vi desde
Anacreonte e Safo aos libelos de Whitman, ao dias que lendo as suratas um ardor
se ouvia do Anjo, ele assinava seu nome de anjo sobre a pedra de Roseta,
traduzi meus versos infames para o aramaico para ver este Deus castanho de rio,
este Deus verde de mar, este universo que pinta meu labor com as cores da
Biblioteca que ergui com meus braços de aço.
Obra esta que tem um certo vínculo irrefreável que dialoga
diretamente com Ginsberg e se publica com os laços de Ferlinghetti, sim, pois
na verdade austera de T.S.Eliot, tocava no rádio Nirvana e dizia “I don`t have
a gun” ou “teenage angst has paid off well” etc. Clicava no ícone das startups,
tomava xarope syrup roxo e ficava doidão, já gostei de certos ares de maconha,
hoje curto mais ficar na Heineken vendo anos 60, hora que vejo anos 60, ah,
flower power e o hábito de chamar as outras pessoas de bicho ao invés de cara,
ou, sei lá, chamar de psiu.
Lembrei, depois de beber um Pera Manca, que gosto de tocar
violão apenas rock, ou ainda lembro que toco as escalas com afinco, mas volto e
brinco de power chord, ah, bem divertido é saber tocar acordes, C/G/B, volto e
faço deste poema um canto solar, vou à praia e bato tambores com todo o sol que
tem pela frente. O sol, este Deus verdadeiro de Amón, Akhenaton quis nomeá-lo
Aton, e vi que Rá era soberano num Templo de Karnak ou na selva dura em que as
cataratas levavam a Anúbis perto dos etíopes e talvez no reino perdido da
Líbia, caí em crateras, fiz mapa da lua e suas fases, elenquei os signos e abri
as lâminas do Tarot de Marselha, vi o enforcado, o louco e a fortuna, ah, ri
muito, sofria de gota e de esquizofrenia, li minha carta maior, o arcano me
dizia o seguinte : não sei bicho, vai na tua.
Certo, certo, reli Michel Foucalt, vi a diferença entre o
frenesi e a mania, e como a melancolia entrava numa amálgama geral em que tudo
era classificado a esmo dentro das estultícias, ou melhor, asneira, opa,
insensatez? Não, era a classe da nau dos insensatos que virou desatino, tudo
era desatino e nada era desatino, até que virasse cultura médica e não hospital
geral de higiene social, sim, eu passei pela cultura médica e pela cultura
mediúnica, me senti mago e doente mental, claro, depois virei sábio da montanha
e comediante que faz ponte com o outro mundo, este mundo imaginário dos
personagens brutais que se fingem de loucos e acabam enlouquecendo.
Como este poema se abre como rosa, delicada rosa, certa bruma
me possui, eu vejo entre o que já foi escrito, mais uma frente de ideias para
realizar, jogo buraco, jogo pôquer, não sei muito, royal straight flush? Ah,
mesmerizo mesmo no rock, tem agora um tal de streaming, discos que viram
streaming, lançamentos de álbuns que viram streaming, tudo virando playlist, eu
também faço, vou atrás e os poemas podem entrar na playlist, listo alguns
poetas, pode ser Neal Cassady, Bob Dylan, Renato Russo, Cazuza, pode ser Ana
C., pode ser eu mesmo, e faço coda com som de guitarra, Hey Joe, where you
goin' with that gun in your hand? Ou : Evil man make me kill ya/Evil man make
you kill me. E finalizo, meu poema vive, e vive bem.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Poema em Prosa – 22/07/2020
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