PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sexta-feira, 19 de junho de 2020

A PESTE – PARTE V

“A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou a interrupção do uso da cloroquina e hidroxicloroquina em testes para tratamento contra a Covid-19”

A cloroquina deriva da quina, uma árvore usada por indígenas para curar febres desde antes da chegada dos europeus no continente americano, esta substância foi sintetizada em laboratório em 1934, e virou medicamento no combate da malária, devido à sua eficácia para matar o parasita da doença. A hidroxicloroquina, por sua vez, foi desenvolvida em 1946, e foi uma versão menos tóxica e mais aprimorada da cloroquina, em tratamentos de longo prazo, e é aplicada nas terapias de doenças autoimunes como artrite reumatoide e lúpus, além dos casos de malária provocados por protozoários resistentes à cloroquina.
Em 2007, pesquisadores liderados pelo infectologista Didier Raoult, da Universidade de Medicina de Marselha, na França, fizeram testes in vitro para demonstrar que a cloroquina e a hidroxicloroquina poderiam ser usadas contra infecções bacterianas, fúngicas e virais, como o HIV e o Sars-CoV-1, e no surto do novo coronavírus, baseados neste estudo francês, pesquisadores resolveram testar a aplicabilidade ao Sars-CoV-2, e o primeiro teste foi feito por cientistas chineses e publicado no início de fevereiro de 2020, mostrando efeitos similares aos da pesquisa de 2007. Outro, também realizado na China e divulgado em março, validou a eficácia destes medicamentos in vitro.
Contudo, o uso de tais medicamentos implica riscos, pois a cloroquina e a hidroxicloroquina podem provocar problemas gastrointestinais, de visão, fraqueza muscular, sangramentos, alterações de humor, problemas cardiovasculares, com seu perigo aumentando no caso do coronavírus. A cloroquina e a hidroxicloroquina aumentam o risco de arritmias e de mortes, o que demonstra os resultados do maior estudo já feito sobre esses dois possíveis tratamentos contra o coronavírus, que analisou mais de 96.000 pacientes em 671 hospitais do mundo todo. Os dois medicamentos chegaram a ficar esgotados em muitos países e seu uso indevido já provocou mortes.
O estudo publicado pela revista médica The Lancet, analisou a eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina administradas isoladamente ou juntamente com um antibiótico macrólido em comparação com doentes que não receberam nenhum desses tratamentos. A mortalidade no grupo de controle que não recebeu os medicamentos foi de 9,3%. Já entre os que tomaram esses medicamentos, morreram 16% no grupo que tomou apenas cloroquina e 23% no que tomou hidroxicloroquina e antibiótico, também demonstrando que todos os pacientes que tomaram algum dos remédios analisados tiveram um risco maior de sofrer arritmias, o que pode provocar morte súbita.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou a interrupção do uso da cloroquina e hidroxicloroquina em testes para tratamento contra a Covid-19, motivado pelo estudo publicado pela The Lancet, visto que a cloroquina era uma das substâncias consideradas promissoras para o tratamento da doença pelo novo coronavírus, por isso entrou no projeto SOLIDARITY da OMS, em março deste ano, que é um estudo colaborativo mundial para avaliar a ação das principais drogas no tratamento da Covid-19.
Segundo o diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, a interrupção vai acontecer enquanto o Conselho de Monitoramento de Segurança de Dados, do Grupo Executivo do estudo SOLIDARITY, analisa os dados disponíveis sobre benefícios e malefícios da cloroquina e hidroxicloroquina em pacientes com Covid-19. Contudo, Tedros ressaltou a importância do uso desses medicamentos em doenças autoimunes e contra a malária, não devendo haver interrupção para estes casos.
Nesta segunda-feira, a FDA (Food and Drug Administration), agência que controla a aprovação de medicamentos nos Estados Unidos, publicou um documento que revogou a permissão de emergência para o tratamento com cloroquina e hidroxicloroquina para pacientes com COVID-19. A autorização foi emitida pela primeira vez em março e aplicada em pacientes hospitalizados submetidos a ensaios clínicos (pesquisas). Em abril, a FDA fez um alerta contra sua aplicação para casos do COVID-19, fora dos locais de testes, e o documento que foi publicado agora não deve atingir os ensaios clínicos.
A revista Lancet também publicou sobre resultados satisfatórios sobre testes clínicos realizados em Hong Kong com uma combinação tripla das substâncias interferon beta 1-b, lopinavir-ritonavir e ribavirin em 127 pacientes adultos diagnosticados com covid-19, que foi um estudo do tipo clínico randomizado controlado, e o artigo, assinado por mais de 40 cientistas, liderados pelo professor da Universidade de Hong Kong, Kwok-Yung Yuen, mostra que a combinação tripla eliminou o coronavírus em média sete dias após o início do tratamento.
Os 127 pacientes envolvidos foram diagnosticados com covid-19 através de testes e foram internados entre 10 de fevereiro e 20 de março, pois em Hong Kong, toda pessoa que tem resultado positivo para o novo coronavírus é hospitalizada. Os pacientes que receberam a combinação tripla, neste período, continuaram recebendo tratamento padrão para covid-19, como ventilação, diálise e antibióticos.
No surto de SARS em 2003, a combinação lopinavir-ritonavir (normalmente usada contra o HIV) e o ribavirin (usado contra a hepatite C) reduziu significativamente a ocorrência de insuficiência respiratória e mortes em pacientes hospitalizados, e o interferon beta 1-b, desenvolvido para tratar da esclerose múltipla, também levou a redução da carga viral e melhora nos pulmões em testes com animais para MERS.
Fora da equipe responsável pela publicação no Lancet, Sarah Shalhoub, pesquisadora da Universidade Ocidental do Canadá, comentou por escrito à imprensa sobre o artigo da Lancet : “A maioria dos estudos publicados até agora foram do tipo retrospectivos ou observacionais. Portanto, esse estudo controlado e randomizado, com objetivo prospectivo, agrega um valor significativo ao acúmulo de evidências sobre tratamentos, eliminando uma série de limitações inerentes aos estudos retrospectivos. (...) No entanto, como os autores reconhecem, são necessários estudos futuros para examinar a eficácia do interferon beta-1b sozinho ou em combinação com outros medicamentos para tratar pacientes graves com covid-19, além de uma comparação com placebo.".

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.



quarta-feira, 17 de junho de 2020

HERZOG E O EMBATE COM KINSKI : A FÚRIA EM FITZCARRALDO


“temos a relação explosiva entre Werner Herzog e Klaus Kinski que, apesar destas dificuldades, tinha como resultado um bom trabalho”

Em meio a problemas com prazo, financeiro e de pessoal, já tendo tido problemas com Mick Jagger que faria uma turnê antes do fim das filmagens, Werner Herzog faz teste de vídeo com Paul e Huerequeque, e ele percebe que terá muito trabalho com os dois, sobretudo Huerequeque que parecia angustiado e travado. E Herzog decide, em relação a José Lewgoy, fundir dois papéis, o de Borja e o de Don Aquilino em um só, pois percebe que já havia coadjuvantes demais, e o personagem de Mick Jagger, Wilbur, é retirado de vez do roteiro, sem substituto.
Em Camisea, Herzog nos descreve sua condição áspera : “Acordei para um horror que até então não conhecia : eu me vi totalmente desprovido de sentimentos, tudo havia desaparecido, era como se eu de repente tivesse perdido algo que me fora confiado à noite para ser especialmente cuidado na madrugada; encontrei-me de novo como alguém que assumiu a guarda de toda uma multidão adormecida, mas que de súbito se descobre em seu momento mais misterioso, cego, surdo e apagado. Tudo desaparecera. Sentia-me completamente vazio, sem dor, sem alegria, sem anseio, sem amor, sem calor e amizade, sem fúria, sem ódio. Nada; nada mais estava lá; eu, feito uma armadura sem cavaleiro dentro. Demorou até que eu fosse pelo menos tomado por algo que se assemelhasse a um susto.”
Em Camisea Herzog faz algumas filmagens, vinte campas já haviam construído uma estrutura leve e provisória, em torno da árvore gigantesca perto da antiga plataforma, oito deles foram filmados dando machadadas nas enormes raízes que se erguiam até cinco metros, Herzog carregou uma câmera e um tripé. Logo em seguida não foi possível derrubar a árvore gigantesca, e ainda pendeu para o lado errado, prendendo a serra elétrica de El Tigre, ficando com a correia enfiada na madeira. Após mais um dia e meio de resistência, a árvore então caiu. A plataforma de trabalho estava em perigo e o local foi evacuado.
Em Camisea Herzog descreve a prova de figurinos, e nos diz : “Os cabelos de Paul foram cortados, e os de Kinski passaram por uma leve coloração. Vários acessos de fúria de K., um deles porque alguém tocou em seu cabelo. Nem meu cabeleireiro pode encostar no meu cabelo, gritou K. fora de si, mas quando eu próprio lhe ajeito o chapéu e o os cabelos, ele acha meu toque natural. Enquanto ele já gritava por causa de outra bobagem, névoas silenciosas invadiram o vale e foram se devorando levemente em direção à parte mais profunda da floresta.”
Herzog continua sua descrição : “Gustavo chegou ontem com o helicóptero. Acordamos bem cedo para fazer testes de voo. Enquanto isso, os atores foram elevados com as roldanas para as copas das árvores. Kinski se fez de “vítima”, dizendo que tivera febre e vomitara a noite inteira – é algo que ele finge para atrair a atenção de todos. De Pucallpa chegou a notícia entrecortada e quase incompreensível de que o avião de Cabaña teria caído com o piloto, o alto e magro, e dois, talvez até mais campas em Oventeni. Tinham levado dois dos acidentados de avião para a UTI em Lima, passando por Satipo.
K., que se viu totalmente distanciado do foco das atenções, começou a berrar feito um alucinado, reclamando que seu café estava apenas morno, e não houve meio de acalmá-lo; isso seria de importância crucial, pois com dificuldade escutávamos as notícias entrecortadas, como que vindo de longe, no rádio de ondas curtas, para saber se era o caso de adotar quaisquer outras medidas de salvamento. Depois de horas seguidas de fúria, comi meu último pedaço de chocolate, que mantivera escondido na cabana, bem perto da cara de K., ele que, por qualquer motivo, botava os bofes para fora de tanto reclamar, sempre a um palmo de distância da minha cabeça, até que, quando não podia mais, aquietava-se de repente.”
E Herzog nos dá a descrição sinistra do pongo : “Para os índios, o mundo acaba no pongo; nunca ninguém daqui avançou por suas corredeiras rio acima, apesar de às vezes chegarem boiando troncos de balsas e outros indícios de pessoas distantes, de um mundo do outro lado, desconhecido. À margem de um banco de areia eu vi um morto inchado, o corpo parcialmente enfiado na areia. Provavelmente era um soldado, pois o cadáver túrgido ainda mantinha a calça camuflada. Estava de costas, a carne intumescida, a barriga estufada. Usava o que restara de uma  camiseta verde-oliva e estava descalço. Ninguém se atrevia a tocá-lo. Um mistério tenebroso o envolvia.”
Herzog segue sua descrição ; “Kinski e Paul vieram sem pensar muito. Kinski me puxou de lado e, em um dos raros momentos em que conversamos abertamente, ele me disse que, se eu afundasse, ele afundaria junto. Eu lhe disse apenas que ele saiba como o navio tinha sido construído, com reforços de aço por dentro e câmaras de ar separadas – eu não queria afundar e, portanto, já havia tomado as providências técnicas para que isso não acontecesse. Trocamos um furtivo aperto de mãos. Pude ainda pegar o toca-discos e providenciei agulhas de costura com Gisela, pois a vitrola não tinha agulha. A partida acabou atrasando bastante. Pelo piloto, que havia se comunicado via rádio do acampamento dos índios com o Huallaga, fiquei sabendo que haviam acabado de chegar do alto do Camisea graves feridos por flechas, e estavam sendo operados em caráter de emergência.
Corri para o posto médico e vi um homem e uma mulher, ambos atingidos por flechas gigantescas. Estavam pescando para o acampamento, apenas três horas rio acima; tinham ido de lancha, passado a noite em um banco de areia e sido flechados de madrugada por amehuacas, a curta distância. A mulher foi atingida por três flechas e quase morreu de hemorragia. As flechas estavam bem perto uma da outra. Uma flecha atravessara o abdome acima dos rins, outra atingira o osso do quadril, e a mais perigosa estava enfiada na parte interna do osso da pelve, quebrada no meio da barriga. Eu ajudei na operação durante algumas horas, iluminando a barriga com uma forte lanterna, enquanto com a outra mão, livre, tentava espantar com repelente as nuvens de mosquitos atraídos pelo sangue. O homem tinha na garganta a ponta de uma flecha de mais de trinta centímetros. A flecha de quase dois metros de comprimento, que ele quebrara, segurava-a na mão; em estado de choque, não a entregava por nada. A ponta da flecha, que mais parecia a ponta de uma lança, havia cindido um dos ombros ao longo da clavícula, indo se enfiar no pescoço, perfurando-o e atingindo ainda o outro ombro.
Ele parecia correr menos risco de vida, e por isso foi operado depois da mulher. Aconteceu o seguinte : o homem, sua esposa e um terceiro homem, mais jovem, todos os três machiguengas de Shivankoreni, que nos fornecem mandioca, haviam subido o Camisea para caçar. Passaram a noite em um banco de areia, e, no meio da madrugada, a mulher acordou, pois o marido, ao seu lado, respirava estranhamente. Ela pensou que uma onça o tivesse pego pela garganta; da fogueira, pegou um pedaço de madeira ainda em brasa e se levantou num pulo. Nesse momento, foi alvejada por três flechas. O homem mais jovem acordou; ele tinha uma espingarda e, percebendo a situação, deu dois tiros às cegas, já que tudo isso se passava na mais negra escuridão e em silêncio absoluto. Nenhum dos três viu os amehuacas agressores, que sumiram, deixando pegadas na areia. Somente na manhã seguinte, por volta das onze horas, justamente quando eu saía com Paul e Kinski, os feridos chegaram ao ponto onde estávamos, no peke-peke manobrado pelo terceiro homem, que não se ferira.”
E Herzog segue sua descrição, mais uma vez sobre os amehuacas : “Hoje pela manhã, sob a névoa, trinta homens partiram em peke-pekes, armados, quase todos guerreiros campa, para o local do ataque a fim de seguir as pegadas e, como se diz, prender os criminosos e entregá-los às autoridades. Que o céu impeça isso de acontecer. Quase nada se sabe sobre os amehuacas : vivem de forma seminômade no alto do Camisea, a cerca de dez dias de distância, e aparentemente, como o nível do rio estava muito baixo, seguiram rio abaixo supostamente em busca de ovos de tartaruga, pois agora é a época. Todas as tentativas dos militares ou missionários de entrar em contato com os amehuacas deram errado, porque estes nunca são vistos e sempre atacam à noite. Tampouco puderam ser localizados de avião, pois não abrem clareiras como as outras tribos, para fazer chakras que cultivam por alguns anos e depois vão embora. Mas sua língua é relativamente bem conhecida, tanto que há cerca de dez anos um menino amehuaca muito doente chegou em uma pequena balsa e sobreviveu no hospital de Atalaya.”
E aqui mais uma descrição de Herzog sobre os acessos de fúria de Klaus Kinksi : “Tive uma discussão violenta e absurda com Kinski por causa de sua água mineral, com a qual ele agora quer se lavar. Fora isso, calmaria. De repente, o berro de Kinski flamejou, atiçado de novo, mas não estava associado a nada daqui nem a qualquer outra coisa. Ele gritava fora de si, que corja, que canalhas eram pessoas como Sergio Leone e Corbucci, esses filhos da puta ciclópicos. Demorou muito até K. voltar a si. Seu berro inflamou então mais uma vez rapidamente, que porco impiedosamente sem talento, impiedosamente gordo era Fellini. Eu dormi então no final da manhã.”
Nesta parte da série sobre as filmagens de Fitzcarraldo, agora temos a relação explosiva entre Werner Herzog e Klaus Kinski que, apesar destas dificuldades, tinha como resultado um bom trabalho, o que já tínhamos visto em Aguirre, A Cólera dos Deuses e a nova versão de Nosferatu, esta relação entre dois personagens do cinema mundial rendeu belos frutos, mesmo em meio à violência toda na qual isto se tornava possível, abaixo vou colocar um link de um destes acessos de fúria de Kinski, e a dinâmica que Herzog exercia no meio disto, retrato de uma filmagem caótica que, para alguém extremamente irascível como Kinski, foi algo também extremo.

Link recomendado : Klaus Kinski - Fitzcarraldo fight (with English subtitles!) : https://www.youtube.com/watch?v=MPKODzv1PD4

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

segunda-feira, 15 de junho de 2020

FADA VERDE

Passaram-se belos dias de verão, depois de uma vida rica e repleta em que o odor de incenso batia nas nuvens e toda a felicidade era possível, era assim que se sentia Ivan, e seu teor alcoólico variava, ele tinha sido um bom poeta, trabalhava com traduções do francês, e se fascinou com as histórias parisienses de fins do século XIX sobre absinto, e também desta bebida misturada ao láudano, um opioide. Não acreditava na loucura que muitos supostamente atribuíam à bebida, e como era conhecida por fada verde, Ivan tinha alegria e botava quem quisesse no bolso, como um bon-vivant tocando a sua flauta doce, como um fauno em torno do jardim das delícias. Ivan, de nome russo, odiava ser chamado de terrível, preferia ser tomado por manhoso do que por odiento.
Tinha conhecido há uns dois anos, numa viagem a Paris, Maria Lorena, teve um namorico, mas ficou mantendo contato com a moça, que se mudaria de Paris para o Rio de Janeiro, lugar em que, no momento, residia Ivan, os dois sabiam que agora era só amizade, pois Maria Lorena estava com um figurão da máfia, um tal de codinome “o italiano”, seu nome não importava, pois ele usava documentos falsos com o nome fantasia de Giuseppe. Ivan, por sua vez, vivia mais como um putanheiro do que como um ser de relações duradouras, mas estava feliz e queria agora experimentar os sabores do absinto, não tinha pudor em até mesmo misturá-lo com o láudano, pois era um poeta que tinha sido simbolista, mas que era um parisiense de coração e alma, e um apreciador das aventuras de Rimbaud, um consumidor de réplicas de Toulouse-Lautrec e de Van Gogh. Um francófilo, ou um parisiense ideal, por assim dizer.
Maria Lorena, por sua vez, adepta da maconha, não sentia entusiasmo por bebidas fortes, bebia esporadicamente cerveja artesanal, e olhe lá. O vinho, outra obsessão de Ivan, não apetecia Maria Lorena em nada, pois ela preferia o divertimento sob Skank nos coffee-shops de Amsterdã, seu paradeiro preferido na Europa. Ivan, de volta ao Brasil, retomara contato também com um amigo de infância de nome Miguel, e outro de adolescência de nome Conrado, e os três confabulavam pensamentos aventureiros em meio à selva dos instintos urbanos, e Ivan lhes dizia: “Temos que tomar conhecimento, e logo, da fada verde, por Deus!”. Tinha um site da internet que oferecia a opção de uma mistura que Ivan julgava a perfeita: o absinto com láudano, e que ele sabia ser como um ópio alcoólico de potência suficiente para fazê-lo delirar uma ilha solar qualquer em seu mapa mental, e que lhe daria um tesouro do prazer.
Ivan logo encomendou umas cinco garrafas de absinto, com teor alcoólico altíssimo, e uns dez frascos de láudano, sabia que tudo isso seria molhado com água e adocicado com torrões de açúcar para tornar a experiência confortável, e Miguel e Conrado, por sua vez, não entendiam nada de poesia e muito menos conheciam as lendas em torno da fada verde, só queriam saber de ficar bêbados com a tal poção mágica. Ivan recebe então um recado de Maria Lorena de que esta e o tal italiano estavam a caminho do Rio de Janeiro na próxima semana, e que não se preocupasse em guardar absinto para ela, pois ela compraria maconha prensada de um amigo em Copacabana assim que chegasse ao Brasil. Maria Lorena era de uma personalidade forte que espantava até mesmo o ladino Ivan e suas manias de tirar vantagem como um praticante renovado da velha lei de Gérson. Ivan só queria mesmo era retomar as excelentes conversas que teve com Maria Lorena na sua ida à Paris, seja no Montmartre ou no Champs-Élysées. Agora, no entanto, Ivan respirava o caos diário de Copacabana, com idas pontuais à Ipanema para sentir odor de maconha no posto nove, droga que ele não usava, mas que gostava do cheiro.
Enfim chega a encomenda no apartamento de Ivan na rua Santa Clara na altura entre a Barata Ribeiro e a Nossa Senhora de Copacabana onde morava. Cinco garrafas que vieram lacradas e frascos de láudano com desenhos psicodélicos, ele sabia que ali naquelas garrafas e frascos ele teria novas descobertas, uma nova fonte de autoconhecimento arriscado, uma experiência mística forçada por elementos que alteram a percepção, o que ele chamava de alucinação espiritual, o que os psicólogos entendem como puro delírio e não iluminação da consciência, pois todo visionário é um ótimo visitante de hospício, por suposto. E Ivan, que nunca tivera problemas mentais, não acreditava muito que uma diversão alcoólica fosse só delírio, pois para ele, Ivan, era só um modo curioso de aproveitar a vida, de encontrar e explorar as fronteiras finais da percepção da realidade, agora alterada no espaço-tempo com doses cavalares de absinto e láudano que logo invadiriam seu organismo e sobretudo seu cérebro.
Anoitece, Ivan abre a primeira garrafa de absinto, e também um dos frascos de láudano, banha a bebida com água que passa pelo torrão de açúcar que deixa a poção doce, o esverdeado suave clareia e fica castanho, Ivan dá o primeiro gole, depois vai com um conta-gotas no frasco de láudano e encharca sua taça de cristal numa mistura de absinto, água, açúcar e agora inúmeras gotas de láudano, e ele sorve aquilo como um sonho verde água e castanho quase selvagem, o fogo lhe toma as veias, o álcool logo faria efeito, o láudano vai por sua garganta e entranhas, rapidamente se hospeda no seu cérebro, ele tenta ver o horizonte numa janela que dá para outras janelas, como todo apartamento de Copacabana que não seja na Avenida Atlântica, ele então imagina “com a sua ideia” um horizonte calmo através dos prédios, dos vidros das janelas, da vida hitchcockiana de janela indiscreta, eventualmente com alguém pelado ou falando alto no celular numa janela acima da dele no prédio em frente, e ele agora fumando um charuto Cohiba cubano, junto com a sua mistura fada verde, láudano, numa espécie de regressão ao século XIX, contemplando as suas réplicas de Toulouse-Lautrec e de Van Gogh, com o ouro fulvo do louco holandês pulando expressionistamente da tela a cada trago de charuto e a cada gole de absinto com láudano, uma experiência mística com pinturas falsas, uma experiência alcoólica e de opioide com açúcar em telas revolucionárias de um tempo distorcido, tempo expressionista com nostalgia parisiense, o tempo próprio de Ivan, que então liga para Miguel e Conrado, e chama os dois para seu apartamento para ele dividir as suas novas sensações com seus amiguinhos de chapação.
Chegam então Miguel e Conrado já completamente estropiados, pois tinham ficado num bar desde o meio-dia enchendo suas cabeças de cerveja barata, os dois eram duros e viviam na aba generosa do tradutor de poesia Ivan, os dois precisavam arrumar emprego, faziam parte da massa desempregada atual do Brasil, com Miguel ganhando só um pouco de grana do aluguel de um conjugado que ele herdara, o que era o dinheiro de sua cerveja barata e choca da sexta e do sábado, com raros saltos numa segunda-feira qualquer. Miguel tinha um pouco, Ivan tinha o suficiente, e Conrado, coitado, era uma anta disfuncional, repetente das cadeiras escolares que havia abandonado no ensino médio, trabalhando apenas como office-boy e sendo invariavelmente demitido por indisciplina, pois se perdia nos caça-níqueis dos bares ao invés de trabalhar, era um disperso, um dissipado, certamente por limitação intelectual e volitiva.
Nesta mesma noite, Maria Lorena liga para Ivan, no seu telefone residencial, e começa a rir da voz de Ivan, que já estava pastosa, àquela altura faltando meia hora para a meia-noite, e com Miguel tossindo depois de uma baforada em um dos Cohibas de Ivan, e com Conrado cantando Los Hermanos como um maníaco apaixonado. Ivan então deixa Maria Lorena ouvir a cantoria e as tosses, e esta fica mais interessada ainda em voltar ao Brasil, para ver seu parisiense de araque, como chamava Ivan com certo humor rascante. Ele então combina que a buscaria no aeroporto, e Maria Lorena logo diz que ela e seu italiano iriam para o Copacabana Palace, pois o italiano tinha muito dinheiro em espécie da lavagem de dinheiro na Calábria aonde seu mafioso tinha negócios ilegais, e que quando ela chegasse era para Ivan e seu amigos também se hospedarem lá com o dinheiro de seu italiano, pois eles fariam uma esbórnia na piscina do hotel de luxo.
A noite, no entanto, naquele momento, prometia ser longa, os três, Ivan, Miguel e Conrado, bebem toda a garrafa de absinto e matam um dos frascos de láudano no conta-gotas, agora planejavam ir para a rua, mais exatamente para a praia de Copacabana, e assim Ivan pega seu violão, no qual ele gostava de dedilhar uns cazuzas e legião, invariavelmente, e isto quando não surtava com raulzito numa onda de sociedade alternativa e ouro de tolo, e ele dedilhava como autodidata, com certo jeito, mas num conhecimento básico dos acordes necessários, sem muitas sacadas de virtuose, pois sabia tanto de tocar como de ouvir, ou seja, rock brasil e nada mais, o que não é nada mau, mas que não abarca a cultura musical vasta que flutua por aí em todos os lugares que se vê.
Agora a meia-noite irrompe, vira uma da manhã, Ivan pega a segunda garrafa de absinto, e guardaria as outras para quando chegasse Maria Lorena e todos fossem se aventurar no Copacabana Palace. Agora era momento de um luau na praia de Copacabana, altura da Santa Clara, Ivan e seu violão, e carregando consigo absinto, láudano e charutos. O opioide, àquela altura, já dominara a percepção de Ivan, que não estava acostumado com tais ativações, pois só consumia usualmente álcool e seus charutos cubanos, já que não fumava cigarros e nem maconha. Miguel e Conrado tampouco estavam familiarizados com o láudano, e tal droga se sobrepôs à euforia comum do álcool, gerando um clima soturno e um pouco introspectivo aos três amigos que agora caminhavam em direção da praia com as luzes do trânsito e das calçadas de Copacabana ganhando cores vivas e fortes, a sensibilidade visual dos aventureiros agora contrastava com a simultânea calma interior que os dominava, o láudano era neste momento uma espécie de vírus desconhecido que lhes tomava a consciência, e que agora era uma mistura de fótons distorcidos, sons em overdub e uma paz búdica com toques de visionários em êxtase.
Eles então chegam à praia, e logo Ivan vê um cachorro com uma madame no meio da madrugada, na verdade era um cão pequeno, mas Ivan “vê” um doberman que lhe cheira as pernas e as partes e o ameaça rosnando e mostrando os dentes, a madame acha que aquele rapaz não passava de um doido e dá um grito que acaba assustando tanto Ivan como o cachorro que força a coleira até esticar, com a madame falando mais uns impropérios e indo embora com seu cão de caça. Miguel e Conrado riem da situação e veem o vestido rosa esvoaçante da madame como um grande caldo visual de rosa-shocking numa onda psicodélica meio Swinging London, mas logo passa. Ela some na maresia e no vapor do mar pelo infinito calçadão naquela madrugada fria. Os três então chegam até a areia e veem um pessoal com um som eletrônico, doze pessoas que haviam tomado ecstasy e nem percebem a chegada dos três, pois viajavam com os olhos fechados entre mandalas de terceiro olho, com banners fluorescentes cercando a cena que ali evoluía. Os três então resolvem não incomodar aquelas pessoas que se encontravam em transe, e vão ligeiramente para o lado direito da areia, para fazer a sua festinha rock brasil com o violão acústico DiGiorgio de Ivan.
Ivan agora detona seu legião com acordes rascantes de um faroeste caboclo, Conrado dá urras tomado pela energia da música, era o pouco que ele conhecia de seu repertório que só vivia de rádio sintonizado aleatoriamente com apreciação musical também aleatória, e agora Miguel cantava junto, enquanto Conrado enrolava a língua pois não sabia toda a imensa letra da tal canção. Ivan não tinha muita pena de Conrado, pois logo o obrigou a buscar sucos de laranja no quiosque mais perto, e o frio da madrugada aumentava, passa um cheiro forte de haxixe, era um vendedor ambulante, Conrado volta, Ivan pede os sucos, paga pelo suco, Miguel logo pede para ele voltar para o violão, mas Ivan quer abrir a outra garrafa de absinto e mandar bala no conta-gotas de láudano que naquele momento já o fazia viajar com o som do violão num paradeiro em que as notas eram detalhadas com a profundidade de um músico de jazz embarcando no seu horse usual. Depois de tragos homéricos no absinto e de encharcar-se com o conta-gotas do láudano, Ivan agora desanda com barão vermelho e cazuza, detona um raulzito da cartola, e ao fim descansa deitado, exausto, depois de cantar “ei Al Capone” como se fosse para si mesmo, e era.
Dá três da manhã, Ivan termina a garrafa de absinto, Miguel dorme babando verde num montinho de areia como travesseiro, Conrado, na beira do mar, molha os pés e começa a gritar que estava virando um lagarto, no que Ivan mais uma vez é ríspido e deixa Conrado constrangido com seu bullying de quem se julgava mais safo e mais esperto que os outros, principalmente de alguém tão vulnerável como era Conrado. Ele começa então a chorar e se volta contra Ivan com tacadas de areia, este ri, mas para com a importunação contra Conrado, que logo se apazigua e fica calmo, sem mais brigar e gritar, e também esquece a estória do lagarto, dizendo que tinha imaginado aquilo na combinação de areia e da água do mar nos seus pés que eram longos e finos. Ivan diz então a Miguel, depois de acordá-lo, que já era hora de eles retornarem para seu apartamento, pois esfriara mais e ameaçava chuva já nas quatro da manhã, que não daria para eles virarem a noite ali para ver o nascer do sol. Agora, Ivan era o comandante, pois estava bancando aquela noite, era o capitão de seu exército brancaleone, e o mais trash ali era certamente Conrado e seu Q.I. subnutrido e seu ânimo de lesma.
O tal exército brancaleone então marcha de volta ao Q.G. original, a rua Santa Clara e o apartamento de dois quartos alugado de Ivan, eles entram no apartamento, sem antes trazer umas cervejas long-neck que tinham comprado no caminho, pois agora o absinto estaria reservado para a chegada triunfal de Maria Lorena com suas histórias parisienses com um malandro da Calábria à tira colo, patrocinando a farra que se daria no mítico hotel de Copacabana.  Os três então se refestelam na sala de Ivan, as long-necks da Heineken e da Stella Artois descem rapidamente por suas gargantas, e invadem as sinapses já há muito embriagadas, o efeito pacificador do láudano já passara e agora a onda era de cerveja como bêbados padrão “Copacabana”. Ivan começa então a irritar novamente Conrado, este grita palavrões, Miguel entra no meio e diz para Conrado fumar um Cohiba de Ivan, este resolve parar de chamar Conrado de cagão e de detoná-lo usando a sua burrice congênita e poupa seu repertório de babaca profissional que era meio insaciável quando ele bebia álcool.
Amanhece, a rua Santa Clara clareia, os três decidem ir à padaria tomar um café com pão na chapa, resta um resquício alucinatório do láudano que Ivan tomara como uma espécie de flash-back, era a tal madame de rosa-shocking com o mesmo cão maluco da madrugada, ela olha Ivan e fica horrorizada, mais uma vez Ivan pensa que o tal cão é um doberman feroz e este novamente se atraca em suas pernas e cheira as suas partes, no que Ivan tem meio que um surto de susto, e a madame sai novamente esvoaçando seu vestido e dizendo que era rica e tal e que aqueles três miseráveis a perseguiam desde a praia na madrugada até aquela manhã na pacífica padaria às seis da matina. Ela vai embora, e Ivan continua convicto de que aquele cachorrinho era na verdade um doberman com raiva e que nunca tomara uma antirrábica, no que Ivan entra em paranoia de que estava infectado pelo cão doido da madame maluca. Ivan, no entanto, tenta esquecer aquilo, julgando que poderia ser coisa da sua cabeça, e que aquela madame na verdade nem existia, era uma entidade da noite que aparecera ali só para assustá-lo com seu cão Cérbero de três cabeças, era uma figura evanescente que viera do absinto e do láudano que ele havia bebido e que era só uma experiência da fada verde nos seus sentidos.
Não se sabe da fada verde exatamente em relação ao caso bizarro da madame de rosa-shocking, se era uma viagem particular de Ivan, mas o fato é que havia alguém com um cachorro, e Miguel e Conrado também participaram da experiência, e os bons fellas estavam alucinados também, e portanto não se sabe quem está dizendo a verdade, nem eles e nem o autor que vos fala. O caso de um cãozinho virar doberman e daí um Cérbero era também a tonteira e o estado de espírito de Ivan, medo e delírio gonzo, partituras e perdições dos sentidos, sabedores de sons e vertigens mentais e visuais as usual for addicts. Ivan sabia mesmo é que se divertiria horrores com sua cocota favorita, Maria Lorena, e conheceria o tal figura de terno e metralhadora, um mafioso Giuseppe, o italiano. As bordas da realidade estavam por se escancarar e virar loucura e desbunde, e tudo surgindo das interações do láudano com a nossa doutora em fantasmas, a fada verde.
O que surge de espanto na experiência com estupefacientes se torna relativa com o alto teor alcoólico da fada verde, e o láudano é o componente opioide e fantástico que resgata a experiência e a torna autêntica de um espectador de fato estupefato. O Copacabana Palace funcionaria então como ostentação de um refúgio alucinogênico, e com o interesse de Miguel e a burrice avantajada de Conrado tudo fluiria para as momices de um Ivan cheio de si, como sempre. Os três estariam como uma trindade do caos, juntando-se enfim ao esbanjamento corrupto de uma dama feérica como Maria Lorena e um ser do crime perfeito como Giuseppe, seu nome falso, seu documento falso, seu disfarce de senhor do caos. Um agente do caos, e seus queridos meninos agora numa brisa solta: Ivan, Miguel e Conrado. Com a aprovação risonha de Maria Lorena, a chefe do bando, de fato.
O Copacabana Palace, abrigo temporário de Janis Joplin, agora receberia em traje de gala estes senhores pervertidos, tão loucos quanto os tempos hippies, tão dementes como a eclosão da bomba atômica, de fato e de direito, meninos grandes de uma fada verde derramada com açúcar e carinho, e o doce embalo de Maria Lorena com suas espetaculares manhas de moça que já sabe das coisas mesmo antes delas acontecerem, como a pitonisa do oráculo de delfos, como a sacerdotisa e seus duendes tomando bebida mágica. Miguel e Conrado ouviam as histórias parisienses de Ivan com vivíssima curiosidade, e sua relação com Maria Lorena ganhava ares quase míticos, Montmartre explodia como um grande cabedal em que cabia todos os sonhos da poesia, com Ivan como um novo e jovem Rimbaud, ou ainda como um visitante da festa de Hemingway, mas como um bom francês, ele que tinha a língua fluente em seus lábios e na sua escrita nem sempre fácil, o francês de Ivan era perfeito, e Maria Lorena sempre elogiava as suas traduções de poesia, desde a Plêiade até os simbolistas, todo um trajeto intelectual já havia sido realizado por Ivan, que era completamente doido, mas que quando trabalhava era uma máquina, não parava nunca. E isso era resultado de uma concentração que ele cultivava com intenso exercício de leitura dinâmica o tempo todo, lia tudo e tentava, ao mesmo tempo, viver tudo, e isso para ele era bem possível e ele conseguia essas duas frentes muitas vezes antagônicas com muito vigor e força bruta.
O fato era que Maria Lorena já fazia suas profecias sobre a estadia no Copacabana Palace, que aquilo viraria uma futura autobiografia de Ivan, seu parisiense de araque, e que Ivan morreria em Paris com uma francesa perdida na fumaça do Louvre, a qual Ivan encontraria depois de uma viagem de ácido na aurora diante da pirâmide pós-moderna que agora inaugura a visão do museu, como um transe em que duas almas dispersas na visão de Paris como uma festa chegassem a termo e a paisagem do amor inundasse as telas que habitam tão propalado museu, para depois os dois se perderem por entre os campos e vales, indo ao D`Orsay e retornando triunfantes a Paris num passeio de inverno novamente pela Champs-Élysées. Esta era a profecia de Maria Lorena, e seu oráculo favorito era o Skank fortíssimo que ela importava de Amsterdã e um haxixe vermelho marroquino que depois de fumar ela abria suas cartas de Tarô de Marselha e muitas vezes suas runas vikings.
Ainda naquela manhã em que os três fellas tinham ido para a praia, Ivan resolve virar meio frasco de láudano na dose de absinto que daria para Conrado, quando dá nove da manhã sua cobaia preferida toma o veneno, pois Ivan queria saber se cinco colheres ou um encharque brutal do conta-gotas do láudano o fariam sonhar ou ter pesadelos, e resolveu usar Conrado para a sua experiência, enquanto Miguel dormia roncando alto no sofá da sala do apartamento de Ivan. Conrado ouve de Ivan que tinha mais uma dose de absinto para ele, e Ivan convence Conrado de que aquilo lhe faria dormir, já que Conrado estava numa agitação de insônia provocada pela excitação das dezenas de long-necks que ele havia tomado sem parar durante a madrugada, no que Conrado toma o veneno ou poção e Ivan fica curiosíssimo para ver os efeitos de uma grande dose de láudano num ser humano, mesmo que fosse uma anta humana como Conrado, no que ele não esperava sensações muito sofisticadas de sua cobaia, mas que seriam suficientes para ele estudar aquilo e vislumbrar como faria para tomar láudano em grandes doses, mas na segurança de seu apartamento e numa hora que não houvesse ninguém por perto, só com seu disco de vinil do Pink Floyd tocando, o clássico Dark Side Of The Moon, que ele teria que ir da onda introspectiva em On The Run e atravessar a explosão emocional de The Great Gig In The Sky incólume, como um grande guerreiro psíquico.
Conrado toma então a bebida mágica, no que esperava finalmente cair no sono, no que deita logo após a dose em cima de um puf na sala do apartamento de Ivan, em frente à TV que agora estava ligada no canal OFF, que a esta hora da manhã passava filmes de escalada, com loucos pendurados em negativas e com suas mãos brancas de magnésio. O puf ficava entre a TV e o sofá no qual Miguel dormia, roncava e babava. Enquanto isso Ivan fazia um café e preparava um misto-quente na sua sanduicheira na sua copa pequena na entrada de sua cozinha estreita em forma de uma linha reta e estreita, com geladeira, fogão, microondas e máquina de lavar ao fundo, com roupas espalhadas num quartinho em que seu gato siamês se escondia, aparecendo só de manhã para beber leite e comer ração e roçar eventualmente nas canelas e panturrilhas de Ivan, e que odiava visitas, era um gato como muitos, arredio e caseiro, com a finesse usual dos gatos.
Conrado começa a delirar em frente à TV, e Ivan percebe que o láudano começava a fazer efeito na mente obtusa de Conrado que, vendo as escaladas do canal OFF, começa a gritar que iria cair de um platô, Ivan ri e incentiva o delírio de Conrado, em meio da gritaria, Miguel acorda e pula do sofá assustado e pergunta à Ivan o que estava acontecendo, e Ivan, gargalhando, diz que Conrado tinha tomado uma hiperdose de láudano, Miguel fica puto e sabia que tinha sido coisa de Ivan, que era um amigo generoso, mas, ao mesmo tempo, um tipo de babaca presumido e impiedoso. Miguel pega Conrado pelo braço e lhe dá um banho gelado no box do apartamento de Ivan, logo após Ivan convence Miguel que fora apenas uma experiência imprudente o que tinha feito com Conrado, e que aquilo não se repetiria, Conrado dorme agora no sofá até uma da tarde, as duas da tarde o telefone fixo de Ivan toca, e era Maria Lorena informando que chegara ao Rio com seu mafioso calabrês e que era para todos se encontrarem às cinco no Copacabana Palace, e que todas as reservas, de uma semana, já estavam feitas, Maria Lorena queria fazer arruaça na piscina do Palace e sabia que Ivan seria a sua companhia perfeita para isto, tudo com o olhar divertido de seu mafioso, que tinha um tipo de humor ácido e estava louco para conhecer Ivan.
Ivan, Conrado e Miguel saem da Santa Clara e caminham até o Copacabana Palace, lá Ivan reconhece Maria Lorena, à porta do hotel, com óculos escuros e um vestido azul caribe e saltos altos, com aquela cara imponente que ela tinha, meio que fazendo esgares de desdém e superioridade diante daquilo tudo, pois a modéstia não era um dos fortes de Maria Lorena, ainda mais agora com um mafioso à tira colo, este que estava de terno e ostentava uma barba meio doida, meio calvo, ao mesmo tempo, e com um rolex de gosto duvidoso no pulso direito. Ivan é logo reconhecido por Maria Lorena, que fica eufórica, ia encontrar seu francês de araque, um tipo de companhia para fazer merda, e que o mafioso queria ver isto lá no Copacabana Palace, pois queria ficar na praia e no hotel, alternando isto até seu retorno à Calábria para cuidar de seus negócios ilegais.
O grupo então entra no saguão do hotel, o italiano, com o nome falso de Giuseppe, Maria Lorena, Ivan, Miguel e Conrado. Eles são atendidos no guichê, Giuseppe sabia falar português, pois Maria Lorena o obrigara a aprender a língua, e ela e Giuseppe iriam para uma suíte presidencial, com três quartos executivos, um para cada um, distribuídos para Ivan, Miguel e Conrado, com direito a consumo ilimitado do frigobar, pedidos de bebidas e comidas, tudo patrocinado pelo mafioso calabrês. Naquela primeira noite, todos ficariam em seus quartos, pois a bagunça seria no dia seguinte, na piscina, agora na noite Maria Lorena e Giuseppe iriam para a suíte descansar e acordar cedo para o café do Copacabana Palace, pois Maria Lorena queria devorar uns croissants de hotel.
Ivan vai para seu quarto, se joga na cama macia, começa a ver TV, mas decide tomar um de seus vidros de láudano misturado à absinto, ele toma a poção às sete da noite, logo em seguida coloca seu LP do Pink Floyd para tocar na vitrola que tinha trazido em sua pequena maleta, começa a tocar a obra-prima da banda, Ivan começa a sentir os efeitos do láudano, sua audição vira um som sinestésico, ele olha a janela do quarto e vê uma noite estrelada com céu limpo e uma lua cheia que nem queijo, num amarelo ocre fortíssimo, começa On The Run, os delírios de Ivan agora começam a ficar muito vivos, ele estava sozinho no quarto, se põe de pé sobre a cama e começa a se imaginar como um rockstar, fazendo gestos estilizados, que, somente quem está só sem ninguém vendo é capaz de fazer, ele se diverte, entra The Great Gig In The Sky tempos depois e Ivan está eufórico, fazendo seu show imaginário de pé sobre sua imensa cama macia do Copacabana Palace, seu delírio avança por todo o disco, em Brain Damage ele já se encontra exausto, o disco termina e ele vai tomar banho no box, coloca água quente e fica uma hora inteira tomando água quente na nuca e gozando o delírio de láudano que ainda fazia bastante efeito.
Todos acordam pela manhã e vão para a sala grande do café da manhã, Maria Lorena, que havia fumado Skank na suíte, devora três croissants com um prazer monumental, Giuseppe, que agora só bebia leite e água, se diverte com o apetite de Maria Lorena, e chama os três, Ivan, Miguel e Conrado, para se sentarem à mesa com ele e Maria Lorena, Conrado come melão, Miguel mistura café com leite e come um iogurte natural, e Ivan come croissants, se divertindo fazendo caretas, assim como Maria Lorena também fazia caretas e zombava de Conrado junto com seu louco Ivan. Conrado comia melão, indiferente ao bullying que recebia daquela dupla infernal. Giuseppe sai da sala do café da manhã, vai ao restaurante e pede uma dose de uísque Jack Daniels caubói e manda para dentro, vai para a piscina tomar sol, chama Maria Lorena, que põe um biquíni verde fluorescente de gosto duvidoso, que ela sabia que era cafona, mas gostava de usar. Conrado pula na piscina com uma bermuda vermelha, Miguel fica na sauna por meia hora, e Ivan dá um pulo também na água da piscina, com uma sunga amarela ridícula que ele usava para fazer papel de maluco.
Ivan está nadando despreocupadamente na piscina do Copacabana Palace, quando uma dúzia de ovos brancos caem do céu, um deles atingindo em cheio a cabeça de uma senhora que tomava sol à beira da piscina, dois ovos caindo na água da piscina, e o resto se espatifando no chão que cercava a piscina, Ivan olha para cima e pensa que aquilo tinha vindo do prédio vizinho, que ficava com suas janelas viradas para a piscina do Copacabana Palace, Ivan acha engraçado e pensa tirar uma foto com sua câmera Canon, tira foto da gema amarela que escorria na beira da piscina e publica em sua rede social, como “viagem ao ovo alquímico”, Maria Lorena mergulha na piscina e começa a rir quando Ivan, depois, mostra a sua foto com legenda, Giuseppe bebe mais uísque e decide sair para dar um mergulho no mar da praia de Copacabana, chama Maria Lorena, que vai com ele, enquanto os três rapazes ficam na piscina do Copacabana Palace, morgando durante todo o dia naquele sol de céu limpo que reinava soberano naquele dia.
Maria Lorena volta da praia, enquanto Giuseppe fica na barraca para beber uma água de coco, ele volta logo depois, e os dois mergulham na piscina, Ivan fica sabendo que teria uma festa de gala no salão de festas do Copacabana Palace naquela noite, ele pede autorização do gerente do hotel para que ele e seu grupo pudessem participar da festa, a festa seria a partir de dez da noite, Ivan e Maria Lorena saem para comprar as roupas adequadas para a festa, eles saem do shopping com sacolas e param num bar para beber três garrafas de cerveja, voltam às sete da noite para o Copacabana Palace, os dois então chamam Giuseppe, este tira um baralho do bolso e começa a jogar buraco com Maria Lorena e Ivan, Giuseppe vence o jogo, acende um Cohiba e dá um outro charuto da mesma marca para Ivan, os dois fumam, Maria Lorena sobe para a suíte para fumar um Skank, volta chapada e com o riso frouxo, bebe um uísque Jack Daniels junto com Giuseppe, Ivan bebe mais cerveja, ele ainda tinha dois vidros de láudano e uma garrafa fechada de absinto, ele queria beber aquilo na festa de gala, Ivan tinha o plano de se divertir até o amanhecer naquela noite do Copacabana Palace.
A festa de gala começa, todos a caráter, Ivan tinha tomado um vidro de láudano inteiro e bebido metade de sua garrafa de absinto, ele queria sentir os eflúvios da fada verde naquela noite em meio dos ricaços no Copacabana Palace, Giuseppe acha a expressão de Ivan engraçada ao vê-lo chegar na festa, cutuca Maria Lorena que olha para Ivan e faz um hang-loose meio alucinado, Ivan sorri com aquele sorriso pateta de quem está profundamente chapado, em outra dimensão, Miguel e Conrado chegam logo em seguida, Conrado não se sente muito à vontade em seu smoking, pega cerveja e bebe junto com Miguel, Ivan não bebe mais nada, vê uma senhora de rosa-shocking e começa a delirar que era a tal madame do cachorro novamente, uma espécie de alucinação que lhe acossou nos últimos dias, senhora moradora de Copacabana ou apenas uma alucinação com corpo e voz, um tipo social que ele designava como madame rica de Copacabana com cachorrinho.
A senhora de rosa-shocking olha para Ivan, neste segundo Ivan começa a ter uma alucinação, a cabeça desta senhora começa a derreter, ele procura o tal doberman, mas desta vez ele não acha nenhum cachorro com a tal senhora, a cabeça derretida da senhora desce até o chão e Ivan gargalha como se estivesse doido de ácido bicicletinha, o absinto ou fada verde começa a lhe dar delírios bem específicos, ele vê um dos garçons com cabeça de cavalo e Giuseppe lhe parecia um tipo de rei gordo, cuja barba ficou parecendo a barba de um marajá, Maria Lorena cutuca Ivan, ele olha para Maria Lorena e diz que a cabeça da senhora de rosa-shocking havia derretido, Maria Lorena, que tinha fumado mais um Skank, gargalha alucinadamente, conta a piada para Giuseppe, que também não se aguenta, e Giuseppe decide pegar uma garrafa de Jack Daniels para se divertir.
Giuseppe bebe toda a sua garrafa de Jack Daniels e chama Ivan para conversar desbragadamente perto da piscina, Ivan beberica agora uma vodka, e sua chapação de láudano com fada verde agora era uma espécie de eflúvio mental leve, já tendo passado seus delírios e alucinações que ele tivera no salão de festas. Maria Lorena fica na pista dançando com Conrado, Miguel fica sentado em uma mesa bebendo cerveja, Giuseppe pergunta da vida de Ivan e sobre a sua francofilia, ele que era um mafioso italiano completamente ignorante da literatura francesa e que admirava todas as histórias que Maria Lorena havia lhe contado sobre seu amigo carioca metido a francês literato, Giuseppe estava finalmente conhecendo Ivan e sua fascinação aumentou depois de conhecer este maluco pessoalmente, e Giuseppe entendeu esta estranha ligação de Maria Lorena com Ivan, nada de almas gêmeas, era um tipo de conexão despojada e baseada num humor que combinava com seu humor ácido de mafioso calabrês, Giuseppe começa a fazer perguntas para Ivan, ele fala da poesia francesa para Giuseppe, ele só conhecia Lampedusa, lia muito pouco, mas prometeu para Ivan que leria suas traduções, pois já sabia bem o português. Ivan fica lisonjeado com tanto interesse genuíno de Giuseppe sobre este maluco que Maria Lorena não parava de falar, e Ivan disse que não iria se mudar para Paris, seu sonho, sem antes que Maria Lorena abrisse suas cartas de Tarô para ele, e Giuseppe sabia desta mania de Maria Lorena de fazer jogos de cartas para orientar os próximos passos das pessoas, na Calábria, volta e meia, Maria Lorena fazia isto para suas amigas italianas.
A festa de gala termina pontualmente às cinco da manhã, segundo a programação definida pela gerência do Copacabana Palace, e Giuseppe vai com Maria Lorena para a suíte presidencial, Conrado e Miguel vão para seus respectivos quartos, Ivan vai para seu quarto já pensando em seu trabalho que ele estava arrumando em Paris como professor de português, pois tinha um contato de um amigo na França que conseguiu que Ivan fosse indicado para trabalhar numa escola que ensinava a língua e a gramática portuguesa para os franceses, pois Ivan, que era um profundo conhecedor da cultura e língua francesas, reunia esta mesma habilidade com a língua e a gramática da Língua Portuguesa, e era a pessoa perfeita para preencher a vaga de mediador cultural e professor naquela escola de Paris. Ivan viajaria dali a um mês, e pretendia ficar em Paris para o resto de sua vida, morando em Montmartre e bebendo vinho tinto seco como um bon-vivant, seria um flâneur lendo Paris é Uma Festa de Hemingway enquanto não estivesse em seu prazeroso trabalho de mediador cultural. Era o trabalho de seus sonhos na cidade de seus sonhos, Ivan não tinha dúvidas que dali para a frente seu futuro seria brilhante, como bom literato que era, não lhe faltaria recursos para aplicar em seu trabalho na tal escola e em sua vivência na capital francesa.
O grupo passa o resto da semana entre a piscina do Copacabana Palace e a praia de Copacabana, Ivan toma a sua última garrafa de absinto, com Maria Lorena fumando seu Skank, no último dia de estadia. Maria Lorena iria em seguida para um apartamento que ela tinha na Barra da Tijuca, comprado pelo mafioso calabrês, que voltaria na manhã seguinte para a Calábria, o plano de Maria Lorena era ficar uns dois meses no Rio de Janeiro e depois voltar para a Itália, ela tinha acesso a uma conta secreta de Giuseppe que ficava em Luxemburgo, usava o nome fantasia de Francesca Carmen, e a conta era alimentada mensalmente pela máfia calabresa. Só que os planos de Maria Lorena mudam na manhã seguinte, pois Giuseppe é preso pela Polícia Federal na porta do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, é extraditado e preso na Itália, e Maria Lorena, para não dar bandeira, decide morar no Rio de Janeiro, pois Giuseppe, que tinha o nome verdadeiro de Vittorio Mancini Battisti, pega uma cana de doze anos sem direito a atenuação da pena, ficaria preso em Roma, sob vigília do Estado italiano. Maria Lorena não entra em contato com Giuseppe, na verdade Vittorio, a mando da máfia, pois ela seria protegida financeiramente pela organização, a ‘Ndrangheta cuidaria para garantir um salário mensal para Maria Lorena, que nunca mais teria preocupações financeiras, esta conta em Luxemburgo seria sempre acessada por ela com o nome falso de Francesca Carmen Mantovani Ferrara.
Maria Lorena passa a trabalhar de cartomante e quiromante, e se veste de cigana para fazer as suas consultas para seus clientes, Ivan iria embora para Paris, e logo antes ele pede a Maria Lorena para abrir as cartas de Tarô para ele, antes de ele partir para seu destino de francófilo com cátedra de mediador cultural. Maria Lorena abre as cartas do Tarô para o seu amigo de loucuras, ela faz para ele o Jogo da Estrela, a primeira carta, indicando a raiz do problema, é a carta da Sacerdotisa, que Maria Lorena lhe resume como uma busca por novos conhecimentos que Ivan iria empreender, novos potenciais ainda ocultos deveriam ser descobertos por ele, a segunda carta, das emoções e relacionamentos, é a carta de O Louco, que indicava um salto no desconhecido, com possíveis novidades para Ivan, que era uma pessoa que sempre mergulhou em novidades, e seu salto para Paris poderia ser este novo desconhecido com novas pessoas em seu caminho, a terceira carta, Intelecto e carreira, é A Temperança, indicando um período de harmonia no trabalho, em que Ivan ajudaria muitas pessoas com o seu conhecimento já acumulado e com as novas habilidades que ele iria adquirir pela frente, a quarta carta, Os Enamorados, envolvia escolhas no amor ou no trabalho, sem uma indicação peremptória, a quinta carta, A Roda da Fortuna, revelando a influência inconsciente, indicando um novo ciclo na vida de Ivan, possivelmente sua mudança para Paris, a sexta carta, A Lua, com influências e desejos conscientes, indicando que Ivan deveria levar a sério suas intuições, pois, com pensamentos vindo à superfície consciente, ficaria mais fácil para Ivan agir e tomar decisões, a sétima e última carta, o topo do problema, é a carta O Julgamento, indicando o fim de um ciclo e uma colheita de coisas já plantadas no passado, possivelmente a oferta de trabalho que ele terá agora em Paris, fruto de seu conhecimento e de suas habilidades, realizando a transição de um ciclo para outro novo, mas um ciclo anterior propiciando o seguinte. Ivan fica feliz com as orientações de Maria Lorena, se despede de sua conexão louca e inexplicável, e pega seu avião com destino à Paris.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.


Contos Psicodélicos – Volume I – conto pronto em 16/06/2020.