Passaram-se belos dias de verão, depois de uma vida rica e
repleta em que o odor de incenso batia nas nuvens e toda a felicidade era
possível, era assim que se sentia Ivan, e seu teor alcoólico variava, ele tinha
sido um bom poeta, trabalhava com traduções do francês, e se fascinou com as
histórias parisienses de fins do século XIX sobre absinto, e também desta
bebida misturada ao láudano, um opioide. Não acreditava na loucura que muitos
supostamente atribuíam à bebida, e como era conhecida por fada verde, Ivan
tinha alegria e botava quem quisesse no bolso, como um bon-vivant tocando a sua
flauta doce, como um fauno em torno do jardim das delícias. Ivan, de nome
russo, odiava ser chamado de terrível, preferia ser tomado por manhoso do que
por odiento.
Tinha conhecido há uns dois anos, numa viagem a Paris, Maria
Lorena, teve um namorico, mas ficou mantendo contato com a moça, que se mudaria
de Paris para o Rio de Janeiro, lugar em que, no momento, residia Ivan, os dois
sabiam que agora era só amizade, pois Maria Lorena estava com um figurão da
máfia, um tal de codinome “o italiano”, seu nome não importava, pois ele usava
documentos falsos com o nome fantasia de Giuseppe. Ivan, por sua vez, vivia
mais como um putanheiro do que como um ser de relações duradouras, mas estava
feliz e queria agora experimentar os sabores do absinto, não tinha pudor em até
mesmo misturá-lo com o láudano, pois era um poeta que tinha sido simbolista,
mas que era um parisiense de coração e alma, e um apreciador das aventuras de
Rimbaud, um consumidor de réplicas de Toulouse-Lautrec e de Van Gogh. Um
francófilo, ou um parisiense ideal, por assim dizer.
Maria Lorena, por sua vez, adepta da maconha, não sentia
entusiasmo por bebidas fortes, bebia esporadicamente cerveja artesanal, e olhe
lá. O vinho, outra obsessão de Ivan, não apetecia Maria Lorena em nada, pois
ela preferia o divertimento sob Skank nos coffee-shops de Amsterdã, seu
paradeiro preferido na Europa. Ivan, de volta ao Brasil, retomara contato
também com um amigo de infância de nome Miguel, e outro de adolescência de nome
Conrado, e os três confabulavam pensamentos aventureiros em meio à selva dos
instintos urbanos, e Ivan lhes dizia: “Temos que tomar conhecimento, e logo, da
fada verde, por Deus!”. Tinha um site da internet que oferecia a opção de uma
mistura que Ivan julgava a perfeita: o absinto com láudano, e que ele sabia ser
como um ópio alcoólico de potência suficiente para fazê-lo delirar uma ilha
solar qualquer em seu mapa mental, e que lhe daria um tesouro do prazer.
Ivan logo encomendou umas cinco garrafas de absinto, com teor
alcoólico altíssimo, e uns dez frascos de láudano, sabia que tudo isso seria
molhado com água e adocicado com torrões de açúcar para tornar a experiência
confortável, e Miguel e Conrado, por sua vez, não entendiam nada de poesia e
muito menos conheciam as lendas em torno da fada verde, só queriam saber de
ficar bêbados com a tal poção mágica. Ivan recebe então um recado de Maria
Lorena de que esta e o tal italiano estavam a caminho do Rio de Janeiro na
próxima semana, e que não se preocupasse em guardar absinto para ela, pois ela
compraria maconha prensada de um amigo em Copacabana assim que chegasse ao
Brasil. Maria Lorena era de uma personalidade forte que espantava até mesmo o
ladino Ivan e suas manias de tirar vantagem como um praticante renovado da
velha lei de Gérson. Ivan só queria mesmo era retomar as excelentes conversas
que teve com Maria Lorena na sua ida à Paris, seja no Montmartre ou no Champs-Élysées.
Agora, no entanto, Ivan respirava o caos diário de Copacabana, com idas
pontuais à Ipanema para sentir odor de maconha no posto nove, droga que ele não
usava, mas que gostava do cheiro.
Enfim chega a encomenda no apartamento de Ivan na rua Santa
Clara na altura entre a Barata Ribeiro e a Nossa Senhora de Copacabana onde
morava. Cinco garrafas que vieram lacradas e frascos de láudano com desenhos
psicodélicos, ele sabia que ali naquelas garrafas e frascos ele teria novas
descobertas, uma nova fonte de autoconhecimento arriscado, uma experiência
mística forçada por elementos que alteram a percepção, o que ele chamava de
alucinação espiritual, o que os psicólogos entendem como puro delírio e não
iluminação da consciência, pois todo visionário é um ótimo visitante de
hospício, por suposto. E Ivan, que nunca tivera problemas mentais, não
acreditava muito que uma diversão alcoólica fosse só delírio, pois para ele,
Ivan, era só um modo curioso de aproveitar a vida, de encontrar e explorar as
fronteiras finais da percepção da realidade, agora alterada no espaço-tempo com
doses cavalares de absinto e láudano que logo invadiriam seu organismo e
sobretudo seu cérebro.
Anoitece, Ivan abre a primeira garrafa de absinto, e também
um dos frascos de láudano, banha a bebida com água que passa pelo torrão de
açúcar que deixa a poção doce, o esverdeado suave clareia e fica castanho, Ivan
dá o primeiro gole, depois vai com um conta-gotas no frasco de láudano e
encharca sua taça de cristal numa mistura de absinto, água, açúcar e agora
inúmeras gotas de láudano, e ele sorve aquilo como um sonho verde água e
castanho quase selvagem, o fogo lhe toma as veias, o álcool logo faria efeito,
o láudano vai por sua garganta e entranhas, rapidamente se hospeda no seu
cérebro, ele tenta ver o horizonte numa janela que dá para outras janelas, como
todo apartamento de Copacabana que não seja na Avenida Atlântica, ele então
imagina “com a sua ideia” um horizonte calmo através dos prédios, dos vidros
das janelas, da vida hitchcockiana de janela indiscreta, eventualmente com
alguém pelado ou falando alto no celular numa janela acima da dele no prédio em
frente, e ele agora fumando um charuto Cohiba cubano, junto com a sua mistura
fada verde, láudano, numa espécie de regressão ao século XIX, contemplando as
suas réplicas de Toulouse-Lautrec e de Van Gogh, com o ouro fulvo do louco
holandês pulando expressionistamente da tela a cada trago de charuto e a cada
gole de absinto com láudano, uma experiência mística com pinturas falsas, uma
experiência alcoólica e de opioide com açúcar em telas revolucionárias de um
tempo distorcido, tempo expressionista com nostalgia parisiense, o tempo
próprio de Ivan, que então liga para Miguel e Conrado, e chama os dois para seu
apartamento para ele dividir as suas novas sensações com seus amiguinhos de chapação.
Chegam então Miguel e Conrado já completamente estropiados,
pois tinham ficado num bar desde o meio-dia enchendo suas cabeças de cerveja
barata, os dois eram duros e viviam na aba generosa do tradutor de poesia Ivan,
os dois precisavam arrumar emprego, faziam parte da massa desempregada atual do
Brasil, com Miguel ganhando só um pouco de grana do aluguel de um conjugado que
ele herdara, o que era o dinheiro de sua cerveja barata e choca da sexta e do
sábado, com raros saltos numa segunda-feira qualquer. Miguel tinha um pouco,
Ivan tinha o suficiente, e Conrado, coitado, era uma anta disfuncional,
repetente das cadeiras escolares que havia abandonado no ensino médio,
trabalhando apenas como office-boy e sendo invariavelmente demitido por
indisciplina, pois se perdia nos caça-níqueis dos bares ao invés de trabalhar,
era um disperso, um dissipado, certamente por limitação intelectual e volitiva.
Nesta mesma noite, Maria Lorena liga para Ivan, no seu
telefone residencial, e começa a rir da voz de Ivan, que já estava pastosa,
àquela altura faltando meia hora para a meia-noite, e com Miguel tossindo
depois de uma baforada em um dos Cohibas de Ivan, e com Conrado cantando Los
Hermanos como um maníaco apaixonado. Ivan então deixa Maria Lorena ouvir a
cantoria e as tosses, e esta fica mais interessada ainda em voltar ao Brasil,
para ver seu parisiense de araque, como chamava Ivan com certo humor rascante. Ele
então combina que a buscaria no aeroporto, e Maria Lorena logo diz que ela e
seu italiano iriam para o Copacabana Palace, pois o italiano tinha muito
dinheiro em espécie da lavagem de dinheiro na Calábria aonde seu mafioso tinha
negócios ilegais, e que quando ela chegasse era para Ivan e seu amigos também
se hospedarem lá com o dinheiro de seu italiano, pois eles fariam uma esbórnia
na piscina do hotel de luxo.
A noite, no entanto, naquele momento, prometia ser longa, os
três, Ivan, Miguel e Conrado, bebem toda a garrafa de absinto e matam um dos
frascos de láudano no conta-gotas, agora planejavam ir para a rua, mais
exatamente para a praia de Copacabana, e assim Ivan pega seu violão, no qual
ele gostava de dedilhar uns cazuzas e legião, invariavelmente, e isto quando
não surtava com raulzito numa onda de sociedade alternativa e ouro de tolo, e
ele dedilhava como autodidata, com certo jeito, mas num conhecimento básico dos
acordes necessários, sem muitas sacadas de virtuose, pois sabia tanto de tocar
como de ouvir, ou seja, rock brasil e nada mais, o que não é nada mau, mas que
não abarca a cultura musical vasta que flutua por aí em todos os lugares que se
vê.
Agora a meia-noite irrompe, vira uma da manhã, Ivan pega a
segunda garrafa de absinto, e guardaria as outras para quando chegasse Maria
Lorena e todos fossem se aventurar no Copacabana Palace. Agora era momento de
um luau na praia de Copacabana, altura da Santa Clara, Ivan e seu violão, e
carregando consigo absinto, láudano e charutos. O opioide, àquela altura, já
dominara a percepção de Ivan, que não estava acostumado com tais ativações,
pois só consumia usualmente álcool e seus charutos cubanos, já que não fumava
cigarros e nem maconha. Miguel e Conrado tampouco estavam familiarizados com o
láudano, e tal droga se sobrepôs à euforia comum do álcool, gerando um clima
soturno e um pouco introspectivo aos três amigos que agora caminhavam em
direção da praia com as luzes do trânsito e das calçadas de Copacabana ganhando
cores vivas e fortes, a sensibilidade visual dos aventureiros agora contrastava
com a simultânea calma interior que os dominava, o láudano era neste momento
uma espécie de vírus desconhecido que lhes tomava a consciência, e que agora
era uma mistura de fótons distorcidos, sons em overdub e uma paz búdica com
toques de visionários em êxtase.
Eles então chegam à praia, e logo Ivan vê um cachorro com uma
madame no meio da madrugada, na verdade era um cão pequeno, mas Ivan “vê” um
doberman que lhe cheira as pernas e as partes e o ameaça rosnando e mostrando
os dentes, a madame acha que aquele rapaz não passava de um doido e dá um grito
que acaba assustando tanto Ivan como o cachorro que força a coleira até
esticar, com a madame falando mais uns impropérios e indo embora com seu cão de
caça. Miguel e Conrado riem da situação e veem o vestido rosa esvoaçante da
madame como um grande caldo visual de rosa-shocking numa onda psicodélica meio
Swinging London, mas logo passa. Ela some na maresia e no vapor do mar pelo
infinito calçadão naquela madrugada fria. Os três então chegam até a areia e
veem um pessoal com um som eletrônico, doze pessoas que haviam tomado ecstasy e
nem percebem a chegada dos três, pois viajavam com os olhos fechados entre
mandalas de terceiro olho, com banners fluorescentes cercando a cena que ali
evoluía. Os três então resolvem não incomodar aquelas pessoas que se
encontravam em transe, e vão ligeiramente para o lado direito da areia, para
fazer a sua festinha rock brasil com o violão acústico DiGiorgio de Ivan.
Ivan agora detona seu legião com acordes rascantes de um
faroeste caboclo, Conrado dá urras tomado pela energia da música, era o pouco
que ele conhecia de seu repertório que só vivia de rádio sintonizado
aleatoriamente com apreciação musical também aleatória, e agora Miguel cantava
junto, enquanto Conrado enrolava a língua pois não sabia toda a imensa letra da
tal canção. Ivan não tinha muita pena de Conrado, pois logo o obrigou a buscar
sucos de laranja no quiosque mais perto, e o frio da madrugada aumentava, passa
um cheiro forte de haxixe, era um vendedor ambulante, Conrado volta, Ivan pede
os sucos, paga pelo suco, Miguel logo pede para ele voltar para o violão, mas
Ivan quer abrir a outra garrafa de absinto e mandar bala no conta-gotas de
láudano que naquele momento já o fazia viajar com o som do violão num paradeiro
em que as notas eram detalhadas com a profundidade de um músico de jazz
embarcando no seu horse usual. Depois de tragos homéricos no absinto e de
encharcar-se com o conta-gotas do láudano, Ivan agora desanda com barão
vermelho e cazuza, detona um raulzito da cartola, e ao fim descansa deitado,
exausto, depois de cantar “ei Al Capone” como se fosse para si mesmo, e era.
Dá três da manhã, Ivan termina a garrafa de absinto, Miguel
dorme babando verde num montinho de areia como travesseiro, Conrado, na beira
do mar, molha os pés e começa a gritar que estava virando um lagarto, no que
Ivan mais uma vez é ríspido e deixa Conrado constrangido com seu bullying de
quem se julgava mais safo e mais esperto que os outros, principalmente de
alguém tão vulnerável como era Conrado. Ele começa então a chorar e se volta
contra Ivan com tacadas de areia, este ri, mas para com a importunação contra
Conrado, que logo se apazigua e fica calmo, sem mais brigar e gritar, e também
esquece a estória do lagarto, dizendo que tinha imaginado aquilo na combinação
de areia e da água do mar nos seus pés que eram longos e finos. Ivan diz então
a Miguel, depois de acordá-lo, que já era hora de eles retornarem para seu
apartamento, pois esfriara mais e ameaçava chuva já nas quatro da manhã, que
não daria para eles virarem a noite ali para ver o nascer do sol. Agora, Ivan
era o comandante, pois estava bancando aquela noite, era o capitão de seu
exército brancaleone, e o mais trash ali era certamente Conrado e seu Q.I.
subnutrido e seu ânimo de lesma.
O tal exército brancaleone então marcha de volta ao Q.G.
original, a rua Santa Clara e o apartamento de dois quartos alugado de Ivan,
eles entram no apartamento, sem antes trazer umas cervejas long-neck que tinham
comprado no caminho, pois agora o absinto estaria reservado para a chegada
triunfal de Maria Lorena com suas histórias parisienses com um malandro da Calábria
à tira colo, patrocinando a farra que se daria no mítico hotel de
Copacabana. Os três então se refestelam
na sala de Ivan, as long-necks da Heineken e da Stella Artois descem
rapidamente por suas gargantas, e invadem as sinapses já há muito embriagadas,
o efeito pacificador do láudano já passara e agora a onda era de cerveja como
bêbados padrão “Copacabana”. Ivan começa então a irritar novamente Conrado,
este grita palavrões, Miguel entra no meio e diz para Conrado fumar um Cohiba
de Ivan, este resolve parar de chamar Conrado de cagão e de detoná-lo usando a
sua burrice congênita e poupa seu repertório de babaca profissional que era
meio insaciável quando ele bebia álcool.
Amanhece, a rua Santa Clara clareia, os três decidem ir à
padaria tomar um café com pão na chapa, resta um resquício alucinatório do
láudano que Ivan tomara como uma espécie de flash-back, era a tal madame de
rosa-shocking com o mesmo cão maluco da madrugada, ela olha Ivan e fica
horrorizada, mais uma vez Ivan pensa que o tal cão é um doberman feroz e este
novamente se atraca em suas pernas e cheira as suas partes, no que Ivan tem
meio que um surto de susto, e a madame sai novamente esvoaçando seu vestido e
dizendo que era rica e tal e que aqueles três miseráveis a perseguiam desde a
praia na madrugada até aquela manhã na pacífica padaria às seis da matina. Ela
vai embora, e Ivan continua convicto de que aquele cachorrinho era na verdade
um doberman com raiva e que nunca tomara uma antirrábica, no que Ivan entra em
paranoia de que estava infectado pelo cão doido da madame maluca. Ivan, no
entanto, tenta esquecer aquilo, julgando que poderia ser coisa da sua cabeça, e
que aquela madame na verdade nem existia, era uma entidade da noite que
aparecera ali só para assustá-lo com seu cão Cérbero de três cabeças, era uma
figura evanescente que viera do absinto e do láudano que ele havia bebido e que
era só uma experiência da fada verde nos seus sentidos.
Não se sabe da fada verde exatamente em relação ao caso
bizarro da madame de rosa-shocking, se era uma viagem particular de Ivan, mas o
fato é que havia alguém com um cachorro, e Miguel e Conrado também participaram
da experiência, e os bons fellas estavam alucinados também, e portanto não se
sabe quem está dizendo a verdade, nem eles e nem o autor que vos fala. O caso
de um cãozinho virar doberman e daí um Cérbero era também a tonteira e o estado
de espírito de Ivan, medo e delírio gonzo, partituras e perdições dos sentidos,
sabedores de sons e vertigens mentais e visuais as usual for addicts. Ivan
sabia mesmo é que se divertiria horrores com sua cocota favorita, Maria Lorena,
e conheceria o tal figura de terno e metralhadora, um mafioso Giuseppe, o
italiano. As bordas da realidade estavam por se escancarar e virar loucura e
desbunde, e tudo surgindo das interações do láudano com a nossa doutora em
fantasmas, a fada verde.
O que surge de espanto na experiência com estupefacientes se
torna relativa com o alto teor alcoólico da fada verde, e o láudano é o
componente opioide e fantástico que resgata a experiência e a torna autêntica
de um espectador de fato estupefato. O Copacabana Palace funcionaria então como
ostentação de um refúgio alucinogênico, e com o interesse de Miguel e a burrice
avantajada de Conrado tudo fluiria para as momices de um Ivan cheio de si, como
sempre. Os três estariam como uma trindade do caos, juntando-se enfim ao
esbanjamento corrupto de uma dama feérica como Maria Lorena e um ser do crime
perfeito como Giuseppe, seu nome falso, seu documento falso, seu disfarce de senhor
do caos. Um agente do caos, e seus queridos meninos agora numa brisa solta:
Ivan, Miguel e Conrado. Com a aprovação risonha de Maria Lorena, a chefe do
bando, de fato.
O Copacabana Palace, abrigo temporário de Janis Joplin, agora
receberia em traje de gala estes senhores pervertidos, tão loucos quanto os
tempos hippies, tão dementes como a eclosão da bomba atômica, de fato e de
direito, meninos grandes de uma fada verde derramada com açúcar e carinho, e o
doce embalo de Maria Lorena com suas espetaculares manhas de moça que já sabe
das coisas mesmo antes delas acontecerem, como a pitonisa do oráculo de delfos,
como a sacerdotisa e seus duendes tomando bebida mágica. Miguel e Conrado
ouviam as histórias parisienses de Ivan com vivíssima curiosidade, e sua
relação com Maria Lorena ganhava ares quase míticos, Montmartre explodia como
um grande cabedal em que cabia todos os sonhos da poesia, com Ivan como um novo
e jovem Rimbaud, ou ainda como um visitante da festa de Hemingway, mas como um
bom francês, ele que tinha a língua fluente em seus lábios e na sua escrita nem
sempre fácil, o francês de Ivan era perfeito, e Maria Lorena sempre elogiava as
suas traduções de poesia, desde a Plêiade até os simbolistas, todo um trajeto
intelectual já havia sido realizado por Ivan, que era completamente doido, mas
que quando trabalhava era uma máquina, não parava nunca. E isso era resultado
de uma concentração que ele cultivava com intenso exercício de leitura dinâmica
o tempo todo, lia tudo e tentava, ao mesmo tempo, viver tudo, e isso para ele
era bem possível e ele conseguia essas duas frentes muitas vezes antagônicas
com muito vigor e força bruta.
O fato era que Maria Lorena já fazia suas profecias sobre a
estadia no Copacabana Palace, que aquilo viraria uma futura autobiografia de
Ivan, seu parisiense de araque, e que Ivan morreria em Paris com uma francesa
perdida na fumaça do Louvre, a qual Ivan encontraria depois de uma viagem de
ácido na aurora diante da pirâmide pós-moderna que agora inaugura a visão do
museu, como um transe em que duas almas dispersas na visão de Paris como uma
festa chegassem a termo e a paisagem do amor inundasse as telas que habitam tão
propalado museu, para depois os dois se perderem por entre os campos e vales,
indo ao D`Orsay e retornando triunfantes a Paris num passeio de inverno
novamente pela Champs-Élysées. Esta era a profecia de Maria Lorena, e seu
oráculo favorito era o Skank fortíssimo que ela importava de Amsterdã e um
haxixe vermelho marroquino que depois de fumar ela abria suas cartas de Tarô de
Marselha e muitas vezes suas runas vikings.
Ainda naquela manhã em que os três fellas tinham ido para a
praia, Ivan resolve virar meio frasco de láudano na dose de absinto que daria
para Conrado, quando dá nove da manhã sua cobaia preferida toma o veneno, pois
Ivan queria saber se cinco colheres ou um encharque brutal do conta-gotas do
láudano o fariam sonhar ou ter pesadelos, e resolveu usar Conrado para a sua
experiência, enquanto Miguel dormia roncando alto no sofá da sala do apartamento
de Ivan. Conrado ouve de Ivan que tinha mais uma dose de absinto para ele, e
Ivan convence Conrado de que aquilo lhe faria dormir, já que Conrado estava
numa agitação de insônia provocada pela excitação das dezenas de long-necks que
ele havia tomado sem parar durante a madrugada, no que Conrado toma o veneno ou
poção e Ivan fica curiosíssimo para ver os efeitos de uma grande dose de
láudano num ser humano, mesmo que fosse uma anta humana como Conrado, no que
ele não esperava sensações muito sofisticadas de sua cobaia, mas que seriam
suficientes para ele estudar aquilo e vislumbrar como faria para tomar láudano
em grandes doses, mas na segurança de seu apartamento e numa hora que não
houvesse ninguém por perto, só com seu disco de vinil do Pink Floyd tocando, o
clássico Dark Side Of The Moon, que ele teria que ir da onda introspectiva em
On The Run e atravessar a explosão emocional de The Great Gig In The Sky
incólume, como um grande guerreiro psíquico.
Conrado toma então a bebida mágica, no que esperava finalmente
cair no sono, no que deita logo após a dose em cima de um puf na sala do
apartamento de Ivan, em frente à TV que agora estava ligada no canal OFF, que a
esta hora da manhã passava filmes de escalada, com loucos pendurados em
negativas e com suas mãos brancas de magnésio. O puf ficava entre a TV e o sofá
no qual Miguel dormia, roncava e babava. Enquanto isso Ivan fazia um café e
preparava um misto-quente na sua sanduicheira na sua copa pequena na entrada de
sua cozinha estreita em forma de uma linha reta e estreita, com geladeira,
fogão, microondas e máquina de lavar ao fundo, com roupas espalhadas num
quartinho em que seu gato siamês se escondia, aparecendo só de manhã para beber
leite e comer ração e roçar eventualmente nas canelas e panturrilhas de Ivan, e
que odiava visitas, era um gato como muitos, arredio e caseiro, com a finesse
usual dos gatos.
Conrado começa a delirar em frente à TV, e Ivan percebe que o
láudano começava a fazer efeito na mente obtusa de Conrado que, vendo as
escaladas do canal OFF, começa a gritar que iria cair de um platô, Ivan ri e
incentiva o delírio de Conrado, em meio da gritaria, Miguel acorda e pula do
sofá assustado e pergunta à Ivan o que estava acontecendo, e Ivan, gargalhando,
diz que Conrado tinha tomado uma hiperdose de láudano, Miguel fica puto e sabia
que tinha sido coisa de Ivan, que era um amigo generoso, mas, ao mesmo tempo,
um tipo de babaca presumido e impiedoso. Miguel pega Conrado pelo braço e lhe
dá um banho gelado no box do apartamento de Ivan, logo após Ivan convence
Miguel que fora apenas uma experiência imprudente o que tinha feito com
Conrado, e que aquilo não se repetiria, Conrado dorme agora no sofá até uma da
tarde, as duas da tarde o telefone fixo de Ivan toca, e era Maria Lorena
informando que chegara ao Rio com seu mafioso calabrês e que era para todos se
encontrarem às cinco no Copacabana Palace, e que todas as reservas, de uma
semana, já estavam feitas, Maria Lorena queria fazer arruaça na piscina do
Palace e sabia que Ivan seria a sua companhia perfeita para isto, tudo com o
olhar divertido de seu mafioso, que tinha um tipo de humor ácido e estava louco
para conhecer Ivan.
Ivan, Conrado e Miguel saem da Santa Clara e caminham até o
Copacabana Palace, lá Ivan reconhece Maria Lorena, à porta do hotel, com óculos
escuros e um vestido azul caribe e saltos altos, com aquela cara imponente que
ela tinha, meio que fazendo esgares de desdém e superioridade diante daquilo
tudo, pois a modéstia não era um dos fortes de Maria Lorena, ainda mais agora
com um mafioso à tira colo, este que estava de terno e ostentava uma barba meio
doida, meio calvo, ao mesmo tempo, e com um rolex de gosto duvidoso no pulso
direito. Ivan é logo reconhecido por Maria Lorena, que fica eufórica, ia
encontrar seu francês de araque, um tipo de companhia para fazer merda, e que o
mafioso queria ver isto lá no Copacabana Palace, pois queria ficar na praia e
no hotel, alternando isto até seu retorno à Calábria para cuidar de seus
negócios ilegais.
O grupo então entra no saguão do hotel, o italiano, com o
nome falso de Giuseppe, Maria Lorena, Ivan, Miguel e Conrado. Eles são
atendidos no guichê, Giuseppe sabia falar português, pois Maria Lorena o
obrigara a aprender a língua, e ela e Giuseppe iriam para uma suíte
presidencial, com três quartos executivos, um para cada um, distribuídos para
Ivan, Miguel e Conrado, com direito a consumo ilimitado do frigobar, pedidos de
bebidas e comidas, tudo patrocinado pelo mafioso calabrês. Naquela primeira
noite, todos ficariam em seus quartos, pois a bagunça seria no dia seguinte, na
piscina, agora na noite Maria Lorena e Giuseppe iriam para a suíte descansar e
acordar cedo para o café do Copacabana Palace, pois Maria Lorena queria devorar
uns croissants de hotel.
Ivan vai para seu quarto, se joga na cama macia, começa a ver
TV, mas decide tomar um de seus vidros de láudano misturado à absinto, ele toma
a poção às sete da noite, logo em seguida coloca seu LP do Pink Floyd para
tocar na vitrola que tinha trazido em sua pequena maleta, começa a tocar a obra-prima
da banda, Ivan começa a sentir os efeitos do láudano, sua audição vira um som
sinestésico, ele olha a janela do quarto e vê uma noite estrelada com céu limpo
e uma lua cheia que nem queijo, num amarelo ocre fortíssimo, começa On The Run,
os delírios de Ivan agora começam a ficar muito vivos, ele estava sozinho no
quarto, se põe de pé sobre a cama e começa a se imaginar como um rockstar,
fazendo gestos estilizados, que, somente quem está só sem ninguém vendo é capaz
de fazer, ele se diverte, entra The Great Gig In The Sky tempos depois e Ivan
está eufórico, fazendo seu show imaginário de pé sobre sua imensa cama macia do
Copacabana Palace, seu delírio avança por todo o disco, em Brain Damage ele já
se encontra exausto, o disco termina e ele vai tomar banho no box, coloca água
quente e fica uma hora inteira tomando água quente na nuca e gozando o delírio
de láudano que ainda fazia bastante efeito.
Todos acordam pela manhã e vão para a sala grande do café da
manhã, Maria Lorena, que havia fumado Skank na suíte, devora três croissants
com um prazer monumental, Giuseppe, que agora só bebia leite e água, se diverte
com o apetite de Maria Lorena, e chama os três, Ivan, Miguel e Conrado, para se
sentarem à mesa com ele e Maria Lorena, Conrado come melão, Miguel mistura café
com leite e come um iogurte natural, e Ivan come croissants, se divertindo
fazendo caretas, assim como Maria Lorena também fazia caretas e zombava de
Conrado junto com seu louco Ivan. Conrado comia melão, indiferente ao bullying
que recebia daquela dupla infernal. Giuseppe sai da sala do café da manhã, vai
ao restaurante e pede uma dose de uísque Jack Daniels caubói e manda para
dentro, vai para a piscina tomar sol, chama Maria Lorena, que põe um biquíni
verde fluorescente de gosto duvidoso, que ela sabia que era cafona, mas gostava
de usar. Conrado pula na piscina com uma bermuda vermelha, Miguel fica na sauna
por meia hora, e Ivan dá um pulo também na água da piscina, com uma sunga
amarela ridícula que ele usava para fazer papel de maluco.
Ivan está nadando despreocupadamente na piscina do Copacabana
Palace, quando uma dúzia de ovos brancos caem do céu, um deles atingindo em
cheio a cabeça de uma senhora que tomava sol à beira da piscina, dois ovos
caindo na água da piscina, e o resto se espatifando no chão que cercava a
piscina, Ivan olha para cima e pensa que aquilo tinha vindo do prédio vizinho,
que ficava com suas janelas viradas para a piscina do Copacabana Palace, Ivan
acha engraçado e pensa tirar uma foto com sua câmera Canon, tira foto da gema
amarela que escorria na beira da piscina e publica em sua rede social, como
“viagem ao ovo alquímico”, Maria Lorena mergulha na piscina e começa a rir
quando Ivan, depois, mostra a sua foto com legenda, Giuseppe bebe mais uísque e
decide sair para dar um mergulho no mar da praia de Copacabana, chama Maria
Lorena, que vai com ele, enquanto os três rapazes ficam na piscina do
Copacabana Palace, morgando durante todo o dia naquele sol de céu limpo que
reinava soberano naquele dia.
Maria Lorena volta da praia, enquanto Giuseppe fica na
barraca para beber uma água de coco, ele volta logo depois, e os dois mergulham
na piscina, Ivan fica sabendo que teria uma festa de gala no salão de festas do
Copacabana Palace naquela noite, ele pede autorização do gerente do hotel para
que ele e seu grupo pudessem participar da festa, a festa seria a partir de dez
da noite, Ivan e Maria Lorena saem para comprar as roupas adequadas para a
festa, eles saem do shopping com sacolas e param num bar para beber três
garrafas de cerveja, voltam às sete da noite para o Copacabana Palace, os dois
então chamam Giuseppe, este tira um baralho do bolso e começa a jogar buraco
com Maria Lorena e Ivan, Giuseppe vence o jogo, acende um Cohiba e dá um outro
charuto da mesma marca para Ivan, os dois fumam, Maria Lorena sobe para a suíte
para fumar um Skank, volta chapada e com o riso frouxo, bebe um uísque Jack
Daniels junto com Giuseppe, Ivan bebe mais cerveja, ele ainda tinha dois vidros
de láudano e uma garrafa fechada de absinto, ele queria beber aquilo na festa
de gala, Ivan tinha o plano de se divertir até o amanhecer naquela noite do
Copacabana Palace.
A festa de gala começa, todos a caráter, Ivan tinha tomado um
vidro de láudano inteiro e bebido metade de sua garrafa de absinto, ele queria
sentir os eflúvios da fada verde naquela noite em meio dos ricaços no
Copacabana Palace, Giuseppe acha a expressão de Ivan engraçada ao vê-lo chegar
na festa, cutuca Maria Lorena que olha para Ivan e faz um hang-loose meio
alucinado, Ivan sorri com aquele sorriso pateta de quem está profundamente
chapado, em outra dimensão, Miguel e Conrado chegam logo em seguida, Conrado
não se sente muito à vontade em seu smoking, pega cerveja e bebe junto com
Miguel, Ivan não bebe mais nada, vê uma senhora de rosa-shocking e começa a
delirar que era a tal madame do cachorro novamente, uma espécie de alucinação
que lhe acossou nos últimos dias, senhora moradora de Copacabana ou apenas uma
alucinação com corpo e voz, um tipo social que ele designava como madame rica
de Copacabana com cachorrinho.
A senhora de rosa-shocking olha para Ivan, neste segundo Ivan
começa a ter uma alucinação, a cabeça desta senhora começa a derreter, ele
procura o tal doberman, mas desta vez ele não acha nenhum cachorro com a tal
senhora, a cabeça derretida da senhora desce até o chão e Ivan gargalha como se
estivesse doido de ácido bicicletinha, o absinto ou fada verde começa a lhe dar
delírios bem específicos, ele vê um dos garçons com cabeça de cavalo e Giuseppe
lhe parecia um tipo de rei gordo, cuja barba ficou parecendo a barba de um
marajá, Maria Lorena cutuca Ivan, ele olha para Maria Lorena e diz que a cabeça
da senhora de rosa-shocking havia derretido, Maria Lorena, que tinha fumado
mais um Skank, gargalha alucinadamente, conta a piada para Giuseppe, que também
não se aguenta, e Giuseppe decide pegar uma garrafa de Jack Daniels para se
divertir.
Giuseppe bebe toda a sua garrafa de Jack Daniels e chama Ivan
para conversar desbragadamente perto da piscina, Ivan beberica agora uma vodka,
e sua chapação de láudano com fada verde agora era uma espécie de eflúvio
mental leve, já tendo passado seus delírios e alucinações que ele tivera no
salão de festas. Maria Lorena fica na pista dançando com Conrado, Miguel fica
sentado em uma mesa bebendo cerveja, Giuseppe pergunta da vida de Ivan e sobre
a sua francofilia, ele que era um mafioso italiano completamente ignorante da
literatura francesa e que admirava todas as histórias que Maria Lorena havia
lhe contado sobre seu amigo carioca metido a francês literato, Giuseppe estava
finalmente conhecendo Ivan e sua fascinação aumentou depois de conhecer este
maluco pessoalmente, e Giuseppe entendeu esta estranha ligação de Maria Lorena
com Ivan, nada de almas gêmeas, era um tipo de conexão despojada e baseada num
humor que combinava com seu humor ácido de mafioso calabrês, Giuseppe começa a
fazer perguntas para Ivan, ele fala da poesia francesa para Giuseppe, ele só
conhecia Lampedusa, lia muito pouco, mas prometeu para Ivan que leria suas
traduções, pois já sabia bem o português. Ivan fica lisonjeado com tanto
interesse genuíno de Giuseppe sobre este maluco que Maria Lorena não parava de
falar, e Ivan disse que não iria se mudar para Paris, seu sonho, sem antes que
Maria Lorena abrisse suas cartas de Tarô para ele, e Giuseppe sabia desta mania
de Maria Lorena de fazer jogos de cartas para orientar os próximos passos das
pessoas, na Calábria, volta e meia, Maria Lorena fazia isto para suas amigas
italianas.
A festa de gala termina pontualmente às cinco da manhã,
segundo a programação definida pela gerência do Copacabana Palace, e Giuseppe
vai com Maria Lorena para a suíte presidencial, Conrado e Miguel vão para seus
respectivos quartos, Ivan vai para seu quarto já pensando em seu trabalho que
ele estava arrumando em Paris como professor de português, pois tinha um
contato de um amigo na França que conseguiu que Ivan fosse indicado para
trabalhar numa escola que ensinava a língua e a gramática portuguesa para os
franceses, pois Ivan, que era um profundo conhecedor da cultura e língua
francesas, reunia esta mesma habilidade com a língua e a gramática da Língua
Portuguesa, e era a pessoa perfeita para preencher a vaga de mediador cultural
e professor naquela escola de Paris. Ivan viajaria dali a um mês, e pretendia
ficar em Paris para o resto de sua vida, morando em Montmartre e bebendo vinho
tinto seco como um bon-vivant, seria um flâneur lendo Paris é Uma Festa de
Hemingway enquanto não estivesse em seu prazeroso trabalho de mediador
cultural. Era o trabalho de seus sonhos na cidade de seus sonhos, Ivan não
tinha dúvidas que dali para a frente seu futuro seria brilhante, como bom
literato que era, não lhe faltaria recursos para aplicar em seu trabalho na tal
escola e em sua vivência na capital francesa.
O grupo passa o resto da semana entre a piscina do Copacabana
Palace e a praia de Copacabana, Ivan toma a sua última garrafa de absinto, com
Maria Lorena fumando seu Skank, no último dia de estadia. Maria Lorena iria em
seguida para um apartamento que ela tinha na Barra da Tijuca, comprado pelo
mafioso calabrês, que voltaria na manhã seguinte para a Calábria, o plano de
Maria Lorena era ficar uns dois meses no Rio de Janeiro e depois voltar para a
Itália, ela tinha acesso a uma conta secreta de Giuseppe que ficava em
Luxemburgo, usava o nome fantasia de Francesca Carmen, e a conta era alimentada
mensalmente pela máfia calabresa. Só que os planos de Maria Lorena mudam na
manhã seguinte, pois Giuseppe é preso pela Polícia Federal na porta do
Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, é extraditado e preso na Itália, e
Maria Lorena, para não dar bandeira, decide morar no Rio de Janeiro, pois
Giuseppe, que tinha o nome verdadeiro de Vittorio Mancini Battisti, pega uma
cana de doze anos sem direito a atenuação da pena, ficaria preso em Roma, sob
vigília do Estado italiano. Maria Lorena não entra em contato com Giuseppe, na
verdade Vittorio, a mando da máfia, pois ela seria protegida financeiramente
pela organização, a ‘Ndrangheta cuidaria para garantir um salário mensal para
Maria Lorena, que nunca mais teria preocupações financeiras, esta conta em
Luxemburgo seria sempre acessada por ela com o nome falso de Francesca Carmen
Mantovani Ferrara.
Maria Lorena passa a trabalhar de cartomante e quiromante, e se
veste de cigana para fazer as suas consultas para seus clientes, Ivan iria
embora para Paris, e logo antes ele pede a Maria Lorena para abrir as cartas de
Tarô para ele, antes de ele partir para seu destino de francófilo com cátedra
de mediador cultural. Maria Lorena abre as cartas do Tarô para o seu amigo de
loucuras, ela faz para ele o Jogo da Estrela, a primeira carta, indicando a
raiz do problema, é a carta da Sacerdotisa, que Maria Lorena lhe resume como
uma busca por novos conhecimentos que Ivan iria empreender, novos potenciais
ainda ocultos deveriam ser descobertos por ele, a segunda carta, das emoções e
relacionamentos, é a carta de O Louco, que indicava um salto no desconhecido,
com possíveis novidades para Ivan, que era uma pessoa que sempre mergulhou em
novidades, e seu salto para Paris poderia ser este novo desconhecido com novas
pessoas em seu caminho, a terceira carta, Intelecto e carreira, é A Temperança,
indicando um período de harmonia no trabalho, em que Ivan ajudaria muitas
pessoas com o seu conhecimento já acumulado e com as novas habilidades que ele
iria adquirir pela frente, a quarta carta, Os Enamorados, envolvia escolhas no
amor ou no trabalho, sem uma indicação peremptória, a quinta carta, A Roda da
Fortuna, revelando a influência inconsciente, indicando um novo ciclo na vida de
Ivan, possivelmente sua mudança para Paris, a sexta carta, A Lua, com
influências e desejos conscientes, indicando que Ivan deveria levar a sério
suas intuições, pois, com pensamentos vindo à superfície consciente, ficaria
mais fácil para Ivan agir e tomar decisões, a sétima e última carta, o topo do
problema, é a carta O Julgamento, indicando o fim de um ciclo e uma colheita de
coisas já plantadas no passado, possivelmente a oferta de trabalho que ele terá
agora em Paris, fruto de seu conhecimento e de suas habilidades, realizando a
transição de um ciclo para outro novo, mas um ciclo anterior propiciando o
seguinte. Ivan fica feliz com as orientações de Maria Lorena, se despede de sua
conexão louca e inexplicável, e pega seu avião com destino à Paris.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Contos Psicodélicos – Volume I – conto pronto em 16/06/2020.