PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 18 de outubro de 2014

MEUS AMORES

Lares benditos de meus poemas,
eu logro fazer fantasia,
como quem quer paz e poesia.

Eis o labor infindo
que o verso colora.
Dantes o mar não tinha
oceano, dantes o céu
não tinha paraíso,
de modo fundo
toca e tece
o poema,
de mil lírios d`água,
do brando e também
brutal semear,
com o poema a História
vira labareda,
eis o início da aventura,
fazer pontos em todas as estrelas
do calmo firmamento,
gerar o baile
em olor rosáceo,
vestir-se esbelto,
lancinar o coração
de pendor violáceo,
eternizar a vinha
como canto pastoril,
e dizer meus amores.

17/10/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)

DESDIZERES

Lembra-me de quando
a mnemônica reverberar.
Eis que de poesia a vilania
se quer toda em si,
roubo de estrela
e furto de luas,
contorno das mãos
que escrevem,
o lindo verso
que decodifica
o universo
como o sabor do vento,
som estulto de karma,
alma-flora telepata,
com os dizeres
da mais elementar
dicção
dos planetas.

17/10/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)

LÍNGUA-SENTIDO

Cinza da flâmula:
torce, contorce,
faz a imagem de nação
em quadro definido.

Haste do poema:
eu leio os olhos
como claras visões,
eu ouço o escutar
com ausência de som,
sonora a palavra fala e diz,
e dito nada significa
senão sua própria língua,
como quem fala-diz
a coisa posta,
e a junta da língua
enumera elenca
todos os sentidos
como um corpo único
de signo e caos.

17/10/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)

AZUL BRUTAL

Lembra-te de que a poesia
é vigor e força,
com o espanto e o canto álacre,
com o vale que é nadir,
com o monte que é zênite.

Não se zangue da hora partida,
ela volta mais dura e ferida,
e com as vigas mais que fatais
de que fala o poeta.

Já na aurora, estoura a boiada, eia!
Evoé ritmo indolor!
Que o fumo estonteie a memória,
e a fábrica de pulos
faça crianças
como tornados,
e os teus ascendentes desmembrados,
uma vez em seu corpo genético,
falarão a língua dos pássaros
na genealogia dos poetas,
como um bom karma
de borrar o mundo
de azul brutal.

17/10/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)

TUNDRA

Langores deste verdor,
à minha alma-floresta!

Dança ao silente karma:
glória ao decano,
frêmito das rosas
aniquilam
meus temporais,
as têmporas fogem do sol,
a noite é desdita,
a madrugada música.

Labores do estro e horror!
Com mais fortuna os poemas
gestam pura bruma.

Leve ao meu desejo
os ritmos e as folhas
da relva,
flama nativa,
chão de estrelas,
leve o poema ao dia da aurora,
leve o crepúsculo
e o sol meio sinistro
da tundra.

17/10/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)

FULGORES DE MARTÍRIO

Malandro-ócio:
estoure exploda
de garra à luta!

Vulgos falcões do horror,
estes poetas e seus milagres.
Brilho esteta passa das mãos
aos pés, deuses descem
como sóis,
discos voadores caem
no outono de marte
até urano.

Cronos mutila teu esgar,
claro frêmito degola e degusta
o sistema-crânio.

De minha mandíbula
até o fêmur
tenho o peito ao meio
das dores físicas
e espirituais,

sou eu mesmo poema frio,
da rosa álacre
              tenho e tenho
              fulgor,
e ao vinho, ai que drama!

17/10/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)

POESIA E FÁBULA

Jogatinas fervem neste cassino,
uma carta dólar espera.
Defronte ao bifronte enigma,
eis paz e nirvana.

Falo das flores em carteados,
falo em escritos de arrabaldes.

Arre! Que desta fortuna
fere drama ao holocausto,
sou meu mestre
                   e às vezes teço
                                      rotinas.

Eis o nada claro como a tez do morto.
Vejo clarificar o sentido:
rouco palavreado,
asas mortíferas,
com a arapuca
das ideias ideais.

O plano é profundo
como uma máquina de matar:
poesia e fábula.

17/10/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)

OLHOS FELINOS

Lá vai meu frontispício, guerra de letrados
empenhados em botar fogo na moleira,
vagos dramas anti-sistema,
bombas plúmbeas de olor patriota anárquico.

Ah, minha boia, meu caderno,
ai ai! cala-te, mas calam-vos!

Lá vai seu estertor, configurado
plano de morte,
eis o tempo aviltado e enfermo,
qual clava astuta de fulgor,
sintoniza teu FM em onda vigorosa,
lá no lagar das uvas
o delírio crístico flanando
tal Holden Caufield,
esmero sempre teso de uma arma,
fel esparso das dores sanadas.

Meu frontispício, sumo-sacerdote!
Meu lasso torpor,
que à honra umedece
a língua,
e ao falar-dizer
cala o todo,
sempre-vivo esta total-delícia
de decifrar os olhos.

17/10/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)

ANÁTEMA

Mel de boca espanta língua.
Cobre a boca e o vil delira.

Castelo de horrores,
circo infante
               domado o tigre,
vulgo leão pastando choques
como o elétron psiquiátrico,
fundo proboscídeo,
marfim amor lasso,
clama teu vigor,
às desertas horas
                       da sede,
                   ao famélico e flamívomo
                   lenho de bebedice.

Mel da boca doce fuego,
luz abscôndita
                    de querer
                    selva em brilho
                    de ósculo,
                    decifrado o riso,
                    demandado
                    os anátemas
                    de febre e dor.

17/10/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)

DEUS EX MACHINA

Quando eu vejo a carta em pendor,
cheia de poesia qual vista arrebatada,
dou ao choque com as estultícias.

Velas do corpanzil moreno, uma nau
fermentada em árvores frutíferas.

Doze elementos de corte:
sal, terra, pele, sangue,
boca, nariz, cabelo, mão,
perna, doce, pedra, flor.

Na carta as anáguas estavam
desenhadas como delírios pictóricos,
forte ao alvo com os mares pressentidos,
aurora d`alma fria e veloz.

Quando eu calo o abalo sísmico,
tenho ao coração um plano
deus ex machina,
                  como um apelo sobrenatural
                  de magia,
                  como a estrela que cai
                  na hallucination,
                  pedra em rosa,
                  fulcro pintado,
                  em cores bravas,
                  fonte fatal de poesia,
                  laço de boca à palavra.

17/10/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)

TOTEM

Planos certos que a hora fulmina:
dentro da caixa de coração
ficará o palimpsesto,
assinado, lacrado,
com a carta de suicídio
ao pé de seu alpendre,
janela ao nada
que da morte
sucederá.

Qualquer corpo estará dentro desta tranca:
poesia à margem do tempo,
poesia encalacrada
                        dentro do pomar,
                        poemar saturnal
como quem diz quero trepar,
qualquer boca de quero beijar
sem parar,
              qual o poema escorregadio
              de uma porra estourada
              no chão de verniz,

planos errados do corpo bronze de sol

pele tez atávica de foros íntimos,
qual este processo semi-material
dos espíritos de fel,
fealdade nula dos desejos tropicais,
como o caleidoscópio das giras.

Incorpora o santo santarrão
marinheiro pela também
esparsa noite de mar,
flecha teu corpo
de luxo e bruma escaldante,

Incorpore possesso
teu próprio corpo,
suas duzentas almas junguianas
o julgarão justo,
como um serrote ou cimitarra
em que o olho da fera
fica vermelho
como o sangue da videira,
caule caudaloso
de rio risonho
besta com o mar,

Dantes a figueira era clara,
agora o negror da fonte
é nascente de teu karma,
flora e fauna fusionadas
em teu grito
de totem.

17/10/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)

SATURNO

Uma estrela líquida de esferas,
clara dança sepulcro e lança ...
os olhos esparramam dores
          lacrimal desejo flores
                   doces querências
                                 de flores mortes
                                                      e auroras ...

senti cada claro dia, ao sol
o brilho se estendia.

eu senti a voz sussurrada
                                  dentro do ósculo
                                  como visão esclarecida
                                  ópio de visionário
                                  como um flash
                                  de diamante
                                  no céu de nuvens

o sol, findo meu karma,
clarará toda encosta
                            qual sol bruto fugidio
                            defronte
                                      às luas apaixonadas
                                      de saturno.

17/10/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)        

COROA DE FLORES

Coroai-me deste périplo marcado,
olho atômico com flores na rebarba
dos arrabaldes revirados.

Ó linho azul como clara-vidente.
Desejai-me em teu porão de sevícias.
Longe da terracota
                   e dos anagramas
                                       e dos palíndromos

paz de centopeia
                    em mil giros e as coxas
                                qual pernas

lavai-me de meu pesadelo
corre e corre o espanto derradeiro
coroai-me velho ranzinza
                      qual reclamação abstrusa
                                  dos corpos pétreos
                                          de razões

colha vulcões, destes de lava espessa
como um mingau,
                     sopa de fogo
                     em ventre
                     e riso
                     que fulmina
                     o ócio
                     de gozo.

17/10/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)

COBRA CRIADA

Cobras criadas dão ases,
fortuna floribela espanta,
cotovia de meus elos fundos,
profundos dramas que clamam.

Asas de ases são cobras vivas e criadas.
Tal é o serpentário filosófico,
as almas armadas,
lutas de mascaradas,
almas mortas do campo,
reféns do nilo.

Seu Nilo, o olho capricórnio,
mal tratado de ética panorâmica,
ventre limo e poeira,
cal de frio e marmóreo
como um cadáver.

Eis meu delta vagando
alma penada
clara esfera
bruta crista
de galo-pante petardo

                       ouro de meus lilases
                             plenilúnio vasto
                             que eu abri
                             no capítulo de livros
                             de florilégios,

Vasta flor do campo
                      esteio de roça
                           lavrado
                                 com carimbo
                                 e chumbo

Vasta terra das cobras criadas
               mortes atenazadas
                         como o
                   psicodrama malado
                      cheio da grana
                             que ali, na roda
                                              da
                                         fortuna,
                     quebrou a banca
                     como um faminto
                                           javali.

17/109/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)          

SERES CARNAIS

Cântaro cheio d`água,
torna vinho.

Pelo mundo sentiram a carne,
poço de sonho a mão d`água,
enxágua exangue encharque.

Cálido temporal d`água:
o cântaro onde canta o vinho.

Eis o monumento:
palavra é sinal,
aviso de temporal.
Palavra é todo o ser carnal.

Corpo cheio de si, alma torta
de terra, pasta de masmorra,
cabeça enevoada
de loucura.

Borra o corpo a água e lama,
com os cantos dos cântaros
à flor d`alma.

17/10/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)

ESQUADRA

Eu vi o esforço da terra,
mesmerizei o contorno
e os sulcos das pedras.

Corre a fábula, lenda de terra preta,
estória de broto selvagem.
Veio o lindo sonho,
arar as arestas,
hectare por hectare,
na hecatombe que era.

Eu vi meu esgar multiplicado,
explico:
onde há terra, em volta há mar,
em terra por onde amar,
amei meus dias,
armei os lutos,
com luta envolto,
qual mar diante da terra,
mar armado de céu,
esforço, luta,
mordida de cal,
com as dores do parto,
com os olores que sinto,
pacto final
aonde amar
é arma fatal.

17/10/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)

COLORAÇÃO DA VISÃO

Raio do dia, embuste
sonhado de frio,
raio de sol no inverno,
cálido olor,
horror do clima.

Vai-te pendor calmo,
despetalada
e calma hora,
de pendor e clamores
claros.

Raio de vida,
se eu quero azul
de rústico tambor,
se eu quero o verde
mistério da rosa,
uva roxa, placa de mármore
branco flanco de pedra,
uma boca na tigela amarela.

Mais vermelho, laranja
de amarelos,
vivos negros,
a carta manchada,
sangue azul e vermelho,
como o sol espanto de cinza.

17/10/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)

DISTRAÍDO

Que loucura perdi meus sapatos
perdi a hora e meus sapatos
calcei os chinelos
doeram os meus
calcanhares

louco perder sempre os sapatos
a loucura de procurar
o que se perdeu
que loucura andar
descalço

Ando também desalinhado
sem memória
o tempo virou pó
neste meu surto
sem estar calçando
os meus sapatos

Ah, que vou buscar minha
flor d`aurora!
Mesmo sem sapatos, oras.

17/10/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)




LAMENTO DO ESCRAVO

Bento, senhor da matéria,
tem ouro em bloco,
tem ouro em pó.
Prataria de toda estirpe,
com sua genealogia do caos,
seus capangas e suas mortes.

Bento matou o próprio sorriso
em busca de pedra,
matou o mar
sonhando a areia.

Senhor também das águas:
morreu o mártir
na sua mão de fogo,
morreu o vinho
e o pão
em sua masmorra.

Leve tudo,
doutor da morte,
leve meu coração
embora
que ele só quer nuvem
e tu me dás
o rochedo.

17/10/2014 Êxtase
(Gustavo Bastos)

CROSTA MORTALHA

Brota do chão o corpo de crosta,
imune castelo do pavio aceso.
O fumo, dentro da crosta,
enfumaça o solo, firme.

O quente que sai da arma,
em pulso, com a mão na mortalha,
mata o passaredo na paisagem.

Onde o mar escava a rede de pesca,
num ar manso de pedra,
a gaivota e sua garra
dão ao peixe o fim,
da garra da boca e do frio,
congela o coração
o mar dentro do osso.

Do chão, defronte ao mar,
a crosta da serpente
refina o fundo da visão,
paisagem de crisálida,
com o nervo exposto.

O corpo ao mar de enlevo,
que na baía recorda do próprio esgar,
afunda em areia acidentada,
embora sua morte
seja de planície,
com o revés do chão.

17/10/2014 Êxtase
(Gustavo Bastos)

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

COSMOS LÍQUIDO

Bruma do coração, resta à palavra
a demão de bruto calor e queda.

Bruma límpida do cosmos,
os planetas brumosos
serão descobertos
em outras galáxias,
com os países como
os daqui,
com gente tão igual
como as daqui,
sente o coração no pulsar,
o vinho seco
do fim do dia,
tantos sóis como na aurora,
de frente ao infinto.

15/10/2014 Êxtase
(Gustavo Bastos)

FIM DA ACADEMIA

Tão duro como o primeiro inverno,
a cabeça tonta
não para.

Volta e dá meia volta,
contorna o quarteirão,
sofre como um pássaro
de canto e asas cortadas.

Tão linda como a primeira primavera
é a liberdade, canoro ao tempo
esculpido de marca d`água,
numa cédula de espanto.

Leve o rouxinol daqui,
está tendo uma guerra,
e os doutores das letras
foram assassinados.

15/10/2014 Êxtase
(Gustavo Bastos)

FUNDO BERRANTE

As mãos estão postas, ao alto.
Com os dentes sempre prontos,
o alvo é certeiro,
semente do caos
no eflúvio da chama.

Corre o náufrago, um berro
estalado, em todas as coisas
do mundo está o centro de tudo.

Alvo, da paz de vultos, na guerra
o eterno urro.

Ventila demasiado, nas horas
descidas em ventre vulgo.
Temerá teu capítulo final
o dia?

Pois, da arma posta,
o mês findo,
e alma morta ...
restará daquela dança
o grito exultante
de vitória.

15/10/2014 Êxtase
(Gustavo Bastos)

HAUSTO RITMADO

Versos atrapalhados, desses que descem ofegantes.
Carne que se espatifa sonora,
como uma sinfonia,
o sexo.

Como se dá mesmo esta canção?
Eis nada demais, como o contorno
da esfera que deságua
além-mundo ...

Dois chifres encontram o inferno,
se o poeta devaneia,
dando seus saltos nos pórticos,
vem uma flecha e corta de sangue
a têmpera do asfalto.

Por fora o dia cresce, na mesma onda
estão os serventes ao nada.
Como é a canção?
Versos estanques de dores amantes.

Por coisas assim, que o hausto
aflora, o peito rumoreja
a estrela como um
solo de guitarra,
e nada ao claro enigma
o estro desconhece.

15/10/2014 Êxtase
(Gustavo Bastos)