PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sexta-feira, 3 de junho de 2011

POEMA POESIA

Só de olhar o tempo
que se esvai ...
o certo passo que dou
é tão incerto quanto
o futuro ...
os olhos não veem nada
senão o que está na frente.

Pela manhã uma névoa densa
se propaga na imensidão do caos,
um homem se pergunta o porquê,
eu não sei explicar.

Dito de uma vez o que é a morte
não se decifra nada
da existência
que não está clara.

Eu vou por onde vou,
pecado e razão,
um pouco delirante,
sem saber o que vem
depois da queda,
sem perceber o desvão
da alma furiosa.

É por saber que nada sou
que um dia serei
o que penso em poema
e poesia.

03/06/2011 Delírios
(Gustavo Bastos)

quinta-feira, 2 de junho de 2011

O QUÊ (POEMA NONSENSE)

Da própria fala eu guardo o gesto abjeto.

Teatralidade do caos, eu salvo a meretriz

e bendigo o ladrão.



Da escrita só nos resta a palavra morta,

outro dia eu vi um ovo nascer

das letras renascidas

que querem o além do ver.



Para tanto o que eu quero

é o não querer.

Para tudo não para somente nada,

e isto é tudo que eu não paro.



Poema-caixão.

Poema do caos e do inferno.

A palavra é um espasmo da alma

enquanto carne que fenece.

Além de todos os símbolos

está a fossa de tudo perder,

perdido corpo de nuvens

e o esmero do poeta

que é o suicídio do verso.



Ora tão pronto quanto o homem,

maduro para se ter

os olhos decididos

para um mártir desiludido.

A paz é agora

a guerra da palavra

sem sentido.



Vamos escrever para quê?

Vamos caminhar para onde?

A selva dos porquês,

um cipoal da existência.

Não tenho tempo

para me fazer entender.

A vida é um sem saber o quê?



25/12/2009 Gustavo Bastos

SONHO MISERÁVEL DO AMOR

Me detive na névoa

e um pássaro pousou nos

meus olhos,

era um sonho.



Mas o que não é um sonho?

Eu conheço a alucinação

do amor perfeito,

é uma tristeza bela

como a musa insana

do meu calafrio.



A névoa é um livro que eu escrevo sonhando.

Pois é neste sonho que eu sou

o mais terrível sonhador.

Eu quero tudo, como quero

nesta vida um pouco de felicidade

e depois uma melancolia

para que o poema nasça

negro e cheio de dor

para depois voar

como o pássaro

que vai para o céu

sem pensar que a vida

pode ser uma miséria

ou uma canção de amor.



25/12/2009 Gustavo Bastos

DILEMA MORTAL

Sim, um dia eu desejei a morte

como eu desejei a vida.

A ferida que me matava

era não saber da minha sina,

queria apenas o sonho derrotado

de um canhão e das pedras ametistas.



O dia da sabedoria dialogava

com o caos do unverso.

A harmonia do dia se encontrava

com o silêncio da noite.



Pensei em morrer

como um desejo da arder no inferno.

E hoje quero o paraíso

para um descanso eterno.



25/12/2009 Gustavo Bastos

DA VIDA QUE ME ESPERA

Nua noite, o que me espera?

Esta vida de rosa

vermelha escandalosa.

Mergulho em teu ventre

e encontro a pérola da saudade.



Sei o que desejo ao abortar o amor

da esmeralda em teu calor.

A praia também está nua,

o albatroz, a gaivota

e o barco de pesca

são personagens de um cenário

da ficção poética

do sal e do mar.

Tenho que planar, ó saudade da noite

tão em festa!



Por uma vida rubra como a minha,

não vou navegar em vão

pelo destino em que me encerro,

sou o horizonte do meu livramento,

quero a paz do meu lamento,

sou uma dose entorpecente

de fogo,

quero a minha vez no amor

do sangue jovem

que não quer descanso.



Ó juventude! Está passando o tempo.

No futuro que me leva

sou apenas um tempo para a morte.



25/12/09 Gustavo Bastos

O TEMOR DA DESONRA

Dia desses eu temi a desonra

mais que a morte,

e diria que sou forte.



Dias passados nos flancos

do ódio e da tempestade.

Eu era um monturo de cadáveres

no poço profundo

do meu ego.



Contarei à vocês o que eu espero

de todo um amálgama diverso

das cores da fantasia

e da donzela violada

pelo tesão das armas.



O inquérito prossegue sem solução.

Se um dia enfrentei a morte,

não importa.

Como a bravura, sou o meu corpo

com membros de ferro.

Como a pressa, vivo de onde eu venho

com uma estrela na testa.

Eu tenho medo da desordem,

eu tenho medo da mentira.



Desonra então é a palavra mais temível

e temerária.

Minha prece é para que a verdade

um dia venha à tona

com todo o seu sangue de vitória.



05/12/2009 Gustavo Bastos

domingo, 29 de maio de 2011

A SEDUÇÃO CARNAL

Intempestiva dama,

que sabe da amora que está nos dentes.

Toda a primavera seria um dossel

de pântano e rios gelados.

No afã da aurora uma ponte da memória

comeria o indevido cão da raiva.



Sou importuno por delícias e calvários.

As amêndoas saem das ervas

com o lodaçal de sombras e miasmas.

Sou coveiro em castiçal e fogo ébrio

para o indolor cadáver de trajes sumários.



Dama nascente de meu nascente poema,

imagino uma floresta tropical

com as araras das cores da felicidade.

Sou eu e a minha matéria-corpo

de zênite à solidão dos dias que faltam

à minha morte.



Seu livre-arbítrio sabe dessas coisas,

de uma paz de ossatura férrea

em deslumbramento e vinho,

vem contar a estória dos apanágios

em que se degola o meu amor carnal.



Da estrela miséria de alva flor

conheço a silhueta da vida revista

pelos guardas ferozes.

E numa noite digo:

A mulher é um mistério de sedução.



05/11/2009 Gustavo Bastos

DO POUCO QUE SOU

O que se escuta no silêncio?

Palavra tão lida é a cena em que estou.



Quando o paraíso se achar,

todas as almas serão arrebatadas,

no dia vindouro eu terei medo,

e todas as respostas virão

de um súbito

arrancar-me

de minha carne

mórbida e sangrenta

afirmando

que sou pouco

frente à eternidade.



04/11/2009 Gustavo Bastos

INSTANTE REFLEXIVO

O certo para a vida

ninguém o diz.

Seria ousadia temerária

dizer o que os outros

devem fazer.

O que eu sei não é para alguém,

aliás, a noite estrelada

também não nos diz nada,

a poesia do sol

também não nos dá

a solução do enigma da vida.



Eu canto.

E cantando tenho espanto

de nunca entender

o que significa este mundo.

Alguns instantes penso em decifrá-lo,

mas vai novamente a dúvida

me pegar de súbito

e me dizer:

Nada sabes, poeta.

Pois então faça amor,

que o resto não é de tua conta.



04/11/2009 Gustavo Bastos

A ROSA FLUTUA

Rosa, tua noite estupefata

me diz tuas dores.

Eu sou um simples palhaço

a te sonhar sozinha.



O que penso em fazer,

depois de te olhar,

é esperar o advento da chama

que te chama deusa nua.



Eu te olho, e neste momento

não penso em pecar.

É que a minha alma é toda tua,

rosa firme do meu sonhar.



Sou teu céu e teu inferno,

um rebento na tormenta do amor.

Sou teu cavaleiro ébrio,

a girar no horizonte

espero teu perfume,

a cantar na girândola

quero teu grito apaixonado

de brilho e destemor.



Rosa, a minha paixão não acabou.



04/11/2009 Gustavo Bastos

DANÇARINO

Devo dançar ou devo morrer?

O cristal se espatifou

no chão,

e goteja o sangue

de minha mão.



Quanto é o sol e o céu da noite?

Quanto eu amarei em pranto?

Meu cinzel fez a musa,

mas era pedra,

não existia,

nunca existiu.



Eu agora sou poeta, o poeta da ágora,

o poeta do sonho de rubi,

o poeta do tigre selvagem,

e o meu olho é a bruma

na qual desejei uma musa.



Não posso mais nem morrer!

O dia propício já passou,

o que ainda posso pensar

é num rocio de paisagem de verão,

o sol torrencial da chuva,

a chuva do calor com frio,

e a veste desnuda em carne e espírito.



Devo fazer o quê?

Morrer não, dançar sim.

É o que sou, poeta temerário

que um dia ceifou a paixão.



Não vou admitir a morte

quando jovem,

só serei o dançarino das estrelas,

aquele que mata e não morre,

aquele que voa

e depois dorme.



03/11/2009 Gustavo Bastos