PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 17 de junho de 2021

BOI VOADOR NÃO PODE

“É fora, é fora, é fora, é fora da lei, é fora do ar. É fora, é fora, é fora, segura esse boi. Proibido voar”

Maurício de Nassau, conde alemão, governou Pernambuco entre 1637 e 1644, e como na Holanda, sempre avançada em seu tempo, uma vez que a capitania de Pernambuco estava no contexto das invasões holandesas, que era um país com um bom conhecimento de navegação e de ambições coloniais, a capitania passou a ter liberdade religiosa, algo inconcebível no domínio português no Brasil, que era católico e assim o foi até a concepção republicana de um Estado laico.

Houve uma transformação urbana de Recife, e foi na Cidade Maurícia (Mauritsstad, em holandês) onde ele mandou construir a Ponte do Recife, atual Ponte Maurício de Nassau. Foi neste evento que aconteceu a tal história do “boi voador”. O conde, além da inauguração da ponte, anunciou que ali um boi voaria. O objetivo era chamar a atenção do público para cobrir os custos da construção da ponte.

No dia 28 de fevereiro de 1644, o administrador cumpriu a promessa, e a versão mais aceita é que tal fenômeno foi produzido por cordas e roldanas, com um boi empalhado passando de um lado ao outro da ponte.

O domínio holandês na região durou 24 anos, mas foi bem marcante, pois Maurício de Nassau trouxe grandes progressos para Recife, que foi de povoado pequeno a se tornar uma cidade por causa de Maurício de Nassau.

Esta história do boi voador atravessou gerações e virou tema de uma das canções do musical Calabar – o elogio da traição, peça escrita em 1973 por Chico Buarque e Ruy Guerra. A música se chama Boi voador não pode.

A letra, muito bem humorada, é a seguinte : “Quem foi, quem foi que falou do boi voador? Manda prender esse boi, seja esse boi o que for. O boi ainda dá bode. Qual é a do boi que revoa? Boi realmente não pode voar à toa. É fora, é fora, é fora, é fora da lei, é fora do ar. É fora, é fora, é fora, segura esse boi. Proibido voar”.

A marchinha carnavalesca de Chico Buarque, Boi Voador, composta para sua peça “Calabar: o elogio da traição” (1973) é sucesso popular e muito cantada no Recife. A letra, falando do proibido, era uma alusão à censura da ditadura militar. A história do boi voador foi relatada pelo frei português Manuel Calado (1584-1654), ele que foi testemunha dos acontecimentos que se deram durante o domínio holandês.

Frei Manuel Calado foi confessor de Calabar antes de sua condenação à morte, este que foi garroteado e esquartejado em 1635, tendo o frei convivido bem com Maurício de Nassau e com os holandeses invasores, mas na insurreição pernambucana, se voltou contra os holandeses, apoiando os colonos na expulsão dos invasores. O período em que houve o domínio holandês em Pernambuco durou, por fim, de 1630 a 1654.

Maurício de Nassau, diante dos desafios da construção da ponte, chamou atenção para o dia da inauguração da mesma em que um boi voaria. O boi vai voar! Recife preparou-se para a grande festa de inauguração da ponte, marcada para um domingo, dia 28 de fevereiro de 1644.

Nassau anunciou que um boi voaria pela ponte, e avisou qual seria o animal: o boi pertencente a Melchior Álvares, conhecido entre os populares por sua mansidão. A notícia correu os engenhos e arredores e muitos se perguntavam : “Seria possível um boi voar?”.

Durante o evento de inauguração da ponte, o boi voador ficou para o final, dez da noite, em que surgiram Melchior e seu boi, estes entraram num sobrado, reaparecendo na janela mais alta, e o boi foi saindo pela janela, com os populares que olhavam para o alto, e o boi foi flutuando no ar, passando pela cabeça das pessoas, fascinadas com a visão.

Os populares logo entenderam o truque, era um boi empalhado suspenso por cordas e movido por um sistema de roldanas operado por marinheiros holandeses. A ponte inaugurada por Maurício de Nassau se chamaria Ponte do Recife.

Primeira ponte de madeira sobre o rio Capibaribe, a Ponte do Recife já foi bem mais extensa do que é hoje, com uma obra de engenharia de ponta para a época, que incluía uma parte levadiça para a passagem de embarcações.

A ponte de madeira foi substituída por uma de ferro em 1865, que enferrujou, tendo sido feita outra de concreto armado, que recebeu o nome de Ponte Maurício de Nassau.

Link recomendado : Chico Buarque : Não Existe Pecado Ao Sul Do Equador/Boi Voador Não Pode : https://www.youtube.com/watch?v=KacxjkZINMU

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/boi-voador-nao-pode 

 

 

 

quarta-feira, 16 de junho de 2021

LORDS OF CHAOS – A SANGRENTA HISTÓRIA DO METAL SATÂNICO UNDERGROUND – PARTE X

“o relato da sequência de eventos que tomou conta da Noruega em 1992 é impressionante”

Na Noruega temos como um de seus patrimônios a existência das igrejas de madeira. Tais igrejas foram construídas desde o ano 1000 D.C. até o advento da Peste Negra. Em Lords Of Chaos, podemos ler :

“Antes de seu juízo de fogo, em junho de 1992, a igreja de Fantoft possuía a fachada mais apavorante de qualquer igreja de madeira. Datando do século XII, ela originalmente se localizava em Fortun, próxima ao fiorde de Luster, na região central da Noruega.

Como várias das igrejas de madeira, ela também continha antigas inscrições rúnicas. Ao final do século XIX, havia planos para demoli-la e usar o espaço para um novo cemitério. Ao contrário de várias outras igrejas de madeira que foram destruídas nessa época (antes da compreensão de seu grande valor histórico e cultural), a igreja foi salva ao ser desmontada e movida para Fantoft, oito quilômetros ao sul de Bergen, na costa oeste da Noruega.”

O incêndio da madrugada de 6 de junho de 1992, na igreja de Fantoft, nunca teve uma condenação do crime, mesmo tendo suspeitas fortes sobre Varg Vikernes. Em Lords of Chaos, o relato da sequência de eventos que tomou conta da Noruega em 1992 é impressionante, e a atribuição destes crimes à cena black metal foi instantânea.

Em Lords of Chaos, podemos ler : “A notícia da destruição de um dos marcos culturais da Noruega chegou às manchetes nacionais. Não demoraria muito até que outras igrejas começassem a se iluminar em chamas noturnas.

No dia primeiro de agosto do mesmo ano (1992), a igreja de Revheim, ao sul da Noruega, foi incendiada; vinte dias depois, a capela de Holmenkollen, em Oslo, irrompeu em chamas. Em primeiro de setembro a igreja de Ormoya pegou fogo, e  no dia 13 daquele mês a igreja Skjold também.

Em outubro, a igreja Kauheto queimou, como as outras. Após uma pausa de alguns meses, a igreja Asane, em Bergen, foi consumida pelas chamas, e a igreja de Sarpsborg, um membro do corpo de bombeiros foi morto em serviço. Algumas pessoas posteriormente atribuiriam a responsabilidade dessa morte ao Círculo Negro.

Desde o pequeno e inconsequente incêndio na igreja Storetveit no mês anterior às chamas de Fantoft, houve um total de quarenta e cinco a sessenta incêndios, quase incêndios e tentativas de ataques incendiários em igrejas na Noruega.

Por volta de um terço deles apresentam uma conexão documentada com a cena black metal, de acordo com Sjur Helseth, chefe do Departamento Técnico da Diretoria de Herança Cultural.

As autoridades relutam em discutir os detalhes de vários desses incidentes, temendo que uma atenção indevida poderia literalmente inflamar potenciais imitadores a se juntarem aos ataques que Vikernes e seus comparsas iniciaram em 1992.”

Aqui temos o panorama do auge dos eventos que tornaram a cena black metal norueguesa conhecida no underground mundial. O ano de 1992, particularmente, reuniu todo o clímax da delinquência que fora gerada numa mistura de inconsequência juvenil com versões pueris sobre satanismo e cosmovisões nubladas por mistificações.

Aqui se trata do pessoal que se juntou na loja Helvete e que refletiu na proeminência que teria Varg Vikernes como a figura mais infame da cena black metal, tomando uma dimensão na cena que batia com a de Euronymous, que era um tipo de mentor intelectual da cena black metal da Noruega.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário :  https://www.seculodiario.com.br/cultura/a-sangrenta-historia-do-metal-satanico-underground-parte-x