“É fora, é fora, é fora, é fora da lei, é fora do ar. É fora, é fora, é fora, segura esse boi. Proibido voar”
Maurício de Nassau, conde alemão, governou Pernambuco entre 1637
e 1644, e como na Holanda, sempre avançada em seu tempo, uma vez que a
capitania de Pernambuco estava no contexto das invasões holandesas, que era um
país com um bom conhecimento de navegação e de ambições coloniais, a capitania
passou a ter liberdade religiosa, algo inconcebível no domínio português no
Brasil, que era católico e assim o foi até a concepção republicana de um Estado
laico.
Houve uma transformação urbana de Recife, e foi na Cidade
Maurícia (Mauritsstad, em holandês) onde ele mandou construir a Ponte do
Recife, atual Ponte Maurício de Nassau. Foi neste evento que aconteceu a tal
história do “boi voador”. O conde, além da inauguração da ponte, anunciou que
ali um boi voaria. O objetivo era chamar a atenção do público para cobrir os
custos da construção da ponte.
No dia 28 de fevereiro de 1644, o administrador cumpriu a
promessa, e a versão mais aceita é que tal fenômeno foi produzido por cordas e
roldanas, com um boi empalhado passando de um lado ao outro da ponte.
O domínio holandês na região durou 24 anos, mas foi bem
marcante, pois Maurício de Nassau trouxe grandes progressos para Recife, que
foi de povoado pequeno a se tornar uma cidade por causa de Maurício de Nassau.
Esta história do boi voador atravessou gerações e virou tema
de uma das canções do musical Calabar – o elogio da traição, peça escrita em
1973 por Chico Buarque e Ruy Guerra. A música se chama Boi voador não pode.
A letra, muito bem humorada, é a seguinte : “Quem foi, quem
foi que falou do boi voador? Manda prender esse boi, seja esse boi o que for. O
boi ainda dá bode. Qual é a do boi que revoa? Boi realmente não pode voar à
toa. É fora, é fora, é fora, é fora da lei, é fora do ar. É fora, é fora, é
fora, segura esse boi. Proibido voar”.
A marchinha carnavalesca de Chico Buarque, Boi Voador,
composta para sua peça “Calabar: o elogio da traição” (1973) é sucesso popular
e muito cantada no Recife. A letra, falando do proibido, era uma alusão à
censura da ditadura militar. A história do boi voador foi relatada pelo frei
português Manuel Calado (1584-1654), ele que foi testemunha dos acontecimentos
que se deram durante o domínio holandês.
Frei Manuel Calado foi confessor de Calabar antes de sua
condenação à morte, este que foi garroteado e esquartejado em 1635, tendo o
frei convivido bem com Maurício de Nassau e com os holandeses invasores, mas na
insurreição pernambucana, se voltou contra os holandeses, apoiando os colonos
na expulsão dos invasores. O período em que houve o domínio holandês em
Pernambuco durou, por fim, de 1630 a 1654.
Maurício de Nassau, diante dos desafios da construção da
ponte, chamou atenção para o dia da inauguração da mesma em que um boi voaria. O
boi vai voar! Recife preparou-se para a grande festa de inauguração da ponte,
marcada para um domingo, dia 28 de fevereiro de 1644.
Nassau anunciou que um boi voaria pela ponte, e avisou qual
seria o animal: o boi pertencente a Melchior Álvares, conhecido entre os
populares por sua mansidão. A notícia correu os engenhos e arredores e muitos
se perguntavam : “Seria possível um boi voar?”.
Durante o evento de inauguração da ponte, o boi voador ficou
para o final, dez da noite, em que surgiram Melchior e seu boi, estes entraram
num sobrado, reaparecendo na janela mais alta, e o boi foi saindo pela janela, com
os populares que olhavam para o alto, e o boi foi flutuando no ar, passando
pela cabeça das pessoas, fascinadas com a visão.
Os populares logo entenderam o truque, era um boi empalhado
suspenso por cordas e movido por um sistema de roldanas operado por marinheiros
holandeses. A ponte inaugurada por Maurício de Nassau se chamaria Ponte do
Recife.
Primeira ponte de madeira sobre o rio Capibaribe, a Ponte do
Recife já foi bem mais extensa do que é hoje, com uma obra de engenharia de
ponta para a época, que incluía uma parte levadiça para a passagem de
embarcações.
A ponte de madeira foi substituída por uma de ferro em 1865,
que enferrujou, tendo sido feita outra de concreto armado, que recebeu o nome
de Ponte Maurício de Nassau.
Link recomendado : Chico Buarque : Não Existe Pecado Ao Sul
Do Equador/Boi Voador Não Pode : https://www.youtube.com/watch?v=KacxjkZINMU
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/boi-voador-nao-pode
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