PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

CRIME DA BRASKEM - PARTE II

“a CPI foi instalada”

Pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) já apontavam os riscos de afundamentos, em Maceió, devido à exploração mineral da Braskem, há mais de uma década. Estudos já indicavam que a exploração do sal-gema pela Braskem estava provocando aumento do nível do lençol freático, e que o aumento de pressão poderia causar o afundamento do solo. 

Por sua vez, esta exploração trabalha liquefazendo o sistema na injeção de água e que lubrifica o subsolo, pois se retira o sal e lá ficam muitas cavidades logo após, sendo que estas cavidades são preenchidas com fluido, e mesmo com a interrupção da mineração por completo, a Braskem tem que continuar com o monitoramento diário. 

O colapso do sistema de extração se dá, por conseguinte, quando há perda da auto sustentação de uma estrutura. Quando se fala de cavidades subterrâneas, seja cavernas, minas subterrâneas etc, o colapso causa a subsidência (afundamento) da camada acima da cavidade.

No campo jurídico é bom lembrar que a Justiça Federal de Alagoas já aceitou o pedido de tutela de urgência contra a Braskem, que já foi intimada devido aos danos causados, esta que disse que “avaliará e tomará as medidas pertinentes nos prazos legais aplicáveis e manterá o mercado informado sobre qualquer desdobramento relevante sobre o assunto.” 

O valor da causa é de R$ 1 bilhão e já foi ajuizada pelo Ministério Público Federal, pelo Ministério Público do Estado de Alagoas e pela Defensoria Pública da União uma ação civil pública contra a companhia e o município de Maceió, além do Ministério Público Federal, junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), ter pedido a suspensão imediata da exploração mineral em Maceió.

Foi solicitado pelo documento que a União e a Petrobras “intervenham junto à Braskem para a suspensão imediata de todas as atividades de exploração mineral” e também a “adoção de medidas emergenciais destinadas a impedir ou minimizar os danos ora vislumbrados.”

Segundo o governo de Alagoas, as minas da Braskem são cavernas abertas para a exploração de sal-gema durante décadas de mineração que, contudo, começaram a ser fechadas desde que o SGB (Serviço Geológico do Brasil) confirmou que a atividade mineral da Braskem provocou o fenômeno geológico de afundamento do solo na região. Por sua vez, houve um aumento do monitoramento após 5 abalos sísmicos registrados apenas em novembro último. 

Por fim, no domingo, dia 10 de dezembro, houve o rompimento da mina 18, que foi preenchida pela Lagoa Mundaú. Mais um crime ambiental da Braskem, após a destruição de cinco bairros e dos lares de 55 mil pessoas. A Defesa Civil alega que o rompimento da mina 18 se autopreenche, portanto, não oferece risco. Por outro lado, houve tanto o rompimento, ocorrido às 13:15 h, como outro abalo às 13:45 h. Por sua vez, a Braskem disse que a área está sendo monitorada.

No final de novembro último, a Prefeitura de Maceió decretou situação de emergência por risco iminente de colapso da mina da Braskem na Lagoa Mundaú. O rompimento de domingo, no dia 1o de dezembro, foi notado pelo movimento nas águas de um trecho da lagoa. Após o incidente, o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL) solicitou uma reunião urgente junto ao governador de Alagoas, Paulo Dantas, marcada já naquele domingo, na análise dos desdobramentos do episódio e para busca de soluções.

Com o rompimento da mina 18 temos o comprometimento da fauna e da flora da Lagoa de Mundaú, principalmente na ameaça ao mexilhão Sururu, iguaria tradicional da culinária alagoana, espécie que se for extinta na região pode prejudicar o sustento de 400 pessoas. 

Por sua vez, o contato da água da lagoa com o sal minerado pela Braskem no subsolo elevará os níveis de salinização da água, com possível extinção de espécies na região. Ou seja, os crimes ambientais da Braskem são consequência de uma intervenção irresponsável na natureza, com foco exclusivo no lucro.

A reação institucional e civil em relação a estes absurdos parece deixar a empresa em maus lençóis, embora a controvérsia continue, pois se levanta que as indenizações não são justas e nem legais, e que em qualquer teoria econômica e jurídica a empresa deveria decretar falência, e ainda segundo as leis do mercado. 

Mas, com acionistas milionários, incluindo os Odebrechts, e a contenção de danos também se dando pelo fato de a Petrobras ser uma acionária relevante da Braskem, já temos  as manchetes dos jornais estampando que “o governo teme que a CPI da Braskem respingue na Petrobras”. Por sua vez, a Braskem tem ainda ações preferenciais e o governo detém 10 % de ações da empresa. Ou seja, o respaldo da sobrevivência da Braskem se dá por meio de acionistas e do próprio Estado. 

Entretanto, mesmo com interesses contrários, a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Braskem foi instalada nesta quarta-feira, dia 13 de dezembro. Omar Aziz (PSD-AM) foi escolhido por aclamação como presidente da CPI. Embora instalada, os trabalhos da CPI só começarão após o recesso parlamentar, em fevereiro de 2024.

Por sua vez, apesar do contato de Lula com o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), aliado político do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tanto Lira como Renan Calheiros (MDB-AL) tentam conter os problemas envolvendo a petroquímica e as autoridades locais, e o governo tenta também conter a rivalidade entre Lira e Renan na política e disputa de poder em Alagoas.  

Contudo, não houve êxito do governo Lula na contenção do avanço da investigação, e a CPI foi instalada. O temor do governo, por sua vez, também reside na Petrobras, acionista que detém 36,1 % do capital da Braskem, com a CPI podendo afetar os negócios da petroleira. Outro problema é que a CPI da Braskem possa arruinar a venda da empresa pela Novonor, antiga Odebrecht, que há anos tenta efetuar esta venda.

O TCU (Tribunal de Contas da União) acolheu o pedido do Ministério Público para fiscalização da Braskem no caso da mina afundada, uma vez que o TCU entende ter competência para a investigação, pois a Petrobras é uma acionária relevante da Braskem. Por fim, a fiscalização de recursos minerais também cabe à esfera federal. O ministro Aroldo Cedraz determinou que em 5 dias a Braskem e órgãos federais deem explicações ao TCU.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/crime-da-braskem-parte-ii










   



terça-feira, 19 de dezembro de 2023

O MAR DE MÁRMARA

Quando eu bebia o mar, me embriagava 

das tempestades de Netuno, das ondas

de Tritão, do sol vívido Inca, metafísico,

da unio mystica, de satoris búdicos,

na levitação dos sonhos de festivais.


Penso na amplidão, no horizonte,

em que descanso os meus ossos,

meus músculos, minhas costas,

e me previno do ataque,

com o escudo da fé,

no canto prenhe

da praia, com a bênção

fervente do sol.


Os poemas continuaram

seu fluxo, contra os

dizeres da insciência,

contra a correnteza

infame da terra arrasada.


Pleito visceral, os hinos cascudos

da nau vitoriosa, os cânticos

verdejantes, na bruma, no cio

desta nova terra famélica,

furibunda, em que a mão forte

bate o vento na cara

da idiotia.


Diante das misérias

e das fantasmagorias

de fantoches, que caem

bebuns como patuscos

na chuva, o soco atinge

o peito dos hipócritas,

da pantomima exangue

que se desespera.


O poema está reto

como uma adaga,

corta e traça,

sem delongas,

e com nada em vão,

seu verbo ferro aço

traço dicção de prata

brilhosa, lustrada,

do canto da vida

e da matança,

da arte solar

e da boêmia

noturna.


19/12/2023 Gustavo Bastos 

CANTO DOS MISERÁVEIS

O pastoreio dos que se perderam

é a renovação de nossas noites

perdidas, das estrelas caídas

como anjos da danação.


Este páramo, de fundo escuro,

inspira as falanges contra

os sonhos dos boêmios,

em que o coração contrito,

na fossa, sucumbe.


Ver a saída dos hinos de misereres,

dos cantos de lamúrias,

ladainhas, melodias plangentes,

de um peito dorido,

é ver que da fossa

o espanto estava adormecido,

e a alegria abafada.


Que mundo ruim

que te fez bagaço!

O mundo cruel

que você blasfema,

deste Deus que lhe

deu uma botinada.


Nada restará

enquanto o choro

e o ranger de dentes

não se superar.


19/12/2023 Gustavo Bastos 

AMÉRICA

Se acende o sendero, a pátria traída

é o golpe de faca na democracia.

Um bastão dá uma pancada,

os guerrilheiros reagem.


O presidente foi morto,

se soltam fogos, a cocaína

sai para viajar, o povo

quer cantar novamente,

a grande canção continental,

dos mares de enseadas 

descobertas por degredados.


Sim, a América está nova,

na proa de seus sonhos,

toda esta grande poesia

continental, absurda,

entre oceanos

vastos, e cadeias

montanhosas

de mundos

antigos.


O poeta canta o pampa,

canta a cidade, canta

todo o continente,

e a casa diante

do rochedo

parece um barco,

em que o vento

levava a bordo

Macondo e delírios

de revolução.


19/12/2023 Gustavo Bastos 

OS VERSOS DA TERRA

Se estuda a vida, o mapa é denso,

de toda fauna e flora a música,

e os tons juntos às cores que formam

a imagem nítida da paixão.


Com as asas abertas, o peito

aberto, o mar batendo e a pele

respirando, a vida está plena,

um canto vira hino,

e a alegria vira felicidade. 


Na lira está Afrodite, 

e vem Eros, que se ergue 

no céu, mas não se mira 

em Tânatos.


O amor verseja, 

estes que são 

os versos da terra, 

os versos mortais, 

feitos por criaturas, 

mas levados

pelas musas.


Divinos, os versos

também se despertam

do sopro eterno,

do mundo de aurora

da magia.


Éolo, pneuma,

um zéfiro

que canta. 

Os versos da terra

também são os

cânticos do céu.


19/12/2023 Gustavo Bastos 

VENTO

Vento vem me dizer de teu sopro,

que a voz e o som, na batida das 

águas, venta forte a maresia.


Dos dias que estão espalhados

no verão, o sol cai na varanda,

se abre uma grande enseada,

e se desenha a lua na constelação, 

nesta miragem da via láctea,

neste tempo tão límpido

que os olhos veem.


Vento que me leva,

na noite e no dia,

pintando o sol e a lua,

e a prata de Bárbara

na escultura que 

sonhei. 


19/12/2023 Gustavo Bastos 

PASSEIO DO CORAÇÃO

Vamos sair, vamos ver o mar.

Não existe mal para lá do sol

e na noite oceânica.

Vamos por aí, na noite andar.


Ver o mar e o céu,

a aurora e a nuvem.

A vida vem inteira,

com a tua e a minha 

fé. 


Bárbara, tudo está

vivo, na viva paixão

do dia.


19/12/2023 Gustavo Bastos