“o Bathory conseguiu criar o rascunho para o black metal escandinavo em todas as suas diversas facetas”
As bandas Venom, Mercyful Fate e Bathory foram as pioneiras
no que deu inspiração e sustento para o som que caracterizaria as bandas de
black metal dos anos 1990, estas bandas, ainda nos anos 1980, plasmaram a
temática e a sonoridade que, depois, seria desenvolvida pelas bandas
norueguesas, por exemplo. Podemos, mais arbitrariamente, incluir também bandas
como Hellhammer, Slayer e Sodom.
O Venom surgiu entre 1979 e 1980, em Newcastle, na
Inglaterra, e os membros da banda adquiriram pseudônimos, o que seria uma
prática de muitas bandas de black metal, depois, nos anos 1990. A banda então
se formou como trio, com os músicos Cronos, Mantas e Abaddon. Uma música
exagerada e anormal logo surge, com Abaddon dizendo que as fontes do som vieram
de bandas como Black Sabbath e Deep Purple.
No livro Lords Of Chaos, podemos ler : “Além de serem os
pioneiros de um som mais sujo do que qualquer outra banda de rock ou punk da
Europa da época, a notoriedade do Venom era duplamente assegurada pelo seu
elaborado endosso do satanismo a um grau que causaria sonhos molhados em
inquisidores medievais”.
E segue o livro : “Tais polêmicas reverberam com seus fãs, e
os antigos álbuns do Venom, Welcome to Hell (1981), Black Metal (1982) e At War
with Satan (1983) chegaram a vender centenas de milhares de cópias ao longo dos
anos. Com o título de seu segundo álbum, Black Metal, um estilo futuro de
música satânica havia encontrado seu nome.
O disco também talhou em pedra alguns dos aspectos essenciais
do gênero. O principal seria uma política declarada de oposição violenta ao judaico-cristianismo,
uma blasfêmia interminável, e o abandono de qualquer sutileza em benefício de
uma teatralidade grandiosa que balançava na beira de um abismo kitsch e
caricatura própria”.
O Mercyful Fate, também uma banda que se desenvolveu na
década de 1980, tinha em seu vocalista King Diamond um leitor de LaVey, a banda
que teve seu som influenciado por bandas clássicas como o Black Sabbath e o
Deep Purple, combinado com um vocal operístico de Diamond, com dois álbuns
principais em seu bojo, o Melissa, de 1983, e o Don`t Break the Oath, de 1984,
com histórias de ritos mágicos, pactos quebrados e suas consequências e
declarações de credo satânico.
A atuação teatral de King Diamond nos palcos vinha com uma
pintura facial preta e branca, e como lemos em Lords of Chaos : “Diamond é um
dos únicos artistas do metal satânico dos anos 1980 que era mais do que um poser
usando uma imagem demoníaca para chocar. Entre sua abertura para falar sobre
seu engajamento pessoal e o teatro mascarado da sua persona de palco, sua
influência seria óbvia na ressurreição do black metal com sangue novo entre
1990 e 1991”.
Em Lords of Chaos, temos então o livro descrevendo as origens
da banda Bathory, no que temos : “O grupo sueco Bathory, junto do Venom, foi
inaugural na evolução do black metal moderno. O Bathory tirou seu nome da
“Condessa de Sangue” Erzebet Bathory, uma nobre húngara do século XVIII que foi
julgada pelo assassinato de centenas de garotas jovens, em cujo sangue ela
supostamente se banhava para manter sua beleza juvenil.
É muito provável que uma canção antiga do Venom, “Countess
Bathory”, do álbum Black Metal, tenha sido a inspiração direta para o nome, já
que o Bathory deve muito da sua sonoridade e aparência inicial aos ingleses
fundadores do black metal. O motor por detrás do grupo é um homem que usa o
nome artístico Quorthon (curiosamente, o Bathory nunca em sua carreira tocou um
show ao vivo para o público)”.
O Bathory surgiu com um som ainda mais potente do que era o
Venom, uma música que veio como um arsenal de distorção, no livro podemos ler
“a seção rítmica hipermovimentada fica borrada até se transformar em um
turbilhão rodopiante de frequências – o pano de fundo perfeito para os vocais
vociferados de natureza indecifrável”.
Em Lords of Chaos, podemos ler em seguida : “Conforme o
Bathory amadureceu ao longo dos seus álbuns seguintes, The Return ... (1985) e
Under the Sign of the Black Mark (1987), a música desacelerou notavelmente, as
canções ficaram mais elaboradas, e os assuntos começaram a comunicar um grau de
sutileza e ambiguidade que estava a quilômetros de distância dos primeiros
singles. A essa altura, ocorreu uma notável mudança de foco que, da mesma forma
que o primitivismo do primeiro álbum, também influenciaria profundamente a cena
black metal do futuro”.
Em 1988, o Bathory lança o álbum Blood Fire Death, com uma
sonoridade ainda potente e barulhenta, mas saindo da temática de um satanismo
infantilizado, e entrando na seara do paganismo com foco nos antepassados
escandinavos, sendo que esta exploração de arquétipos ancestrais seria um dos eixos centrais que inspirariam bandas
de black metal que surgiriam anos depois, se tornando um componente essencial
do gênero.
Em 1990 sai o álbum Hammerheart, que coloca foco na
exploração da mentalidade de um praticante da religião Ásatrú na Era Viking.
Ásatrú que é traduzido por “lealdade ao AEsir (o panteão de deuses nórdicos
pré-cristãos), segundo o livro Lords of Chaos, “é a palavra moderna para o
ressurgimento e a reconstrução das
crenças religiosas dos europeus nórdicos e teutônicos do norte do continente.
Ela é frequentemente acompanhada por um forte ódio ao
cristianismo, considerado uma religião estrangeira que foi imposta aos
antepassados sob ameaça de morte”. Em Hammerheart temos músicas mais longas e
um vocal mais claro, com cantos corais.
Segue a narrativa de Lords of Chaos : “O último lançamento da
“trilogia Ásatrú” do Bathory veio em 1991, com Twilight of the Gods, que
enfatiza ainda mais os elementos musicais de composição clássica europeia.
Os temas das letras eram inspirados pelos terríveis alertas
de Nietzsche sobre a doença espiritual que afetava a humanidade contemporânea.
Além disso, elas continham também referências veladas às divisões da SS da
Alemanha na Segunda Guerra Mundial na canção “Under the Runes”, que Quorthon
admite ser uma provocação deliberada”.
E podemos encerrar a análise sobre o Bathory, aqui, com mais
um trecho de Lords of Chaos : “Apesar de não estar consciente de sua própria
influência, o Bathory conseguiu criar o rascunho para o black metal escandinavo
em todas as suas diversas facetas :
Da cacofonia alucinada à grandiloquência melódica orquestrada
: da farra nos excessos da adoração medieval ao Diabo à explorações profundas
do paganismo viking : das inspirações das tradições europeias ao flerte
deliberado com a iconografia fascista e nacional-socialista. Os primeiros seis
álbuns do Bathory resumiriam os temas que causariam uma erupção sem precedentes
na juventude da Escandinávia e de outros lugares do mundo”.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/cultura/lords-of-chaos-a-sangrenta-historia-do-metal-satanico-underground-parte-v
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