“Dead tinha um temperamento depressivo e sombrio”
O Mayhem começou em 1984 as suas atividades, e a banda foi influenciada
por bandas como Venom, Bathory e Hellhammer. A formação inicial ainda contava
com Euronymous usando o pseudônimo Destructor, na guitarra, mas ele logo adotou
o pseudônimo com o qual o conhecemos, que era traduzido por “príncipe da morte”
(título grego mencionado em livros-texto sobre ocultismo). Ainda havia o
baixista Necro Butcher, o baterista Manheim e o vocalista Messiah.
A banda se identificou como tocando “total death metal”, fato
desmentido depois pelo próprio Euronymous, que afirmou que o Mayhem sempre fora
uma banda de black metal. O primeiro show do Mayhem foi em 1985, e a demo de
estreia foi Pure Fucking Armageddon, em 1986, com 100 cópias numeradas.
Em 1987, entra na banda o vocalista Maniac, e Messiah foi
chamado por Euronymous de “ex-vocalista de estúdio”, que teve a sua aparição na
demo e no primeiro lançamento oficial da banda, o mini-LP Deathcrush, deste ano
de 1987, com uma tiragem de 1000 cópias.
Após o lançamento de Deathcrush, entra o vocalista Dead, que
veio da banda cult de Estocolmo, na Suécia, Morbid, de onde alguns integrantes,
mais tarde, montariam a conhecida banda sueca de death metal, Entombed.
Dead se mataria poucos anos depois, em 1991, e seria um dos
primeiros fatos chocantes da cena norueguesa do black metal que, naquele
período, se expandia. A história é conhecida no underground, e envolve detalhes
macabros.
Euronymous, pouco depois do suicídio de Dead, escreveu : “Nós
não temos mais vocalista! O Dead se matou há duas semanas! Foi muito brutal,
primeiro ele cortou todas as artérias dele nos pulsos e aí ele explodiu a
cabeça com uma escopeta. Eu encontrei ele e foi muito macabro, a parte de cima
da cabeça dele estava espalhada por todo o quarto, e a parte de baixo do
cérebro tinha escorrido do resto da cabeça e caído na cama.
Eu, claro, peguei minha câmera imediatamente e tirei umas
fotos; a gente vai usar elas no próximo LP do Mayhem. Eu e o Hellhammer tivemos
tanta sorte que encontramos dois pedaços grandes do crânio dele, e nós
colocamos eles em colares pra guardar de lembrança.
O Dead se matou porque ele vivia somente pela antiga cena e
estilo de vida black metal true. Isso significa roupas pretas, spikes, cruzes e
por aí vai (...) Mas hoje em dia só tem crianças em roupas de ginástica e
skates, e ideias morais do hardcore, eles tentam parecer o mais normais o
possível. Isso não tem nada de sombrio, esses imbecis têm que temer o black
metal!
Mas ao invés disso eles amam bandas de merda tipo o Deicide,
Benediction, Napalm Death, Sepultura e toda essa merda. A gente tem que levar
essa cena de volta ao que ela era no passado.
O Dead morreu por essa causa e agora eu declaro guerra! Eu
estou com raiva, mas, ao mesmo tempo, tenho que admitir que foi interessante
examinar um cérebro humano em estado de rigor mortis. Morte ao falso
black metal ou death metal! E também aos modinhas do hardcore ... Aarrgghh!”
Hellhammer desmente a afirmação dizendo que : “O Euronymous
espalhou o boato de que [o Dead] cometeu suicídio por causa da cena. Esse não
foi o motivo, mas ele queria que parecesse que fosse porque aí ele poderia
ganhar mais dinheiro e parecer mais diabólico do que ele de fato era”.
No livro Lords of Chaos podemos ler : “Oysten estava
rapidamente percebendo o poder que havia em criar uma imagem militantemente
sinistra para a banda, como parte de seu plano declarado de ‘espalhar o mal’
para as massas. No que competia às suas empreitadas musicais, as únicas
circunstâncias em que o Mayhem de fato se mostrava à altura de sua imagem eram
os raros shows ao vivo que eles conseguissem organizar.
O show de Sarpsborg em 1990 se tornou lendário,
posteriormente gerando um CD bootleg – cuja capa traz uma reprodução
muito clara da cabeça de Dead estourada por uma escopeta e seu tronco caído,
com o cérebro espalhado pelo seu colo.”
E o livro Lords of Chaos continua : “no início dos anos 1990
a moderna face do black metal já dava a sua cara macabra de corpse paint.
Era algo muito distante dos velhos dias dos shows do Venom e suas torres de luz
estroboscópicas, pirotecnias e trajes bregas cheios de rebites e elastanos.
O black metal norueguês havia encontrado sua alma, e estava
satisfeito em se contentar com apenas algumas cabeças decapitadas,
automutilação e uma oposição a tudo considerado ‘bom’ ou que afirmasse a vida.”
Dead tinha um temperamento depressivo e sombrio e afirmava
não ser deste mundo, ele praticou a automutilação nos shows do Mayhem, mas era
visto na cena como uma pessoa de quem nunca ninguém falou mal, mas o seu
suicídio não tinha sido uma surpresa para ninguém.
Em 8 de abril de 1991 aconteceu seu suicídio, quando Dead
tinha 21 anos. Pegou uma das armas que tinha na casa em que morava e carregou
com munição providenciada por Varg “Grischnackh” Vikernes, e em sua breve carta
de suicídio Dead escreveu : “Desculpa pelo sangue todo”.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/cultura/a-sangrenta-historia-do-metal-satanico-underground-parte-viii
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