A terra que abre a estrada recebe a lufada,
o vento mais forte do ar selvagem,
a casa isolada em que o fogo do gás
ainda persiste no alvorecer,
o tear é ligado, as fendas das rochas
brilham em ocre, os pássaros
matutinos avizinham a janela
da senhora centenária
que costura uma roupa de bebê,
o cenário é vasto, o plano aberto,
e o olhar se perde num
horizonte verde e azul,
e que fica laranja na aurora.
Nada lembrava a sevícia
dos filhos da guerra,
dos meninos que morreram
no abismo com espingarda
e fardão, nem se lembrava
aquela senhora da viuvez,
apenas de que sua neta,
esperta no trabalho
daquela terra bruta,
engravidara de um
homem rústico,
que matava cabritos,
descamava peixes,
andava de cavalo árabe,
marchava com a boiada
para o lago e para o estábulo,
media as distâncias daquele
mundo selvagem e sem fim,
esta senhora que já enevoava
a vista, da catarata que crescia,
e costurava o futuro
com alegria, um bebê
na roça incógnita
que veria o sol e
a chuva e a terra
e o fogo, que
teria esta vida
cândida ao
se levar de vento
e sabedoria.
Quem sabe o desenho
das nuvens neste
alvorecer não diga
a verdade divina
apenas com reflexos
de sol e com os veios
das montanhas esta
cresça em onipotência,
um Deus selvagem
feito de vento
e de sopro,
com o hausto
sagrado da vida
naqueles campos
infinitos.
Gustavo Bastos, 03/08/2023
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