Um trono manchado de sangue,
eu vi os corpos se deleitarem,
e naus breves na vida mansa.
Eleva o espírito, profunda carne,
e os dias te serão leves como a pluma,
de uma pomba que voa no páramo.
Leve, leve, leve!
Eu, com o grito estro em riste,
pranteio a galhofa de minha armada,
e o canto silvestre que soçobra
é um destino da guerra,
estes que vos narram a mixórdia,
estão tristes com a batalha,
e mordem seus fuzis com afinco.
Este poeta, oh história mal ajambrada,
levanta um esteta cor da vida,
almíscar nas veias estupefatas,
controle hipnótico sobre as linhas
férreas de que a paixão irrompe.
Oh, mas que labirinto! As naus
se embrutecem de sal e karma,
os litros de vinho são canção
em flor d`strela,
pois a canção é vigorosa,
como a astúcia de um mártir.
No cinema o paraíso é calado,
e mais que dor a febre incita.
Por mais de amor à arma,
os fellas se corrompem
em pele de risco,
os corpos, tijolos de babel,
fortalecem os sonhos,
criam para si emblemas,
olham ao todo e os pórticos
de filósofos estoicos
não sabem mais lutar,
el-rei morre de ego,
e os cantos silvestres
gritam de terror.
Eis:
oh flor desalmada! Quem é cretino
mais que o poema desandado?
A curtir fotogênicos idílios
de flores seccionadas
em cada parte da literatura?
Pois de anatomia corporal
é o fundo deste fóton
que margeia o sorriso,
e a raiz da arte
é um estupendo sucesso.
Como, das lidas dodecafônicas,
cacofonias e estouros de boiada,
lamenta o campônio sua má sorte,
e o general, senhor da canção,
referenda em seu castelo
as cartas de exílio?
O trono de el-rei sucumbe à dança,
e os higienistas nacionalistas
ganham a frente da campanha.
Vamos? Não há silêncio
no dente da morte,
não tem misericórdia
à dama enlutada,
lutuosa febre que morde
o ar sujo dos libertinos,
massa de manobra
do generalato.
Oh serpente, eis-me aqui
com cicatrizes de sonhos puros,
como um ator infortunado
com a queda de bilheteria,
como um poeta viciado em heroína
que suscita, dentro de si,
uma última gota do orvalho.
Eis-me por certas setas de coração,
levantando o negror das trevas,
montado em cavalo xucro
com limos nas pernas,
peitando o servilismo clínico
dos contadores de estórias,
um grande caudal psíquico
que adentra o templo,
um malamor descarnado
como um fantasma,
ah, fada de mestria,
corista dos encantos clássicos,
ferve teu condão como uma feiticeira,
e revele o sinal de luz
na última gota do orvalho.
Trono, pois el-rei está vermelho,
seu ego explodiu na miséria
de um poema, ele está com o veneno
na boca, as mãos lavadas,
as ancas decaídas,
e os olhos em fúria.
Meu sangue não está na moldura,
oh el-rei, que sois um celerado,
e não tem poema que lhe resista!
As naus se perdem neste vasto oceano,
a longa canção de um esteta
contra a frota de el-rei,
um mártir ou herói
que vive como vidente,
e sabe bem voar,
oh, peito varado de tiro,
por certo está o idílio
no fundo da luz,
e a câmera lhe pega bem
pelo pé, tal é o célere poeta
em surto de noz moscada,
trono de el-rei:
seu poder registra as flores mortas.
15/10/2016 Gustavo Bastos
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