Em países distantes estava o lume lisérgico e sua taenia
saginata que esculpia o verme na pintura. Eu revisei meus tédios na pátria
amada que ardia. Logo, entre os ventos da vinha, num terror azul escuro da
noite, sofri sob a espada que cortava meu sabre e minha adaga, um partido peito
nas braçadas do mar. Nadei por várias paragens, entre as nereidas fui rei,
depois de uma embriaguez em que acendi meu cigarro na véspera do caos, olhei em
volta, imaginei Londres sob um pub de uísque escocês, fumaça de charuto, brotos
de salada, carne no fogo, eu vi o Vesúvio, na semana seguinte, regurgitando
poetas de Pompeia, alucinações de Creta, guerra dos hilotas, dos espartanos,
uma derrota em Maratona, um assassinato no Senado romano, duas facadas no
presidente que foi deposto com notas frias de holocausto.
Rimei minhas pedrarias, diamante e ametista, o rubi cantava
suas notas doces como harpa angelical, eu prendia minhas dores numa teia de
resistência, a fortaleza urdia seu calor pétreo e decidido, um azougue me
tomava o peito, eu corria rumo à minha própria vitória, independente, vigoroso,
com a certeza de ser um bom e belo poeta, com todas as histórias e fraturas de
um bom e belo poeta, com todas as misérias dos vícios e as glórias da virtude
em meu dorso biográfico, um ser moldado, feito na fervura e ganhando seu soldo
depois da guerra total contra os abismos da hipocrisia, eu era o guerreiro, e
tinha em meu escudo a primeira ponte para o ataque de minha adaga contra o
coração da derrota.
O Vesúvio, este Deus caudaloso de lava, regurgitava os poetas
de Pompeia, poetas de fogo banhados em lava, fruto do magma, o mistério do fogo
em sua fervura, do manto da Terra para a camada atmosférica em fumaça negra
petrificando sonhos no mármore, invocando os espíritos infernais que
despertavam sob a febre do oráculo e das danças ditirâmbicas antes do primeiro
ato de Téspis. Eu fundei, estudando Aristófanes, as nuvens, Eurípides, Ésquilo
e Sófocles, a unidade de tempo de um dia para consumar o ato, as parcas cegas
do destino, tecendo contra os muros a Moira, e na loucura do suicídio as
Eumênides que atacavam os ouvidos do guerreiro em seu delírio de queda.
O magma descia entre as ruas e as casas de Pompeia, os poetas
dançavam seus últimos dias na Terra, iriam ao rio sombrio, navegar com Caronte,
guiando seu barco rumo a Cérbero, os poetas na lava seriam devorados pelo fogo,
o magma em Pompeia daria o destino final a estes ditirambos que nasciam da lira
de uma pantomima, de um gesto vulcânico mesmerizado, de um tear fulvo que
semeava em seu fogo a grande vida deste magma que preenche o manto da Terra, a
doce Terra Gaia, que junto com Cronos regurgitava, e seu magma era o poema
final desta astúcia de poeta, deste mimo de artista que nos dá seus amuletos e
talismãs, seus poemas feitos do fogo da paixão e da firmeza da vontade, os
poetas de Pompeia morriam tocando a lira, se afogando na lava do magma do
Vesúvio que entrava em erupção.
Marca desta terra em seu vulcão, o magma deste poema todo que
é fogo e que é a loucura da Terra em sua essência, eu me vesti com meu manto
diante da grandiosidade do Vesúvio, meu sonho de Pompeia em que ouvia Echoes de
Pink Floyd na viagem de meu ácido poético, o magma tocando música, e os poetas
de Pompeia, que agora eram estátuas de cinzas paralisadas por uma Medusa de
lava, o magma e seu poder sobre o tempo destes corpos, um instante, o momento
em que o Vesúvio tomou Pompeia e seus poetas e deu ao fogo seu poder e sua
razão.
Gustavo Bastos – 30/06/2020
Nenhum comentário:
Postar um comentário