Vem, desejo mortal de matar tudo,
vem déspota assassino
julgar a minha carne,
fazer estrume do meu lazer,
lançar aos urubus na febre
todos os meus sonhos,
correr indefinidamente
por todos os cantos do mundo,
cantar a sangria de meu cadáver
como a entranha do precipício
em que teu tribunal queimará
como se queimam as almas do hospício,
mata-me! mata-me! vai, engodo,
peste bubônica, bílis negra
da amargura ao som do féretro
das rosas em sua morte de urros,
noite intempestiva como temporal
das têmporas no sol que afunda,
vai! não me mate sem dor,
me mate de uma vez em seu rancor,
faça de tua inveja brutal
o meu mais vil sonho de glória,
a melancolia te pegará
depois de teu infortúnio,
e eu não terei pena
porque não tenho pena
de ninguém,
meu poema é o alvo e a redenção,
sou estrela infinda que vigia
o tempo todo o meu coração inteiro,
eu tenho a tua cabeça como prêmio,
sou anjo torto transfigurado,
sou homem morto que não morreu,
degustarei teu pâncreas,
beberei teu fígado,
triturarei o teu estômago,
e arrancarei o teu esôfago,
vou atacar os teus pulmões,
queimar os teus rins,
derreter os teus testículos,
fritar o teu cérebro,
derrotar o teu coração,
ridicularizar a tua língua,
e ler nos teus olhos
antes de queimá-los
sem pudor e sem piedade,
vou juntar a tua carcaça
numa noite de febre
e revirar a tua tumba
quando bater o sacrilégio
da meia-noite.
05/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)
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