Na sarça o fogo mana
de um torpor sem dor,
áureo filosofema
de todo o ser,
ser-de-si que afunda
na sombra,
ser-de-outro que ilumina
o coração solitário.
O fogo, ventre da arte,
refulge indômito
pelas paragens.
O fogo, mestre tenebroso,
anseia a cripta e a pira funerária
da veste escarlate,
túnica do sábio solar
no nervo que rosna
a febre dos dervixes
em dança hipnotizada.
Ruge a esfera, Sol e Lua,
Estrela rosa vermelha
de âmbar,
escultura do corpo celeste
na onda de Éolo
e o sopro ao sotavento
do mar,
oceânides fundam
suas lápides,
e o poeta conversa
com a bruma salgada.
O vozerio da enseada,
rouco tilintar de mistérios,
vulcaniza o poema sombrio
nas dálias refeitas
e selvagens,
lembra ao poema-ônix
telúrico emblema
de Poesia Arcaica,
leveza de elmos,
heráldica potente
que tem ênfase e rigor.
Nas águas mansas do esquecimento,
vai o pássaro-mortal
morrer de amor-ódio
na sombra-luz
da penumbra.
O sal, vigor da vida,
é a moldura da cristalização
do caos,
cristais virgens
que a revoada
dos poetas
chora,
carne viva
da lembrança,
emoção sentida
da esperança.
Os poetas, bêbados de vinho,
são salvadores da folia,
embriagados na ambrosia,
vagando pelo silêncio
que a noite venera,
ócio contemplativo
e asceta
de um anacoreta
no rio do enigma.
O sol, destemor indelével,
marca da faca e da carne crua,
vigia a nudez fêmea da lua
ao navegar na constelação
da noite para após a aurora
tornar-se em luz furiosa
ao som da sinfonia
dos elementos naturais
que o cosmos
anuncia.
Crepúsculo da divindade,
o vento zéfiro
rumoreja
o sopro de vida
e a arte regenera
a vida
posta em si mesma
como
vida vivida.
23/06/2012 Libertação
(Gustavo Bastos)
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