Sempre o mar, com o seu caldo inaugural
e suas algas e peixes.
Bela época aquela de que recordo
o marulho e a vida que era bela!
Seu límpido azul verde se pintava
de anzóis e de liberdade desmedida.
Toda a prece era para um Deus
silente e terrível de escamas
e recifes na profunda tempestade.
Lembro-me, por agora, de cantar
ao permanente céu que te cobria,
mar indestrutível,
na doçura de me banhar
na eternidade de vidas submersas.
Eu ouvia a gaivota em suas sondagens
de fome, pássaro pronto ao mergulho
fatal de sua caça.
As algas eram infinitas,
e o meu corpo bronzeado.
Fiz da areia o meu maior sonho,
e da minha morte,
uma praia risonha.
Não falta nada ao mar,
não falta o sal,
não falta o sol,
não falta a onda,
não falta o abismo,
não falta a nudez,
não falta o horizonte.
Estava no meu livro
a sua emoção de ser imenso,
Netuno bem o quis,
um mar que é o portento,
um mar que é intenso.
Das vidas que levou embora,
o mar as quis,
como destino,
afogamento submarino.
Tuas delícias, ó mar,
eu as tive em todas as minhas
lágrimas de sal.
E digo então:
Tua é a morada da travessia,
o desvelamento de tuas entranhas
é o nascimento de teu momento
mais líquido de encontrar
depois uma terra virgem,
onde eu possa me deitar
e te olhar,
horizonte impreciso,
lar da barcarola
rumo ao infinito,
lembrança que és
de minha memória oceânica,
mar que guarda
tudo dentro de si,
para então afundar
o meu corpo.
Eu bem o quis!
O mar é este ser total
que o sal batizou,
é o tempo das redes de pesca,
e a hora do mergulho final.
Tu, ó mar, é o sonho
da sereia,
aventuras de Ulisses,
descoberta de Colombo,
mar aberto, enseada,
golfo, delírio bruto
de sua maresia,
eu sou livre
em teu refúgio,
livre sempre
ao te amar,
ó mar.
08/10/2009 Gustavo Bastos
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