Venham os idiotas com seus
hemistíquios, na casa dos lobos
os idiotas nos governam,
qual idiotas inveterados
são idiotas profissionais.
Eu penso o seguinte :
vamos iludir o populacho
com cambalachos e estelionato,
não temos nada a perder,
farei minha delação
e não vou ressarci-los,
ha ha ha ha ha!
Ah, peraí bobinho,
você pensou que eu
comprei esta farsa?
Faça de conta que não viu
e saia assobiando,
seus podres estão
à vista.
31/12/2019 Gustavo Bastos
terça-feira, 31 de dezembro de 2019
O PENSAMENTO EM ESTADO DE FLORAÇÃO
Brota nas alturas das sombras o elmo que revira as astúcias
qual poemas podres de poderes cáusticos. Lia Allen Ginsberg dentro da editora
de Ferlinghetti, não via saída para Cassady na linha do trem, sua cabeça foi
esmagada. Ria alto depois da chuva, não lia nada que me aborrecesse, nada
enfadonho, pensava em estudar Química e cinemática escalar, não via interesse
em deambulações adolescentes depois dos trinta.
No roteiro estava escrito certos cortes, não lia a fotografia
na descrição da cena, o fade out era postiço, não rimava com a aparição do
protagonista, era uma chuva de erros de continuidade e uma febre bruta de
cantos improvisados. Caros leitores, eu não via nenhum motivo para aprovar o
roteirista, o chamei a um canto e disse umas verdades : ele não tinha talento,
falei para ele fazer outra coisa da vida etc, e ele me xingou e quebrou minha
caneca de caveira, saiu revoltado e disse que aquilo não ficaria assim, o
esculhambei e não tomei conhecimento de seu ódio.
Jogral das rimas, o bobo elencava depois mais uma aventura de
tolo, destas aventuras de utópicos que não têm aonde cair morto, poetas de
livretos carcomidos de esquina, que fumam mais maconha do que escrevem etc. Ah,
não sou ingênuo, lia de novo Ginsberg e gargalhava quando ele tartamudeava na
prosa, um improviso de jazz que fumava ardorosamente enquanto rimava.
Ferlinghetti, de chofre, era a verdadeira cabeça pensante, eu
não via mais a estrada de Kerouac senão no cinema, e não via mais grande coisa
em citar route 66 para tirar onda de “easy rider”, poeta maldito, e estas
baboseiras que vendem nos letreiros dos carros e nos out-doors de vendas a
jato. Pois sim, puto da vida eu xinguei o motorista de filho da puta, disse a
ele que ele tinha passado do ponto, ele me chutou e me jogou na esquina perto
de uma boca de fumo, mas eu tinha largado o vício, fiz que não tinha acontecido
nada, e saí com uma fleuma qual altivo ego de pombo.
Cortei umas batatas para fazer um prato que inventei, salada
de pank com cebola e batatas, não sabia fazer, não li tutorial, cortei também
uns tomates, e taquei pimenta, ficou uma merda. Resolvi que ler era melhor,
escrever nem tanto, passei a Whitman, desisti. Fui ler Baudelaire, De Quincey, viciados
em ópio, Lord Byron, putanheiros que viviam em notas de rodapé, ébrios
amalucados que sonhavam em ser épicos, iludidos que pensavam ser gênios, gênios
que não estavam nem aí, e projetos abortados por suicídio.
Ginsberg, neste ponto da história, citava Omar Khayann, ah,
eu lia o Islã como uma mofa para machistas inveterados, destes governos
totalitários que tratam mulheres como bibelôs, e fumam haxixe de tarde para rezar
no ramadã em jejum. Nada de novo no front, o baixo clero é como baixa magia,
obscurece a mente e faz mal ao coração, nada de novo, tudo velho, com velhacos
e delirantes pré-iluministas. O coração das trevas anuncia : Kurtz está no
timão, e vai matar seus escravos com tiro de espingarda, suando álcool na
testa. Como no romance de Conrad, um ataque contra a degeneração dos costumes,
que sempre precisa de um tirano imprevisível.
Reto vai um buda preguiçoso, rimar com os vagabundos iluminados,
os poetas bobos que confundem iluminação com vício e decadência, em seus cantos
infrutíferos que não passam de versos feitos sob fumaça e ilusão, nada que a
consciência desperta considere no mínimo esperto ou inteligente, uma imposição
de fracasso que não tem nada de útil na estrada da porrada e da vitória. Volto
com mais vigor, já tinha lido todos os sacanas e embusteiros da História, vendi
meus livros lidos, e fui ler Hegel, Kant, só filosofia alemã, fiz que entendi a
Crítica da Razão Pura e os juízos sintéticos a priori, mas preferia citar o
imperativo categórico, e depois de cair em Fichte passei logo e correndo para
os bandoleiros de Schiller, este sim um campeão que competia com Goethe, um
fausto astuto que era a antítese de um Werther lacrimoso e destinado à morte
ritual.
Caiba nesta fábula o que disse, os mártires são idiotas, me
recuso a morrer. Vai andando pelo caminho seu poeta pândego, como uma estrela
potente que faz plêiade e faz jazz e blues com letras de rock.
Nota final : este poema astuto não foi produzido sob efeito
de estupefacientes.
31/12/2019 Gustavo Bastos (poema em prosa).
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O POETA CAÇADOR
Ave, entre as rezas montanhosas
eu pintava de vermelho as rosas
coloquiais dos poemas bonitos,
já na rua, com os notívagos
que entram e saem,
o número de loteria me indicava
o prêmio qual utopia,
um canto de ébrios soava
o alarme, era hora de eu
pegar o meu arpão,
ir atrás de um marlin azul
que seria o poeta azul
que virou abóbora
depois do naufrágio,
ah, este estro de parnaso
e suas afetações de mármore,
este putos romantiloides
e seus mimos aguados,
ah, que porre vou
tomar à meia-noite,
e ser eu o ébrio de bruma
em pele de cobra e couro
de réptil, qual um grande
frêmito de sangue frio
e precisão de cirurgião,
eu e meu estilete,
cortando os corações
de seus exangues delírios
de plêiades,
eu, a marretar os mármores
de parnaso e seus castelos
de marfim e frisos castiços,
eu, o borra-botas
que virou falcão,
o déspota com o olho de águia
que captura um verso
no mar e o leva
à terra dos desolados
e dos capitães que
perderam seus navios.
31/12/2019 Gustavo Bastos
eu pintava de vermelho as rosas
coloquiais dos poemas bonitos,
já na rua, com os notívagos
que entram e saem,
o número de loteria me indicava
o prêmio qual utopia,
um canto de ébrios soava
o alarme, era hora de eu
pegar o meu arpão,
ir atrás de um marlin azul
que seria o poeta azul
que virou abóbora
depois do naufrágio,
ah, este estro de parnaso
e suas afetações de mármore,
este putos romantiloides
e seus mimos aguados,
ah, que porre vou
tomar à meia-noite,
e ser eu o ébrio de bruma
em pele de cobra e couro
de réptil, qual um grande
frêmito de sangue frio
e precisão de cirurgião,
eu e meu estilete,
cortando os corações
de seus exangues delírios
de plêiades,
eu, a marretar os mármores
de parnaso e seus castelos
de marfim e frisos castiços,
eu, o borra-botas
que virou falcão,
o déspota com o olho de águia
que captura um verso
no mar e o leva
à terra dos desolados
e dos capitães que
perderam seus navios.
31/12/2019 Gustavo Bastos
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O LIVRO DO POETA-DOUTOR
Fecha comigo na página 7 :
depois do introito,
uma carta explosiva
e dançante.
Isto é, vou à página dez
e lá está escrito :
não escrevo nada sobre
o que escrevo,
sou um intuitivo.
Depois de um vinho,
já na página trinta,
lá está :
eu sou eu mesmo quando
finjo estar sendo
eu mesmo,
por fim, depois de uma
série interminável de
poemas bumerangues
até à página noventa
e nove, no epílogo
das páginas cem a
cento e dois,
lá está dito :
volte à carta,
lá coloquei minhas dinamites,
aqui digo : eu danço
e encanto teus lençóis.
31/12/2019 Gustavo Bastos
depois do introito,
uma carta explosiva
e dançante.
Isto é, vou à página dez
e lá está escrito :
não escrevo nada sobre
o que escrevo,
sou um intuitivo.
Depois de um vinho,
já na página trinta,
lá está :
eu sou eu mesmo quando
finjo estar sendo
eu mesmo,
por fim, depois de uma
série interminável de
poemas bumerangues
até à página noventa
e nove, no epílogo
das páginas cem a
cento e dois,
lá está dito :
volte à carta,
lá coloquei minhas dinamites,
aqui digo : eu danço
e encanto teus lençóis.
31/12/2019 Gustavo Bastos
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CLARVOYANT
The clarvoyant read the news
and fell down with
his treasures,
like a terrible nightmare
he wrote a letter against
the censorship of those
bounds of pain,
in his dream like a castle
he sang freely on those
mountains he´d like
to draw when he was a child,
the clarvoyant act in his
dream through the walls
of sorrow and among
the army of freedom,
he teached the beggars,
he saved the life
from nothingness,
and he sang again
during the trip
of bloom.
31/12/2019 Gustavo Bastos
and fell down with
his treasures,
like a terrible nightmare
he wrote a letter against
the censorship of those
bounds of pain,
in his dream like a castle
he sang freely on those
mountains he´d like
to draw when he was a child,
the clarvoyant act in his
dream through the walls
of sorrow and among
the army of freedom,
he teached the beggars,
he saved the life
from nothingness,
and he sang again
during the trip
of bloom.
31/12/2019 Gustavo Bastos
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PARAÍSOS ARTIFICIAIS
A sintaxe que se abre é uma
bebida premium com o estalo
de cantorias brotadas de caos,
ali, na hora dos vigias,
um delírio leviano chamuscava
e o palavrório operístico
encantava os teatros
com suas madames atávicas,
o samba, de chofre,
prorrompia qual azáfama
alucinado com brio sincopado,
depois, já do sexo refeito,
o dândi semeava seus escritos
nos lagares dos langores
que a festa da morfina
lhe proporcionava,
ah, o silêncio dos soníferos
em baladas em que a penúria
caía no olvido das graças
infinitas da alucinação
e seus paraísos artificiais.
31/12/2019 Gustavo Bastos
bebida premium com o estalo
de cantorias brotadas de caos,
ali, na hora dos vigias,
um delírio leviano chamuscava
e o palavrório operístico
encantava os teatros
com suas madames atávicas,
o samba, de chofre,
prorrompia qual azáfama
alucinado com brio sincopado,
depois, já do sexo refeito,
o dândi semeava seus escritos
nos lagares dos langores
que a festa da morfina
lhe proporcionava,
ah, o silêncio dos soníferos
em baladas em que a penúria
caía no olvido das graças
infinitas da alucinação
e seus paraísos artificiais.
31/12/2019 Gustavo Bastos
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A CIDADE
A cidade abre as portas com
a fé dos poetas nas sombras
do acaso que furioso destino
tece entre os gritos,
ah, desde a fé mais pueril
ou aquela fé pétrea que
derruba arengas
como um trator
de linha reta,
a cidade tem ventríloquos
que se disfarçam em seus
teatrinhos de bonecos,
a cantar na chuva dos prantos
seus inferninhos alegrinhos,
a cidade tem desta astúcia
a fábula urbana qual gerânio,
e o passo largo das calçadas
entre os atropelados
das curvas absurdas,
a cidade faz de poema-piada,
a rir dos alcoólatras
e dar sopapos
em mendigos.
31/12/2019 Gustavo Bastos
a fé dos poetas nas sombras
do acaso que furioso destino
tece entre os gritos,
ah, desde a fé mais pueril
ou aquela fé pétrea que
derruba arengas
como um trator
de linha reta,
a cidade tem ventríloquos
que se disfarçam em seus
teatrinhos de bonecos,
a cantar na chuva dos prantos
seus inferninhos alegrinhos,
a cidade tem desta astúcia
a fábula urbana qual gerânio,
e o passo largo das calçadas
entre os atropelados
das curvas absurdas,
a cidade faz de poema-piada,
a rir dos alcoólatras
e dar sopapos
em mendigos.
31/12/2019 Gustavo Bastos
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DOSE CAVALAR
Em certa manhã universal,
quando batiam os dobres
das badaladas d`aurora,
eu precisava dourar os mistérios
com a dose cavalar de ópio
sob as cobertas com o estro de febre
que delira num campo de mártires,
ou seja, em minha túnica azul cobalto,
indubitável, qual supremo sábio,
a elencar das flores botânicas
o canto de soror e seus vinhos
de fêmeas tatuadas,
qual licor que do ventre
à cabeça molha os endereços
perdidos de amores bêbados,
desta feita, no caminho dos ritos
e manjares, anuncia em seu
tabernáculo o vulto de propaganda
entre os intermezzos da paixão,
e rutila meu passarinho
na alvissareira montanha
entre as monções
do crepúsculo.
31/12/2019 Gustavo Bastos
quando batiam os dobres
das badaladas d`aurora,
eu precisava dourar os mistérios
com a dose cavalar de ópio
sob as cobertas com o estro de febre
que delira num campo de mártires,
ou seja, em minha túnica azul cobalto,
indubitável, qual supremo sábio,
a elencar das flores botânicas
o canto de soror e seus vinhos
de fêmeas tatuadas,
qual licor que do ventre
à cabeça molha os endereços
perdidos de amores bêbados,
desta feita, no caminho dos ritos
e manjares, anuncia em seu
tabernáculo o vulto de propaganda
entre os intermezzos da paixão,
e rutila meu passarinho
na alvissareira montanha
entre as monções
do crepúsculo.
31/12/2019 Gustavo Bastos
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segunda-feira, 23 de dezembro de 2019
GURUS E CURANDEIROS – PARTE XVII
“O Reverendo Moon fundou a Igreja da Unificação em 1954”
O Reverendo Moon fundou a Associação das Famílias para
Unificação e Paz Mundial, dentre outras associações, espalhadas no mundo. Tem
como obra em livro principal a Exposição do Princípio Divino. Umas de suas
funções conhecidas era a de celebrar casamentos em massa. Moon também foi dono
de um conglomerado bilionário na área de comunicações, de automóveis, remédios,
armas, turismo, publicidade e outras atividades mais.
E o Reverendo Moon decidiu comprar terras no Mato Grosso do
Sul e também do lado paraguaio, e nos anos 1990 o Reverendo Moon iniciou um
projeto de fazer da cidade de Jardim uma colônia coreana, para onde afluíram
tanto coreanos como japoneses. Pelos seus métodos de doutrinação, o Reverendo
Moon foi proibido de entrar no Reino Unido em 1995, e em 1982 foi preso nos
Estados Unidos por suborno de parlamentares, sonegação fiscal, e especulação
acionária.
A Igreja da Unificação foi fundada pelo Reverendo Moon em
Seul, na Coreia do Sul. O livro sobre o Princípio Divino foi a base da teologia
desta igreja, e tal doutrinação passa pela ideia de que Deus, através de Jesus,
escolheu o Reverendo Moon para concluir a missão de Jesus, como uma espécie de
segundo advento para terminar o trabalho do Messias.
As controvérsias do movimento de Unificação passam pela
política, como nos temas da reunificação coreana e do anticomunismo, sendo um
movimento criticado por eruditos judeus e também cristãos, e Moon e sua esposa
foram também proibidos de entrar nos países signatários do Acordo de Schengen,
como a Alemanha, por exemplo.
A igreja do Reverendo Moon no Brasil começou a ser
investigada pela Polícia Federal em dezembro de 2001, com suspeitas de lavagem
de dinheiro, uso de documentos falsos, estelionato e problemas trabalhistas, em
2002 chegou a ter uma operação de busca e apreensão tanto em São Paulo como no
Mato Grosso do Sul.
No município de Jardim o Reverendo Moon chegou a ser
considerado como Deus, com um projeto de erguer ali o Reino dos Céus na Terra.
Para os fiéis do Reverendo, ele é o Verdadeiro Pai, e sua esposa, Hak Ja Han, a
Verdadeira Mãe, e tudo que diz respeito à seita, por fim, é entendido pelos
fiéis como “Verdadeiro”.
A fazenda Nova Esperança, por sua vez, no município de
Jardim, foi fundada para virar um verdadeiro paraíso terrestre, e com diversos
workshops, o Reverendo Moon consegue fazer a combinação de religião com
finanças, com o Reverendo que tinha como objetivo tornar Nova Esperança num
modelo autossuficiente de criação de animais e de lavouras, indo dali para todo
o Mato Grosso do Sul, para o Brasil, América Latina e dali para o mundo.
O Reverendo Moon fundou a Igreja da Unificação em 1954 para
concluir a missão que Jesus lhe confiou quando o mesmo lhe apareceu quando o
Reverendo tinha 16 anos. Moon aparece então aos seus fiéis como o novo Messias,
com a função de mostrar a salvação por meio da família.
Contudo, essa imagem de entidade espiritual só vigorava
dentro de seu círculo de ação, pois na própria Coreia ele já era acusado de
orgias sexuais. Depois nos Estados Unidos tiveram novas denúncias, como citei
acima neste texto. Mas, mesmo diante de problemas com a justiça, o Reverendo
Moon conseguiu fundar um império de empresas diversas.
O cálculo da fortuna do Reverendo Moon em vida, no seu auge,
é um caso obscuro, ele tinha tanto o patrimônio próprio, como tinha ajuda
financeira para o movimento de empresários japoneses e coreanos. Pode ser que a
fortuna do Reverendo Moon chegasse a somar cerca de US$ 8 bilhões, com aportes nos
Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão. E grande parte desta fortuna foi
aplicada no projeto utópico no município de Jardim.
E o Reverendo usou seu poder econômico para seduzir os
populares da região, muitos evangélicos e católicos, por exemplo, e que tiveram
chance de emprego graças ao Reverendo, sendo assim um meio de cooptação e de
conversão à igreja do Reverendo. O Reverendo Moon morreu em 3 de setembro de
2012 de pneumonia.
(Obs : Caros leitores, estou saindo de férias e retorno em
fevereiro de 2020, para encerrar esta série sobre os gurus e trazendo novidades
para a coluna, boas festas!)
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://seculodiario.com.br/public/jornal/artigo/guros-e-curandeiros-parte-xvii
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sexta-feira, 29 de novembro de 2019
GURUS E CURANDEIROS – PARTE XVI
“Muitos estudiosos apontam Thomas como uma farsa, um
ilusionista, e nem é um dos melhores”
No Brasil, Thomas Green Morton apareceu como alguém dotado de
capacidades sobrenaturais, cujo dom era produzir fenômenos inexplicáveis apenas
usando a mente, o que levou Thomas a ser considerado, em certo ponto, o maior
paranormal do Brasil. Seu auge foi nos anos 1970 e 1980, passando por um
período de ostracismo nos anos 1990, foi ressuscitado pelo Fantástico da Rede
Globo no início do século XXI e depois voltou ao esquecimento novamente.
Thomas, no entanto, era considerado por muitos parapsicólogos
como uma fraude, e muitas vezes se esquivou de participar de experiências
controladas por cientistas, ao contrário de Uri Geller, que chegou a ser
testado, e Thomas então seguiu um caminho midiático com fenômenos registrados
em vídeo e apresentados na televisão.
Thomas até os doze anos foi uma criança normal, até que em
1959 houve uma mudança abrupta, sua vara de pesca foi atingida por um raio e
ele foi jogado para trás, batendo no chão e levitando. Ele teve um
desdobramento e viu seu próprio corpo recebendo as luzes de uma nuvem escura.
E veio uma voz desta nuvem e disse : “Thomaz… Várias forças
te protegeram… protegeram… A partir deste momento, terás um poder mental muito
grande. Poderás curar, ajudar as pessoas a resolver problemas diversos.
Chegarás a fazer coisas impossíveis, inexplicáveis. Escute bem. Não esqueça!
Guarde este pedaço de varinha pelo resto de sua vida e a toda pessoa que
precisar de alguma força, ou de resolver algum problema dê um pedacinho desta
varinha. Basta que a pessoa tenha fé e faça um pedido todos os dias às 18 horas
e terá o problema resolvido. Você não poderá usar esta força para seu próprio
proveito. Este pedacinho de varinha será um meio de sintonização com todas as
forças cósmicas e divinas e você formará através dela, uma corrente mental e
espiritual muito grande e muito poderosa”. Foi quando começou a história que
daria no movimento da Mentalização Positiva.
Thomas, depois de voltar de um circo e fascinado com um
número de hipnotismo, aplicou isto em um amigo e deu certo, ele dormiu,
começava a história de Thomas como paranormal. E com os anos as habilidades de
Thomas foram se desenvolvendo, tais como telepatia, teleporte, projeções,
atuação sobre metais, depois fenômenos de energia perfumada. E Thomas então, em
Divisa Nova, na fazenda de sua irmã Sônia, tem seus contatos com luzes
extradimensionais, conhecidas orbs ou ultras. E Thomas passa também a fazer
cirurgias psíquicas e observa óvnis na sua casa em Três Corações.
E a conhecida palavra “Rá” surgiu em 1980, depois de ouvir um
ruído na sala da pirâmide, na propriedade de sua prima. Ele fez uma cirurgia
psíquica, depois deste ruído, uma pedra atravessou a vidraça sem quebrar nada e
pousou na sala da câmara planetária, lugar das energizações. Thomas pegou a
pedra e levou um choque, e nos sinais que tinha na pedra, o nome Rá lhe surgiu
com grande força, e ele passou a usar esta expressão para liberação de energia
positiva.
Muitos estudiosos apontam Thomas como uma farsa, um
ilusionista, e nem é um dos melhores, ao ponto de já ter sido flagrado com um
flash fotográfico que saiu antes da hora de seu famoso grito Rá, o que era um
truque barato para seus fenômenos luminosos.
E o desmascaramento de Thomas se deu pelo ilusionista
Khronnus, no programa do Fantástico, demonstrando que todos os fenômenos feitos
por Thomas eram truques baratos de ilusionismo, com os raios de luz sendo
flashes fotográficos. A história do Fantástico começou na série Paranormal,
quando Thomas começou a ser questionado e foi desafiado pelo mágico James
Randi, que já havia desmascarado Uri Geller nos anos 1980, e prometeu a Thomas
um milhão de dólares caso provasse a veracidade de seus poderes. Depois de
aceitar o desafio, Thomas, contudo, desapareceu. E o Fantástico foi investigar,
descobrindo que Thomas atuara como mágico em Três Corações, antes da fama.
E mesmo diante da revelação dos truques de Thomas, como a da
moeda torta (para quê serve uma coisa desta no mundo prático, mesmo se fosse
autêntico, de fato não sei, uma coisa frívola, como as cadeiras girantes), pelo
Fantástico, ele teve defensores como Ivo Pitanguy que disse que Thomas entortou
talheres seus sem tocar em nenhum deles, Sepúlveda Pertence, que foi ministro
do Supremo, que disse que Thomas tratou a sua mulher que esteve doente, e Elba
Ramalho que afirmou já ter visto Thomas levitar.
Link recomendado : Especial 1º Abril: Thomaz Green Morton, o
homem do rá :
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://seculodiario.com.br/public/jornal/artigo/gurus-e-curandeiros-parte-xvi
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segunda-feira, 18 de novembro de 2019
ANA MARTINS MARQUES E A POESIA COTIDIANA
“uma poesia com precisão nos detalhes”
Na poética do espaço, por sua vez, Ana Martins Marques nos dá
como tema o espaço do lar, a imagem poética da casa, aqui mais uma vez
reforçando a relação de parte da poesia contemporânea brasileira com temas do
cotidiano. O espaço interior, a imagem do dentro, ao mesmo tempo, está aqui
fora do mundo, o limiar entre uma vivência particular, o dentro, entra neste
contraste com o mundo exterior, criando este limiar entre uma poesia íntima e o
que fica fora deste lugar particular.
Em poemas como “Arquitetura de Interiores” do livro A Vida
Submarina, temos este contraste entre dentro e fora, com a ideia de limiar
tencionando todo o poema. E neste mesmo livro há toda uma série com este tema
da casa, com a porta sempre como este limiar que tenciona a casa com o mundo
exterior.
Na poética de Ana Martins Marques temos toda uma série de
utensílios que irão compor a sua paisagem de poemas do cotidiano, desde xícaras
lascadas até encanamentos, com a poesia dos utensílios ou a poesia das coisas
aqui virando, de modo amplo, a poesia da casa. Com o tema do cotidiano em Ana
Martins Marques, temos aqui uma herança que vem do Modernismo, e que passa,
claro, por Ana Cristina César, esta influência indisfarçável para muitos poetas
brasileiros contemporâneos, sem demérito, ao contrário, e que também vem de
Chacal, Cacaso e Adélia Prado.
Temos, também, nos poemas de A Vida Submarina, a imagem da
casa como fonte da memória e não apenas de um ímpeto objetivo e de uma poesia
descritiva, a imagem dos afetos e a relação memorial de objetos com vivências,
também amorosas, aparece nesta poesia do cotidiano de Ana Martins Marques. O
espaço da casa, que tem, de um lado, nostalgia amorosa, também vira campo de
anelo e sonho, uma paisagem imaginada ideal, impulsionando o poema que parte
deste espaço particular.
Em Da Arte das Armadilhas, a concentração objetiva deste
cotidiano, de uma poesia da casa, aumenta, aprofundando um microcosmo que aqui
aparece com mais nitidez do que em A Vida Submarina. E finalmente, em O Livro
das Semelhanças, esta relação entre dentro e fora se intensifica de modo mais
amplo, com o tema metapoético do poema e do livro, culminando em poemas
cartográficos, com o tema do mapa como o “fora” que a poesia busca.
Um ponto interessante é também de como a poeta vai edificar a
sua subjetividade a partir deste espaço da casa, pois, partindo de uma
linguagem cotidiana, inicialmente descritiva, logo vemos se desenhar nos poemas
de Ana Martins Marques sobre a casa, a sua condição subjetiva, tanto de memória
como de sonho, e a construção de sua reflexão pessoal partindo deste espaço de
subjetivação particular que é do verbo habitar e que vem do substantivo casa.
A poesia de Ana Martins Marques, por fim, compõe um espaço de
subjetivação e construção do eu lírico que não se limita numa poesia da casa e
do cotidiano tomada como simples descrição objetiva e comezinha, mas como lugar
em que a poeta reconfigura seu espaço objetivo e familiar e nos aponta para
algo desconhecido.
Tal rearranjo cotidiano é próprio da linguagem poética se
confrontando com sua reflexão subjetiva e o choque desta com o mundo objetivo
da casa, uma poesia com precisão nos detalhes que, ao fim, coloca a poeta nesta
tensão entre sua casa e o mundo, uma poesia do dentro e do fora que reconfigura
a realidade com uma poesia atenta aos detalhes e que se forja entre o eu lírico
e uma interação deste com o cotidiano, agora redesenhado pela linguagem
poética.
POEMAS :
SEM TÍTULO : O poema vem com o tema do mapa, este
contato da poesia de Ana Martins Marques com o mundo, com o que está fora, no
que vem : “E então você chegou/como quem deixa cair/sobre um mapa/esquecido
aberto sobre a mesa/um pouco de café uma gota de mel/cinzas de cigarro/preenchendo/por
descuido/um qualquer lugar até então/deserto”. E seu interlocutor, aqui
incógnito, deixa seu rastro no mapa, como que preenchendo o vazio, seja o
deserto do mapa, ou um deserto na poeta que ali olhava o mapa.
SEM TÍTULO : O poema fala sobre a dobra do mapa
que aproxima cidades distantes e corações que desejam se encontrar, o mapa
dobrado junta o que tá longe, no que temos : “Você fez questão/de dobrar o mapa/de
modo que nossas cidades/distantes uma da outra/exatos 1720 km/fizessem
subitamente/fronteira”. A fronteira que se faz aqui é do gesto de dobrar um
mapa, distância que aqui acaba neste gesto poético.
SEM TÍTULO : O mapa aqui aparece mais uma vez
como a indicação do caminho para um encontro, no que vem : “Você assinala no
mapa/o lugar prometido do encontro/para o qual no dia seguinte me dirijo”. O
lugar assinalado logo vira a pressa do desejo, sempre este afoito, que esquece
o mapa sobre a mesa, viagem perdida, no que temos : “a pressa feroz do desejo/deixando
no entanto esquecido sobre a mesa o/mapa que me levaria/onde?”.
SEM TÍTULO : O poema tem o mapa do mundo aqui
descrito de modo físico, disposto de forma que pode ser modificado ao gosto da
poeta, no que temos : “Não sei viajar não tenho disposição não tenho coragem/mas
posso esquecer uma laranja sobre o México/desenhar um veleiro sobre a Índia”.
Ana Martins Marques tem aqui a onipotência de manipular seu mapa ao bel prazer,
no que segue : “duplicar a África com um espelho/criar sobre o Atlântico um
círculo de água/pousando sobre ele meu copo de cerveja/circunscrever a Islândia
com meu anel de noivado”. A intervenção física do mapa como um papel disposto
aqui vira imagem de poder à poeta de revirar um mundo inteiro com pequenos
gestos, no que temos : “visitar os nomes das cidades/levar o mundo a passeio/por
ruas conhecidas/abrir o mapa numa esquina, como se o consultasse/apenas para
que tome/algum sol”.
SEM TÍTULO : O poema aqui, mais uma vez, usa da
imagem do mapa como fonte para a imagem poética do encontro, no que temos : “Viajo
olhando pela janela do ônibus/em busca das linhas vermelhas das fronteiras/ou
dos nomes luminosos das cidades”. O poema segue aqui com o estudo detido da
poeta sobre o mapa como modo de encontrar o caminho ao seu interlocutor, no que
temos : “e eu passava horas estudando/todos os caminhos que me levariam até
você/mas nos mapas eu nunca te encontrava”. A poeta aqui especula, sonha,
delira, e na conjectura tenta realizar um anelo meio solto, que fica neste
poema, ao ver do mapa a sua esperança de um caminho direto : “talvez você me
espere na rodoviária/talvez eu te veja ainda antes de descer do ônibus/assim
que descer vou entregar nas suas mãos/emboladas num novelo/as linhas desfeitas
das fronteiras e/como as contas luminosas de um colar/cada um dos nomes das
cidades”.
SEM TÍTULO : O poema segue com o tema do mapa,
agora como um efeito da chuva que influi toda a descrição poética que o poema
desenha, aqui também com a imagem física do mapa fazendo uma linha com sua
associação com o que o mapa representa, no que segue : “Abro o mapa na chuva/para
ver/pouco a pouco/diluírem-se as fronteiras” (...) “as cores confundidas/nem
parecem mais aleatórias” (...) “agora há um grande lago/onde antes havia uma
cordilheira/o mar não é mais molhado/do que o deserto logo ao lado”. O mapa,
tomado como objeto físico, ganha a sua proporção gigante de descrição do mundo,
interagindo este microcosmo com uma vastidão de fronteiras e países, entre
insetos que dominam o cenário, e que Ana Martins Marques aproveita aqui para
brincar de modo genial, no que temos : “Deixo depois o mapa/para secar ao sol/sobre
a grama do jardim/mais rápidas do que aviões/as formigas atravessavam/de um
continente a outro/uma lagarta riscada/apossou-se das Coreias/agora unificadas/um
tapete de folhas/cobre o mar Egeu/e o rastro de uma lesma umedeceu/o Atacama”.
E diante desta festa da natureza, a poeta deixa o mapa para um pequeno inseto
novo lhe dar a feição, ao fim este mapa se dobraria sobre si mesmo, revelando
lugares secretos, no que temos : “Penso que se deixasse o mapa aí/tempo o
bastante/em algum momento surgiria/quem sabe/um pequeno inseto novo/com esse
dom que têm os bichos/e as pedras e as flores e as folhas/de imitarem-se/uns
aos outros” (...) “Quando enfim/fechássemos o mapa/o mundo se dobraria sobre si
mesmo/e o meio-dia/recostado sobre a meia-noite/iluminaria os lugares/mais
secretos”.
POEMAS :
SEM TÍTULO
E então você chegou
como quem deixa cair
sobre um mapa
esquecido aberto sobre a mesa
um pouco de café uma gota de mel
cinzas de cigarro
preenchendo
por descuido
um qualquer lugar até então
deserto
SEM TÍTULO
Você fez questão
de dobrar o mapa
de modo que nossas cidades
distantes uma da outra
exatos 1720 km
fizessem subitamente
fronteira
SEM TÍTULO
Você assinala no mapa
o lugar prometido do encontro
para o qual no dia seguinte me dirijo
com apenas café preto o bilhete só de ida do metrô
a pressa feroz do desejo
deixando no entanto esquecido sobre a mesa o
mapa que me levaria
onde?
SEM TÍTULO
Não sei viajar não tenho disposição não tenho coragem
mas posso esquecer uma laranja sobre o México
desenhar um veleiro sobre a Índia
pintar as ilhas de Cabo Verde uma a uma
como se fossem unhas
duplicar a África com um espelho
criar sobre o Atlântico um círculo de água
pousando sobre ele meu copo de cerveja
circunscrever a Islândia com meu anel de noivado
ou ocultar o Sri Lanka depositando sobre ele
uma moeda média
visitar os nomes das cidades
levar o mundo a passeio
por ruas conhecidas
abrir o mapa numa esquina, como se o consultasse
apenas para que tome
algum sol
SEM TÍTULO
Viajo olhando pela janela do ônibus
em busca das linhas vermelhas das fronteiras
ou dos nomes luminosos das cidades
pairando sobre elas
como nos mapas
neles não ventava nem chovia
e nunca era noite
e eu passava horas estudando
todos os caminhos que me levariam até você
mas nos mapas eu nunca te encontrava
chego em duas ou três horas
o coração no peito como um pão
ainda quente na mochila
talvez você me espere na rodoviária
talvez eu te veja ainda antes de descer do ônibus
assim que descer vou entregar nas suas mãos
emboladas num novelo
as linhas desfeitas das fronteiras e
como as contas luminosas de um colar
cada um dos nomes das cidades
SEM TÍTULO
Abro o mapa na chuva
para ver
pouco a pouco
diluírem-se as fronteiras
as cidades borradas
diminuem de distância
as cores confundidas
nem parecem mais aleatórias
perderam aquele modo abrupto
com que as cores mudam nos mapas
agora há um grande lago
onde antes havia uma cordilheira
o mar não é mais molhado
do que o deserto logo ao lado
Deixo depois o mapa
para secar ao sol
sobre a grama do jardim
mais rápidas do que aviões
as formigas atravessavam
de um continente a outro
uma lagarta riscada
apossou-se das Coreias
agora unificadas
um tapete de folhas
cobre o mar Egeu
e o rastro de uma lesma umedeceu
o Atacama
uma formiga enamorou-se
de um vulcão
exatamente do seu tamanho
um dos polos
ficou à sombra
e resfriou-se mais que o outro
de longe não sei se são moscas
ou os nomes das cidades
Penso que se deixasse o mapa aí
tempo o bastante
em algum momento surgiria
quem sabe
um pequeno inseto novo
com esse dom que têm os bichos
e as pedras e as flores e as folhas
de imitarem-se
uns aos outros
um pequeno inseto novo
eu dizia
um novo besouro talvez
que trouxesse desenhado nas costas
o arquipélago de Cabo Verde
ou as finas linhas das fronteiras
entre a Argélia e a Tunísia
Quando enfim
fechássemos o mapa
o mundo se dobraria sobre si mesmo
e o meio-dia
recostado sobre a meia-noite
iluminaria os lugares
mais secretos
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://seculodiario.com.br/public/jornal/materia/ana-martins-marques-e-a-poesia-cotidiana
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domingo, 27 de outubro de 2019
O MITO BRASILEIRO
O Brasil ruiu entre
pólos que se digladiam,
o butim do óbvio
que pulula,
a rachadura em uma
direita de baixo clero
no poder,
a direita chauvinista
que fez crer do mito
seu delírio,
e faz da esquerda o títere
que faz arenga
em lula livre,
mantra que engessa
todo o discurso,
outro mito
a derruir as bases
de um novo caminho,
a mitologia política
e seus salvadores da pátria,
desta pátria infantil
que precisa de heróis,
mesmo que sejam
mitos.
27/10/2019 Gustavo Bastos
pólos que se digladiam,
o butim do óbvio
que pulula,
a rachadura em uma
direita de baixo clero
no poder,
a direita chauvinista
que fez crer do mito
seu delírio,
e faz da esquerda o títere
que faz arenga
em lula livre,
mantra que engessa
todo o discurso,
outro mito
a derruir as bases
de um novo caminho,
a mitologia política
e seus salvadores da pátria,
desta pátria infantil
que precisa de heróis,
mesmo que sejam
mitos.
27/10/2019 Gustavo Bastos
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AS LUTAS DA PENÍNSULA
A Catalunha grita por liberdade,
a Espanha em seu sonho delirante
juntou as nações sob
uma herança franquista,
bascos, aragoneses, navarros,
a dor em Granada
depois da expulsão
dos árabes,
nunca um parlamentarismo
foi tão inconstante,
nomeia sem maioria,
novas eleições,
e surgem novas
frentes,
do Podemos um novo sonho,
mas temos a nova direita,
a ditar de dentro dos basfonds,
novas velhas direções,
se pende ao PSOE novamente,
um Sánchez redivivo,
e um cadáver insepulto
e autoritário
que brada contra
os independentistas
de Barcelona e Tarragona,
em que o sangue e o fogo
se impõem.
27/10/2019 Gustavo Bastos
a Espanha em seu sonho delirante
juntou as nações sob
uma herança franquista,
bascos, aragoneses, navarros,
a dor em Granada
depois da expulsão
dos árabes,
nunca um parlamentarismo
foi tão inconstante,
nomeia sem maioria,
novas eleições,
e surgem novas
frentes,
do Podemos um novo sonho,
mas temos a nova direita,
a ditar de dentro dos basfonds,
novas velhas direções,
se pende ao PSOE novamente,
um Sánchez redivivo,
e um cadáver insepulto
e autoritário
que brada contra
os independentistas
de Barcelona e Tarragona,
em que o sangue e o fogo
se impõem.
27/10/2019 Gustavo Bastos
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DIÁSPORA CONTRA O PODER
Ao fio da espada estouram
as revoluções de veludo,
efeito dominó
entre as nações.
E nos dias de hoje
venho ver Órban
a descortinar sua
xenofobia com um
Fidesz obscuro,
a Polônia tão
perseguida
ser engolfada
pela Lei e Justiça,
ah, que dentre estes
povos não morra
o cosmopolitismo
da imigração,
para uma nação
de povos,
e não barbarismos
atávicos de
delírios medievos,
qual nostalgia
passadista.
27/10/2019 Gustavo Bastos
as revoluções de veludo,
efeito dominó
entre as nações.
E nos dias de hoje
venho ver Órban
a descortinar sua
xenofobia com um
Fidesz obscuro,
a Polônia tão
perseguida
ser engolfada
pela Lei e Justiça,
ah, que dentre estes
povos não morra
o cosmopolitismo
da imigração,
para uma nação
de povos,
e não barbarismos
atávicos de
delírios medievos,
qual nostalgia
passadista.
27/10/2019 Gustavo Bastos
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OS CURDOS
Os curdos se armam
no exército de libertação,
este, o povo sem destino,
na liberdade de sobreviver
seu atinar ao átimo
de se armar,
entre as fronteiras da Síria
e da Turquia, mais lépidos
no Iraque, contra nuvens
tóxicas do Daesh,
contra Erdogan,
com santos do pau oco
de seu partido dos trabalhadores,
também eles herdeiros
do terror,
a nação sem país,
vítima da divisão
fria dos territórios,
ao fim de um sonho
otomano de seus
califas e sultões
de barro.
27/10/2019 Gustavo Bastos
no exército de libertação,
este, o povo sem destino,
na liberdade de sobreviver
seu atinar ao átimo
de se armar,
entre as fronteiras da Síria
e da Turquia, mais lépidos
no Iraque, contra nuvens
tóxicas do Daesh,
contra Erdogan,
com santos do pau oco
de seu partido dos trabalhadores,
também eles herdeiros
do terror,
a nação sem país,
vítima da divisão
fria dos territórios,
ao fim de um sonho
otomano de seus
califas e sultões
de barro.
27/10/2019 Gustavo Bastos
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OS MITOS E AS LEIS
Já penso em como Che
não soube mais de seu caminho,
escolheu morrer
na Bolívia,
seu destino lhe chamando
ao grito das balas,
eu, vendo os horrores do Haiti,
as ilusões de Havana,
as lutas renhidas
em Kingston,
sei da febre
em Tegucigalpa
e das hordas
que morrem
no cartel de Sinaloa,
a dizer que El Chapo
era o vilão cruel,
qual foi Pablo Escobar
nas suas pirotecnias
em Medelín,
o mito cruel
do crime
que vira História.
27/10/2019 Gustavo Bastos
não soube mais de seu caminho,
escolheu morrer
na Bolívia,
seu destino lhe chamando
ao grito das balas,
eu, vendo os horrores do Haiti,
as ilusões de Havana,
as lutas renhidas
em Kingston,
sei da febre
em Tegucigalpa
e das hordas
que morrem
no cartel de Sinaloa,
a dizer que El Chapo
era o vilão cruel,
qual foi Pablo Escobar
nas suas pirotecnias
em Medelín,
o mito cruel
do crime
que vira História.
27/10/2019 Gustavo Bastos
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Poesia
FÚRIA LATINO-AMERICANA
Na noite dos tambores,
entre os endividados,
estoura o choque.
A América Latina grita
entre as fumaças,
Piñera se assusta
com a explosão
em Santiago,
eclode a fúria
em Quito,
Lenín Moreno
se refugia
em Guayaquil,
eu vejo ceder no Uruguai
a Frente Ampla,
e os estertores de Macri
no país que revive um peronismo
redivivo em unidade,
com a La Cámpora
na periferia esperando
de Férnandez
sua anuência,
ah, se este grito renasce
no Brasil, a manada
vai ao Planalto com
a sede dos que não
creem em mitos.
27/10/2019 Gustavo Bastos
entre os endividados,
estoura o choque.
A América Latina grita
entre as fumaças,
Piñera se assusta
com a explosão
em Santiago,
eclode a fúria
em Quito,
Lenín Moreno
se refugia
em Guayaquil,
eu vejo ceder no Uruguai
a Frente Ampla,
e os estertores de Macri
no país que revive um peronismo
redivivo em unidade,
com a La Cámpora
na periferia esperando
de Férnandez
sua anuência,
ah, se este grito renasce
no Brasil, a manada
vai ao Planalto com
a sede dos que não
creem em mitos.
27/10/2019 Gustavo Bastos
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UMA MOÇA CAROLINE
A cantarolar : ah, sorte ou azar!
A moça Caroline em sua
estrela não se fia
em fraqueza ou langor,
em seu campo de batalha
fica forte como uma leoa,
guerreira de luz
em seus passos firmes
e quedas sublimes,
a moça Caroline vem de longe,
lá das terras mais brutas
da batalha, e seguiu
seu sonho como uma flecha,
acertando o seu alvo
em cheio.
27/10/2019 Gustavo Bastos
A moça Caroline em sua
estrela não se fia
em fraqueza ou langor,
em seu campo de batalha
fica forte como uma leoa,
guerreira de luz
em seus passos firmes
e quedas sublimes,
a moça Caroline vem de longe,
lá das terras mais brutas
da batalha, e seguiu
seu sonho como uma flecha,
acertando o seu alvo
em cheio.
27/10/2019 Gustavo Bastos
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PAOLA COM MEL
Arde doce qual mel
na noite de melodia,
e se jacta qual
flor no fastígio,
brio em seu floral de
azul e rosa,
da botânica
a orquídea
em seu coração,
plena, das asas
a mais formosa,
e profunda
em sua hora
de brilho,
a hora da estrela,
de seu mel
o meu dharma,
de seu mel
a minha visão
livre que
sente o peito
cheio da luz
prometida.
27/10/2019 Gustavo Bastos
na noite de melodia,
e se jacta qual
flor no fastígio,
brio em seu floral de
azul e rosa,
da botânica
a orquídea
em seu coração,
plena, das asas
a mais formosa,
e profunda
em sua hora
de brilho,
a hora da estrela,
de seu mel
o meu dharma,
de seu mel
a minha visão
livre que
sente o peito
cheio da luz
prometida.
27/10/2019 Gustavo Bastos
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PAOLA NAS NUVENS
Sobe e desce, volteia entre
madeixa e anca,
se encanta de palavra
e holofote,
tem olhar forte,
qual felina.
Já lá, no alto do sonho,
não se deixa entrever
o que pensa,
mas me dá sinal,
diretamente.
Ou, por outros caminhos,
meio que enigma,
meio que já respondido,
faz que não faz,
e aparece num átimo
com sorriso e simpatia,
fazendo das suas,
segue o caminho,
este da via estelar,
como sempre quis.
27/10/2019 Gustavo Bastos
madeixa e anca,
se encanta de palavra
e holofote,
tem olhar forte,
qual felina.
Já lá, no alto do sonho,
não se deixa entrever
o que pensa,
mas me dá sinal,
diretamente.
Ou, por outros caminhos,
meio que enigma,
meio que já respondido,
faz que não faz,
e aparece num átimo
com sorriso e simpatia,
fazendo das suas,
segue o caminho,
este da via estelar,
como sempre quis.
27/10/2019 Gustavo Bastos
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VIAGEM DO TEMPO
Canto d´areia esta miragem,
qual voragem e floração,
festa de paisagem,
explosão da visão.
Me livra deste canto caudaloso,
tempo sombrio deste Deus
surdo e supremo,
golpeando o meu mármore
para que ele fique
esperto, e despertando
minha fúria para
que a espada
corte este tempo
de guerra entre
o fio e o poder
da palavra,
canto d`areia o sangue,
venho por ter do
flagelo o grito primal
da ousadia, qual cometa
de andrômeda
à via láctea.
27/10/2019 Gustavo Bastos
qual voragem e floração,
festa de paisagem,
explosão da visão.
Me livra deste canto caudaloso,
tempo sombrio deste Deus
surdo e supremo,
golpeando o meu mármore
para que ele fique
esperto, e despertando
minha fúria para
que a espada
corte este tempo
de guerra entre
o fio e o poder
da palavra,
canto d`areia o sangue,
venho por ter do
flagelo o grito primal
da ousadia, qual cometa
de andrômeda
à via láctea.
27/10/2019 Gustavo Bastos
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DESÍGNIOS DOS ARCANOS DA POESIA
É bom que a paisagem não se desenhe
sempre por expectativas,
que sempre as contrarie,
demolindo as certezas
com seus uivos delirantes,
um bom martelo
destrói para poder
edificar nova obra,
o espanto como guia
e a força como caminho
único destas visões,
não se engane, os arcanos
têm seus desígnios
para a poesia,
e lhes surpreende,
aos ignaros,
os tambores da História
quando lhes estouram
os tímpanos,
pois a poesia é campo de batalha,
e nesta quem é forte
não se cala,
e falando qual
boca de fumaça,
queima com destreza
o inimigo.
27/10/2019 Gustavo Bastos
sempre por expectativas,
que sempre as contrarie,
demolindo as certezas
com seus uivos delirantes,
um bom martelo
destrói para poder
edificar nova obra,
o espanto como guia
e a força como caminho
único destas visões,
não se engane, os arcanos
têm seus desígnios
para a poesia,
e lhes surpreende,
aos ignaros,
os tambores da História
quando lhes estouram
os tímpanos,
pois a poesia é campo de batalha,
e nesta quem é forte
não se cala,
e falando qual
boca de fumaça,
queima com destreza
o inimigo.
27/10/2019 Gustavo Bastos
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OS ANACRÔNICOS
A letra dos iletrados
é o canto geral,
faz de todo alfarrábio
canto supérfluo,
fonte melíflua
de poetaços
castiços,
citando
inúmeros
cantochões
anacrônicos,
e um hinário
de antiquário.
A língua da pátria viva
ignora solene os atavios
rebuscados dos pretensos
trovadores feéricos,
e lhes ri de suas roupagens
que edulcoram o kitsch
como se fosse
uma vanguarda
meio aparvalhada,
feita dos basfonds
das sobras e raspas
dos que se foram.
27/10/2019 Gustavo Bastos
é o canto geral,
faz de todo alfarrábio
canto supérfluo,
fonte melíflua
de poetaços
castiços,
citando
inúmeros
cantochões
anacrônicos,
e um hinário
de antiquário.
A língua da pátria viva
ignora solene os atavios
rebuscados dos pretensos
trovadores feéricos,
e lhes ri de suas roupagens
que edulcoram o kitsch
como se fosse
uma vanguarda
meio aparvalhada,
feita dos basfonds
das sobras e raspas
dos que se foram.
27/10/2019 Gustavo Bastos
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CANTO TRIUNFANTE
Quebrem os muros da Turíngia à Bavária,
e me venho dentre os odores
da Bretanha, descer os Alpes
qual aventureiro,
passo aos Pirineus com uivos e laivos,
altiplano de neve, um ósculo
de novo, lá em Bergen,
entre as auroras boreais,
sem lamúrias dos fracos,
sem os lamentos dos derrotados,
um uivo esteta entre
as brutas noites
da Islândia,
um calendário novo
entre os ditos de Londres,
uma capa de revista
entre os passos
de alamedas
de Champs-Elysées,
o grito cruel da vitória,
abrindo os portões
do Arco do Triunfo.
27/10/2019 Gustavo Bastos
e me venho dentre os odores
da Bretanha, descer os Alpes
qual aventureiro,
passo aos Pirineus com uivos e laivos,
altiplano de neve, um ósculo
de novo, lá em Bergen,
entre as auroras boreais,
sem lamúrias dos fracos,
sem os lamentos dos derrotados,
um uivo esteta entre
as brutas noites
da Islândia,
um calendário novo
entre os ditos de Londres,
uma capa de revista
entre os passos
de alamedas
de Champs-Elysées,
o grito cruel da vitória,
abrindo os portões
do Arco do Triunfo.
27/10/2019 Gustavo Bastos
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MANTO DA NOTE DA INFÂMIA
Já está lá a bazófia
dos gabolas,
a cantarolar bêbados
sua desonra,
com cantos estourados
do tímpano, e beberagem
cultuando a infâmia,
lá, entre as noites putanheiras
e o sal da coca entre
as narinas,
lá, onde o inferno é mais
misterioso que a morte,
e os suicidas anunciam
suas galhofas
de puro álcool,
vem ver o gabola
cair em si,
da queda mais
brutal da tarde,
trincando os dentes
no seu encontro
com a morte.
27/10/2019 Gustavo Bastos
dos gabolas,
a cantarolar bêbados
sua desonra,
com cantos estourados
do tímpano, e beberagem
cultuando a infâmia,
lá, entre as noites putanheiras
e o sal da coca entre
as narinas,
lá, onde o inferno é mais
misterioso que a morte,
e os suicidas anunciam
suas galhofas
de puro álcool,
vem ver o gabola
cair em si,
da queda mais
brutal da tarde,
trincando os dentes
no seu encontro
com a morte.
27/10/2019 Gustavo Bastos
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O VINHO DO BATISMO
Num átimo o poeta sestroso
quebra em pedacinhos
os sonhos do idiota,
cruel com espada
e sábio como
adaga,
vem de espanto ao cobre
e bronze em canções de
prata e um ouro maciço,
e duro qual diamante
faz sua geologia
de ataque,
contrafortes entre as fortalezas,
a virtude da força é a
qualidade da guerra,
e envelhece bem como
vinho, em odre batizado
com a audácia
das feras.
27/10/2019 Gustavo Bastos
quebra em pedacinhos
os sonhos do idiota,
cruel com espada
e sábio como
adaga,
vem de espanto ao cobre
e bronze em canções de
prata e um ouro maciço,
e duro qual diamante
faz sua geologia
de ataque,
contrafortes entre as fortalezas,
a virtude da força é a
qualidade da guerra,
e envelhece bem como
vinho, em odre batizado
com a audácia
das feras.
27/10/2019 Gustavo Bastos
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CÉU INFINITO
As fronteiras que desenho
são sem portas,
passo direto
ao azul, e por frestas
não me detenho.
Do azul o sumo tenho,
e por vias estranhas
encanto o encanto
de tons do sal
e do sol,
e neste azul
faço o céu.
As densas moradas
deste sonho, as diluo
em leve canto,
e pelos ares brilhosos
deste azul, com o céu
me deliro e me espanto,
deste céu todo azul
tenho o canto,
pois todo azul, o céu
me desenha, e a fronteira
já não existe, eu me
perco no infinito.
27/10/2019 Gustavo Bastos
são sem portas,
passo direto
ao azul, e por frestas
não me detenho.
Do azul o sumo tenho,
e por vias estranhas
encanto o encanto
de tons do sal
e do sol,
e neste azul
faço o céu.
As densas moradas
deste sonho, as diluo
em leve canto,
e pelos ares brilhosos
deste azul, com o céu
me deliro e me espanto,
deste céu todo azul
tenho o canto,
pois todo azul, o céu
me desenha, e a fronteira
já não existe, eu me
perco no infinito.
27/10/2019 Gustavo Bastos
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BATALHAS FEÉRICAS
A fonte enuncia o brilho
de uma água doce,
o plano que se desenha
na fonte é o ímã
da poesia fluida,
ah, mas vem com esta
de morder a isca,
qual peixe
encalacrado,
em um banquete
risonho
de espanto
eclode,
dando à danação seu destino,
e as alvíssaras ao poeta,
como um cabedal,
como um ímã,
do qual a seiva
prorrompe
e a inspiração
tonteia
em pena
de anarquia,
venho por estas bandas de cá,
caminhando qual esteta
para bulir com
uma estrela,
da lua à febre matutina,
d`aurora qual fúria
de arrebol,
o crepúsculo das eras
fazem da constelação
a noite dos cometas,
qual noite feérica
que surge da
poesia visionária,
para lá dos campos deste páramo,
como uma dor ardorosa,
um clamor para os tambores,
os amores ressurgem
em fastígio depois
da guerra,
e o rito de poesia
em sangue flui
pelo corpo inteiro,
e passa indômito
como flor na floração
e canções de novas
estações,
o visionário, em noite delirante,
prorrompe qual enxurrada
que grita os diamantes
no plenilúnio e sorri
para o vinho desta
noite febril.
27/10/2019 Gustavo Bastos
de uma água doce,
o plano que se desenha
na fonte é o ímã
da poesia fluida,
ah, mas vem com esta
de morder a isca,
qual peixe
encalacrado,
em um banquete
risonho
de espanto
eclode,
dando à danação seu destino,
e as alvíssaras ao poeta,
como um cabedal,
como um ímã,
do qual a seiva
prorrompe
e a inspiração
tonteia
em pena
de anarquia,
venho por estas bandas de cá,
caminhando qual esteta
para bulir com
uma estrela,
da lua à febre matutina,
d`aurora qual fúria
de arrebol,
o crepúsculo das eras
fazem da constelação
a noite dos cometas,
qual noite feérica
que surge da
poesia visionária,
para lá dos campos deste páramo,
como uma dor ardorosa,
um clamor para os tambores,
os amores ressurgem
em fastígio depois
da guerra,
e o rito de poesia
em sangue flui
pelo corpo inteiro,
e passa indômito
como flor na floração
e canções de novas
estações,
o visionário, em noite delirante,
prorrompe qual enxurrada
que grita os diamantes
no plenilúnio e sorri
para o vinho desta
noite febril.
27/10/2019 Gustavo Bastos
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OS OLHOS DA GUERRA
Quando os olhos lacrimejam de sal,
as portas do céu se abrem
na emoção primeva.
Era tarde no anúncio das tabelas
perdidas e dos planos malfadados,
eu estava entre os dramas
e as tragédias,
e no fio da navalha,
fazia esgares
de comédia,
bruto o passo que ia dar,
e a queda se deu,
da queda mais bruta
da noite,
os olhos do silêncio testemunharam
o grito sem piscar,
ah, e foi enorme o susto
das asas sob o aço
mais profundo,
como um baque
ou uma explosão,
o poeta sorria entre os cacos
de um vício enfermo,
e seu canto se deu
na nuvem torrencial,
lá, ou me mato ou me afogo,
lá, onde a noite mata
o sonho e o delírio,
venho, de dentro do coração sujo,
elencar os hinos ébrios
das brutas canções,
enumerar os hiatos
e os impasses,
fundar a aporia
e a contradição,
lá, ou fico aqui, vivo,
ou morro de ataque
no flanco dos heróis.
27/10/2019 Gustavo Bastos
as portas do céu se abrem
na emoção primeva.
Era tarde no anúncio das tabelas
perdidas e dos planos malfadados,
eu estava entre os dramas
e as tragédias,
e no fio da navalha,
fazia esgares
de comédia,
bruto o passo que ia dar,
e a queda se deu,
da queda mais bruta
da noite,
os olhos do silêncio testemunharam
o grito sem piscar,
ah, e foi enorme o susto
das asas sob o aço
mais profundo,
como um baque
ou uma explosão,
o poeta sorria entre os cacos
de um vício enfermo,
e seu canto se deu
na nuvem torrencial,
lá, ou me mato ou me afogo,
lá, onde a noite mata
o sonho e o delírio,
venho, de dentro do coração sujo,
elencar os hinos ébrios
das brutas canções,
enumerar os hiatos
e os impasses,
fundar a aporia
e a contradição,
lá, ou fico aqui, vivo,
ou morro de ataque
no flanco dos heróis.
27/10/2019 Gustavo Bastos
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Poesia
segunda-feira, 21 de outubro de 2019
ANA MARTINS MARQUES NA POESIA CONTEMPORÂNEA
“uma consciência poética bem trabalhada e madura”
Ana Martins Marques é uma poeta brasileira da cepa atual, e
que vem de publicações bem sucedidas como A Vida Submarina de 2009, e aí veio
Da Arte das Armadilhas de 2011, livro que venceu o prêmio Biblioteca Nacional
de Literatura na categoria de poesia. E aqui venho falar de O Livro das
Semelhanças, este livro que, por sua vez, foi lançado em 2015.
O seu livro de estreia A Vida Submarina tem um volume um
pouco maior de poemas, pois soma um total de cento e dez poemas, todos de curta
duração, uma lauda na média, livro este dividido em sete seções : Barcos de
Papel, Arquitetura de Interiores, A Outra Noite, Episteme & Epiderme,
Exercícios para a noite e o dia, Caderno de caligrafia, e a última seção, A
vida submarina.
As temáticas de Ana aqui em A Vida Submarina já nos aparecem,
que são a viagem e os mapas, a casa, o cotidiano, e o tema da própria poesia,
que vai produzir um conteúdo de metapoesia. E, em um retorno ao lirismo de
certa poesia contemporânea, depois de um distanciamento a partir da geração
marginal dos anos 1970, temos este lirismo também presente na produção poética
de Ana Martins Marques. Aqui, no entanto, já temos um lirismo herdado dos anos
1980 em diante, uma versão mais sóbria, a lírica entendida aqui como a
manifestação subjetiva, depois de um desaparecimento deste sujeito durante boa
parte da poesia do século XX.
Por sua vez, o estatuto do eu poético sofreu mutações
diversas desde sua versão arrebatada e extática vinda do Romantismo, este
sujeito exaltado que desaparece no Simbolismo e depois nas Vanguardas. E as
versões aguadas, de uma subjetivação nauseante do Romantismo se tornou algo
deslocado e datado. E na versão do sujeito na poesia contemporânea, por sua
vez, neste retorno ao eu lírico, aqui se trata de uma versão que não cai em
tentações melodramáticas ou de aflições de um sujeito sentimental no sentido de
um transbordamento adjetivado ou exclamativo.
Portanto, a lírica contemporânea não é dada aos arroubos
sentimentais de afetação romântica, aqui temos uma sobriedade de um sujeito que
atua de modo discreto, a experiência do sujeito com o mundo, nesta versão de um
lirismo contemporâneo, portanto, tem um modus operandi muito mais sutil do que
as obviedades de um sujeito exaltado que parece o tempo todo colapsar através
de sentimentos excessivos.
O lirismo contemporâneo usa uma subjetividade que mal se
identifica, o eu lírico aqui tem um diálogo com o mundo com termos sóbrios de
um observador atento, que conhece a vida cotidiana em suas exigências, e que,
por conseguinte, se coloca em um lugar de entendimento direto, a subjetividade
do poeta aqui tem uma certa veia mundana, observa, e quando sente, não cai em
afetação ou numa versão forçada de aflições. O lirismo contemporâneo, por fim,
ganha uma plasticidade comum que se aproxima da realidade vivida pelo leitor.
A dicção poética de Ana Martins Marques mantém este lirismo
novo em seus livros posteriores. No livro Da Arte das Armadilhas temos um livro
menor que seu debut, e que nos apresenta duas partes denominadas, a primeira,
Interiores, e a outra, da arte das armadilhas, a primeira parte com dezessete
poemas e a segunda parte com trinta e nove poemas. Aqui os temas de contraste
entre o dentro e o fora são, por sua vez, os temas da casa e da viagem. E neste
contraste, na jornada de Odisseu, temos Penélope, como o lugar familiar da
casa, e Circe, a feiticeira, no tema da distância e da viagem.
Já em O Livro das Semelhanças temos um exercício bem
interessante de metapoesia, e que dialoga e até introjeta várias influências
poéticas, com a permanência dos temas do dentro e do fora. Aqui o tema de
contraste é da própria estrutura do livro, portanto, a experiência metapoética
aqui vai mais longe, temos sobretudo, em O Livro das Semelhanças, a experiência
do livro.
Posso dizer, sem ter dúvidas, que como poeta, quando li este
livro, tive a sensação de ter lido um dos livros de poemas mais bem pensados e
organizados que já li, um leitmotiv de uma premeditação que juntou fragmentos
em uma lógica única, como um grande bloco monolítico, a minha sensação é de ter
feito um trajeto coerente, e que não se trata de uma premeditação estudada, no
sentido pejorativo do termo, mas sim do produto acabado de uma consciência
poética bem trabalhada e madura, e que aqui se chama tanto O Livro das
Semelhanças, como a própria poeta Ana Martins Marques.
A temática do livro já começa em O Livro das Semelhanças, num
sentido literal, com elementos tipográficos, com poemas com títulos como capa,
título, dedicatória, e logo em seguida um poema intitulado “Ideias para um
livro”, reforçando esta experiência do livro, para além da metapoética em si,
um metalivro, se assim posso dizer, soando meio ridículo. E logo temos, depois
desta introdução insólita, a primeira parte do livro, seção denominada “Livro”,
que tem vinte poemas. E temos, em seguida, mais três seções, intituladas
“Cartografias”, “Visitas ao lugar-comum” e o “O Livro das Semelhanças”. Partes
estas que somam mais quarenta e nove poemas. E os temas-valise da poesia de Ana
Martins Marques também aparecem em O Livro das Semelhanças, que são o mar, o
mapa, com temas gregos e mitológicos também.
O LIVRO DAS SEMELHANÇAS
POEMAS :
IDEIAS PARA UM LIVRO : Ana Martins Marques nos dá a
experiência do livro, no que segue : “Uma antologia de poemas escritos/por
personagens de romance”. A imagem da antologia, e que vem insólita, poemas
escritos por personagens de romance, um livro feito pela ficção, de um poema
aqui imaginário, e segue a poeta : “Uma antologia de poemas—epitáfios”. Metapoesia
em metalivro, a experiência insólita de estar fora ou vendo a estrutura do
poema e do livro do lado de fora, desdobramento radical, mas que aqui, e isto é
muito doido, se trata de um poema, e o estamos lendo, no que segue : “Uma
antologia de poemas que citem/o nome dos poetas que os escreveram”. Citação, os
livros, antologia e livro, cabedal que se dá em um único poema, um mundo
literário concentrado na imagem deste livro de antologias, de poetas citados,
um mundo vasto comprimido neste poema todo, tudo em um, no que segue : “Um
livro de poemas/que sejam ideias para livros de poemas”. Segue aqui o poema
numa metapoética insólita, a experiência desdobrada da poeta aqui é insana,
reunião de ideias para um livro, e vem a coda, nos dar o próprio livro que
lemos, O Livro das Semelhanças, no que temos, por fim : “Este livro de poemas”.
PARTE I – LIVRO :
PRIMEIRO POEMA : O poema fala do poema, metapoesia,
no que temos : “O primeiro verso é o mais difícil/o leitor está à porta/não
sabe ainda se entra/ou só espia/se se lança ao livro/ou finalmente encara/o dia”.
E aí, quando o poema convida o leitor, temos a imagem do dia, que nos leva ao
cotidiano, no que vem : "o dia : contas a pagar/correspondência atrasada/congestionamentos/xícaras
sujas”. E a poeta é bem simples em sua estrofe final, num estribilho que conclui
sem mais, tranquilizando o leitor : “aqui ao menos não encontrarás,/leitor,/xícaras
sujas”.
SEGUNDO POEMA : O segundo poema desenvolve o
primeiro, no que segue : “Agora supostamente é mais fácil/o pior já passou; já
começamos/basta manter a máquina girando/pregar os olhos do leitor na página”.
O poema vem para manter a atenção do leitor, um certo sentido de alerta nos dá
o trabalho próprio do poeta para com o leitor, no que segue : “arrastando
consigo/a embarcação que é este livro/torcendo pra que ele não o deixe”. O
trabalho do poeta aqui se trata, portanto, de um exercício com o estado de
atenção do leitor, e poderíamos dizer também, como não, de sedução, no que
temos : “pra isso só contamos com palavras/estas mesmas que usamos todo dia”.
Eis o ponto, a poeta diz, são palavras, no que segue : “escada que depois
deitamos fora/aqui elas são tudo o que nos resta/e só com elas contamos agora”.
O poema (e também o poeta) aqui sabe que pode descartar as palavras, se deita
fora coisas inúmeras sem parar neste trabalho incessante, mas é com as palavras
que o poeta sempre conta.
O ENCONTRO : Este poema interessante nos convida
ao encontro, no que segue : “Combinamos de nos encontrar num livro”. O Livro
das Semelhanças aqui com o tema do livro, sim, este livro, o livro do livro, a
experiência literária aqui como a experiência do livro, aqui em sentido
desdobrado, um metalivro, para usar um termo estrambótico, mas foi o que
encontrei, mas, contudo, temos uma sequência formidável, no que segue : “combinamos
de nos encontrar num mapa/depois da terceira dobra/entre as manchas de umidade/e
a cidade circulada de azul”. O tema do mapa, estendendo o tema do livro para a
visão do mundo, e o mundo que vira carta, o tema que vai encontrar no poema a
visão, enfim, do cotidiano, no que temos : “combinamos de nos encontrar/na
primeira carta/entre a frase estúpida em que reclamo da falta de dinheiro/e a
única palavra escrita à mão” (...) “combinamos de nos encontrar/no jornal do
dia, em algum lugar/entre os acidentes de automóveis/e as taxas de câmbio”. E o
poema, então, na sua coda, faz a poeta dar o ponto de chegada da jornada deste
poema, nos encontramos, ao fim, neste poema : “combinamos de nos encontrar/neste
poema”.
NÃO SEI FAZER POEMAS
SOBRE GATOS : O
poema, inspirado na gatografia de Ana Cristina César, tem o nome da poeta
inscrito, no que temos : “Não sei gatografia./Ana Cristina César”. E o poema,
na tentativa falha de simular a experiência de Ana C. com a sua gatografia, é
um desastre, o gato, ágil, escapa do poema, e as palavras fogem, Ana Martins
Marques se diz incapaz de capturar o gato, e o poema vem : “Não sei fazer
poemas sobre gatos/se tento logo fogem/furtivas/as palavras” (...) “não
capturam do gato”. O poema segue seu caminho em demonstrar uma experiência falha,
e a poeta, toda humilde, dá a coda, eis seu poema sobre gatos : “a folha
recém-impressa/página branca com manchas negras :/eis o meu poema sobre gatos”.
BOA IDEIA PARA UM POEMA
: O poema em sua
experiência de metapoesia, vem : “Anotei uma frase num caderno/encontrei-a
algum tempo depois/pareceu-me uma boa ideia para um poema/escrevi-o rapidamente”.
A ideia aqui entra em conflito com sua originalidade, a poeta não se lembra de
ter anotado isto de outro poema, ela parece lembrar que é uma citação, e seu poema
entra em parafuso, no que segue : “logo depois me ocorreu que a frase anotada
no caderno/parecia uma citação/pensei me lembrar que a copiara de um poema”. E
a poeta pensa, se a frase lhe tivesse escapado da memória de que era uma cópia
então esta frase seria dela ou não, uma pergunta insólita feita num poema de
complexidade e desdobramento insanos, no que segue : “pensei : se eu não
tivesse me lembrado de que a/frase não era minha/ela seria minha?/pensei : se
eu me lembrasse onde li todas as frases/que escrevi/alguma seria minha?”. A
poeta se aprofunda nesta pergunta nuclear, e pensa em se livrar do poema, fica
em dúvida, também, se o poema é bom, e segue : “pensei : é um plágio se ninguém
nota?/pensei : devo livrar-me do poema?/pensei : é um poema tão bom assim?”. A
coda é de uma esperteza visceral, que conclui, de modo direto : “pensei : nem
era um poema tão bom assim”.
POEMAS REUNIDOS : A poeta aqui nos brinda com versos
bem humorados, tudo bem interessante, no que segue : “Sempre gostei dos livros/chamados
poemas reunidos/pela ideia de festa ou de quermesse/como se os poemas se
encontrassem”. Os poemas se reúnem, vivos, as imagens aqui se sucedem, numa
enxurrada, se tratando da reunião dos poemas, no que segue : “como ex-colegas
de colégio” (...) “como combatentes/numa arena/galos de briga” (...) “como
ministros de estado/numa cúpula/ou escolares em excursão/como amantes secretos/num
quarto de hotel/às seis da tarde”. Sinto, contudo, que a enumeração se torna
excessiva, a criatividade da poeta aqui vira uma repetição enfadonha, um poema
que começa interessante cai numa tentação meio tartamuda, o resultado poderia
ter sido tão interessante quanto a sua abertura sensacional, mas ao fim a
dicção gagueja.
POEMAS :
IDEIAS PARA UM LIVRO
I
Uma antologia de poemas escritos
por personagens de romance
II
Uma antologia de poemas-
-epitáfios
III
Uma antologia de poemas que citem
o nome dos poetas que os escreveram
IV
Uma antologia de poemas
que atendam às condições II e III
V
Um livro de poemas
que sejam ideias para livros de poemas
VI
Este livro
de poemas
PARTE I – LIVRO
PRIMEIRO POEMA
O primeiro verso é o mais difícil
o leitor está à porta
não sabe ainda se entra
ou só espia
se se lança ao livro
ou finalmente encara
o dia
o dia : contas a pagar
correspondência atrasada
congestionamentos
xícaras sujas
aqui ao menos não encontrarás,
leitor,
xícaras sujas
SEGUNDO POEMA
Para Paulo Henriques
Britto
Agora supostamente é mais fácil
o pior já passou; já começamos
basta manter a máquina girando
pregar os olhos do leitor na página
como botões numa camisa ou um peixe
preso ao anzol, arrastando consigo
a embarcação que é este livro
torcendo pra que ele não o deixe
pra isso só contamos com palavras
estas mesmas que usamos todo dia
como uma mesa um prego uma bacia
escada que depois deitamos fora
aqui elas são tudo o que nos resta
e só com elas contamos agora
O ENCONTRO
Combinamos de nos encontrar num livro
na página 20, linhas 12 e 13, ali onde se diz que
privar-se de alguma coisa
também tem seu perfume e sua energia
combinamos de nos encontrar num mapa
depois da terceira dobra
entre as manchas de umidade
e a cidade circulada de azul
combinamos de nos encontrar
na primeira carta
entre a frase estúpida em que reclamo da falta de dinheiro
e a única palavra escrita à mão
combinamos de nos encontrar
no jornal do dia, em algum lugar
entre os acidentes de automóveis
e as taxas de câmbio
combinamos de nos encontrar
neste poema, na última palavra
da segunda linha
da segunda estrofe de baixo para cima
NÃO SEI FAZER POEMAS
SOBRE GATOS
Não sei gatografia.
Ana Cristina César
Não sei fazer poemas sobre gatos
se tento logo fogem
furtivas
as palavras
soltam-se ou
saltam
não capturam do gato
nem a cauda
sobre a mesa
quieta e quente
a folha recém-impressa
página branca com manchas negras :
eis o meu poema sobre gatos
BOA IDEIA PARA UM POEMA
Anotei uma frase num caderno
encontrei-a algum tempo depois
pareceu-me uma boa ideia para um poema
escrevi-o rapidamente
o que é raro
logo depois me ocorreu que a frase anotada no caderno
parecia uma citação
pensei me lembrar que a copiara de um poema
pensei me lembrar que lera o poema numa revista
procurei em todas as revistas
são muitas
não encontrei
pensei : se eu não tivesse me lembrado de que a
frase não era minha
ela seria minha?
pensei : se eu me lembrasse onde li todas as frases
que escrevi
alguma seria minha?
pensei : é um plágio se ninguém nota?
pensei : devo livrar-me do poema?
pensei : é um poema tão bom assim?
pensei : palavras trocam de pele, tanto roubei por
[amor, em quantos e quantos livros já li
histórias sobre nós dois
pensei : nem era um poema tão bom assim
POEMAS REUNIDOS
Sempre gostei dos livros
chamados poemas reunidos
pela ideia de festa ou de quermesse
como se os poemas se encontrassem
como parentes distantes
um pouco entediados
em volta de uma mesa
como ex-colegas de colégio
como amigas antigas para jogar cartas
como combatentes
numa arena
galos de briga
cavalos de corrida ou
boxeadores num ringue
como ministros de estado
numa cúpula
ou escolares em excursão
como amantes secretos
num quarto de hotel
às seis da tarde
enquanto sem alegria apagam-se as flores do papel
de parede
Link recomendado : Prêmio Oceanos: 'O livro das semelhanças',
de Ana Martins Marques : https://www.youtube.com/watch?v=MReAm-i-hlA
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://seculodiario.com.br/public/jornal/materia/ana-martins-marques-na-poesia-contemporanea
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