Brota nas alturas das sombras o elmo que revira as astúcias
qual poemas podres de poderes cáusticos. Lia Allen Ginsberg dentro da editora
de Ferlinghetti, não via saída para Cassady na linha do trem, sua cabeça foi
esmagada. Ria alto depois da chuva, não lia nada que me aborrecesse, nada
enfadonho, pensava em estudar Química e cinemática escalar, não via interesse
em deambulações adolescentes depois dos trinta.
No roteiro estava escrito certos cortes, não lia a fotografia
na descrição da cena, o fade out era postiço, não rimava com a aparição do
protagonista, era uma chuva de erros de continuidade e uma febre bruta de
cantos improvisados. Caros leitores, eu não via nenhum motivo para aprovar o
roteirista, o chamei a um canto e disse umas verdades : ele não tinha talento,
falei para ele fazer outra coisa da vida etc, e ele me xingou e quebrou minha
caneca de caveira, saiu revoltado e disse que aquilo não ficaria assim, o
esculhambei e não tomei conhecimento de seu ódio.
Jogral das rimas, o bobo elencava depois mais uma aventura de
tolo, destas aventuras de utópicos que não têm aonde cair morto, poetas de
livretos carcomidos de esquina, que fumam mais maconha do que escrevem etc. Ah,
não sou ingênuo, lia de novo Ginsberg e gargalhava quando ele tartamudeava na
prosa, um improviso de jazz que fumava ardorosamente enquanto rimava.
Ferlinghetti, de chofre, era a verdadeira cabeça pensante, eu
não via mais a estrada de Kerouac senão no cinema, e não via mais grande coisa
em citar route 66 para tirar onda de “easy rider”, poeta maldito, e estas
baboseiras que vendem nos letreiros dos carros e nos out-doors de vendas a
jato. Pois sim, puto da vida eu xinguei o motorista de filho da puta, disse a
ele que ele tinha passado do ponto, ele me chutou e me jogou na esquina perto
de uma boca de fumo, mas eu tinha largado o vício, fiz que não tinha acontecido
nada, e saí com uma fleuma qual altivo ego de pombo.
Cortei umas batatas para fazer um prato que inventei, salada
de pank com cebola e batatas, não sabia fazer, não li tutorial, cortei também
uns tomates, e taquei pimenta, ficou uma merda. Resolvi que ler era melhor,
escrever nem tanto, passei a Whitman, desisti. Fui ler Baudelaire, De Quincey, viciados
em ópio, Lord Byron, putanheiros que viviam em notas de rodapé, ébrios
amalucados que sonhavam em ser épicos, iludidos que pensavam ser gênios, gênios
que não estavam nem aí, e projetos abortados por suicídio.
Ginsberg, neste ponto da história, citava Omar Khayann, ah,
eu lia o Islã como uma mofa para machistas inveterados, destes governos
totalitários que tratam mulheres como bibelôs, e fumam haxixe de tarde para rezar
no ramadã em jejum. Nada de novo no front, o baixo clero é como baixa magia,
obscurece a mente e faz mal ao coração, nada de novo, tudo velho, com velhacos
e delirantes pré-iluministas. O coração das trevas anuncia : Kurtz está no
timão, e vai matar seus escravos com tiro de espingarda, suando álcool na
testa. Como no romance de Conrad, um ataque contra a degeneração dos costumes,
que sempre precisa de um tirano imprevisível.
Reto vai um buda preguiçoso, rimar com os vagabundos iluminados,
os poetas bobos que confundem iluminação com vício e decadência, em seus cantos
infrutíferos que não passam de versos feitos sob fumaça e ilusão, nada que a
consciência desperta considere no mínimo esperto ou inteligente, uma imposição
de fracasso que não tem nada de útil na estrada da porrada e da vitória. Volto
com mais vigor, já tinha lido todos os sacanas e embusteiros da História, vendi
meus livros lidos, e fui ler Hegel, Kant, só filosofia alemã, fiz que entendi a
Crítica da Razão Pura e os juízos sintéticos a priori, mas preferia citar o
imperativo categórico, e depois de cair em Fichte passei logo e correndo para
os bandoleiros de Schiller, este sim um campeão que competia com Goethe, um
fausto astuto que era a antítese de um Werther lacrimoso e destinado à morte
ritual.
Caiba nesta fábula o que disse, os mártires são idiotas, me
recuso a morrer. Vai andando pelo caminho seu poeta pândego, como uma estrela
potente que faz plêiade e faz jazz e blues com letras de rock.
Nota final : este poema astuto não foi produzido sob efeito
de estupefacientes.
31/12/2019 Gustavo Bastos (poema em prosa).
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