PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

HISTÓRIAS DE FAUNOS

Que da nau própria de Rimbaud
eu rime um soneto com Mallarmé.
Os feixes árabes de Omar Kayaan
surgem num Islã perfeito,
o ideograma chinês
restaura o Tibete imaginário,
quimeras fogem do firewall,
contornos se constróem
em páginas perdidas
de um poeta do desassossego,
eu pinto o karma de Ionesco,
as figuras apáticas
de Esperando Godot,
eu leio o sinistro fim
de Qorpo-Santo,
refazem nele os passos
de Jean Genet,
leio uns esquetes
de Pinter,
pinto a tragédia,
Aristóteles faz uma revisão
da inovação de Ésquilo,
Sófocles desmonta Téspis,
e no fim os coros voam
com o torpedo de Eurípides.
Sílfides ressoam nos rios,
oceânides lutam bravamente
pelo sêmen das flores negras,
a cor de alabastro de Álvares de Azevedo
vira azedume e riso de Gregório,
o cão Diógenes ri sem ter porquê.
Assinando pseudônimos,
os heterodoxos oximoros
de Pessoa e uma mensagem
sem fim em baús,
Moliére morre em pé
no último ato do "malade",
as epístolas de São Paulo
são queimadas pelo pagão
Saulo, a sina do violeiro
é ler anedotas de
um sambista morto,
Caetano e Gil,
Tom Zé ressurge endêmico,
Chico descansa em Praga,
faz festa em Budapeste,
Tom Jobim marca um encontro
com Villa-Lobos,
Jim Morrison na banheira,
Janis Joplin amontoada
em meus poemas,
Jimi Hendrix morto
aos 27 anos,
lupanares de folguedo,
Luz Del Fuego,
a serpente do caos
é lembrada no teatro
de revista,
eu leio a sonoridade
saída da boca de um Sinatra
com dores atávicas
de Mozart e Beethoven,
caio em mim ao ler
o poema sujo,
a política suja devia
ser mais sofista
que o pensamento de Protágoras,
já estaríamos salvos
se Sócrates ensinasse
a Platão como tomar
Siracusa.
Equanto isso os déspotas
coroam Luís XIV
e Cromwell na Revolução Gloriosa
nos enche da esperança
de um adventício Montesquieu
que come a cabeça de Robespierre
e nos dá Napoleão Bonaparte
num hospício com Artaud,
a mágica se faz,
Aleister Crowley desafia
Paracelso a um duelo,
e a tábua da esmeralda
nasce das mãos
de Hermes Trismegistos.
Toda a poesia vindoura
será de alquimista,
o verso se faz
corpo e alquimia,
e o ouro do corpo
é a alma do êxtase
de um ioguim na montanha.

07/01/2013 Libertação
(Gustavo Bastos)

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