Espera a chuva
o silêncio do mar.
Veste o corpo a tormenta
da passagem ao nada.
Enluta o corpo fabril
dos teares dos poros,
rotinas da respiração,
exasperado de tanto fogo.
E, lembra, concentra-te!
As asas vão embora
no voo da letargia.
Os olhos vão embora
no fulgor da andorinha.
As ondas, eu recordo,
quão grandes em susto
de sol tão dourado!
A luta que definhou
os altares do meu sangue,
é o ópio que espera
na gruta funda
que os corpos
cavaram
com dor de frio
e calor de prazer,
teares de carne
na voz garganta
boca estupefata.
Eu li com os odores
uma flor restaurada
em anos de assassínios.
Olhei a paisagem
com sentimento de luas nobres
na cova dos amores profundos.
As cores estavam em noites
de tanto vinho,
eu olhei os suntuosos livros
das eras de gelo e temor,
eu criei as plêiades
no corpo do meu amor fatal,
revi as chamas das odes
com fantasmas em meu corpo,
corpo da santidade com a virgem
numa síncope de salvação,
corri nas sombras com o abismo
em um sol doente
de luz e cruz.
O trabalho árduo do horror
das figuras do inferno
são oásis em flores trôpegas,
nau do desencanto
em que o sêmen afoga
o prazer da dança,
eu tenho o sol na casca
de um fruto proibido,
os rouxinóis cantam
soberbos na flutuação.
Eu me lanço no olor
das noites sem sede,
das horas sem fome,
dos dias no horizonte.
Lembro a catarse na criatura
que se afogou no vinho do desterro,
o esterco dos jardins floriram
no sorriso das águas mansas,
os rios corriam pelos campos
em valsas e sinfonias,
o castelo que ergui em sonho
desmoronou em coma profundo,
como a poesia inominada
das quedas brutais
de um vil vacilante
que se perdeu na fúria
decadente de seus
delírios de morte.
Os anjos descem na arte horrenda
de seus flautins,
versos de cobre e prata
se derramam
na veste vermelha
de uma paixão incriada
que descansa na eternidade,
o canto doce da saudade
acorda na flor da idade,
e o sol se põe em crepúsculo
de poema absurdo.
07/01/2013 Libertação
(Gustavo Bastos)
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