Dei um murro no corpo das belezas interiores, como um chacal faminto que urra na montanha dos prados e confins de campos pela noite. O instante nobre do vinho nos dá o sentido da vaga em minhas entranhas, olhos de sal na dor dos antigos poetas.
Como é a dor na vasta poesia do sol? Como andar certo pela via da morte? O que resta a dizer senão terrores fúnebres em cantos de salvação? Como estarei salvo? Onde há o altar em sacrifícios de sangue?
Eu tenho o mapa da fuga para Meca. Eu vejo a planície se abrir no deserto do Saara, eu tenho em minha alma a miragem que sonhei em noites de acampamento pela selva dos meus amores. Eu tenho o meu amor, ela está salva, e ela me salvou! Tenho fé em todos os ritmos de minha pena, tenho ódio em todas as quedas que não julguei, tenho o silêncio nos meus oráculos de profetismos de Cassandra. Eu sou a nuvem que honra a tempestade em notas de profundo temor, eu tenho a chama violeta nas horas desejadas do cadafalso no qual não dormi, eu matei o selvagem que olhou meu coração, eu honrei todas as damas que amei.
Não há irmão meu que não me tenha em bom apreço, os tenho em mim como medalhas no meu peito, vejo a inocência de seus sonhos como os teria tido, e os vi em sucesso por meu desejo febril, eu andei pela estrada com o vigor de um cavalo a galope, senti cada fogo de meu verso em tons de melancolia, tudo matei do que não me servia, visionários, eu estava na noite azul dos ataques inesperados, não voltei à cena do crime não consumado, pois Deus fez do crime a sua vingança, e eu me vinguei com as mãos divinas. Tudo de poetas e poesia eu tomei ao meu talante, depurei todos os odores das palavras, remontei todas as astúcias de acordo com o sentimento nobre da arte que moldei em trabalho duro e incessante, assinei com o meu sangue o dia e as horas em que fiz todas essas andanças, a minha pena não descansa, a tudo responde com morte e vida, esperança de eternidade e fundo riso de comédia.
Lembrei das amadas flores que deitaram na praia vermelha, na hora do recreio das almas desamparadas, eu lutei pelo amor verdadeiro que eu creio, eu creio no amor libertador, como um anjo que desce ao meu peito e me alivia das caçadas em que me metia. Eu honro esta mulher como o firmamento em que descanso os meus olhos e minha alma, eu a tenho para o repleto sonho de verão, para a salvação que a alma adora e louva, para que nada tenha sido em vão! O Espírito está comigo, e eu a tenho em espírito, do corpo só o prazer, da alma a eternidade que sobe para o sol místico, o amor é uma dança de corações solitários que se apegam, o acordo de almas é a dança funda do coração, tudo está nas mãos divinas que me salvaram e me levam a este amor, eu creio, e muito tenho buscado, uma busca insana que se joga no mar revolto, e que retorna na praia calma da aurora, eu vejo a aurora, eu sinto a forma bela com que a canção será composta, o seio do mundo receberá o sonho infinito que derrama da pena, tudo por um amor que nos dá o sentido que tanto queremos, que tanto lutamos, que tanto fugiu numa noite ao luar, eu vejo claro a sanidade com uma festa nos olhos que se veem, que não se perderam de todo, que se encontram novamente neste todo que chamam vida.
A luta que invade as trevas passadas são ódios ancestrais de palcos mortos com a chama que exauriu de padecimentos sem fim, a lágrima não valeu um níquel deste coração negro que me subjugou, não tenho nenhuma lição nobre em ficar na masmorra com os dentes em transe e a dor do mistério de se aproximar da morte, não olho o estrelato com paixão, a paixão horrenda com febre e desespero não me mataria, mas foi por pouco, o instante transfigurou-se em anjo na hora do fogo eterno, e o inferno recebeu a inveja rindo do fracasso de um verme cego e corroído, nunca se teve tanta inveja na poesia, a História definiu os poderes para quem tem e não para quem quer, e a pena ficou viva em pranto de dor subjugada pela mentira que a partiu ao meio em puro horror, a revolta cresceu em dores extasiantes, a lágrima correu como rio em todo o tempo de espera, as armas ricocheteavam no pensamento devorado pela dúvida, mas a justiça e o amor de verdade nos salva, eu salvo o meu amor e o meu amor me salva, não tenho medo dos derrotados, a nuvem passa e os versos ficam, toda honra do mistério é um fogo que nos dá a vida em toda a sua plenitude, não há juiz que faça da morte a justiça, pois a vida é que é justa para quem nela crê. O amor não é metafísico e nem corpóreo, é só uma conversa tranquila entre corações que se conhecem e que se entendem, não há mistério e tudo se explica com o próprio valor da vida, o fundamental está manifesto, os olhos vão ver, e os corações vão na valsa como se nada mais importasse. A poesia pode estar certa, a certeza é a alma que reconhece o que há de eterno em cada instante, muitos passam cegos, sorte dos que têm olhos para ver, destes são o mundo, e o mundo e a vida são fiéis par aqueles que creem. O sol está nascendo, e o caminho é de luz, luz que não se explica, o sol está nascendo, e a luz ilumina tudo, eu vejo, e agora tenho a razão como sustento de minha visão, eu vejo e nela creio. O amor é o instante que é eterno, a cura de todo deserto, quando a vida se torna música e o sol vem mais para perto. O coração se eleva e a poesia se revela. A flor está no jardim da esperança e a canção brota com verdade. Verdade que tudo muda, verdade que nos faz ver.
27/10/2012 Libertação
(Gustavo Bastos)
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