Sonho este que está no tempo
Ido e doído, corrói o sêmen
E o prurido escapando
Com o céu da boca em pranto
Em curtas passadas da língua
Que é a mesma fala falaciosa
Faladeira em falsa forma.
Sonho meu e teu e nosso
Que a boca do espanto
Contorce a língua que flui
Em tons dialetos e palavras próprias
De um viver de cultura e História.
Sonho todo em tudo que nada além
Diz não aos que choram.
E dorme como come, e baba como bebe.
Boca miúda, cala-te!
Este sonho não é o nunca ver
Do visto que é o mundo incômodo
Que vem aos olhos?
Sob o céu da boca da fome o grito.
O real é a boca sem céu
Do purgar-se do purgatório
Nosso de cada dia.
E cada noite sozinha
Acende a vela do sétimo dia ...
Desnutrição.
E cada um em si já foi sêmen um dia
Que saiu e virou gente.
E cada um em nós é um só da mesma
Reunião de gentes.
Assim se vai do ventre à boca,
Da barriga grita a fome
Do corpo inteiro desnudo.
O mundo assim de nós mesmos
Que comemos, são a fachada
Do sonho. O real que não
Queremos não é o nosso.
Estamos cheios, repletos de tudo,
Longe das bocas ignotas da fome
Sem fama sem fundo sem mundo.
O mundo lhes é negado
Tanto quanto se pode.
Tudo que é tempo e sonho
Desfez-se como gostaríamos.
Dois mundos não se tocam.
Um que é ser, outro que é nada.
Nos esquecemos
Da morte da fome
Do que não tem nada
E nada espera
Senão o não
Do mundo que lhes
Evita.
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