PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

domingo, 23 de outubro de 2011

A BOCA DO MUNDO E A FOME VIZINHA


   Sonho este que está no tempo
   Ido e doído, corrói o sêmen
   E o prurido escapando
   Com o céu da boca em pranto
   Em curtas passadas da língua
   Que é a mesma fala falaciosa
   Faladeira em falsa forma.

   Sonho meu e teu e nosso
   Que a boca do espanto
   Contorce a língua que flui
   Em tons dialetos e palavras próprias
   De um viver de cultura e História.

   Sonho todo em tudo que nada além
   Diz não aos que choram.
   E dorme como come, e baba como bebe.

   Boca miúda, cala-te!
   Este sonho não é o nunca ver
   Do visto que é o mundo incômodo
   Que vem aos olhos?

   Sob o céu da boca da fome o grito.
   O real é a boca sem céu
   Do purgar-se do purgatório
   Nosso de cada dia.
   E cada noite sozinha
   Acende a vela do sétimo dia ...
   Desnutrição.

   E cada um em si já foi sêmen um dia
   Que saiu e virou gente.
   E cada um em nós é um só da mesma
   Reunião de gentes.

   Assim se vai do ventre à boca,
   Da barriga grita a fome
   Do corpo inteiro desnudo.

   O mundo assim de nós mesmos
   Que comemos, são a fachada
   Do sonho. O real que não
   Queremos não é o nosso.
   Estamos cheios, repletos de tudo,
   Longe das bocas ignotas da fome
   Sem fama sem fundo sem mundo.
   O mundo lhes é negado
   Tanto quanto se pode.
   Tudo que é tempo e sonho
   Desfez-se como gostaríamos.
   Dois mundos não se tocam.
   Um que é ser, outro que é nada.

   Nos esquecemos
   Da morte da fome
   Do que não tem nada
   E nada espera
   Senão o não
   Do mundo que lhes
   Evita.

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