Quanto mais eu penso
em deixar o poema falar,
mais ele se esconde e fica mudo.
Vivido ele é, poema escasso,
da negra sombra emprestado.
Sou o exílio neste mar de verso,
tenho nas mãos as diabruras,
vou em vãos então nas carnes nuas.
Fui herói romântico um dia,
mas neste agora só tenho a agonia.
Fui mistério na flor da alma,
e agora contemplo o céu com o fulgor
da calma.
Venho deste imenso azul eterno,
sou a cruz sempiterna do universo,
poeta degredado das suas amantes,
sou o vinho desejado e fermentado.
Quando, pois, estarei sóbrio?
Aqui está o poema desvelado,
uma descoberta do que é o bem
em um encontro de seres alados.
Poeta, a nuvem te toma.
Navega, enquanto tudo desmorona.
Sou este que vos diz
que o poema é líquido,
sou o bruto e o sensível,
não tenho amor de chuva
e nem de sol,
sou um pobre manso no farol.
Delicada é a fonte do poeta,
este que vos dá a sua senda,
um voraz do verso
do qual se alimenta,
este que é o devorador
de sonhos,
pronto ao fugaz
que vive num
lago profundo.
25/08/2010 Gustavo Bastos
Quem sou eu?
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