Quem me deu a dor da parturiente
ao fazer poemas?
Como a gota de chuva no cais sombrio,
tive que ancorar no linho e na seda,
traficar perfume e sândalo
pela noite das corujas,
fui ao terror das pradarias,
uma pedreira eu abri ao rubi,
e nesta densa névoa do poema
encontrei o sal do mar
contando os alimentos das vítimas
náufragas com os ventres cortados
de sangue, nuvem e poeira.
Quem me faz tão hipócrita
quanto a máscara?
Antigos são os fardos malditos
que estão nos cavalos
que carregam os homens,
a intempérie do clima
me obrigou ao caos da preguiça,
e na praia com os ombros arqueados,
desci à fúria das lástimas ondulantes,
cresci no ódio da pátria verde,
e andei pelos charcos da vida fria
do outono.
Eis que o verde cresceu
para ser queimado,
a floresta virou deserto
no poema criado para a fazenda,
e touros, hipopótamos,
elefantes, rinocerontes, leões,
formigas, morcegos e águias,
toda sorte de seres variegados,
encantam o clima botânico
do paraíso perdido,
então os homens fumam,
os homens fumam
e vão aos horrores da febre,
e o escárnio do poeta
se torna uma fatalidade
para o céu e os anjos,
e a dor da carne nos acorda
com sua amargura de fera,
e os dias passam como passam
os abutres da morte.
25/08/2010 Gustavo Bastos
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