Marginal, a margem da rua salta,
o olho mira perde a mira,
a pira fogo é, o cachimbo
que pira a rua sem fé.
Olho vidrado, canivete, baba,
a rua desaba, eu vejo a rua alta
como um pedregulho que rola.
Chove de noite, o frio mata
a viagem de crack.
Sim, o poema resiste,
é borrado, torto,
mas resiste.
A rua é pau e pedrada.
A rua a estrada.
O poema resiste,
seu reino de papelão,
de sonhadores,
de bufões,
na rua nada
teme.
Chove de madrugada,
mata de frio o bêbado
barbudo cheio
de piolho.
Seu nome era Piolho,
Duende Maloqueiro,
lhe chamavam de Cosme,
lhe chamavam de Carlinhos,
seu poema era nada,
um jornal e seu cachorro
sarnento, cego,
idoso, com uma pata
inchada, a gota
tomava Piolho, Cosme,
Duende etc.
Este poema foi escrito
olhando a marquise,
o museu que pegou fogo,
os ratos que passavam
na latitude da miséria.
Gustavo Bastos, 21-07-2023 - POESIA BRUTALISTA
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