Aqui começo mais uma série, agora com o nosso poeta português
Fernando Pessoa, um dos maiores poetas de língua portuguesa da História, com
grande renome no cenário literário do Brasil e de Portugal, legítimo portador das
virtudes poéticas de cepa lusófona.
Fernando Pessoa, nesta primeira parte agora, coloco com ele,
junto dele, três escritos seus: Palavras do Pórtico, Mar Português e
Autopsicografia. Sendo que as palavras do Pórtico nos situam em sua viagem
marítima que será iniciada em seu livro Mensagem, e que tem em seguida com Mar
Português sua expressão mais popular, ao que deixo os versos, muito bem
conhecidos, falarem por si. Encerrando este primeiro ciclo com os também
conhecidos versos de autopsicografia.
Fernando Pessoa tem alguns versos de marca, e nesta primeira
parte, sobretudo com Mar Português e Autopsicografia, deixo aqui evidente o
poder de inserção, no quesito standard e popular, dos escritos numerosos de
Pessoa, produção um tanto caótica que até hoje está sendo explorada com
inéditos num trabalho brutal de arqueologia, isso se não citarmos, mas já
citando seus heterônimos. Pessoa é inesgotável, e a organização completa de seu
legado ainda vai levar uns anos.
PALAVRAS DE PÓRTICO
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: Navegar é
preciso, viver não é preciso.
Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma
para a casar com o que sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero
torná-la grande ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a
lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade: ainda que para isso
tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho na essência anímica
do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a
evolução da humanidade.
É a forma que em mim tornou o misticismo da nossa Raça.
DO LIVRO “MENSAGEM”,
POEMA “MAR PORTUGUÊS”
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
AUTOPSICOGRAFIA
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário: http://seculodiario.com.br/25273/17/um-pouco-de-fernando-pessoa-parte-i
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