I - ritmo
Falseio o ritmo como ar definido, entre as teorias tortas, fincou uma opala em meu girassol. Clareio tonto, pois do verso contíguo, ao vizinho sol, me lembro que ás de espadas tinha tido na carteira como peste de sorte, retive o noticiário com às vezes dos ossos, faturas divididas entre os mendigos, e o vulgo nefelibata espargindo o sonho parnasiano de tigelas insípidas disfarçadas de andorinhas, cotovias no salão de dança, a carne de Buda na geladeira, tinha a quermesse e o préstito, um enfadonho sol de vermelhidão, pura carne carmesim, diamantes e espadas, selvagens como cimitarras.
Na pele a cal, fibra muscular, tecido conjuntivo e sangue. Vértebras suculentas de espasmos na coluna, Akasha e karma, sílfides e raio, chakras e kundalini vulgar. Meio beberrão, assunto de faca corta o altiplano, plasma de espírito errante, floreia com absinto em permuta de caos. Volve a lama, meu corpo com o vinho, a equimose soturna, vigias de minha saturnal, um cadafalso de poltrões, bruma viciada de ermo e névoa, aplaudi o sonho vítreo com o mar das algas em todas as almas, certo o fim, a quimera protuberante como um poema, leve o surto sereno de epilepsia, falta de proteínas, a pele verde-musgo, ontem um ayurveda morreu de starvation, more than this, he wrote in his own skin: "I`m not, ego death!"
II - subterrâneo
Nêmesis:
Alto o tempo, viscoso o sonho devaneio de si em meio de morte.
Blocos de gelo na cal dessarrumada d`aldeia deserta,
corre o monstro das horas, vinho seco de porrada.
O papel está úmido, o porco vomita têmporas de poeta,
verso vem com uma mão de cannabis, doura a contemplação,
A nova era aeon vigora vocifera desarmada, concentra como máquina
as outras esferas entram em contato, a língua secreta
nunca é desvelada, o rotos campos se saciam de sevícia
metro torto de reta angulada, a pacífica curva do tempo
corre solta com as palavras de sol e puro tormento
Titãs caem como Lúcifer da montanha, a fera dormita,
é o suicídio da Esfinge.
III - leis kármicas
Levo os mistérios na página rota de figuras desmentidas, os vinhos não fazem mais cócegas na mente fugidia, eu levo o tempo kármico com o corpo como uma faca em brasa, detenho o vício com o pomar de flores plenas, o mar alvissareiro como aurora na morte de sangue e pau bem dado em cabeça que não reflete, os miasmas caem com os vórtices de energia dissipada, lenhos folgueiam em anáguas de damas devolutas, danço o sentido sepulcral, dor e mentira com os vasos dilatados da alucinação, prenhe o fogo de poema com as estrelas estetas de poemas partidos em pedacinhos, um fragmento sobra como diapasão de Heráclito, não há o estudo profundo, só a citação, um documento vale mais que um pensamento, os arquivos estão repletos, corro com o verso na esquina, deparo-me à rua, finjo morte com asas de coma, vocifero e apaziguo no mesmo instante. Pelo deserto eu tinha a estrada, ao fim a lua e o tempo em escala de clava serpenteada, das dores o empenho maior de sobreviver, corpo estrume e pocilgas possíveis no mar da boêmia, meninos perdidos, sonhos rasgados, sangue jogado ao chão, pestes dopadas de tanto ser, a orgia esparrama sua desilusão, os poetas se tornam alegorias ambulantes, como vendedores de emplastros em ruas bandidas, como a noite é em todo sonho noturno de finda madrugada.
IV - derretimento
O Ventríloquo:
Não estudava a si mesmo, tinha uma ânsia de citar versos.
Como se espera: De sol ao mar, o fogo de amar,
mas o sonho passou como a fúria d`alma,
as retinas mortiças afundaram de vertigem,
reta a viela, aos olhos a cegueira.
Parto em rumo da minha esfera,
como é a estrada o universo em que se peca,
donde o alvo é tido por sonho, mas é meta carnal.
Não sonhava em si, tinha tido plano de repetir,
como é a estrada já traçada uma curva ao nada.
Não delirava, perdia o instante como quem blasfema.
O poema atávico trançou sete ilusões, o mar de esmero.
Das setas de fogo, morrem as ilusões com os poemas,
é um estudo de corpo, que vai da mão ao papel,
se tinhas em meu peito a morte, não sabias que a carne é viva.
Remendos de planos na austera figura da terra, o chão como liberdade.
Se fincas em doses de absurdos, perde-se o rumo e a alma.
V - joguete
Os delírios são escritos: Venho de longe, do mundo de um canil vertido de cântaros, os limiares se estonteiam, e tudo ao caos fica maior como o poema de luto na cal carcomida da fome, nas águas sem paz da tempestade, nos lírios de chão sem frutos, sem alma de tanto rancor, a luta renhida de lugares, as lutas violentas das almas contra as trevas, o sol ao fim do caminho, como um nirvana de miragem ao êxtase que se esvai como canto do cisne, à vida como é de praxe, aos documentos em dia, ao fátuo sol que se vinga na crença de seu fogo, ao langor que estupidifica o pensamento, à lucidez que horas até tem lugar na barca de Caronte, finda o topázio, amuleto da sorte, era a esmeralda e meu olho na fúria espargida como chuva, ao quedar de tudo deveras rebuscado na paz da juventude, à inocência e a última flor que resta no jardim. O campo violáceo tem vontade de ferro e aço, como é na heroica toada dos versos para o verdugo que se espanta e morre.
VI - jazz
Flores floreiam nas águas, eu tinha pensando que o karma não é ficha peremptória, os que caem em seus rumos, o fazem de não conhecerem o segredo, pois de dança e surtos, ao mel do sonho tudo é plenitude, e o vago com dor desalmada, ouço doirar a flâmula, pois o desterro é findo, ao claro sol a bruma revive, donde o céu tem mais clareza que na devassidão? Não tenho mais tanto perdão, nem fujo dos horizontes que vejo, ao ver estudos plenos e constantes como os poemas que vejo, ao ver de olhos estupefatos tudo o que vejo, ao clarão como uma bomba, me curvo e beijo a areia, a terra sonhada está próxima, sair de si ao véu de ilusão, sonhar o préstito mais duro do frêmito quando as asas se abrem num salto de sarça e ervas. Logos enterra o templo de Salomão, fuga dos levitas, às espadas das antigas lutas um vão de deuses catapultados, uma hera diante do morticínio, ao tempo desfigurado da razão uma dose envenenada de loucura, como nos tempos de Nabucodonossor, reto o raio, e a salvação na luz do ventre que assusta o pomar tão pacífico de labor e suor sem culpa, aos poemas com vinhos, um pão ázimo de Vedas e manás da arte de tudo ver, aos olhos mais mistério, às palavras as descobertas, ao corpo o descanso, à alma a luz universal, como é o Eu Sou que tudo vê, seu eterno que já foi, seu eterno que será, e seu instante em tudo de si como a plenitude de entender o que se vê, o poema faz exegese, e a sapiência vem das experiências carnais, como a astúcia que morre de seu próprio fogo, e renasce esbelta e se chama frieza austera, o estoicismo das dores domadas, o desejo matemático de uma alma que se vê inteira, e o poema que dança nas mãos de fada, o sonho restaurado de todas as coisas do mundo, o Axis Mundi velho como o sol que o criou.
VII - coda
Grande Circo:
Beberei teu leite, verei a vinha viva do sol posto,
d`aurora à flâmula, os delírios de guerra,
dos olhos a paz funda e sem drama,
os corpos celestes como anjos diamantados,
verdor em toda parte, como o selvagem de Rosseau.
Desta oceânide o plasma de proporção à lógica das fundações,
os mitos cosmogônicos em letras de contos ao desvario,
motor primeiro, metafísica revelada, aos ídolos do teatro
a mão desvendada da imaginação bruta da patafísica,
mecânica dos corpos, a dança viril da força,
e a filosofia para dar brilho ao doutor de pontas afiadas,
refulgir, esparzir, com a goiva dar forma à loucura,
e o vinho deixe secar, como as uvas maduras que dos vinhedos
vem à vindima quando delas as sementes nascem.
Vulgo o sonho de areia, certo o picadeiro em que
os bichos se matam de tanto rir,
ruge a plateia, como no dia em que
o palhaço chorou por doer.
27/04/2014 Êxtase
(Gustavo Bastos)
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