PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

terça-feira, 12 de abril de 2011

ELOGIO AO NADA

Elegeram como pensador astuto

um qualquer de nome ignorado,

ele era um ser misterioso

e calvo.



Nas suas desditas não se corrompeu

e foi homem de sérias ambições,

ele é o artista,

não é o farsante.

Ele é o artista de uma arte demitificada,

arte sem obscurantismo,

um verdadeiro artista.



Ó nobre cavalheiro, que fazes agora?

Eu tenho tanto para compartilhar

com vossa senhoria,

mas por onde vais?



Ele diz: "Sou o artista sem nome,

não tenho palácios e não ergo castelos,

tenho apenas um verso simples,

da cor da relva no outono,

como a luz carmesim que deve

embalar os meus sonhos."



Eis que era de todo um ser espetáculo,

seus dizeres eram elencados

em tratados e apologias.

Seu modo de compreensão das coisas

era realmente profundo.



Fundou uma seita da Ordem dos Ignorados.

Pois é o que diz o ser artista,

ele quer ser o indecifrável enigma

de suas molduras,

é o sono da expectativa

de um poeta jovem.



Então, um jovem poeta se dirige

a este velho artista:

"Em que consiste sua arte?

Por que fundaste uma Ordem deste teor?"

Ao que o velho artista

já com a visão nublada

respondeu sem temor:

"Eu não sou deste mundo,

meu reino é a perdição

e o esquecimento,

como quem nasce novamente

e não se lembra do que fez

no eterno ontem da memória."



A Ordem foi fundada por este

que vos dá a sentença

de seu oráculo:

"Ignora-te a ti mesmo."



Era sua fundação do pensamento

oposto.

No cântico das asas ele fez

seu mistério maior.



Eis como era o cântico das asas:

"Leve a pluma flutua

em cada campo de miséria,

ela flutua como ave desconhecida

no alto de suas paixões enfeitiçadas,

desdém e asco

são fontes de sua filosofia da ignorância,

onde não há o que pensar,

nem tampouco verdade e sabedoria,

a única coisa que importa à ave

é o seu voo,

ela voa para o eternal das asas,

eis a delícia de ser inumana,

não se destina a qualquer amor,

posto que seu amor refulge

nas escadas do infinito,

ela ama o infinito,

delira com o infinito,

e jamais se arrepende de seu desígnio

de ser o sonho de que o homem é feito,

este ser que não tem asas,

e que desconhece os arcanos

da nobre ave,

o que resta ao humano,

depois de ser posto à terra,

é vagar sem direção,

ignorando-se a si mesmo,

como mandamento perpétuo

de seu doce esquecimento,

onde não há dor e nem pecado,

mas a libertação total de seu ser pensante."



O artista era agora o sacerdote,

e seu plano de voo

tinha como mandamento

o esquecimento.

Nunca mais as torturas da memória,

apenas o que finda

e a felicidade do inumano,

sobretudo das asas

e de seu canto eterno.



O infinito é o destino,

e a mística ensinada

pela nova Ordem é fatídica:

"O ser sofre, o não ser é a liberdade."



20/06/2009 Gustavo Bastos

Nenhum comentário:

Postar um comentário