Elegeram como pensador astuto
um qualquer de nome ignorado,
ele era um ser misterioso
e calvo.
Nas suas desditas não se corrompeu
e foi homem de sérias ambições,
ele é o artista,
não é o farsante.
Ele é o artista de uma arte demitificada,
arte sem obscurantismo,
um verdadeiro artista.
Ó nobre cavalheiro, que fazes agora?
Eu tenho tanto para compartilhar
com vossa senhoria,
mas por onde vais?
Ele diz: "Sou o artista sem nome,
não tenho palácios e não ergo castelos,
tenho apenas um verso simples,
da cor da relva no outono,
como a luz carmesim que deve
embalar os meus sonhos."
Eis que era de todo um ser espetáculo,
seus dizeres eram elencados
em tratados e apologias.
Seu modo de compreensão das coisas
era realmente profundo.
Fundou uma seita da Ordem dos Ignorados.
Pois é o que diz o ser artista,
ele quer ser o indecifrável enigma
de suas molduras,
é o sono da expectativa
de um poeta jovem.
Então, um jovem poeta se dirige
a este velho artista:
"Em que consiste sua arte?
Por que fundaste uma Ordem deste teor?"
Ao que o velho artista
já com a visão nublada
respondeu sem temor:
"Eu não sou deste mundo,
meu reino é a perdição
e o esquecimento,
como quem nasce novamente
e não se lembra do que fez
no eterno ontem da memória."
A Ordem foi fundada por este
que vos dá a sentença
de seu oráculo:
"Ignora-te a ti mesmo."
Era sua fundação do pensamento
oposto.
No cântico das asas ele fez
seu mistério maior.
Eis como era o cântico das asas:
"Leve a pluma flutua
em cada campo de miséria,
ela flutua como ave desconhecida
no alto de suas paixões enfeitiçadas,
desdém e asco
são fontes de sua filosofia da ignorância,
onde não há o que pensar,
nem tampouco verdade e sabedoria,
a única coisa que importa à ave
é o seu voo,
ela voa para o eternal das asas,
eis a delícia de ser inumana,
não se destina a qualquer amor,
posto que seu amor refulge
nas escadas do infinito,
ela ama o infinito,
delira com o infinito,
e jamais se arrepende de seu desígnio
de ser o sonho de que o homem é feito,
este ser que não tem asas,
e que desconhece os arcanos
da nobre ave,
o que resta ao humano,
depois de ser posto à terra,
é vagar sem direção,
ignorando-se a si mesmo,
como mandamento perpétuo
de seu doce esquecimento,
onde não há dor e nem pecado,
mas a libertação total de seu ser pensante."
O artista era agora o sacerdote,
e seu plano de voo
tinha como mandamento
o esquecimento.
Nunca mais as torturas da memória,
apenas o que finda
e a felicidade do inumano,
sobretudo das asas
e de seu canto eterno.
O infinito é o destino,
e a mística ensinada
pela nova Ordem é fatídica:
"O ser sofre, o não ser é a liberdade."
20/06/2009 Gustavo Bastos
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