Ardendo o sol silencia na torre
e uns papéis voam de poemas proscritos
na leve paisagem de um vingador torpe
que não fez o seu intento de ventos varridos
Uma clareira se aninha no pórtico
e a luz assombra a vida na noite terrível
e o vinho questiona seu sabor exótico
enquanto a chama azul vacila num bruxulear aprazível
Ardendo os campos doentes em que se entrega
a vida do poeta pelos idos anos da luxúria
este poeta se entrega na véspera da queda
pelo dia adventício da calma contra a fúria
Vindo de onde está o cavaleiro não descansa
somente pede um pouco de água sagrada
e não quer sentir a dor insuportável da lança
mas apenas refugiar-se no templo com a mão desatada
A torre então já mira para a lua
e o poeta que é o cavaleiro da miragem
corre a galope com o seu cavalo em vida crua
tal como o governo dos céus faz a sua viagem
Ardendo o poeta pede passagem
e a calma da plenitude já sofre de antemão
uma vida que pode ser apenas uma doce imagem
ou uma cena desvanecida de ilusão
E nas casas em que a solidão corrói
tudo evapora depois da chuva intensa
que o poeta traz em si e não destrói
mas apenas faz desta a sua oferenda
E lá se vão todos os anos da vida
que não são somente vultos de alegria
e nem tampouco expiações de uma ferida
mas uma visão completa de harmonia
Eis que é o vinho da morte
o brinde em que se sacia a vida do forte
06 de janeiro de 2009
Gustavo Bastos
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