Se vão os sonhos do que diz o poeta,
o poeta que diz estou sonhando,
doce é o efeito estético
de seu pensamento.
Ontologia ritmada em desespero,
facho de luz sonora levantado pelos sentidos,
percepção nostálgica de saltos no escuro,
dores corrosivas de amores mal-amados,
pássaros voando em escalas marítimas,
povoado rupestre em cavernas antigas,
redemoinhos apaixonados de fantasias ornamentais,
flores alucinógenas de poemas maltratados.
Se vão os sonhos do que diz o poeta,
semente, árvore e copa densa,
formigas, abelhas, besouros e jardins.
Numa noite ele se diz selvagem,
no dia seguinte é o mais civilizado dos homens,
nas férias se diz escritor,
nos dias de labuta professor,
nas horas solitárias apenas pensador.
E ele pensa: pensa-a-dor, pensador,
escreve, professa e pensa,
aniquila, reconstrói, rasga papéis,
se emociona, se revolta, chora, ri, confessa,
se desespera e depois dorme.
Acorda novo e começa tudo de novo,
acorda e pensa tudo de novo,
acorda e diz que é sonho
o sonho que ele bendiz.
23 de janeiro de 2009 (Gustavo Bastos)
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
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