“Euronymous e sua loja eram o ponto de encontro físico da cena black metal norueguesa”
Após a morte de Dead, Euronymous continuou no seu esforço de
assumir o controle do underground extremo norueguês e já havia restabelecido a
sua gravadora sob o nome de Deathlike Silence Productions (DSP).
Em seguida, Euronymous alugou um espaço em Oslo para uma loja
de discos, e ali venderia também música menos extrema se fosse o caso, para
pagar as contas, mas a identidade da loja seria de black metal, e a loja foi
batizada de Helvete, palavra em norueguês que significa inferno.
Em Lords Of Chaos, podemos ler : “Em meados de 1991, as bandas
Darkthrone, Burzum, Immortal, Thorns, Enslaved, Arcturus e, posteriormente,
Emperor estavam todas em contato com Oystein Aarseth, que tinha planos de
lançar a maior parte delas via Deathlike Silence.
O círculo interno de amigos e conhecidos casuais que
constituíam essas bandas seria chamado por Aarseth de “O Círculo Negro
Norueguês” (The Norwegian Black Circle, no original), quando perguntado pela
imprensa sobre os incêndios em igrejas que começariam antes do final daquele
ano. Ihsahn, o vocalista do Emperor, relembra a dinâmica que operava na época :
Não existe mais disciplina na cena, como no começo ao redor
da loja – você meio que tinha que ser aceito. Você ia lá e se você fosse de
confiança, se eles soubessem que você levava suas visões a sério, você era
aceito. Existia muito respeito pela loja, e as pessoas iam lá usando corpse
paint, o que em alguns casos era bem idiota porque estava de dia, e as
pessoas estavam fazendo compras.
Mas era uma atmosfera muito complexa e muito dura, você
sentia isso quando você entrava lá – era uma coisa muito poderosa. A loja era
um ambiente (...) As pessoas queriam ser aceitas, elas eram meio que humildes
diante de Euronymous e dos caras mais antigos da cena”.
Em relação ao que ocorreria em seguida, temos os primeiros
indícios na DSP, aqui segue o relato em Lords Of Chaos, no que temos : “Uma das
pessoas a chegar na cena tardiamente foi Varg Vikernes, também conhecido como
Count Grishnackh, com sua one-man band Burzum, que vivia em Bergen, na
costa oeste.
Era uma viagem muito longa de seis ou sete horas de carro ou
trem para chegar de lá até Oslo. Vikernes vinha para visitas extensas, ao longo
das quais ele e Aarseth rapidamente se tornaram amigos.
Os detalhes para que a DSP assinasse a banda de Varg foram
acertados, e um álbum de lançamento já estava gravado. Aarseth estava
extremamente empolgado com a sonoridade e com a apresentação do Burzum : a
banda se encaixava perfeitamente na sua proposta de lançar apenas música
‘verdadeiramente do mal’. Com sua atmosfera depressiva e seus vocais agudos,
gritados e dolorosamente roucos, o som do Burzum era bastante distinto de
qualquer outra banda da cena.
Aarseth também manteve contato com um crescente número de
bandas de fora da Noruega, às quais ele encorajava e fazia planos de lançar
seus álbuns : Sigh, do Japão, Monumentum, da Itália, e a bizarra entidade sueca
Abruptum.
Apenas alguns desses planos se concretizariam antes da morte
de Aarseth, principalmente porque ele nunca havia sido muito bom como
empresário. Ele administrava seu selo com inépcia, e o capital para investir em
novos lançamentos simplesmente não existia”.
Portanto, refletindo sobre estas citações de Lords Of Chaos
neste texto, podemos ver um engajamento que vinha de um único centro,
Euronymous e sua loja eram o ponto de encontro físico da cena black metal
norueguesa, o que fez com que esta rede de relações entre bandas fosse também
fonte de um estreito relacionamento de convivência pessoal e formação de uma
tribo.
Por sua vez, a Deathlike Silence Productions, a sua
gravadora, fazia com que Euronymous buscasse contato com bandas de fora do
círculo estreito norueguês, e retratava um engajamento de alguém que também
buscava se informar sobre os cenários de black metal de outros países, a sua
pesquisa foi boa, mas Euronymous era um péssimo administrador, tanto de sua
loja como de sua gravadora, e nunca teve uma condição financeira independente.
A cena norueguesa, por fim, tinha em Euronymous a fonte
agregadora e que dava diretrizes para a expansão desta, tendo sido ele o
principal causador da mudança brusca de bandas que passaram do death metal ao
black metal que usa corpse paint.
Euronymous era a figura central, mas os eventos que viriam
logo a seguir colocariam outros personagens em evidência, e a polêmica
superaria a música, mas, por outro lado, a cena black metal norueguesa, a sua
música, também sofreu influxo mundial destes escândalos infames.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/cultura/lords-of-chaos-a-sangrenta-historia-do-metal-satanico-underground-parte-ix
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