PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

O SUICÍDIO NAS FAMÍLIAS E O ESTUDO GENÉTICO DOS CASOS SUICIDAS

“O suicídio provoca estranheza e perplexidade, incômodo, desconforto”

O suicídio, no seio familiar, pode muitas vezes provocar um silêncio, causar um secretismo despertado por tabus e estigmas, o que concorre para reforçar a aura negativa da ideia sobre o suicídio e a relação social tensa que existe com o ato em si, com o suicídio enquanto fenômeno, tendo dentro de um núcleo familiar possíveis reflexos destes interditos sociais que colocam este véu de segredo sobre este acontecimento, quando este ocorre em nosso meio de convivência.

O suicídio provoca estranheza e perplexidade, incômodo, desconforto, é uma situação indesejada, como a visita de uma penúria mitológica, ou ainda a carga de exclusão de uma espécie de lepra espiritual, uma vez que os suicidas não tinham os ritos sagrados para seu sepultamento, num lugar espiritual de anátema e proscrito da existência.

O pacto de silêncio familiar sobre um parente suicida reflete toda esta aura sinistra com intensa carga histórica e religiosa. O suicídio pode, muitas vezes, no seio familiar, se tornar uma espécie de memória proibida. O esquecimento da censura é o que pode aguardar o suicida.

Fatores neurobiológicos sobre o suicídio, por sua vez, passam a ser estudados e conhecidos, fatores que podem envolver o hipocampo, a amígdala e o córtex pré-frontal, e são estudados, dentro deste espectro, também os fenômenos da agressividade e da impulsividade, que começam a se desenvolver na década de 1960.

Mas, a história clínica do suicídio sempre levará o seio familiar como fator de proteção ou seu oposto, como fator de risco para um potencial suicida, e é levantado também hipóteses como o chamado instinto de plateia, usando o exemplo da ilha deserta como um meio de que um certo tipo de suicida não teria motivos para o ato, nem como meio de chantagem, manipulação, ou até de espetáculo para mostrar o seu próprio sofrimento, exemplo relevante e que faz todo o sentido.

A experiência clínica pode apontar, diversas vezes, na análise do suicídio, para a existência de famílias-problema ou disfuncionais, com designações de famílias que podem ser classificadas como : rígidas, obstinadas, conflituosas, desagregadas, distantes, frias, etc.

Segundo os modelos biológicos da explicação do fenômeno suicida, por sua vez, temos a disfunção da serotonina (5-HT), que ganhou a atenção nos estudos que envolviam o modelo neurobiológico desde a década de 1960, e estes estudos envolveram análises biológicas post mortem e depois por métodos em pessoas vivas que tinham cometido uma tentativa violenta de suicídio.

Outro foco de estudo que se desenvolveu foi o da hiperatividade do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenais (HPA), que já há tempo é considerada como estando ligada às condutas suicidas. O colesterol é um precursor da síntese do cortisol, sendo encontrada uma relação entre hipocolesterolemia e um aumento do risco de condutas violentas ou agressivas, e temos então alterações do metabolismo do colesterol que podem levar a uma deficiência de 5-HT no cérebro.

Com o avanço tecnológico, temos novas aplicações técnicas que vão incidir sobre o conhecimento e análise das funções cerebrais, como a tomografia por emissão de positrões (PET), em associação a doseamentos do líquor, sangue e urina de neurotransmissores ou seus metabolitos. Temos ainda os estudos realizados sobre as neurotrofinas, que envolvem as áreas mais afetadas pela conduta suicida, como o núcleo dorsal do rafe (tronco cerebral), hipotálamo, amígdala, hipocampo e o córtex pré-frontal.

Com a sequência do genoma em 2003, temos uma ampliação do estudo do espectro suicida para além dos escaninhos psiquiátricos da esquizofrenia, da depressão e do alcoolismo, com a visão incidindo sobre genes específicos que podem despertar a conduta suicida, podendo ser, por exemplo, o gene da enzima triptofano hidroxilase (TPH), o gene do transportador da serotonina (5-HTT) e o gene da catecol-o-metiltransferase (COMT). E o estudo sobre o suicídio no seu aspecto genético continua avançando. 

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/o-suicidio-nas-familias-e-seu-estudo-genetico 

 

 

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