Entra aí, my dear. Perguntei por você no Arpoador, seja dor o
que a harpa toca, tinha febre de você em Ipanema, procurei suas sandálias pelo
Leblon. Nada, tinha música quando te deixei lá sozinha, foi de maldade, a praia
estava vazia, beijei um cadáver, ele sorria como quem vivia. Saudade sisuda,
respect and fullmoon. Tenho cartas de verão de amores de inverno, tenho inferno
em tudo que me bate nos dentes, nódulos de cachaça em minhas mãos, torturas de
rum e sevícias de whisky, tenho pavor de vodka, amo limão azedo, amo queijo e
vinho pinot noir, uma vida encantada nos aguarda no champs elysée, cada debrum
de suas nádegas é uma dose minha de ilusão, e que certa poesia está bem em tua
juba de pantera selvagem, como nos tempos em que não se tinha ouro, mas se
roubava um bocado, se tinha um tanto de prata sem trabalhar, só com juras aos
livros ao recorde do pressentimento. Jogava adoidado sinuca em casas de
tolerância, sorvia absinto em toda a rua de miragem, atrás dos pés delicados
cheirava as sandálias vermelhas, também tinha as mãos delicadas, mesmas mãos de
carícia e de porrada, quando me vi já me encontrava na central, cinquenta
centavos, foi o que um barbudo me pediu, eu não tinha nada e ele me xingou e me
mandou para o inferno, fui parar na Lapa, um travesti esfregou a bunda em mim,
achei que tinha sido roubado, não, ainda tinha dinheiro para uma sinuca,
procurei no jardim das delícias as curvas de Vênus num pedaço de revista
masculina carcomida pela umidade, bati uma punheta numa esquina suja sem
ninguém perceber, voltei e pedi uma dose de conhaque na ladeira perdida, estava
todo sujo, mas tinham me lavado as partes depois que tomei o conhaque, fui
embora, com as sandálias vermelhas ainda nas minhas mãos, foi em algum lugar
que tinha deixado aqueles pés ligeiros, teria que passar uns anos para não mais
perder os pés e as sandálias.
18/12/2013 (Gustavo Bastos)
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