No despenhadeiro pensei
na queda de meu corpo,
eu não me vi caindo,
eu vi os olhos se perderem
na ideia da queda.
Os olhos meus, quais cavalos
castanhos,
roçaram o fundo sem fim
do abismo,
duas órbitas
encontrando
o nada,
a morte é o nada?
Sem meu corpo, estaria eu
consciente de mim?
Poderia ver a minha alma
flutuar sobre um morto,
poderia ver o eterno
ou talvez o inferno,
posso ainda viver?
Não sei o que virá,
fico feliz e temeroso
pelo adventício,
minha morte eu não a conheço,
minha vida futura
eu a quero mais e mais,
e a dor da angústia
nos trai esta doce percepção.
Tantos poetas tiveram
má fortuna,
eu tenho medo da moira
dos poetas,
tenho o sol na minha face
como boa promessa,
eu temo os suicidas,
e ainda mais os poetas suicidas!
Eu leio as cartas atravessadas
de mar de tais corações,
sofro tão terrivelmente
quanto tais angustiados,
eu duvido de ainda estar vivo,
a alma tem aquela vã esperança
de na tristeza dos dias
não sucumbir,
de aceitar toda a
insensatez do mundo
não como moira,
mas como tentativas em vão
de me roubarem a alma,
estou tão saudável
com o meu pensamento
que busco incessantemente
uma bela canção de amor
onde eu possa descansar
o meu peito,
e as feridas se vão
com este amor perfeito
que viverei.
01/12/2012 Libertação
(Gustavo Bastos)
Adélia Prado Lá em Casa: Gísila Couto
Há 4 semanas
Nenhum comentário:
Postar um comentário