A letra do poema
não corre tão rápida
quando se quer fria.
O corpo horizontal do verso
se enquadra vertical
na estrofe.
Mas uma metafísica deste corpo
se funda no expresso já dito,
eu digo do lodaçal e da sombra
o indizível que perscruta
a saga de minha pena.
A letra do poema revolve
o andor da máquina,
velhos putrefatos de hinos
já não se comprometem
com as rimas de um esteta,
nem com os floreios rútilos
da escrita espontânea.
O corpo enrijece na sua forma operativa
de poema frio e sem dor,
qual matiz de sombra e luz
a noite deixa na constelação
apenas seus poetas
como fases da lua,
um poeta para cada dia do mês,
como diria Fernando Pessoa
em seus heterônimos.
A julgar dos "momentos-poetas"
de que se compõe a grande máquina,
obra e autor, a crítica ignara
e sua autoconsciência de poeta,
não atua nos círculos sociais
senão como pontuador
das engrenagens,
como operário de suas ferrugens,
e como azeite das funções
de que se servem
os leitores.
A importância do uso da linguagem
é dizer em veias frias
o enigma do indizível,
dizer sempre o mesmo
numa indefinição da forma.
02/12/2012 Libertação
(Gustavo Bastos)
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