Com a voz da terra,
levas de matilhas
rosnam na época
vindoura
doa altares
de sangue índio.
O vermelho pélago
do fundo obscuro,
a terra malvada
que canta
encantada
de fúria
e arte de giz,
risca na tumba
da filosofia
a vida e a obra
escarlate
de um que pensou
em obras
e litanias.
A chuva na paz celeste,
memorial da chuva
no campo,
queria o mártir
na senda violenta
dos poemas,
um grito para um poema,
e uma poesia no silêncio.
Revezavam na vigília
os atabalhoados
da investigação.
Corroía de ácido fúlgido
o vinho potente
das armas,
fuzis de delírio
pelo canto alto
da gaivota
ao coração
que sofria.
Restou a indômita vinha
pelos cantos da ribalta,
noite de espetáculo
no costume de ser sempre
o que se é,
e sendo encarnado
em pensamento,
pensa o ritmo
da pena
como se fosse uma faca
cortando e fatiando
o poema
como um sonho
sem nada a dever
a todos que dele
se nutrem,
a faca da poesia
é uma pena que não tem
pena de ninguém.
A voz da terra, arado
filosófico,
ventre movediço,
partitura sem limite,
renunciou aos sombrios
atavios do suspiro
parvo de sonhadores
sem projetos,
de vigas sobre
terreno maculado.
Mas a vida foi maior,
com a veia explodida
de tanto verso
sem aviso
na paisagem
insólita
dos degraus
aos céus
e das quedas
aos infernos.
A poesia foi maior,
a vida foi a poesia
e a poesia foi a vida
sem saber separá-las
na faca que escrevia.
27/06/2012 Libertação
(Gustavo Bastos)
Adélia Prado Lá em Casa: Gísila Couto
Há 4 semanas
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