A cria de Jazz
é um sonho azul
de heroína.
Parque do romance
na lua da praça
de velhos.
A filosofia não compreende
a noite boêmia
do álcool na voz
mutante
de Billie Holiday.
Eu chorei olhando
a minha cabeça nua
e a minha língua
anestesiada de cocaína.
Passo em frente
ao portal de todos os seres
no cais de Miles Davis
conversando sobre flutuações
de seu "Sketches Of Spain",
uma voz bruta cantava
pelo tantra vassalo
da corte de saxofonistas,
o trompete pleiteava
o cérebro do sopro,
e Monk e Mingus
viravam a noite
depois da morte
de Charlie Parker.
Meus camaradas falavam
sobre ventanias
no sonho da marijuana,
fazendo sons desconexos
de esperança.
A noite azul do cavalo
subia à mente
com o encanto
das mulheres.
Cortava o som do pub
um monte de bêbados
anarquistas
sobre cinzeiros.
O palco das cantoras suicidas
era coberto da fumaça
de marijuana,
e os olhos cintilavam
na filosofia boêmia
daquele Jazz
eterno
que vivia os deuses
em cada tragada
de charuto.
Esperava a nova geração
da poesia na porta
dos entendedores de tudo
prontos a mergulhar
no nada do verso.
Allen Ginsberg me chamava
para dar uma volta
pela orla em seu carro.
A gasolina era patrocínio
dos estetas
que vendiam heroína
aos músicos.
E os jardins de papoula
já eram plantados
na cabeça
que produzia
"Kind Of Blue"
com trouxas
de marijuana
na boca do lixo
que ouvia
Sganzerla e Glauber
confabulando
as suas próximas
empreitadas.
Eu gastei cem reais
em uma noite,
nada demais para
um homem
que se julga
atravessado
de dívidas impagáveis,
tomei água à beira do lago
ao ritmo de Billie Holiday
esperando o tédio da manhã.
Os lutadores armaram
uma confusão
no baixio da fúria
para mostrarem
os seus músculos,
e eu sorri bêbado
com medo de cair
sem ver a polícia chegar
e tomar cachaça
com os mendigos,
eu era um ser caçado
por fotografias
de planos retilíneos
de um caminho curvo
e delirante
que não amava
a aurora mais
que a madrugada.
10/07/2012 Libertação
(Gustavo Bastos)
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