A sombra do poema encanta
tanto quanto a luz que
nele habita.
Um espelho reflete esta luz
e dissipa a sombra que
nele havia.
O poema, incorruto, inflado,
malfadado e benquisto,
dá de si o pensamento
nele ritmado.
Quando o sol se esquece
de seu centro de fogo,
o poeta nele vê
um possível alento
depois do relento
da noite.
A queda em labor fustigado,
com o peso sobre o ombro
alquebrado,
da vã ilusão consegue
o socorro do próprio
sangue, exangue.
O poeta liquida os seus versos
num único gesto desesperado.
Ali havia a vida em sentido lato,
uma coisa incalculável.
E diante de tal heráldica
superabundante,
antevia no espaço da estrofe
um grito de poema vasto,
qual a sua figura de poeta
no alto do seu pecado.
A vida incontida na vastidão
planava sobre a relva
do descampado,
sua visão de sonho
era uma lembrança
ditosa
no silêncio sinuoso
da semeadura.
De várias matizes o introito
se estendia até o ato fatal.
Uma mesma canção
desanuviava
cada lado
da mandala.
O poema ali se anunciava,
qual farol de langor
numa premonição
da poesia
sem exaurir
toda a vigorosa
honra daqueles versos.
11/04/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)
Adélia Prado Lá em Casa: Gísila Couto
Há 4 semanas
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