As pétalas choram o desterro
da anêmona como último suspiro
da estrela da manhã.
O cadáver da maçã
escutava a dança
em silêncio.
O disparate da turba desvairada
pela cidade oca deslumbrava
o poeta na janela do sol.
A escrita sumária desvelava
as pétalas do sonho náutico,
sob a sombra da vinha
uma queda da água benta
despencando como música
no suor das esferas.
Eu, morrendo, estupefato,
enternecia o meu coração
em estro faustoso.
Nuvem composta de vinco
e vigor pela estrada,
nunca dantes visto
o navegante
em sol e lua
no mar do delírio.
Evoé poeta! Quais nuvens
mais em seu súbito amor
de primavera com flores?
Quantas primaveras mais
em castelos de fúria?
Que viço no regalo
dos poemas?
Quantos versos em sonho
nas vidas em dissonâncias?
Outro pecado em sua
morte gloriosa?
Eu vi o céu sob a tempestade
como uma tonitruante
rima sem morte e sem sol.
Eu temi o vinho sobre mim
como um embriagado
em feroz desdita.
Do sonho sempiterno
quão veloz e eterno
morreria sem ver
o labirinto?
Olhei, de súbito, compor-se
na criatura dançante
dos ferrolhos
que me prendiam,
um manipanso
da magia
dos estertores
de minha loucura.
Contra o vento o abismo
no auspício da bruma
em campanha feérica.
No castiçal a cantiga
dos poetaços
na justaposição
de seus versinhos
de amor,
um enamorado se afogando
em sua paixonite
de dias maravilhados.
A cruz, desde o credo da fé,
assumiu-se em horror
perante a tribuna
vertigem
da sombra
de luz
desandada
no prisma
em poesia.
Vestes andrajosas
sepultavam
a ventania
da rima
no condoído
peito de meus
poemas,
e a luz rarefeita
inundava
o verso
de êxtase.
De soslaio o solstício
supria a minha fome
de sol e terror.
No balaio o equinócio
morria na minha fonte
de pó e fulgor.
O eclipse sorria
terrível
pelas luas mortas
de um negro sonho
de albor.
As lágrimas eram a potência
da alma depauperada
na chama da paixão
ritmada e decantada
pelo rouxinol
depois do veneno
da erva maldita.
Sempre ouvirei
da ausculta tenebrosa
o réquiem da filosofia
que cintila como pássaro
na saúde dos cavalos
em sonhos de pétalas
na saudade
que vinga o céu e a terra
de suas ilusões.
Não ouvirei mais as trevas
em lamúrias atrozes
que não silenciam
senão pelo grito
que escapa
na noite vã
da poesia
que nunca será
exposta ao sol do dia.
Verei o fantasma
na queda dos anjos
e o relógio cessará
quando o tempo da vida
refulgir no desespero
da dor,
e meu olor de refugo
sentirá a peste
em minha carne
despertada
em alma eterna
no lírio campestre
que a juventude
levou num amor remoto
de solidão
e navio.
Não mais meu lírio,
senão delírio
na assunção
do espírito imortal.
20/04/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)
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