11 DE SETEMBRO, GUERRA AO TERROR E O MUNDO HOJE
(UMA REFLEXÃO SOBRE O MUNDO NOS ÚLTIMOS 10 ANOS)
Era manhã de 11 de setembro de 2001 em Vitória-ES. De repente, minha avó me acorda desesperada, acho que era umas 10 da manhã (hora de Brasília): “Gustavo! Começou a terceira guerra mundial, tá na TV, vem ver!”. Eu acordei ainda em transe e fui à sala de TV ver o infortúnio, a Torre Norte do World Trade Center já estava em chamas, imediatamente me lembrei de que tinha previsto isso, mas isso é uma outra história. O fato é que eu ainda estava em transe e continuei por um bom tempo, logo que cheguei à sala, um avião irrompe na tela e atinge a Torre Sul, a esta altura as suspeitas da mídia mundial sobre um ataque terrorista são confirmadas. Logo depois atingem o Pentágono, e mais tarde um avião cai na Pensilvânia, o destino deste último era a Casa Branca ou o Capitólio.
Ainda estávamos embasbacados por acontecimentos ainda obscuros quando a Torre Sul desaba em doze segundos, depois a Torre Norte tem o mesmo destino. A lembrança deste dia é cruel, não sei se confundi a ordem dos fatores neste meu testemunho, mas é o que lembro, acordei transtornado por um ataque terrorista, talvez ainda inconsciente de que estava vendo a História acontecer na minha frente naquela TV e naquela sala.
Naquela manhã de Nova York o mundo estava por mudar, e eu em Vitória-ES, bem longe dali. Era a História num de seus marcos irreparáveis acontecendo sem que ninguém pudesse impedir tal destruição. O impacto daquele dia jamais será esquecido. Era o “Pearl Harbor” do século XXI, e as consequências deste novo ataque aos EUA seriam tão desastrosos quanto às dos kamikazes japoneses. Desta vez os suicidas também eram tão fanáticos quanto os súditos de Hiroito, mas agora eram peças de um jogo perverso liderado por células terroristas que logo seriam descobertas como coordenadas pela al-Qaeda, pela confissão de Osama Bin Laden, o financista do terror americano do 9/11.
Sobre as consequências desastrosas de Pearl Harbor, temos o ataque nuclear de Hiroshima e Nagasáki, e do 9/11, por sua vez, as guerras do Afeganistão e do Iraque, que contabilizam hoje cerca de 4 trilhões de dólares de gastos, o dobro do PIB do Brasil, o que gerou um rombo nas contas americanas, Bush Júnior e seu intento, a Doutrina Bush, de “derrotar” o chamado “Eixo do Mal” são questionáveis vistos pelo seus efeitos desastrosos, sobretudo para a economia americana.
O mundo estava em choque, o coração do capitalismo tinha sido ferido no seu orgulho muitas vezes arrogante, arrogância do “big stick” que justificou por algum tempo a Doutrina Bush, as ideias conservadoras do chauvinismo republicano agora tinham motivos de sobra para fazer das suas sandices, tudo bem, era necessário derrubar os Talebans, pois estes ofereciam abrigo a Osama Bin Laden, mas, quanto ao Iraque, do ponto de vista de leis internacionais e sob a medida de seus efeitos foi um erro fatal.
O Afeganistão é invadido ainda em 2001, os Talebans são destituídos do poder, mas eles ainda continuam lá, fazendo das suas. Depois, em 2003, o grande erro de cálculo, ou, o que muitos chamam, de pretexto estratégico, o bombardeio e invasão do Iraque. A Doutrina Bush não foi reeleita à toa! Bem, pareceu aos olhos do mundo que havia uma democracia liberal querendo se expandir pela força, ignorando leis internacionais e transgredindo os direitos humanos em Guantánamo e Abu Ghrabi.
Ou seja, o bastião do capitalismo global e da democracia liberal, que sempre valorizou a palavra “liberdade”, era agora mais ditatorial que muito regime islâmico, a ONU ignorada no caso do Iraque e tudo foi por água abaixo com a eclosão das crises bancária de 2008 e de confiança política em 2011. O que poderia ter unido democratas e republicanos, só aumentou o fosso de ideias entre as duas principais forças políticas da América. O que resultou neste último capítulo recente da quase débâcle da economia americana com uma iminente moratória da dívida , bateram o gongo no último minuto e aumentaram o teto da dívida americana, mas o estrago dos últimos dez anos, estrago político e econômico, sobretudo, parece ser irreversível nos próximos anos, vamos ter um período de desaceleração no Hemisfério Norte, que se salvem os BRICS e demais emergentes! Disciplina fiscal! Gritaria eu.
Hoje o mundo pulsa dramaticamente, o ano de 2011 tem sido muito rico em eventos. Tsunami, terremoto e acidente nuclear no Japão, tudo no mesmo pacote. Crise de insolvência das dívidas soberanas na Zona do Euro. Crise política nos EUA (lembrando da ultradireita que cresce com o Tea Party). Além da chamada, ainda que de modo prematuro, Primavera Árabe, que pode expandir o conceito ocidental de democracia, talvez criando uma versão árabe e do Magreb deste regime de feições ocidentais.
Bom, hoje se completam dez anos do 9/11, a única conclusão a que podemos chegar é a de que não houve vencedores e nem vencidos, como uns querem acreditar, creditando a vitória americana sobre o terrorismo com a morte de Bin Laden, e outros a vitória do terrorismo pelo caos político e econômico no Hemisfério Norte. Acho que não é por aí que devemos concluir a reflexão, mas sim no que pode ser feito, e muito pode ser feito, e tenho certeza que o maior ataque terrorista da História não ficará em vão, creio também que não haverá eventos terroristas desta magnitude novamente, já que os sistemas de vigilância se sofisticaram depois deste trauma, o que pode haver, sim, é uma nova espécie de terrorismo, o cyber-terrorismo, este sim capaz de criar um caos na economia mundial, pois ainda não temos preparo de inteligência para estes tipos de ataques dos novos “anarquistas” ou “pseudo-militantes” da web, é bom ficar ligado.
11/09/2011 Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
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